Wednesday 29 January 2014

O Relativismo Ocidental e o Perspectivismo Ameríndio

saindo das prateleiras
http://kakarodrigues.wordpress.com/2012/06/06/perspectivismo-amerindio/


O Relativismo Ocidental e o Perspectivismo Ameríndio

“Outra coisa, não disse Cunhambebe, o chefe tupinambá, quando Hans Staden, vendo-o saborear uma perna de inimigo, argumentava aterrado que sequer as bestas selvagens comiam seus semelhantes. Com humor, algo Zen, Cunhambebe apontou para o abismo que o separa do europeu. Não disse: não, isto que como, meu inimigo, não é meu semelhante, é um animal…Ele disse: Eu sou o inimigo, Eu sou um jaguar; e está muito gostoso“. (Viveiros de Castro, 1984).
Eduardo Viveiros de Castro ao etnografar os povos ameríndios, observa que cada ser é um centro de perspectivas no universo e todo acontecimento é no mínimo dois. Dessa forma, Viveiros de Castro é o primeiro antropólogo a abordar as relações entre os seres pertencentes à cosmologia dos ameríndios através do perspectivismo, e o resultado desse trabalho trouxe contribuições para o campo da antropologia, que até então seguia teorias relativistas que não poderiam ser aplicadas para uma relação tão complexa quanto as existentes entre os ameríndios e os seres que fazem parte das suas relações.
O relativismo corresponde a uma análise tipicamente ocidental, e defende que certos princípios organizadores sociais (como a moral) são fatores resultantes da cultura, e que todas as interpretações são reais dentro de realidades diferentes. Enquanto o perspectivismo pressupõe que toda percepção tem lugar a partir de uma perspectiva que é alterável, ou seja, existe uma única realidade que é alterável conforme a perspectiva de cada um frente à realidade.
Nas cosmologias indígenas o mundo é povoado por muitas espécies (humanos e não humanos) e o mundo está dotado de consciência e cultura, e cada espécie se vê como humano e as demais como não humanas, e nesta relação às espécies atribuem sentidos diferentes que dialogam entre si e com todos os acontecimentos. Este é um circunstancialismo, onde todo mundo é humano de antemão.
O relativismo coloca o antropólogo em condição desigual com o nativo, pois este quando denomina o outro por nativo já pressupõe que existe uma condição desigual de interpretar o universo, e o antropólogo é aquele que toma a palavra discursiva para interpretar o sentido do outro, transformando-o em matéria que não detém sentido do seu próprio sentido, como ressaltou o autor em “O nativo relativo”. Eduardo Viveiros de Castro polemiza essa questão e propõe ao antropólogo inverter o jogo, ou seja, abdicar da sua posição de “conhecimento de causa” para tornar-se o observado, a fim de observar os sentidos atribuídos pelo outro em suas relações com os sujeitos, e é a partir da observação do ponto de vista dos índios sobre o ponto de vista  que um universo de relações dotadas de sentidos começam a aparecer para o observador. Em “Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena”, Eduardo Viveiros de Castro enfatiza que a capacidade de ocupar um ponto de vista depende do grau e da situação, alguns não humanos atualizam a “personitude” e “perspectiva” de modo mais completo.
O perspectivismo raramente se aplica em extensão a todos os animais, geralmente ocorre com grandes seres predadores, tais como o jaguar, a sucuri, ou sobre presas típicas humanas, como os peixes e os veados por exemplo.          A oposição comum entre os humanos e os animais, não é a animalidade, e sim a humanidade, para os ameríndios a humanidade é uma condição, o que deixa em evidência um aspecto importante sobre os ameríndios: a distinção entre espécie e condição.
Existe uma valorização simbólica da caça por esta representar o campo onde as interações entre os humanos e não humanos se relacionam.
Observando os Jurunas, percebe-se que eles são para os porcos uma espécie de inimigo e portanto um não humano  (e por isso os Jurunas são caça para os porcos). Enquanto para os Jurunas os porcos pertencem à atividade da caça, e é através dela que se concretiza a relação com os porcos. A relação dos porcos com os Jurunas está dotada de significado para ambas as partes, pois enquanto os porcos para os Jurunas representam perigo por entenderem que os Jurunas são inimigos não humanos, os porcos para os Jurunas representam espíritos não humanos. Os Jurunas pensam que os porcos pensam que são humanos, e por eles saberem que não são, sabem do risco que é esta interpretação dos porcos para eles. É correto afirmar que os porcos estão para os Juruna assim como os Juruna estão para os porcos.
A onça, por exemplo, se vê como humano e não nos vê como humano (nós nos vemos como humanos) e estas são duas perspectivas que dialogam através das experiências de cada parte, diferente do relativo que depende do tempo e do espaço. No perspectivismo ameríndio uma relação social é uma relação entre sujeitos, mesmo quando as espécies são diferentes elas dialogam atribuindo diferenças entre si.
Eduardo Viveiro de Castro enfatiza que o xamanismo também tem uma valorização singular, pois os xamãs possuem a habilidade de “cruzar deliberadamente as barreiras corporais e adotar a perspectiva de subjetividades alo-específicas de modo a administrar as relações entre estas e os humanos”.p.231.
O xamanismo é uma forma de agir que implica um modo de conhecer, e conhecer é um personificar, “tomar o ponto de vista do que quer se tornar conhecido”, ou seja, do outro sujeito ou agente e a forma do outro é a pessoa.
Para os ameríndios existe a unidade de espíritos e a diversidade de corpos, a cultura seria a forma do universal e a natureza ou o objeto a forma do particular.
O autor se distancia do antropomorfismo e afirma que todos os seres veem o mundo da mesma maneira, o que muda é o mundo que eles veem e dessa forma Eduardo Viveiros de Castro distancia sua abordagem também do relativismo cultural que supõe uma diversidade de representações (subjetivas e parciais). O perspectivismo não é uma representação, porque as representações são propriedades do espírito, mas o ponto de vista está no corpo.  O corpo possui uma importância, e sua forma visível é um signo importante, e é composto não pela sua fisiologia e sim por um conjunto de modo der ser que resultam no habitus, e por isso muitas vezes o corpo pode ser enganador, quando a aparência de um humano pode estar ocultando uma afecção-jaguar, por exemplo. A diferença dos corpos só pode ser captada pelo ponto de vista exterior, uma vez que para si mesmo, cada sujeito possui uma forma humana, portanto o corpo é a origem das perspectivas.

