Wednesday 31 July 2013

Eduardo Galeano aponta quatro mentiras sobre o ambiente

hornos a chiapas
http://hornosachiapas.wordpress.com/2011/05/18/eduardo-galeano-aponta-quatro-mentiras-sobre-o-ambiente/

Eduardo Galeano aponta quatro mentiras sobre o ambiente

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A civilização que confunde os relógios com o tempo, o crescimento com o desenvolvimento, e o grandalhão com a grandeza, também confunde a natureza com a paisagem
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Quatro frases que aumentam o nariz do Pinóquio

1 – Somos todos culpados pela ruína do planeta.
A saúde do mundo está feito um caco. “Somos todos responsáveis”, clamam as vozes do alarme universal, e a generalização absolve: se somos todos responsáveis, ninguém é. Como coelhos, reproduzem-se os novos tecnocratas do meio ambiente. É a maior taxa de natalidade do mundo: os experts geram experts e mais experts que se ocupam de envolver o tema com o papel celofane da ambiguidade. Eles fabricam a brumosa linguagem das exortações ao “sacrifício de todos” nas declarações dos governos e nos solenes acordos internacionais que ninguém cumpre. Estas cataratas de palavras – inundação que ameaça se converter em uma catástrofe ecológica comparável ao buraco na camada de ozônio – não se desencadeiam gratuitamente. A linguagem oficial asfixia a realidade para outorgar impunidade à sociedade de consumo, que é imposta como modelo em nome do desenvolvimento, e às grandes empresas que tiram proveito dele. Mas, as estatísticas confessam.. Os dados ocultos sob o palavreado revelam que 20% da humanidade comete 80% das agressões contra a natureza, crime que os assassinos chamam de suicídio, e é a humanidade inteira que paga as consequências da degradação da terra, da intoxicação do ar, do envenenamento da água, do enlouquecimento do clima e da dilapidação dos recursos naturais não-renováveis. A senhora Harlem Bruntland, que encabeça o governo da Noruega, comprovou recentemente que, se os 7 bilhões de habitantes do planeta consumissem o mesmo que os países desenvolvidos do Ocidente, “faltariam 10 planetas como o nosso para satisfazerem todas as suas necessidades. ” Uma experiência impossível.
Mas, os governantes dos países do Sul que prometem o ingresso no Primeiro Mundo, mágico passaporte que nos fará, a todos, ricos e felizes, não deveriam ser só processados por calote. Não estão só pegando em nosso pé, não: esses governantes estão, além disso, cometendo o delito de apologia do crime. Porque este sistema de vida que se oferece como paraíso, fundado na exploração do próximo e na aniquilação da natureza, é o que está fazendo adoecer nosso corpo, está envenenando nossa alma e está deixando-nos sem mundo.
2 – É verde aquilo que se pinta de verde.
Agora, os gigantes da indústria química fazem sua publicidade na cor verde, e o Banco Mundial lava sua imagem, repetindo a palavra ecologia em cada página de seus informes e tingindo de verde seus empréstimos. “Nas condições de nossos empréstimos há normas ambientais estritas”, esclarece o presidente da suprema instituição bancária do mundo. Somos todos ecologistas, até que alguma medida concreta limite a liberdade de contaminação.
Quando se aprovou, no Parlamento do Uruguai, uma tímida lei de defesa do meio-ambiente, as empresas que lançam veneno no ar e poluem as águas sacaram, subitamente, da recém-comprada máscara verde e gritaram sua verdade em termos que poderiam ser resumidos assim: “os defensores da natureza são advogados da pobreza, dedicados a sabotarem o desenvolvimento econômico e a espantarem o investimento estrangeiro.” O Banco Mundial, ao contrário, é o principal promotor da riqueza, do desenvolvimento e do investimento estrangeiro. Talvez, por reunir tantas virtudes, o Banco manipulará, junto à ONU, o recém-criado Fundo para o Meio-Ambiente Mundial. Este imposto à má consciência vai dispor de pouco dinheiro, 100 vezes menos do que haviam pedido os ecologistas, para financiar projetos que não destruam a natureza. Intenção inatacável, conclusão inevitável: se esses projetos requerem um fundo especial, o Banco Mundial está admitindo, de fato, que todos os seus demais projetos fazem um fraco favor ao meio-ambiente.
O Banco se chama Mundial, da mesma forma que o Fundo Monetário se chama Internacional, mas estes irmãos gêmeos vivem, cobram e decidem em Washington. Quem paga, manda, e a numerosa tecnocracia jamais cospe no prato em que come. Sendo, como é, o principal credor do chamado Terceiro Mundo, o Banco Mundial governa nossos escravizados países que, a título de serviço da dívida, pagam a seus credores externos 250 mil dólares por minuto, e lhes impõe sua política econômica, em função do dinheiro que concede ou promete. A divinização do mercado, que compra cada vez menos e paga cada vez pior, permite abarrotar de mágicas bugigangas as grandes cidades do sul do mundo, drogadas pela religião do consumo, enquanto os campos se esgotam, poluem-se as águas que os alimentam, e uma crosta seca cobre os desertos que antes foram bosques.
3 – Entre o capital e o trabalho, a ecologia é neutra.
Poder-se-á dizer qualquer coisa de Al Capone, mas ele era um cavalheiro: o bondoso Al sempre enviava flores aos velórios de suas vítimas… As empresas gigantes da indústria química, petroleira e automobilística pagaram boa parte dos gastos da Eco 92: a conferência internacional que se ocupou, no Rio de Janeiro, da agonia do planeta. E essa conferência, chamada de Reunião de Cúpula da Terra, não condenou as transnacionais que produzem contaminação e vivem dela, e nem sequer pronunciou uma palavra contra a ilimitada liberdade de comércio que torna possível a venda de veneno.
No grande baile de máscaras do fim do milênio, até a indústria química se veste de verde. A angústia ecológica perturba o sono dos maiores laboratórios do mundo que, para ajudarem a natureza, estão inventando novos cultivos biotecnológicos. Mas, esses desvelos científicos não se propõem encontrar plantas mais resistentes às pragas sem ajuda química, mas sim buscam novas plantas capazes de resistir aos praguicidas e herbicidas que esses mesmos laboratórios produzem. Das 10 maiores empresas do mundo produtoras de sementes, seis fabricam pesticidas (Sandoz-Ciba-Geigy, Dekalb, Pfizer, Upjohn, Shell, ICI). A indústria química não tem tendências masoquistas.
A recuperação do planeta ou daquilo que nos sobre dele implica na denúncia da impunidade do dinheiro e da liberdade humana. A ecologia neutra, que mais se parece com a jardinagem, torna-se cúmplice da injustiça de um mundo, onde a comida sadia, a água limpa, o ar puro e o silêncio não são direitos de todos, mas sim privilégios dos poucos que podem pagar por eles. Chico Mendes, trabalhador da borracha, tombou assassinado em fins de 1988, na Amazônia brasileira, por acreditar no que acreditava: que a militância ecológica não pode divorciar-se da luta social. Chico acreditava que a floresta amazônica não será salva enquanto não se fizer uma reforma agrária no Brasil. Cinco anos depois do crime, os bispos brasileiros denunciaram que mais de 100 trabalhadores rurais morrem assassinados, a cada ano, na luta pela terra, e calcularam que quatro milhões de camponeses sem trabalho vão às cidades deixando as plantações do interior. Adaptando as cifras de cada país, a declaração dos bispos retrata toda a América Latina. As grandes cidades latino-americanas, inchadas até arrebentarem pela incessante invasão de exilados do campo, são uma catástrofe ecológica: uma catástrofe que não se pode entender nem alterar dentro dos limites da ecologia, surda ante o clamor social e cega ante o compromisso político.
4 – A natureza está fora de nós.
Em seus 10 mandamentos, Deus esqueceu-se de mencionar a natureza. Entre as ordens que nos enviou do Monte Sinai, o Senhor poderia ter acrescentado, por exemplo: “Honrarás a natureza, da qual tu és parte.” Mas, isso não lhe ocorreu. Há cinco séculos, quando a América foi aprisionada pelo mercado mundial, a civilização invasora confundiu ecologia com idolatria. A comunhão com a natureza era pecado. E merecia castigo. Segundo as crônicas da Conquista, os índios nômades que usavam cascas para se vestirem jamais esfolavam o tronco inteiro, para não aniquilarem a árvore, e os índios sedentários plantavam cultivos diversos e com períodos de descanso, para não cansarem a terra. A civilização, que vinha impor os devastadores monocultivos de exportação, não podia entender as culturas integradas à natureza, e as confundiu com a vocação demoníaca ou com a ignorância. Para a civilização que diz ser ocidental e cristã, a natureza era uma besta feroz que tinha que ser domada e castigada para que funcionasse como uma máquina, posta a nosso serviço desde sempre e para sempre. A natureza, que era eterna, nos devia escravidão. Muito recentemente, inteiramo-nos de que a natureza se cansa, como nós, seus filhos, e sabemos que, tal como nós, pode morrer assassinada. Já não se fala de submeter a natureza. Agora, até os seus verdugos dizem que é necessário protegê-la. Mas, num ou noutro caso, natureza submetida e natureza protegida, ela está fora de nós. A civilização, que confunde os relógios com o tempo, o crescimento com o desenvolvimento, e o grandalhão com a grandeza, também confunde a natureza com a paisagem, enquanto o mundo, labirinto sem centro, dedica-se a romper seu próprio céu.
Eduardo Galeano, jornalista e escritor, de Montevidéu – maio de 2011.
Retirado daqui e daqui.

