Tuesday 27 September 2011

os artigos quentes do br 3/3

fonte: fapesp
http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=4504&bd=1&pg=3&lg=


Os artigos quentes do Brasil
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© NELSON PROVAZI
Um estudo epidemiológico que relacionou o desenvolvimento de diabetes tipo 2 com a presença de um conjunto de marcadores inflamatórios, mesmo em níveis modestos, tornou-se um dos artigos altamente citados do grupo do pesquisador Bruce Duncan, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Publicado na revista Diabetes, o estudo lançou mão de uma base de dados norte-americana, que acompanhou 15 mil pessoas por vários anos em busca das causas da aterosclerose, suas sequelas e fatores de risco. “Nosso estudo só foi possível graças a uma colaboração que eu e minha esposa mantemos com investigadores norte-americanos há duas décadas”, afirma Duncan, que é casado e mantém parceria científica com a epidemiologista Maria Inês Schmidt, vencedora do Prêmio Conrado Wessel, na categoria Medicina, em 2003. Para realizar o estudo em questão, foram analisadas amostras de plasma estocadas de 1.153 norte-americanos, divididos em dois grupos: um com diabetes e outro sem a doença. O grupo da UFGRS é responsável por um conjunto de estudos, feitos sobre essa mesma base de dados, segundo o qual o diabetes tem origens metabólicas comuns à aterosclerose. Processos inflamatórios, mesmo brandos, predizem e provavelmente causam não apenas doença aterosclerótica, mas também obesidade, diabetes, hipertensão, colesterol bom baixo e triglicérides altos, comenta Duncan. “Observamos que não há um marcador inflamatório mais importante que outro. O somatório de todos eles marca o processo inflamatório, sem necessariamente indicar onde está a causa”, afirma Duncan.


NANOTECNOLOGIA EMERGENum estudo publicado em 2007, Rogério Meneghini e Abel Packer, coordenadores da biblioteca eletrônica SciELO Brasil, esquadrinharam as publicações brasileiras entre 1994 e 2003, período anterior ao coberto pelo artigo de Zago, e concluíram que havia 11 áreas do conhecimento em que a ciência brasileira tinha brilho internacional – as pesquisas em genômica, catálise química, cardiologia e metabolismo de mitocôndrias já apareciam neste trabalho (ver Pesquisa FAPESP nº 132). A lista dos 26 artigos mais citados sugere que há um tema emergente em que grupos brasileiros ganharam expressão: a nanociência. Há quatro artigos vinculados ao assunto. Um deles é o já referido trabalho de revisão de Jairton Dupont. Outro, cujo autor principal é Gerardo Goya, à época professor do Instituto de Física da USP e atualmente na Universidade de Zaragoza, na Espanha, apresenta um estudo sobre o comportamento de nanopartículas de óxido de ferro magnético e foi publicado em 2003 no Journal of Applied Physics. “O estudo fez uma avaliação das propriedades magnéticas do óxido de ferro magnetita com diferentes tamanhos de partículas, desde o tamanho de 10 nanômetros até partículas maiores”, explica Thelma Berquó, coautora do artigo, atualmente na Universidade de Minnesota, Estados Unidos. Na época da publicação, ela era bolsista de pós-doutorado da FAPESP. “O impacto se deve ao fato de ninguém ter feito isso antes e ao interesse multidisciplinar sobre o assunto, que pode ter aplicações em medicina, ciências de materiais e geociências, entre outras”, afirma.

O Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tem dois artigos na lista, ambos relacionados à caracterização de nanotubos de carbono usando uma técnica chamada espectroscopia Raman, desenvolvida por dois pesquisadores da instituição, os professores Marcos Pimenta e Ado Jorio. “Essa técnica acabou se tornando uma das mais poderosas para a caracterização desses materiais”, diz Ado Jorio, que é o autor principal de um dos artigos, publicado em 2003, no New Journal of Physics, e coautor do segundo, publicado em 2004 na Physical Review Letters. Jorio diz que o interesse pelos nanotubos de carbono reúne físicos, químicos, cientistas de materiais e biólogos, entre outros. “Eles têm propriedades térmicas, ópticas, eletrônicas e mecânicas que são únicas na natureza”, explica.