Só morto não tem outro

casa de vidro
http://acasadevidro.com/2012/06/05/so-morto-nao-tem-outro-reflexoes-antropologicas-de-eduardo-viveiros-de-castro/



“Só morto não tem outro” – Reflexões antropológicas de Eduardo Viveiros de Castro
“Pôr em xeque a supremacia do pensamento ocidental-moderno fazendo-o experimentar outras ontologias, outras epistemologias e também outras tecnologias.” Esta é, segundo Renato Sztutman, organizador do excelente livro Encontros (Azougue Editorial, 254 pgs, R$29,90), uma das intenções das reflexões antropológico-sociológico-políticas de Eduardo Viveiros de Castro. Inspirando-se em fontes tão variadas como o Movimento Tropicalista dos anos 1960, a Antropofagia de Oswald de Andrade, a literatura de Guimarães Rosa, a análise filosófica de Deleuze e Guattari, as teorias revolucionário-baderneiras de Hakim Bey, sem falar num punhado de outros antropólogos (Lévi-Strauss, Roy Wagner, Marilyn Strathern…), Viveiros de Castro é um dos estandartes na resistência atual “contra a sujeição cultural na América Latina aos paradigmas europeus e cristãos” (Sztutman).
Mais de 30 anos atrás, quando começou a estudar antropologia, Viveiros de Castro rememora: “naquela distante época estávamos sendo acuados pela geopolítica modernizadora da ditadura – era o final dos anos 1970, que nos queria enfiar goela abaixo o seu famoso projeto de ocupação induzida (invasão definitiva seria talvez uma expressão mais correta) da Amazônia”. Um dos esforços deste antropólogo, desde então, foi revelar a complexidade e riqueza dos povos indígenas latino-americanos, com a constante preocupação em “conceber todo nativo em sua capacidade de fabricar teorias sobre si e sobre outrem”, como diz Sztutman. O conceito de “perspectivismo ameríndio”, que caracterizaria o jeito indígena de conceber a realidade, visa nos abrir os olhos para outro modo de  perceber o real, uma perspectiva nas antípodas do cartesianismo/positivismo tão típico do nosso Ocidente.
Por  ”perspectivismo ameríndio” ele se refere à “concepção indígena segundo a qual o mundo é povoado de outros sujeitos, agentes ou pessoas, além dos seres humanos, e que vêem a realidade diferentemente dos seres humanos” (p. 32). “Uma das teses do perspectivismo é que os animais não nos vêem como humanos, mas sim como animais” (p. 35), aponta Viveiros de Castro. Por exemplo: para os homens, as onças no mato são apenas animais, “bestas”, “feras”; mas para as onças no mato, os homens é que não passam de bichos (e de carne sedutoramente suculenta). E na perspectiva dos urubus, a carniça… é um delicioso peixe-assado. Viveiros de Castro, com aquilo que aprendeu morando e convivendo com os índios da Amazônia, nos convida a olhar o mundo como eles o fazem: concebendo uma multiplicidade de consciências que se esparramam por toda a paisagem do real, sendo que cada animal teria uma tendência a fazer de sua perspectiva uma espécie de “centro-do-mundo”, de conceber-se como “subjetividade” e objetificar o outro.
Em muitos mitos indígenas, deparamos com a noção de que os animais são criaturas que foram humanas um dia. “Tal humanidade pretérita dos animais nunca é esquecida, porque ela nunca foi totalmente dissipada, ela permanece lá como um inquietante potencial – justo como nossa animalidade “passada” permanece pulsando sob as camadas de verniz civilizador” (p. 36). Donde emergem frases, aparentemente absurdas, altamente poéticas, inspiradoras de reflexões altamente interessantes, como “onça também é gente” ou “a oncidade é uma potencialidade das gentes” (p. 38).
Com muito senso de humor, Viveiros de Castro aponta: “considerar que os humanos são animais não nos leva necessariamente a tratar seu vizinho ou colega como trataríamos um boi, um badejo, um urubu, um jacaré. Do mesmo modo, achar que as onças são gente não significa que se um índio encontra uma onça no mato ele vai necessariamente tratá-la como ele trata seu cunhado humano. Tudo depende de como a onça o trate… E o cunhado…” (p. 38)
Este pensamento antropológico, decerto, tem todo um impacto político, todo um “ideal” de diversidade socioambiental, todo um plano de resistência ao que Raul Seixas chamaria de “alugar o Brasil”, toda uma revolta contra os desenvolvimentismos ecocidas, destruidores não só de ecossistemas que sustentam a biodiversidade, mas desrepeitosas afrontas à outridade de outros cujas perspectivas poderiam ampliar as nossas. Olhem só o pesadelo que faz Viveiros de Castro despertar em pânico em algumas madrugadas:
“O Brasil do futuro: como diz Beto Ricardo, metade uma grande São Bernardo, a outra metade uma grande Barretos. E um punhado de Méditerranées à beira-mar plantados, outro tanto de hotéis de eco-turismo em locais escolhidos dentro do Parque Nacional “Assim Era a Amazônia”, criado pela Presidente Dilma Roussef (em segundo mandato) no mais novo ente da federação, o Iowa Equatorial, antigo estado do Amazonas. Bem, esse é só um pesadelo que me acorda de vez em quando…” (p. 252)
Em tempos como os nossos, em que a terceira maior usina hidrelética do mundo (Belo Monte) está sendo construída pelo Governo Federal, e em que o Novo Código Florestal gerou legítimos protestos por parte de ambientalistas e ecologistas, é bom lembrar, como faz Viveiros de Castro, que a ditadura no Brasil agia em prol de um “projeto de desindianização jurídica”. Ela consistia na presunção do Estado autoritário de que podia impor à força o estatuto de “cidadãos brasileiros” (logo, de “súdito” sob a tutela e com dever de obediência ao Estado nacional) aos indígenas. “Índio” (ao menos era o que queria a ditadura…), era “atributo determinável por inspeção” e “tratar-se ia apenas de mandar chamar os peritos”… Viveiros de Castro sugere ainda que “des-indianizar” o Brasil servia para que os militares pudessem dizer: “Esse pessoal não é mais índio, nós lavamos as mãos. Não temos nada a ver com isso. Liberem-se as terras deles para o mercado; deixe-se eles negociarem sua força de trabalho no mercado.”
Em levante contra isso, Viveiros de Castro comenta: “Nosso objetivo político, como antropólogos, era estabelecer definitivamente que índio não é uma questão de cocar de pena, urucum e arco-e-flecha, algo de aparente e evidente nesse sentido estereotipificante, mas sim uma questão de ‘estado de espírito’. Um modo de ser e não um modo de parecer. A nossa luta, portanto, era uma luta conceitual: nosso problema era fazer com que o AINDA do juízo de senso comum “esse pessoal AINDA é índio” (ou “não é mais índio”) não significasse um estado transitório ou uma etapa a ser vencida. A idéia, justamente, é a de que os índios “ainda” não tinham sido vencidos, nem jamais o seriam. Em suma, a idéia era que “índio” não podia ser visto como uma etapa na marcha ascensional até o invejável estado de “branco” ou de “civilizado”.
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Abaixo, leia mais alguns instigantes trechos do livro:
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“Uma combinação perfeitamente equilibrada de sedução afetiva pelo concreto e amor intelectual pela abstração não existe, e, se existisse, geraria resultados provavelmente muito pouco interessantes.
Minha imersão no “vivido” dos povos junto a quem vivi (e pensei) sempre esteve acompanhada de um forte e primordial interesse pelo “pensado” destes povos, pelo modo como o seu vivido era igualmente e inevitavelmente um pensado. Nunca tomei como real a oposição – tão tomista, tão cristã – entre viver e pensar; e jamais acreditei que para afirmar o pensamento fosse preciso negar a vida, ou experimentá-la negativamente, isto é, vivê-la no sofrimento e como sofrimento. Ao contrário, faço minhas as palavras da sutil escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol: “Creio que onde há prazer, o conhecimento está próximo”.
Viver é pensar: isso vale para todos os viventes, sejam eles amebas, árvores, tigres ou filósofos. Não é isso, afinal, o que afirma o perspectivismo ameríndio, a saber, que todo vivente é um pensante?
Se Descartes nos ensinou, a nós modernos, a dizer “eu penso, logo existo” – a dizer, portanto, que a única vida ou existência que consigo pensar como indubitável é a minha própria -, o perspectivismo ameríndio começa pela afirmação duplamente inversa: “o outro existe, logo pensa”.
E se esse que existe é outro, então seu pensamento é necessariamente outro que o meu. Quem sabe até deva concluir que, se penso, então também sou um outro. Pois só o outro pensa, só é interessante o pensamento enquanto potência de alteridade. O que seria uma boa definição da antropologia. E também uma boa definição da antropofagia, no sentido que este termo recebeu em certo alto momento do pensamento brasileiro, aquele representado pela genial e enigmática figura de Oswald de Andrade: “Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.” Lei do antropólogo.
Minha história de amor e ódio se resumiria então assim: ódio ao preceito que ensina que é preciso negar o outro para afirmar o eu, preceito que me parece (com ou sem razão) emblemático do Ocidente moderno; e amor pelo pensamento indígena, pensamento de um outro que afirma a vida do outro como implicando um outro pensamento, e que é capaz de pensar sem puritanismo intelectual (quero dizer, sem hipocrisia) a identidade profunda e radical entre antropologia e antropofagia.
[...] Eu diria que minha interpretação do perspectivismo indígena é talvez mais nietzschiana do que leibniziana. Primeiro, porque o perspectivismo indígena não conhece um ponto de vista absoluto – o ponto de vista de Deus, em Leibniz – que unifique e harmonize os potencialmente infinitos pontos de vista existentes. Segundo, porque as diferentes perspectivas são diferentes interpretações, isto é, estão essencialmente ligadas aos interesses vitais de cada espécie, são as “mentiras” favoráveis à sobrevivência e afirmação vital de cada existente.
[...] Vejo o perspectivismo como um conceito da mesma família política e poética que a antropofagia de Oswald de Andrade, isto é, como uma arma de combate contra a sujeição cultural da América Latina, índios e não-índios confundidos, aos paradigmas europeus e cristãos. O perspectivismo é a retomada da antropofagia oswaldiana em novos termos.”
EDUARDO VIVEIROS DE CASTRO
Entrevista à revista Amazonía Peruana, 2007
A foto de abertura do post é do próprio: índios Arawetés, 1991.