A produção de alimentos vista do espaço

o eco
http://www.oeco.org.br/geonoticias/27400-a-producao-de-alimentos-vista-do-espaco?utm_source=newsletter_768&utm_medium=email&utm_campaign=as-novidades-de-hoje-em-oeco

Em uma coluna recente este blog mostrou, usando imagens de satélite dos últimos 30 anos, o crescimento urbano de algumas cidades brasileiras. Como haviamos mencionado, a população mundial ultrapassou a casa dos 7 bilhões em 2011, e de acordo com as últimas projeções devemos chegar aos 9 bilhões daqui a 37 anos.

E como poderemos alimentar essas 2 bilhões de bocas a mais? Um vídeo feito pelo Museu de Ciências de Minnesota tenta responder esta pergunta. Como aponta o vídeo "2 bilhões a mais vem para jantar" (em inglês), produzindo em um formato chamado "Ciência em uma Esfera", nem toda terra cultivável ​​é utilizada para a produção de alimentos para seres humanos. Grande parte das terras cultiváveis é usada para produzir ração para animais.

 

Mas a conversão de ração em carne não é particularmente eficiente. No caso do gado, por exemplo, cerca de 13 quilos de ração são necessários para produzir meio quilo de carne. Desta forma, quanto mais a procura mundial por carne aumenta, mais terras serão dedicadas ao cultivo de ração para animais.

O mapa abaixo mostra em verde as regiões que produzem alimentos consumidos mais diretamente por seres humanos, em laranja as regiões que produzem a mesma quantidade de alimentação humana e animal, e em vermelho as terras que são usadas principalmente para produzir ração animal. Você pode clicar para ampliar o mapa. 

 

 
(Fonte dos dados: University of Minnesota/Institute on the Environment/Global Landscapes Initiative)

Veja também neste mapa do InfoAmazonia, o projeto de ((o))eco que agrega dados e notícias sobre a Amazônia, a concentração de gado em cada um dos 771 municípios da Amazônia Legal, o número de fazendas confiscadas pelo IBAMA e os matadouros que existem nesta região.


 

Saturday 27 July 2013

España privatiza el sol. Prohibido generar energía para autoconsumo

É UM ABSURDO ESTA NOTICIA!!!
uma vergonha da humanidade a ela mesma...

el país
http://elpais.cr/frontend/noticia_detalle/6/83700


España privatiza el sol. Prohibido generar energía para autoconsumo

Fuente: Elpais.cr  |  2013-07-21
España privatiza el sol. Prohibido generar energía para autoconsumo

Madrid, 21 jul (kaosenlared.net) - Se "privatiza" el Sol en España: si te pillan recogiendo fotones de luz solar para tu propio consumo te puede caer una multa de hasta 30 millones. Así que si estabas pensando que con esta falsa crisis provocada, la mejor opción era precisamente tener unas placas solares que bajaron un 80% su coste y tener la oportunidad de desconectar de la red eléctrica y su factura estafa, ya puedes ir olvidándote.