Uma dezena de artigos da lista são obras de revisão, cujo impacto não se relaciona a descobertas, mas à densidade científica dos autores que se propuseram a fazer uma ampla revisão da literatura. Bernardo Leo Wajchenberg, professor da Faculdade de Medicina da USP, é autor de um artigo bastante citado na revista Endocrinology Reviews sobre a relação entre a gordura visceral e a síndrome metabólica, conjunto de fatores que aumentam o risco de desenvolver diabetes e doenças coronarianas. Norma de Oliveira Santos, professora do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, obteve repercussão num artigo sobre a distribuição global dos sorotipos de rotavírus e suas implicações na implementação de uma vacina, publicado em 2005 no Reviews in Medical Virology.

Um dado importante é a presença de autores de universidades de vários lugares do país, num sinal de descentralização da excelência acadêmica. Um artigo de revisão sobre polímeros eletroluminescentes, publicado em 2003 na revista Progress in Polymer Science, já obteve 372 citações. Foi escrito por Leni Akcelrud, chefe do Laboratório de Polímeros Paulo Scarpa da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que já sintetizou mais de 50 polímeros que emitem luz. A eletroluminescência em plásticos foi descoberta em 1990. O artigo tem 500 referências. “Demorei dois anos para terminar, mas lançamos as bases para comparações entre diversos sistemas”, diz.

MOLÉCULAS NOVASUm grupo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), por exemplo, produziu um artigo de revisão altamente citado sobre a toxicologia e a farmacologia de compostos orgânicos contendo os átomos de selênio e telúrio. O paper, publicado em 2004 na revistaChemical Reviews, teve impacto elevado porque envolve um tema emergente. “São moléculas novas, que têm potencial para o desenvolvimento de novos medicamentos”, diz Cristina Wayne Nogueira, professora do Departamento de Química do Centro de Ciências Exatas e Naturais da UFSM, que escreveu o artigo em parceria com dois outros professores da instituição quando fazia o pós-doutoramento na Universidade do Estado de Iowa, nos Estados Unidos. O convite para escrever o artigo se deveu à qualificação do grupo, que é pioneiro nessa vertente. “Levamos uma vantagem, que é a possibilidade de fazer experiências com animais de laboratório, como ratos, quando há limitações em outros países que dificultam a pesquisa nessa área”, diz Cristina. Já o físico russo Viktor Dodonov, professor da Universidade de Brasília, adverte que só conseguiu escrever seu hot paper com uma análise de 75 anos de publicações sobre estados não clássicos em óptica quântica porque trabalhava na época na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e tinha acesso à biblioteca do Instituto de Física de São Carlos da USP. “O artigo só foi possível graças à qualidade e à disponibilidade da biblioteca do instituto”, diz Dodonov, que trocou a Rússia pelo Brasil em 1996.

Henrique Hippert, professor de estatística da Universidade Federal de Juiz de Fora, diz que o impacto gerado por um artigo de revisão escrito com outros dois autores em 2001 se deve, em primeiro lugar, ao interesse crescente no tema da previsão de consumo de energia. O texto, publicado pela revista IEEE Transactions on Power Systems, reuniu a literatura sobre uma técnica chamada de rede neural artificial. “Havia muito interesse dos pesquisadores em saber o que já tinha sido publicado. Duas ou três outras revisões surgiram na época, mas eram menos abrangentes”, diz.

Bons artigos de revisão são valorizados por periódicos, pois garantem audiência e ajudam a ampliar seu fator de impacto, composto pelo número médio de citações. Dois papers da lista foram publicados na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e resultam da estratégia da publicação de investir em bons artigos de revisão para elevar o fator de impacto da revista. “Como era o editor da revista, escrevi o primeiro artigo da série”, diz José Rodrigues Coura, autor de uma revisão sobre os ainda escassos métodos de tratamento das vítimas do mal de Chagas, publicada em 2002. “O interesse pelo artigo se deve à preocupação, sempre renovada, de buscar novas drogas”, afirma Coura, chefe do Laboratório de Doenças Parasitárias do IOC. Também integra a lista do professor Zago um artigo de revisão sobre o impacto dos métodos de controle da doença de Chagas na América Latina, publicado na Memórias do IOC pelo especialista em medicina tropical João Carlos Pinto Dias, da Fiocruz, e outros dois autores.
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