QUER MAIS?
 >>> No Depredando o Orelhão, leia o que diz Viveiros de Castro sobre cibercultura e criação, Creative Commons e copyright, Robin Hood e Antropofagia… Aqui.

No YouTube tem muuuuito mais

Tuesday 28 January 2014

STJ reconhece existência de injustiça ambiental no Brasil

o eco
http://www.oeco.org.br/guilherme-jose-purvin-de-figueiredo/27955-stj-reconhece-existencia-de-injustica-ambiental-no-brasil


Professor de Direito Ambiental. Doutor em Direito pela USP. Coordenador Internacional da Aprodab. Autor dos livros “Curso de Direito Ambiental” (5ª Ed., RT) e “Propriedade no Direito Ambiental” (4ª Ed., RT).

STJ reconhece existência de injustiça ambiental no Brasil
Guilherme José Purvin de Figueiredo - 27/01/14

Morro do bumbaDesabamento do Morro do Bumba, em Niterói, matou 47 pessoas em 2010. Favela foi construída em cima de um lixão desativado. Foto: Vladimir Platonow /ABr.
Há 12 anos, a interdição da empresa Acumuladores Ajax era manchete nos jornais. De um universo de 30 exames realizados pelo Instituto Adolfo Lutz em crianças de até 7 anos que moravam perto da empresa, 22 haviam apresentado índices de chumbo acima do limite recomendado pela OMS. A Folha de S. Paulo de 12.04.2002 informava que um filtro colocado em uma casa a 400 metros da empresa tinha acumulado 3,7 μg de chumbo emum dia, quando o aceitável é de 1,5 μg em três meses.
Na ocasião, a Vigilância Sanitária da Secretaria da Saúde paulista autuou a empresa, aplicando-lhe multa administrativa pela reiterada emissão de chumbo na atmosfera, gerando a exposição e contaminação, por esse metal pesado, do meio ambiente e da população. As vítimas eram pessoas humildes que viviam nas imediações da indústria, na cidade de Bauru (SP). E aquela que era uma das maiores empresas brasileiras de fabricação e reciclagem de baterias automotivas, com mais de mil empregados, não pagou a multa, obrigando a PGE/SP a promover sua execução fiscal.
Pois bem, finalmente, em 23 de outubro de 2013 transitou em julgado no STJ o acórdão em sede de Recurso Especial n. 1.310.471-SP, última tentativa judicial de se postergar o pagamento da multa administrativa.
Sob a perspectiva econômica, a cobrança da multa, depois de 12 anos, não seria digna de comemoração. No entanto, por conta do teor de referido acórdão, o tema adquiriu uma importância transcendental. De forma inédita, o STJ reconheceu o princípio in dubio pro salute, enfatizou o papel do juiz ao decidir litígios que envolvam substâncias perigosas e reconheceu a perversa relação existente entre miséria e poluição.
Ainda que a natureza dos bens ambientais seja difusa, é fato que existe certa margem para uma injusta distribuição das externalidades negativas (poluição visual, poluição sonora, resíduos sólidos), quase sempre suportadas pelas camadas da população mais pobre. Pois bem, o acórdão no REsp 1.310.471-SP, de que foi relator o Exmo. Sr. Ministro Herman Benjamin, pela primeira vez na história da jurisprudência em nosso país reconhece a existência de injustiça ambiental e de segregação pela saúde ao ressaltar:
“Aqui, como é realidade comum no mundo todo em casos de graves incidentes de poluição por resíduos tóxicos ou perigosos, em sua grande maioria as vítimas são pessoas humildes, incapazes, pela baixa instrução, de conhecer e antecipar riscos associados a metais pesados e agentes carcinogênicos, mutagênicos, teratogênicos e ecotóxicos”.
Mais à frente, o acórdão é ainda mais enfático na denúncia das mazelas em nosso país no que diz respeito à igualdade social:
“Substituímos, ou sobrepusemos, à segregação racial e social – herança da discriminação das senzalas, da pobreza da enxada e das favelas – a segregação pela poluição, isto é, decorrente da geografia da contaminação industrial e mineral, do esgoto a céu aberto e da paisagem desidratada dos seus atributos de beleza”.
Nesse sentido, podemos dizer que, quando, na USP-Leste, criada sobretudo para atender à demanda de jovens da periferia de São Paulo, as aulas são interrompidas por causa de zoonoses e emanação de metano do solo onde o campus foi construído; ou então quando a população humilde é literalmente empurrada para APPs urbanas, isto é, as encostas dos morros de Petrópolis, que é onde lhes resta para construção de suas casas, estamos diante de uma situação duplamente injusta: os espaços de exclusão social também são ambientalmente insalubres ou perigosos.
O STJ, ao reconhecer a existência de injustiça ambiental (compartilhamento socialmente desigual da ambientes degradados), inaugura uma nova fase no Direito Ambiental, que não deve limitar-se a cuidar apenas dos parques, florestas, rios e cachoeiras. As normas de Direito Ambiental socorrem a dignidade de vida humana e a redução das desigualdades sociais com a mesma intensidade com que vêm na proteção da fauna, da flora e dos elementos abióticos da natureza.
Além disso, como destaca o acórdão, sob o manto da razoabilidade, se forem tímidas as leis que dizem respeito à saúde humana, o Judiciário “deve adotar referências mais rigorosas da Organização Mundial de Saúde – OMS”. Isto para que não sejam adotados dois padrões de controle: um, destinado a proteger uma elite capaz de se auto proteger; e outro “frouxo, incidente sobre a esmagadora maioria da sociedade, notadamente sobre aqueles que, expatriados em guetos sociais e até raciais, acham-se destituídos de poder e voz para eficazmente reclamar seus direitos formalmente estatuídos na Constituição e nas leis”.
É de se supor que este precedente jurisprudencial será de enorme valia, por exemplo, na luta pelo banimento do amianto em nosso país.