Con el  terror que tienen las eléctricas a que se “desestabilice” el consumo eléctrico (por no decir desaparecer), a alguien en contra de lo que la lógica dicta, se ha propuesto sepultar la industria foto-voltaica (ahora que es más necesaria que nunca) en un pozo sin fondo, en algún momento del 2010 alguien ha decidido privatizar el sol….sí sí has leído bien, en España totalmente al contrario de Europa, se impone un peaje a quien genere electricidad y la inyecte a la línea… en vez de recibir ganancias, pero eso no es todo, si te pillan recogiendo fotones de luz solar para tu propio consumo te puede caer una multa de 30 millones de euros. Tal cual si de una droga se tratara. Cometer el sacrilegio de ser independiente energéticamente puede costar muy caro, el sol ahora es sólo para unos pocos privilegiados y las compañías eléctricas en las cuales están de consejeros ex-presidentes y ex-ministros del partido dualista ppsoe.

“La Unión Española Fotovoltaica (UNEF), que agrupa a unas 300 empresas y representa a un 85% del sector, asegura que, de implantarse estos cambios, sería más caro el autoconsumo solar que recurrir al suministro convencional. “Se impide el ahorro a los consumidores y se paraliza la entrada de nueva competencia en el mercado eléctrico”, contemplan.”

Así que si estabas pensando que con esta falsa crisis provocada, la mejor opción era precisamente tener unas placas solares que bajaron un 80% su coste y tener la oportunidad de desconectar de la red eléctrica y su factura estafa, ya puedes ir olvidándote.

En España se ha "privatizado" el sol sin la consulta de sus ciudadanos, sin la consulta al sistema solar sin la consulta al universo etcétera…

La posibilidad de producir tu propia electricidad utilizando recursos renovables —paneles solares o pequeños molinos eólicos instalados en una propiedad privada— es algo muy atractivo para los hogares españoles. “De cada 50 llamadas que entran al mes, 35 son de particulares interesados en el autoconsumo”, asegura Francesc Mateu, gerente de Sol Gironés, empresa especializada en energías renovables y pioneras en este sector. “De momento les decimos que tienen que esperar hasta septiembre u octubre, a que las cosas estén más claras”, añade.

La tendencia a la tarifa plana en la factura de la luz, en la que cada vez hay que pagar una mayor cantidad de fijo y menos por el gasto energético, y las tasas específicas que impone el decreto de autoconsumo, que todavía no se ha aprobado, encarecen esta alternativa frente al consumo convencional.

El Gobierno se ha propuesto que el autoconsumo energético se implante poco a poco y sin alterar el sistema eléctrico español. Para ello se reserva el derecho de subir y bajar esas tasas o peajes específicos, y que denominan “de respaldo”, en función de cómo vaya evolucionando el sector. “Vamos a pagar un peaje por la energía recibida del sol”, resume Mario Sorinas, de la empresa oscense Electrobin, con más de 20 años de experiencia en energía solar.

La autarquía energética está más que consolidada en países como Estados Unidos o Japón. Muchos países europeos la tienen implantada con diferentes fórmulas. “Es el futuro”, coinciden varios expertos en energía. Permite generar tu propia electricidad con energías renovables y darle un descanso al medio ambiente y al bolsillo. También existe la posibilidad de ceder la energía sobrante a compañías eléctricas y recuperarla cuando se necesite o, directamente, venderla, algo que se conoce como autoconsumo con balance neto. El Gobierno de España ni se lo plantea. El proyecto de decreto de autoconsumo deja bien claro que no se remunerará la energía sobrante que se vierta a la red.

Ahora mismo, en España se puede producir energía de forma privada y consumirla en el momento, una modalidad que se denomina autoconsumo instantáneo. La última legislación es de 2011. Antes no se hacía porque no salía rentable. El abaratamiento hasta en un 80% de las instalaciones fotovoltaicas en los últimos cinco años y el incremento de la factura de la luz la han convertido en una opción de ahorro muy interesante en época de crisis. La utilizan desde granjas de vacas hasta supermercados, residencias geriátricas, restaurantes y algún consumidor particular. La energía sobrante no se puede almacenar en baterías porque está prohibido. Cuando no hay sol o viento, hay que engancharse a la red y pagar la factura normal.

No hay un registro oficial de autoconsumo. La revista económica Alimarket ha contabilizado 43 casos. Otro fichero, elaborados de forma voluntaria por los autoconsumidores en el portal Energética 21, los eleva a 74.

Sol Gironés, con 14 trabajadores, está echando el resto con el autoconsumo instantáneo. “Está funcionando y bien, sobre todo con empresas como cárnicas u hostelería, que dependen mucho de cámaras frigoríficas, y en las que la factura de la luz se lleva al menos el 15% de sus gastos fijos anuales”, relata su gerente. Con estos sistemas llegan a reducir entre un 20% y un 30% su consumo, aunque tienen un caso en el que han logrado una bajada del 44%. Hasta ahora no pagan impuestos de ningún tipo por este tipo de generación de energía.

El Club Naútico Estartit, situado en Torroella de Montgrí (Girona), es uno de sus clientes. Se han trazado un plan a cinco años para que el 20% de su consumo venga de energía renovable. De momento generan con paneles solares el 7%. “Estamos muy cerca de un parque natural y queremos tener la mínima incidencia sobre el medio ambiente”, dice Eugeni Figa, su director. Entre sus planes también está incluir molinos eólicos.

En Galicia, los hermanos Domínguez llevan trabando con renovables desde 1998. “Éramos cuatro pelagatos”, recuerda Manuel. En 2007 dieron ejemplo abasteciendo sus propias oficinas de Sanxenxo (Pontevedra) con una planta solar. Aunque tienen proyectos de autoconsumo en España, la mayoría de su mercado está fuera del país en grandes parques de Chile, México, Rumanía o Inglaterra.

La reforma energética ha caldeado enormemente al sector renovable. “De todos los escenarios posibles, este es el peor”, resume José Donoso, director general de la Unión Española Fotovoltaica (Unef), que representa al 85% de la actividad del sector. “Sin que todavía se haya aprobado nada específico sobre autoconsumo, ya se lo han cargado”, añade. Donoso se refiere al incremento en la parte fija de la factura eléctrica, y que supondrá un 77% de subida en este tramo para una tarifa doméstica —algo de lo que los productores domésticos no pueden prescindir— y una bajada del 23% en la parte del consumo —la que reduce con la autoproducción—.

