Sunday 9 December 2012

Boitempo lança primeiro volume de "Para uma Ontologia do Ser Social"

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Boitempo lança primeiro volume de "Para uma Ontologia do Ser Social"

Nas próximas semanas chega às livrarias o primeiro volume da obra de György Lukács, "Para uma Ontologia do ser social", projeto editorial da Boitempo. Nesta obra, o filósofo húngaro pretende instituir uma ontologia filosoficamente fundamentada em categorias essenciais que regem a vida do ser social, bem como nas estruturas da vida cotidiana dos homens. Este primeiro volume também precisa os pontos do debate que agitaram o pensamento marxista nas últimas décadas. O segundo e último volume está previsto para 2013.

Considerada uma das mais importantes obras do filósofo húngaro György Lukács, concebida no curso dos anos 1960, a Para uma Ontologia do Ser Socialpretende instituir uma ontologia filosoficamente fundamentada em categorias essenciais que regem a vida do ser social, bem como nas estruturas da vida cotidiana dos homens.

O primeiro volume de um dos projetos editoriais centrais da Boitempo, acalentado por mais de uma década, finalmente chega às livrarias brasileiras com apresentação de José Paulo Netto e tradução direta do alemão por Mario Duayer e Nélio Schneider, acrescida da tradução de Carlos Nelson Coutinho, introdutor de Lukács no Brasil e profundo conhecedor de sua obra, baseada na edição italiana. O texto contou também com uma minuciosa revisão técnica de Ronaldo Vielmi Fortes, auxiliado por Ester Vaisman e Elcemir Paço Cunha.

A tomada de posição ontológica marxiana de Lukács tem início nos anos 1930, quando o filósofo segue da Hungria para Moscou. No Instituto Marx-Engels-Lenin faz um mergulho definitivo nos Manuscritos econômico-filosóficos do jovem Marx. Mas, se a guinada ontológica de Lukács acontece ainda na juventude, marcando todos os seus escritos dos quarenta anos seguintes, é na maturidade, nos anos de 1950, que lhe ocorre a necessidade de desenvolver uma sistematização categorial das reflexões que vinha fazendo sobre arte e literatura. Retira-se então da vida política para dedicar-se à elaboração dos volumes que compõem a Estética.

Sua finalização aponta para o projeto de uma Ética; antes, porém, era preciso definir o sujeito capaz de assumir um comportamento verdadeiramente ético. Vêm daí as motivações que impeliram Lukács a trabalhar tão arduamente, ao longo de toda a década de 1960, nos manuscritos de Para uma ontologia do ser social.

Segundo o pesquisador romeno Nicolas Tertulian, Lukács tinha perfeita consciência do extremo empobrecimento sofrido pelo pensamento marxista durante a época stalinista. “Desse modo, Para uma ontologia do ser social representa um gigantesco esforço para examinar, passo a passo, as categorias fundamentais do pensamento de Marx, a fim de restituir-lhe a densidade e a substancialidade”, afirma na introdução dos Prolegômenos.

Obra de síntese, Para uma ontologia do ser social pretende ainda precisar os pontos do debate que agitaram o pensamento marxista nas últimas décadas. A Ontologia permitiu-lhe abordar a fundo esses pontos de dissenso e fornecer esclarecimentos acerca dos problemas essenciais do marxismo e dos fundamentos da própria evolução. “Os materiais que deveriam constituir uma “introdução” à Ética adquirem, assim, o estatuto de fundacionais da Ontologia, obra que não foi ainda suficientemente analisada. Em relação a ela no entanto se pode afirmar, com inteira segurança, que abre um novo horizonte teórico-filosófico para o desenvolvimento do marxismo, e que não haverá nenhum renascimento do marxismo se ela for ignorada”, sentencia José Paulo Netto.

Trecho do livro
“Antes de tudo, vida cotidiana, ciência e religião (teologia incluída) de uma época formam um complexo interdependente, sem dúvida frequentemente contraditório, cuja unidade muitas vezes permanece inconsciente. A investigação do pensamento cotidiano é uma das áreas menos pesquisadas até o presente. Há muitos trabalhos sobre a história das ciências, da filosofia, da religião e da teologia, mas são extremamente raros os que se aprofundam em suas relações recíprocas. Em virtude disso, resulta claro que justamente a ontologia se eleva do solo do pensamento cotidiano e nunca mais poderá tornar-se eficaz caso não seja capaz de nele voltar a aterrar – mesmo que de forma muito simplificada, vulgarizada e desfigurada.”

Sobre o autor
Nascido em 13 de abril de 1885 em Budapeste, Hungria, György Lukács é um dos mais influentes filósofos marxistas do século XX. Doutorou-se em Ciências Jurídicas e depois em Filosofia pela Universidade de Budapeste. No final de 1918, influenciado por Béla Kun, aderiu ao Partido Comunista e, no ano seguinte, foi designado Vice-Comissário do Povo para a Cultura e a Educação. Em 1930 mudou-se para Moscou, onde desenvolveu intensa atividade intelectual. O ano de 1945 foi marcado pelo retorno à Hungria, quando assumiu a cátedra de Estética e Filosofia da Cultura na Universidade de Budapeste. Estética, considerada sua obra mais completa, foi publicada em 1963 pela editora Luchterhand. Já seus estudos sobre a noção de ontologia em Marx, que resultariam oito anos depois em Para uma Ontologia do ser social, iniciaram-se em 1960 e agora ganha edição em dois volumes pela Boitempo. Faleceu em sua cidade natal, em 4 de junho de 1971. 

Do autor, a Boitempo já publicou Prolegômenos para uma ontologia do ser social: questões de princípios para uma ontologia hoje tornada possível (2010), O romance histórico (2011), Lenin: um estudo sobre a unidade de seu pensamento (2012) e agora o primeiro volume de Para uma ontologia do ser social. O segundo volume está previsto para 2013.

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