Monday 27 January 2014

Incríveis imagens de nosso planeta feitas do espaço

o eco
http://www.oeco.org.br/geonoticias/27956-incriveis-imagens-de-nosso-planeta-feitas-do-espaco


Jornalismo feito com imagens de satélite e ferramentas geoweb

Incríveis imagens de nosso planeta feitas do espaço
Paulo André Vieira - 26/01/14

Os satélites e astronautas que orbitam ao redor do planeta capturam as mais incríveis imagens da Terra. Desde eflorescência algais até erupções vulcânicas, passando por lagos congelados e campos de turbinas eólicas, as lentes e sensores localizados além de nossa atmosfera nos lembram sempre que este pontinho azul na imensidão do espaço guarda paisagens deslumbrantes e surpreendentes. Veja abaixo algumas delas. As imagens são doObservatório da Terra da NASA.



No dia 30 de dezembro de 2013 uma grande eflorescência algal foi registrada pelo satélite Aqua em um trecho do Oceano Índico a 600 km da costa da Austrália. Esse fenômeno pode ocorrer quando uma grande massa de água escapa de uma corrente marítima e começa a girar como um redemoinho. Esses fenômenos, que podem se estender por centenas de quilômetros e durar meses, agitam o oceano e trazem nutrientes das profundezas, fertilizando as águas de superfície e propiciando o ambiente ideal para organismos planctónicos.


As baixas temperaturas no leste da Ásia estimularam um surto de um fenômeno chamado "ruas de nuvens" sobre o Mar do Japão. Quando o ar frio sopra abaixo de uma camada de ar mais quente e sobre águas também mais quentes, um efeito similar a cilindros rotativos de ar faz com que as nuvens se formem em longas linhas paralelas acompanhando a direção do vento. No dia em que o satélite MODIS capturou esta imagem,  9 de janeiro de 2014, a temperatura em Vladivostok, Rússia, ficou entre -12°C e -21°C


O Rio Missouri é o mais longo da América do Norte, com 3.767 km de extensão. O rio não segue um curso perfeitamente em linha reta, fazendo várias curvas ao longo de seu curso, como a retratada nesta fotografia feita por um astronauta a bordo da Estação Espacial Internacional. Esta curva em especial é ocupada pelo lago Sharpe, cuja superfície congelada e coberta de neve se mistura com o resto da paisagem em suas margens.


Nesta imagem feita pelo Landsat 8 no dia 4 de janeiro de 2014 podemos ver que a cobertura de neve no monte Shasta, na Califórnia, está bem abaixo da média histórica para o período. O déficit de neve no Shasta é um retrato dos baixos níveis de neve e chuva registrados em toda  Califórnia. Os números da precipitação em algumas áreas do estado estão se mostrando os mais baixos já registrados.