“Hasta ahora, el gasto se podía repartir en un 30% de parte fija y un 70% de parte variable. Se camina al 50%-50% por lo que cualquier iniciativa de generar tu propia potencia se desincentiva”, aporta Ignacio Cruz, investigador de la división de Energías Renovables del Centro de Investigaciones Energéticas, Tecnológicas y Medioambientales (CIEMAT).

“Esto es un rejonazo de muerte al balance neto y al ahorro energético”, opina Javier García Breva, consultor de energías renovables y exdirector del Instituto para la Diversificación y el Ahorro de Energía (IDAE). Este especialista mantiene que se trata de medidas puramente recaudatorias para que las eléctricas ingresen más. Unesa, la patronal de las grandes eléctricas, ha rehusado valorar la situación del autoconsumo hasta conocer mejor los cambios legislativos. El Ministerio de Industria tampoco ha respondido a las peticiones de información de EL PAÍS.

Con los cambios conocidos hasta ahora el tiempo de amortización de las instalaciones fotovoltaicas crece considerablemente. Si antes de la reforma hacían falta 12 años para recuperar la inversión de una instalación en un domicilio de 2,4 kilovatios de potencia ahora harán falta 23 más, según cálculos de Unef. Este consumidor es el más tocado, ya que en los casos de instalaciones de servicios o para regadío los tiempos de amortización se han incrementado 5 y 4,75 años respectivamente.

Con todo, siempre hay quien ya trabaja en buscarle la vuelta. Sol Gironés asegura que sus clientes están reduciendo la parte de potencia contratada, la que registrará mayor incremento en la factura, porque el autoconsumo instantáneo les permite tener sus necesidades energéticas cubiertas. Otra de sus metas es conseguir que el autoconsumo doméstico sea rentable.

Saturday 20 July 2013

Glauber Rocha com sotaque francês

fapesp
http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/06/05/glauber-rocha-com-sotaque-frances/

Glauber Rocha com sotaque francês

Cineasta baiano e crítica internacional estabeleceram diálogo que ajudou no projeto de internacionalizar o Cinema Novo
AGABITE FERNANDES | Edição 208 - Junho de 2013

© AFP IMAGEFORUM
Othon Bastos em cena do filme Deus e o diabo na terra do sol, de 1964
Othon Bastos em cena do filme Deus e o diabo na terra do sol, de 1964
Em 1963, o cineasta e crítico Gustavo Dahl, em carta, avisa o colega Glauber Rocha: “O artigo nosCahiers du Cinéma é muito bom para nós, só fala da turma, de você, do Joaquim do Pedro de Andrade, do Leon Hirzman, e diz que, em potência, nós somos os primeiros cineastas do mundo. Tudo isso me convence cada vez mais que só o Cinema Novo tem elementos para penetrar na Europa. Seria o caso de nos organizarmos e mandar, por conta própria, ou pelo Itamaraty, filmes para todos os festivais, fazer em Paris uma central Cinema Novo, abrir uma frente mundial!”. O estrategista dessa “revolução” de sociabilidade que se estabelecera com a crítica francesa era o cineasta baiano que, desde de 1960, vivia em viagens para a Europa, que culminariam com seu exílio em meados dos anos 1970.
“Sem sombra de dúvida, Glauber foi um dos intelectuais brasileiros que mais prestígio obteve na Europa. A aliança entre ele e a crítica francesa é um intercâmbio cultural raramente visto. Vários críticos de revistas especializadas se transformaram, a partir da relação com Glauber, em defensores do cinema brasileiro e os seus veículos em porta-vozes das ideias vindas do hemisfério Sul”, fala o crítico literário Arlindo Rebechi, professor da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Bauru, que pesquisou o tema em A recepção crítica na França dos filmes Deus e o diabo na terra do sol (1964) e Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha, na década de 1960: levantamento documental em arquivos franceses, que contou com apoio da FAPESP.
Para Rebechi, a crítica glauberiana deu, com certa razão, uma atenção bastante grande à interpretação dos seus filmes. Mas a história de Glauber como um intelectual e o valor dos seus respectivos escritos ficaram em segundo plano, a não ser por trabalhos isolados de alguns bons pesquisadores. “Minha intenção é contribuir para o mapeamento ainda pouco estudado das relações estabelecidas por Glauber e suas parcerias na França, dando uma ênfase na forma como os seus filmes puderam ser vistos e discutidos num contexto de recepção que centraliza a figura de cineasta como um autêntico agente da sua própria trajetória e um autêntico representante do então dito Terceiro Mundo”, diz o pesquisador.
Segundo o professor, a documentação inédita levantada na França em arquivos da Bibliotèque Nationale Française e da Cinématèque Française vai complementar a visão que temos do cineasta. “Há uma visão de senso comum do ‘uma câmera na mão, uma ideia na cabeça’, associando Glauber ao artista de improviso, que não pode mais continuar. Embora devamos compreender e interpretar o seu cinema como uma célebre contribuição para a cultura brasileira, é preciso ainda melhor entender seus textos escritos e a dimensão do seu discurso de um intelectual engajado em seu próprio mundo. Reforçar isso é a originalidade da minha pesquisa”, fala Rebechi. Segundo ele, ainda muito pouco se falou da atuação do Glauber na França e da repercussão dos seus filmes por lá. “É algo que alguns poucos, talvez pouquíssimos, pesquisadores estão tentando fazer”, avisa.
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Cenas de Deus e o diabo na terra do sol
Cena de Deus e o diabo na terra do sol
É um material praticamente de divulgação muito restrita no Brasil. Apenas parte dele pode ser encontrada nos acervos mais especializados no Brasil, já que não há aqui as coleções de periódicos na íntegra. A pesquisa documental em arquivos franceses privilegiou textos de recepção crítica de Deus e o diabo na terra do sol e Terra em transe, pois os filmes alcançaram grande repercussão na França. “Além de dizerem muito sobre os filmes, estes textos dão uma boa ideia das redes de sociabilidade estabelecidas por Glauber Rocha”, afirma Rebechi. A partir de agora será possível mapear, com segurança, o percurso desses filmes e os discursos por onde gravitaram suas recepções. “Tanto pelo levantamento das coberturas feitas por veículos maiores, como Positif eCahiers du Cinéma, como por veículos menores ligados às associações de cineclubes, como é o caso da revista Cinéma e Jeune Cinéma, pudemos ter uma informação mais confiável da recepção desses dois filmes e inferir de modo mais preciso a forma como Glauber atuou e dialogou junto a esses críticos nesses respectivos festivais”, diz o pesquisador.
EstratégiaUm detalhe interessante é que conhecer a atuação do cineasta nesses festivais também é entender sua estratégia não apenas de se colocar junto aos críticos, mas, como nota Rebechi, de defender o cinema brasileiro mesmo em filmes que não os seus. “Também podemos compreender de que maneira se deu o movimento de internacionalizar o Cinema Novo, o modo programático com que Glauber e seus companheiros sempre estiveram dispostos a levar o movimento para fora das fronteiras brasileiras”, observa o autor.
Uma estética da fome, o mais conhecido e emblemático texto do diretor baiano, também indica a disposição programática de seu autor em internacionalizar o Cinema Novo, pois foi escrito para ser apresentado em um congresso sobre cinema latino-americano realizado em Gênova, em 1965. “O texto foi lido em um debate que reuniu importantes cineastas europeus, teve ótima repercussão e meses depois foi publicado na revista Positif e em outras revistas europeias. Se Deus e o diabo consagrou Glauber como cineasta na Europa, com Uma estética da fome ele se afirmou como agitador cultural”, observa o pesquisador.
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Cena de Deus e o diabo na terra do sol
Cena de Deus e o diabo na terra do sol
A conjuntura francesa daquela época era bastante propícia à boa receptividade dos filmes de Glauber e do Cinema Novo. A Nouvelle Vague questionava o cinema clássico e suas convenções, abrindo espaço para a discussão de novas linguagens; a independência da Argélia ampliava o debate sobre o colonialismo e o pensamento terceiro-mundista, atraindo intelectuais como Roland Barthes e Edgar Morin, entre outros. Para se ter uma ideia do relevo de Glauber nos debates, basta ler o tom com que um crítico e historiador importante como Georges Sadoul escreveu para o cineasta, em 1963, orientando-o (!) sobre a inscrição em um grande festival: “Você encontrará anexo o regulamento do evento, que terá grande repercussão. No caso, bem entendido, de ser possível de nos enviar uma cópia de Viva a terra antes do dia 30 de março, seria interessante. Se Barravento ainda não foi apresentado antes, faça todo o possível para nos enviar uma cópia a Paris”, pedia o crítico. Detalhe: Viva a terra era o título provisório de Deus e o diabo na terra do sol.
“Sempre muito consciente do alcance e do impacto dos seus gestos e de suaperformance, Glauber assumiu a responsabilidade política por uma interlocução madura e horizontal com a crítica europeia, isto é, sem o velho complexo de inferioridade que tanto nos assombra”, observa Maurício Cardoso, professor do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e autor de O Cinema tricontinental de Glauber Rocha: política, estética e revolução, pesquisa que analisa o projeto internacional do cineasta no exílio. “Incansável e livre, criativo e intempestivo, Glauber chamou a atenção da intelectualidade francesa e italiana, principalmente dos de esquerda, ligados ou não aos respectivos partidos comunistas. A marca fundamental foi a sua capacidade de interpretar o cinema como expressão das condições materiais de cada país em suas especificidades culturais, rompendo com a noção de influência ou cópia que marcou as relações entre as cinematografias do Primeiro Mundo e as cinematografias dos países subdesenvolvidos”, continua Cardoso. Para o pesquisador, ele dialogava com Godard, Pasolini e Buñuel, entre outros, como quem dialoga com colegas de trabalho.
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Cena de Terra em transe
Cena de Terra em transe
“O pensamento de esquerda estava em alta e as intervenções de Glauber encontraram ressonância tanto do ponto de vista temático quanto da linguagem cinematográfica”, analisa Rebechi. Segundo o pesquisador, Glauber estabeleceu uma interlocução com a imprensa francesa, especialmente junto às revistas de cinema mais influentes: Cahiers du Cinéma e Positif. Ambas estavam no centro do debate sobre a questão da linguagem, mas apresentavam nuances. Os críticos de Positif viam Glauber como um grande apoiador latino-americano do cinema de ação política, enquanto os Cahiers du Cinéma estavam mais interessados em um tipo de cinema autoral inovador na forma e feito com poucos recursos financeiros, avalia o professor.
Acervo“O trabalho de Rebechi tem o mérito de recuperar e organizar um acervo importantíssimo, que pela primeira vez estará disponível aos pesquisadores. Além disso, ilumina um aspecto menos conhecido da trajetória de Glauber Rocha que não pode ser desprezado”, afirma Antonio Dimas, professor do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH-USP e coordenador da pesquisa Territórios culturais no Brasil, que pretende fazer uma avaliação dos territórios culturais nacionais a partir de uma perspectiva literária, entre elas a trajetória ensaística do cineasta baiano. “É uma pesquisa muito valiosa para conhecermos em detalhes a riqueza da trajetória intelectual de Glauber Rocha – que vai além dos filmes – e as diversas conformações que ela apresentou”, avalia Dimas.
“A aliança entre Glauber Rocha e a crítica francesa indica ao estudioso do cinema brasileiro uma importante seara de estudos: trata-se de um intercâmbio cultural raramente visto, próprio da conjuntura dos anos 1960, tanto por parte da intelectualidade francesa do período como por parte dos intelectuais brasileiros de esquerda, sobretudo os do nosso cinema. Sem sombra de dúvida, essas são sugestões interpretativas que o material recolhido na França já avaliza”, diz o historiador.
Agora o objetivo é uma leitura mais fina da documentação levantada, depois da qual Rebechi vai procurar fazer articulações entre elementos da correspondência, da biografia e de outros textos para fazer uma ponte entre a atuação intelectual de Glauber no exterior e sua atuação no Brasil, para entendê-las melhor. “Estabelecer esta ponte é fundamental, pois a rede de sociabilidade internacional que o cineasta construiu está concatenada a uma rede de sociabilidade interna, da qual participaram cineastas e críticos como Paulo Emílio Salles Gomes e Jean-Claude Bernardet, entre outros”, destaca Rebechi.