Se você fosse uma planta, o Vale do Oobloyah na ilha de Ellesmere, Canadá, provavelmente não seria o primeiro lugar que você gostaria de criar raízes. Um grupo de pesquisadores, porém, encontrou duas espécies novas de plantas crescendo na morena do glaciar de Arklio, um amontoado de pedras que os glaciares, ao descer, vão acumulando dos lados e na sua parte inferior. O glaciar está localizado na mesma latitude da Groenlândia, e por isso as temperaturas do ar e do solo são congelantes mesmo nos dias mais quentes. Nesta foto feita pelo satélite EO-1 podemos ver vários glaciares, como o Nukapingwa, o Arklio, o Perkeo e o Midget.


A vinte quilômetros da costa da Inglaterra está o maior parque eólico offshore do mundo. Localizado no estuário do Tamisa, onde o Rio Tamisa encontra o Mar do Norte, o London Array tem um poder de geração máxima de 630 megawatts, energia o suficiente para abastecer até 500 mil residências. Os pontos brancos nesta imagem feita pelo Landsat 8 em 28 de abril de 2013 são as turbinas eólicas, e alguns barco também podem ser vistos.


A erupção do vulcão San Miguel de El Salvador, em 29 de dezembro de 2013, deixou a cúpula revestida por uma camada de cinzas. O San Miguel é um dos vulcões mais ativos da El Salvador, e sua última erupção havia acontecido em 2002. A erupção de dezembro de 2013 lançou uma nuvem de cinzas de cerca de 9 km na atmosfera. As cinzas cairam tanto na encosta do vulcão quanto em cidades próximas, forçando 5.000 evacuação na região. A imagem é do satélite EO-1, feita no dia 15 de janeiro de 2014.

Nesta fotografia as nuvens sobre o sul da Mauritânia projetam sombras sobre a superfície do planalto de escuras rochas sedimentares. É possível ver também uma série de mesas, remanescentes isolados do planalto, na parte superior e perto do centro da imagem. Vemos também uma escarpa com cerca de 250 metros de altura. A foto foi feita pela equipe a bordo da Estação Espacial Internacional no dia 8 de janeiro de 2014.