Friday 19 July 2013

Stiglitz: É hora de questionar as patentes

outras palavras
http://outraspalavras.net/destaques/stiglitz-e-hora-de-questionar-as-patentes/

Stiglitz: É hora de questionar as patentes

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130717-patentes
No cartaz: “Pessoas antes das patentes. Projeta o acesso aos medicamentos acessíveis”
Proibir privatização de genes humanos foi só primeiro passo. Para estimular ciência e inovação tecnológica, sociedades não precisam produzir desigualdades
Por Joseph Stiglitz | Tradução: Cristiana Martin
Em meio à guerra contra a desigualdade, nos acostumamos tanto com más notícias que quase entramos em choque quando surge algo positivo. E depois que a Suprema Corte dos EUA decidiu que gente rica e grandes corporações têm o direito constitucional de comprar as eleições, quem esperaria que este tribunal produzisse alguma notícia boa? Mas uma decisão, ao fim do primeiro semestre, resultou em algo mais precioso que somente dinheiro: o direito de viver.
À primeira vista, a ação da Association for Molecular Pathology (Associação para Patologias Moleculares) contra a corporação Myriad Genetics parece um mistério científico. A corte decidiu, sem unanimidade, que os genes humanos não podem ser patenteados – embora o DNA sintético, criado em laboratório, possa. Mas o buraco é muito mais embaixo: as bases e os problemas desta questão são muito mais profundos do que é comumente entendido. Foi uma batalha entre aqueles que privatizariam a boa saúde, tornando-a um privilégio a ser desfrutado na proporção da riqueza, contra os que veem a saúde como um direito de todos – e um componente central de uma sociedade justa e de uma economia que funciona direito. De uma maneira ainda mais ampla, tem a ver com a maneira pela qual a desigualdade está definindo a política, as instituições legais e a saúde da população.
Diferentemente das batalhas amargas entre Samsung e Apple, nas quais os juízes, enquanto mostram-se pretensamente equilibrados parecem na verdade sempre estar a favor do time da casa, este caso foi maior que apenas uma grande batalha entre gigantes corporativos. É uma lente de aumento, por meio da qual podemos enxergar os efeitos perniciosos e de longo alcance da desigualdade; qual o sentido de uma vitória sobre o comportamento normal das corporações; e – não menos importante – o quanto ainda ariscamos perder nestas batalhas.
É evidente que a corte e os partidos não enxergam os problemas desta maneira em seus argumentos e decisões. A Myriad Genetics, uma empresa originária de Utah, tinha isolado dois genes humanos – BRCA1 e BRCA2. Eles são importantes porque podem conter mutações capazes de significar uma pré-disposição ao câncer de mama. Conhecer sua presença é crucial para diagnósticos em fase inicial, e também para prevenção. A Myriad Genetics já tinha obtido as patentes para esses genes. O fato de “possuir” os genes deu a ela o direito de privar outras companhias de testá-los. A grande questão desta disputa era aparentemente técnica: quando isolados, genes que podem surgir naturalmente são algo que possa ser patenteado?
Mas as patentes têm implicações devastadoras também no mundo real, uma vez que elas mantém o preço dos diagnósticos extremamente alto. Testes genéticos podem ser realizados a custo baixo. Uma pessoa pode ter todos os seus 20 mil genes sequenciados por aproximadamente 1.000 dólares – para não falar de testes muito mais baratos, para patologias específicas. A Myriad, no entanto, cobrava cerca de US$ 4.000 pelo teste de apenas dois genes. Cientistas argumentaram que não havia nada inerentemente especial ou superior nos métodos da Myriad – eles simplesmente examinavam os genes que a companhia alegava possuir, e o fazia apoiada nos dados que não estavam disponíveis às outras, por conta de suas patentes.
Horas após a Suprema Corte ter decidido em favor dos queixosos – um grupo de universidades, pesquisadores e advogados de pacientes, representados pela União das Liberdades Civis Americanas (American Civil Liberties Union) e pela Fundação da Patente Pública (Public Patent Foundation) –, outros laboratórios rapidamente anunciaram que também começariam a oferecer os exames para os genes do câncer de mama. Isso deixou claro que a “inovação” da Myriad era identificar genes existentes e não desenvolver um exame para eles (a Myriad não cessou de lutar neste caso e ainda moveu duas novas ações judiciais neste mês que visam impedir as companhias Ambry Genetics e Gene by Gene de realizar seus próprios exames de BRCA, sob o argumento de que violam outras patentes que supostamente detém).
Não deveria ser muito surpreendente o fato de a Myriad fazer todo o possível para evitar que a receita proveniente desses exames sofresse concorrência. Depois de se recuperarem parcialmente de uma queda de aproximadamente 30%, logo após a decisão da corte, as ações da companhia ainda continua cerca de 20% abaixo do que eram. A empresa possuía os genes e não queriam ningué invadindo sua propriedade. Ao obter a patente, a Myriad, como a maioria das corporações, parecia mais motivada pela maximização dos lucros do que por salvar vidas. Se realmente estivessem preocupadas com este segundo aspecto, ela poderia e oferecer exames menos caros, além de encorajar outras companhias a desenvolver exames melhores, mais precisos e mais baratos. Sem surpresa, a companhia alegou que suas patentes, que permitiram preços monopolísticos e práticas excludentes, eram essenciais para incentivar futuras pesquisas. Mas quando os efeitos devastadores destas patentes ficaram claros e ela permaneceu inflexível no exercício dos direitos de seu monopólio, as pretensões de que agia em favor do bem comum não foram mais capazes de convencer.
A indústria farmacêutica, como sempre, alegou que sem a proteção de patentes não haveria incentivos para pesquisas – portanto, todos perderiam. Procurei a argumentação de um expert (pro bono) junto à corte. Ele explica por que os argumentos da indústria estão errados e por que estas patentes, e outras similares, na verdade impediram a inovação, ao invés de fomentá-la. Outros grupos que apresentaram argumentos a favor dos pleiteantes, como a Associação Norte Americana de Aposentados (AARP), apontaram que as patentes da Myriad impediam os pacientes de obter uma revisão de seus exames ou mesmo uma confirmação de diagnóstico. Recentemente, a Myriad comprometeu-se a não impedir estes exames – um compromisso revertido ao mover ações judiciais contra a Ambry Genetics e a Gene by Gene.
A Myriad negou o exame a duas mulheres, ao rejeitar o seguro de saúde delas – segundo os pleiteantes, pelo fato de o valor do reembolso ser muito baixo. Outra mulher, após uma rodada de exames da Myriad, foi obrigada a tomar decisões agonizantes sobre fazer uma única ou dupla mastectomia ou ter seus ovários removidos, com completa falta de informação. O custo de um exame adicional de mutação de BRCA era inacessível (a Myriad cobra US$ 700 a mais por informações que as orientações nacionais dizem que devem ser fornecidas aos pacientes). E a revisão dos exames era impossível devido às patentes da Myriad.
A boa notícia que vem da Suprema Corte é que, nos Estados Unidos, os genes não poderiam ser patenteados. De certa maneira, a corte devolveu às mulheres algo que elas pensavam que já tinham. Isto teve duas grandes implicações práticas: uma é que agora pode haver competição para o desenvolvimento de exames mais precisos e menos caros para o gene. Poderemos novamente ter um mercado competitivo movendo a inovação. A outra é que mulheres pobres terão chances mais igualitárias de vida – neste caso, de diagnosticar o câncer de mama.
Mesmo sendo extremamente importante, esta vitória é apenas um fragmento do cenário de propriedade intelectual que é pesadamente definido pelos interesses corporativos – frequentemente norte-americanos. Os Estados Unidos tentaram aplicar seu regime de propriedade intelectual a outros países, através da Organização Mundial do Comércio (OMC) e de outros acordos bilaterais e multilaterais de comércio. Atualmente, o mesmo objetivo é perseguido por meio do chamado Acordo Estratégico Trans-Pacífico de Associação Econômica (“Trans-Pacific Partnership”). Acordos de comércio são, teoricamente, um importante instrumento de diplomacia: a integração no comércio promove outros acordos, em outras dimensões. Mas as tentativas do escritório de representação do comércio dos Estados Unidos de convencer os outros estão voltadas para os que consideram os lucros corporativos mais importantes do que a vida humana. Isto assinala o posicionamento internacional estadunidense: o estereótipo do norte-americano estúpido.
O poder econômico normalmente fala mais alto do que valores morais. Em muitas instâncias nas quais os interesses corporativos americanos prevalecem, em relação à propriedade intelectual, nossas políticas ajudam a aumentar a desigualdade no exterior. Na maioria dos países é muito parecido com os Estados Unidos: as vidas da população mais pobre são sacrificadas no altar dos lucros corporativos. Mas mesmo naqueles onde, digamos, o governo proveria um exame como o da Myriad com preços acessíveis para todos, há um custo: quando um governo paga preços de monopólio por exames médicos, ele gasta dinheiro que poderia ser gasto para pagar o salvamento de outras vidas.
O caso da Myriad representou a materialização de três mensagens-chave de meu livro O Preço da Desigualdade. Primeiro, argumento que a desigualdade social foi um resultado não somente das leis econômicas, mas também de como formatamos nossa economia – por meio da política, incluindo quase todos os aspectos no nosso sistema legal. Aqui, é nosso regime de propriedade intelectual que contribui desnecessariamente à forma mais grave de desigualdade. O direito à vida não deveria estar subordinado à possibilidade de pagar por ele.
O segundo é que alguns dos aspectos mais perversos de criação de desigualdade em nosso sistema econômico são um resultado de rent-seeking [busca de renda]. São lucros e desigualdade gerados pela manipulação social, ou das condições políticas, para obter um pedaço maior da fatia de bolo da economia – ao invés de fazer o bolo crescer. E a parte mais injusta desta apropriação de riqueza ocorre quando os lucros de quem está no topo são gerados às custas de quem está na base. Os esforços da Myriad satisfaziam ambas condições: os lucros que a companhia auferia pela cobrança dos exames não adicionavam nada ao crescimento e ao dinamismo da economia e, simultaneamente, diminuíam a riqueza dos que não podiam pagar por eles.
Enquanto todos os segurados contribuíam para os lucros da Myriad – os “premiums” tinham que subir de categoria e milhões de norte-americanos de média renda e sem seguro tinham que pagar os preços monopolísticos da Myriad – os dessegurados na base da pirâmide eram os que tinham que pagar os preços mais altos. Com o preço inacessível do exame, foram eles que enfrentaram maior risco de morte precoce.
Os defesores dos direitos de propriedade intelectual dizem que este é simplesmente o preço que temos que pagar para produzir inovação que a longo prazo salvarão vidas. Seria uma troca: a vida de mulheres relativamente pobres hoje versus a vida de muitas outras mulheres, em algum momento do futuro. Mas esta alegação está errada em vários aspectos. Neste caso em particular, é especialmente errado pelo fato de que havia grandes chances de estes dois genes serem isolados (“descobertos”, na terminologia da Myriad) sem muita demora, como parte do projeto global “Projeto Genoma Humano”. Mas é errado em outros aspectos também. Pesquisadores genéticos argumentaram que esta patente impedia o desenvolvimento de melhores exames e também interferia no avanço da ciência. Todo o conhecimento é baseado em conhecimentos anteriores. Se eles tornam-se menos acessíveis, a inovação fica comprometida. A própria descoberta da Myriad – como qualquer outra ciência – usou tecnologias e ideias que também foram desenvolvidas por outras companhias. Se estes conhecimentos prévios não estivessem disponíveis publicamente, a Myriad não poderia ter feito o que fez
E este é o terceiro grande tema. Chamei meu livro de O preço da desigualdade para enfatizar que ela não é apenas moralmente repugnante mas também tem custos materiais. Quando o regime legal que governa os direitos de propriedade intelectual é precário, ele facilita o rent-seeking – e o nosso regime é precário, embora esta e outras decisões recentes da Suprema Corte conduziram a um regime que já é melhor do que poderia ser. E o resultado é que existe, na verdade, menos inovação e mais desigualdade.
Na verdade, um importante insight de Robert W. Fogel, historiador econômico e ganhador de um prêmio Nobel que morreu no mês passado, foi que a sinergia entre melhoras na saúde e a tecnologia são responsáveis por uma grande parte da explosão do crescimento econômico desde o século XIX. É por isso que os regimes de propriedade intelectual que criam rendas monopolistas e bloqueia o acesso à saúde provocam desigualdades e dificultam o crescimento de forma generalizada.
Existem alternativas. Advogados de direitos da propriedade intelectual têm superestimado seu papel de promotora da inovação. A maioria das inovações-chave – das ideias básicas que levaram aos computadores aos transistores, lasers ou a descoberta do DNA – não foram motivadas por lucros financeiros. Foram provocadas pela busca do conhecimento. É evidente: recursos precisam estar disponíveis. Mas o sistema de patentes é apenas uma maneira, e frequentemente não é a melhor, de prover esses recursos. As pesquisas financiadas pelos governos, fundações e o sistema de premiações (que oferece um prêmio a quem faz a descoberta e depois a torna amplamente acessível usando o poder dos mercados para benefícios reais) são alternativas, com maiores vantagens e sem as desvantagens do aumento de desigualdades do atual sistema de direitos de propriedade intelectual.
O esforço da Myriad para patentear o DNA humano foi uma das piores manifestações das desigualdades no acesso à saúde e das sociais nos Estados Unidos. O fato de a decisão da Suprema Corte ter mantido direitos e valores preciosos é motivo para um breve alívio. Mas é apenas uma vitória na grande luta por uma sociedade e economia mais igualitárias.