Saturday 25 January 2014

Balzac e os rolezinhos

OP
http://outraspalavras.net/destaques/balzac-e-os-rolezinhos/


Balzac e os rolezinhos

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Lucien de Rubempré, personagem pequeno-burguês de Balzac: um mano do século XIX?
Quando jovens da periferia são impedidos de entrar num shopping, desenrolam-se os capítulos contemporâneos da “Comédia Humana”
Por Fábio Salem Daie
Há cerca de duzentos anos, mais precisamente entre 1842 e 1848, Honoré de Balzac reunia o conjunto de sua obra para a publicação do ciclo romanesco que ficou conhecido como La Comédie Humaine (A Comédia Humana). Resultado de vinte anos de labuta literária, o empreendimento colossal (com mais de oitenta narrativas, muitas interligadas) registrava um dos grandes traços sociais de seu tempo: o esforço da classe burguesa ascendente em firmar-se como classe dominante, não apenas economicamente, senão culturalmente. Isto porque, se a revolução de 1789 havia soado a badalada final à imemorial supremacia política da aristocracia francesa, o período napoleônico e a Restauração mostrariam que havia ainda “feijão a comer” até a substituição de hábitos e valores há muito consagrados.
É nesse contexto que se move Lucien Chardon de Rubempré, famosa personagem deIlusões Perdidas. Fruto da união entre um farmacêutico e a filha de uma família nobre decaída, o pobre e provinciano Lucien planeja vencer na vida por meio de seus talentos literários. Sua beleza, juventude e brilho conquistam o coração da Sra. de Bargeton, rica nobre da cidade de Angoulême, responsável por sua ruidosa acolhida no salão da aristocracia provinciana e que carregará consigo o poeta à capital parisiense.
O rolezinho de Lucien Chardon na Ópera
Uma das passagens mais importantes do romance tem lugar durante a apresentação deLes Danaïdes, ópera de Antonio Salieri (sim, aquele “arquirrival” de Mozart, em Amadeus). É por meio da Sra. de Bargeton que Lucien tem acesso ao camarote da Sra. D’Espard, prima daquela e marquesa influente da alta sociedade de Paris. É ali também, no entanto, em meio aos grandes brasões da França, que o herói vê tolhidos, pela primeira vez, todos os seus esforços para subir na vida. Jogado entre aqueles de uma classe superior à sua, Lucien fornecerá, sem perceber, as pistas de sua origem humilde e de seu nome vulgar (Chardon).
– Eis o senhor du Châtelet – disse nesse momento Lucien, levantando o dedo para mostrar o camarote da senhora de Sérizy (…). A esse sinal, a senhora de Bargeton mordeu os lábios em sinal de desprezo, pois a marquesa não pôde deixar de escapar um olhar e um sorriso de surpresa, que dizia tão desdenhosamente: ‘De onde saiu esse jovem?’ (…).
– Como fazem o senhor e a senhora de Rastignac, que todos sabem não dispor de mil escudos de renda, para manter seu filho em Paris? – disse Lucien à senhora de Bargeton (…).
– É evidente que o senhor veio de Angoulême – respondeu a marquesa bastante ironicamente, sem deixar o seu lornhão.
Após a ópera, questionada pela prima marquesa se tivera a ousadia de levar o filho de um boticário ao seu camarote, a Sra. de Bargeton se vê obrigada a expiar seus erros, desculpar-se pelo atrevimento e negar três ou dez vezes aquele Cristo vaidoso e belo. Abandonado à própria sorte, Lucien Chardon parte então para o verdadeiro conhecimento de Paris, suas ruas escuras, pensões sujas, figuras miseráveis; bem como seus salões, teatros e galerias vedados à gentalha: tais espaços, somente os burgueses muito ricos ou os artistas muito célebres possuíam a vênia (às vezes não dada) para adentrar.
O desprezo que a nobreza européia dispensava ao burguês era, também, o desprezo por aquele que desconhecia a etiqueta e as boas maneiras da alta sociedade. A detalhes tão eloqüentes (a ponto de denunciarem Lucien) unia-se um universo que poderia girar entre Vivaldi, Bach e Beethoven; Dante, Racine e Milton; os pensadores políticos ingleses, Hobbes, Locke, Bacon; os filósofos da tradição clássica (Platão e Aristóteles) e os filósofos cristãos (Santo Agostinho, Thomás Aquino); francês e latim; noções de arte, história e geo-política; a destreza no manejo de armas; o sentido de dever com o rei e com os servos da terra.
Pese a opressão do período feudal e, posteriormente, das monarquias absolutistas europeias, o burguês era encarado como filisteu e ordinário não somente porque escancarava o privilégio como advindo da exploração das camadas mais baixas (fossem camponeses ou operários). Importava o fato de que não dominava o código: a tradição cultural erguida, sepultada e mil vezes refeita através dos séculos, ao longo da ascensão e queda dos impérios. Isto era, em sentido forte, distintivo.
Zoar, dar uns beijos, rolar umas paqueras”
Quando jovens da periferia são impedidos de entrar num shopping center de São Paulo, desenrolam-se aí os capítulos contemporâneos da Comédia Humana balzaquiana. Os Luciens Chardon de nosso tempo são meninos e meninas que almejam igualmente melhorar de vida, buscando para isso os símbolos de status e os objetos de desejo pelos quais se sentem menos excluídos de um universo (mesquinho) de valores. Se esses objetos são valor em si, também são os espaços de socialização em que o indivíduo se afirma como integrado.
Todos aqueles elegantes fidalgos usavam luvas magníficas, e ele tinha luvas de policial! Aquele brincava com uma bengala deliciosamente cravejada. Aquele outro usava uma camisa com punhos presos por delicados botões de ouro. Falando a uma senhora, outro torcia uma charmosa gravata (…). Um quarto retirava do bolso de seu colete um relógio liso como uma peça de cem sous (…). Observando essas pequenas bagatelas de que nem suspeitava, o mundo das superficialidades apareceu a Lucien e ele estremeceu pensando que era necessário um enorme capital para chegar ao estado de belo rapaz!
Última atualização da segregação econômica (e racial) que vigora em São Paulo, a repressão ao rolezinho vem escancarar que, em passeata ou arrastão, pesa mais a condição da pobreza do que a de manifestante ou fora-da-lei. Qualquer reunião é suspeita. Ao morro só se concede descer em grupos no carnaval. Fora de época, o morro não desce: ou corre ou marcha. Por essas a elite, quando decide desembolsar cem reais “apenas para entrar” numa casa noturna, sabe, no fundo, que não se trata “apenas” disto. Trata-se, de fato, de comprar a exclusividade do espaço junto àqueles que partilham do mesmo berço (por menos ornado de outras qualidades que não o puro e bom dinheiro). Em São Paulo e no Rio, pagar para entrar é, também, medida social.
Lucien via-se separado deste mundo por um abismo, perguntava-se por que meios poderia transpô-lo, pois desejava se assemelhar àquela esbelta e delicada juventude parisiense. Todos esses rapazes saudavam mulheres divinamente vestidas e belas, mulheres pelas quais Lucien se deixaria cortar em pedaços em troca de um único beijo (…).
La Comédie Humaine completa o ciclo com requintes de histeria. A elite e a classe média escarceam acusações que vão da “falta de modos” a tumulto e vandalismo. Na realidade, a quebra do decoro dos atuais Luciens difere daquela do jovem Chardon. Lucien, à ópera, deixava revelar à aristocracia seu aspecto de impostor, que em vão deseja parecer fidalgo.Lucien adivinhou que tinha ares de quem se vestira pela primeira vez na vida. Os Luciens contemporâneos não pagam esse tributo. Não só derrubam a exclusividade de consumo e de espaços de socialização, mas o fazem sem pedir, criando eles mesmos sua forma de socialização: o (inédito) rolezinho. A classe considerada subalterna inventa para si modalidades de inserção, com capacidade de aglomeração que a classe média apenas conhece em dias de festa.
Quem tem motor faz amor / Quem não tem passa mal (MC Daleste)
Em algum lugar, Jorge Luis Borges explica que a poesia gauchesca – que tanto cantou os feitos do homem do campo na Argentina – é, e só poderia ser, criação de literatos da classe média de Buenos Aires. Isto porque aquilo que os gaúchos reais de fato cantavam ao pé do fogo não era o pampa, o cavalo, o laço: coisas pertencentes ao cotidiano. O gaúchos falavam de coisas a que aspiravam e suas letras, explica Borges, traziam elementos incríveis (causos, personagens…) e algo de tendência reflexiva: um pouco à moda dos repentes e da literatura de cordel nordestinos.
O funk ostentação canta os desejos do jovem da periferia, e que só à primeira vista se resumem à necessidade de consumo. Embora relacionado sem dúvida ao progressivo acesso ao mercado consumidor, facultado pelo aumento da renda e do crédito nos últimos anos, caberia perguntar: assim como as reflexões gauchescas não aspiravam a serverdadeira filosofia, seria o consumo do funk ostentação tão pretensiosamente sério?
Carros de luxo, helicópteros, aviões e até submarinos surgem nas letras, numa sucessão delirante de marcas e objetos caros, cobertos de ouro. Não algum ouro: mas quilos de ouro. Este toque de (talvez não seja equivocado dizer) “exagero” parece indicar algo óbvio, mas pouco notado nas canções: ostentar e possuir são coisas diferentes.
Se na matriz norte-americana as excentricidades de consumo estão, de fato, à mão derappers milionários, no Brasil tudo parece tomar novas dimensões, próprias à realidade local. Basta ver que boa parte das letras gringas que falam sobre dinheiro vem acompanhada de, por assim dizer, questões práticas: fundos de investimento, transações vantajosas, negócios imobiliários, especulações arriscadas etc. O motivo é simples: os cantores de rap e hip-hop mais bem sucedidos nos Estados Unidos são também empresários, a ponto de, em 2013, a revista Forbes ter organizado as dez melhores dicas de finanças retiradas das letras de hip-hop1. Assim, a posse efetiva de carros luxuosos e iates se expressa, nas letras, pelos problemas que naturalmente assediam este mundo; diríamos, os ossos do ofício.
Esta constatação, comparativamente, deixa ver o peso que a palavra “ostentação” carrega no contexto brasileiro. O “exagero” presente nas letras aponta, sem querer, para o que há de limite na própria ascensão econômica. Pese o dinheiro conquistado por alguns funkeiros da ostentação, é como se dissesse: “vamos passear de helicóptero, porque trabalhar é de ônibus, mesmo”. Não há contradição. A parte do helicóptero é o sonho, o que resiste de lúdico num contexto em que, se há uísque, faltam ainda educação, saúde e moradia de qualidade.
Talvez isto seja a conexão mais profunda entre os rolezinhos e o funk ostentação. Paquera-se não só pessoas, mas as coisas, sem que isso implique tê-las. É passear antes de possuir, ainda que a posse se mantenha no horizonte. Estar próximo ao universo desejado, dentro dele (nos shoppings), entre um cabedal de objetos que vale mais pelo que tem de possibilidades do que de custo-benefício ou prazo de garantia. Daí a sucessão sem fim de marcas e formas, que atravessam umas as outras, sem fixar-se.
Contudo, o funk ostentação e os rolezinhos também podem ser, ironicamente, o primeiro tempo da questão social no Brasil em 2014, recuperando, quem sabe, ecos de junho do ano passado. Ainda há o que ver nesse rolê.