Quanto o Brasil realmente investe em educação pública?

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 Quanto o Brasil realmente investe em educação pública?


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ESCRITO POR OTAVIANO HELENE   
QUARTA, 17 DE JULHO DE 2013


As principais fontes de financiamento da educação pública no Brasil são as arrecadações de impostos federais, estaduais e municipais e o salário-educação. No caso dos impostos, há percentuais mínimos a serem destinados à educação, estabelecidos nas constituições nacional e estaduais e em leis municipais. Esses percentuais são 18% para a União e entre 25% e 35% para os Estados e municípios. O salário educação, por sua vez, corresponde a 2,5% das folhas de pagamentos. (O salário-educação não atinge a totalidade dos assalariados, pois há vários setores isentos dessa contribuição.) Portanto, uma primeira forma de se estimarem os recursos que vão para a educação pública é simplesmente calcular aqueles percentuais.

Por exemplo, para o ano de 2009, para o qual há dados já suficientemente consolidados dos orçamentos públicos das três esferas de governo, obtivemos o valor de 163 bilhões de reais para os gastos públicos com educação, o que correspondeu a 5% do PIB daquele ano (de 3,2 trilhões de reais).

É necessário observar que esse valor de 5% do PIB em 2009 é significativamente superior ao que o setor dispunha há cerca de uma década antes, quando não atingia sequer 4% do PIB. Entre as razões para o aumento da participação da educação no PIB brasileiro está o aumento da arrecadação pública, que passou de um valor próximo dos 30% do PIB por volta do ano 2000 para cerca de 35% em anos mais recentes, aumento esse possivelmente provocado pelo aumento real da renda per capita no país e o aumento da formalização da economia. Ainda outro fator a melhorar a arrecadação pública pode ter sido um esforço, inclusive de governos estaduais e municipais, no sentido de reduzir a sonegação e a evasão fiscal.

A partir de 2009, com a redução do efeito da Desvinculação de Recursos da União (a conhecida DRU) sobre os investimentos federais na educação, adotada gradualmente a partir daquela data e em sua totalidade a partir de 2011, os recursos disponíveis ao setor cresceram cerca de 0,3% do PIB. Portanto, a educação pública poderia dispor, hoje, de um valor da ordem de 5,3% do PIB.
Ilegalidade, truques e maquiagens

Entretanto, muitos fatores contribuem para fazer com que os investimentos educacionais efetivos (aqueles que são transformados em salários de professores e demais trabalhadores da área, instalações e equipamentos escolares, atendimento dos alunos etc.) fiquem abaixo daqueles 5,3% do PIB. Um deles é que muitos municípios e estados simplesmente não investem na educação os percentuais mínimos exigidos. Outro fator, ainda, é a possibilidade de driblar a lei. Um exemplo disso é não considerar o imposto de renda descontado das folhas de pagamento de servidores (o qual fica integralmente com o ente da federação que paga o salário) no cálculo do imposto recebido.

A inexistência de uma regulamentação que defina de forma completa, sem ambiguidade e omissões, o que pode e o que não pode ser considerado gasto com educação é mais um fator a reduzir os recursos para o setor. Por exemplo, podem estar incluídas como despesas públicas com educação coisas que nada têm a ver com ela: transferências para instituições privadas, despesas correspondentes ao desenvolvimento científico e tecnológico (por sinal computadas também entre os investimentos em ciência e tecnologia, configurando dupla contabilidade) e diversas despesas de atendimento à população que aparecem incluídas nos orçamentos de secretarias e órgãos de educação. Um exemplo concreto da possibilidade dessa prática é fornecido pela lei que alterou, em 2007, o sistema previdenciário dos servidores públicos do estado de São Paulo, a qual prevê que os “valores dos benefícios pagos pela SPPREV (órgão responsável pelo sistema previdenciário paulista) serão (...) computados para efeito de cumprimento de vinculações legais e constitucionais de gastos em áreas específicas”, prática também adotada em outros estados. Ou seja, o pagamento de um aposentado da área de educação deve ser considerado como gasto em educação (mas, claro, essa despesa também é incluída entre os gastos previdenciários, novamente outro tipo de dupla contabilidade).

Além desses procedimentos, há muitos outros, fazendo com que os recursos realmente destinados à educação pública devam ser inferiores àqueles 5,3% do PIB que, embora definido por leis e constituições como sendo um valor mínimo, é, na prática, um valor máximo.

Outra forma de estimar os investimentos públicos em educação é considerar o Fundeb, cujo valor total previsto para 2013 é de 117 bilhões de reais. Considerando o fato de que há outros recursos para a educação básica além do previsto naquele fundo e a existência do ensino superior, este correspondendo a cerca de 1/6 das despesas educacionais, podemos estimar os investimentos públicos em educação no Brasil, a valores de 2013, em 200 bilhões de reais, valor equivalente a 4,2% do PIB no mesmo ano (estimado em 4,8 trilhões de reais).

Portanto, os recursos públicos para a educação no Brasil correspondem, hoje, a um valor entre 4,2% e 5,3% do PIB, sendo possivelmente mais próximo do menor deles.

Leia também:

Otaviano Helene, professor no Instituto de Física da USP, foi presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).