Friday 24 January 2014

Brasil seria o quarto maior responsável pelo aquecimento global

ihu
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/527587-brasil-seria-o-quarto-maior-responsavel-pelo-aquecimento-global


Brasil seria o quarto maior responsável pelo aquecimento global

Estudo aponta que, por causa do desmatamento, nosso país ficaria atrás apenas de Estados Unidos, China e Rússia em termos de responsabilidade pelo aumento das temperaturas no planeta desde o início do século XX.
A reportagem é de Fabiano Ávila e publicada pelo Instituto CarbonoBrasil, 23-01-2014. 
O Brasil teria sido culpado pela elevação de 0,049⁰C nas temperaturas desde 1906, ou cerca de 7% do total do aquecimento global verificado no período, algo em torno de 0,74⁰C. Isso colocaria o país como o quarto maior responsável histórico pelo fenômeno, uma posição surpreendente e que vai contra o consenso de que as economias emergentes só agora, com o aumento de sua industrialização, estariam contribuindo significantemente para o aquecimento global.
Quem está fazendo essa afirmação são pesquisadores canadenses, que publicaram no periódico Environmental Research Letters o estudo “National contributions to observed global warming”.
Os autores, da Universidade de Concórdia, no Canadá, apresentam uma nova metodologia que promete medir a contribuição de cada tipo de emissão de gás do efeito estufa (GEEs), como a queima de  combustíveis fósseis e o desmatamento, na elevação das temperaturas.
Segundo essa lógica, os Estados Unidos aparecem como o maior responsável pelo aquecimento global, com 0,151⁰C, ou 22% do total. Em seguida vem a China, com 0,063⁰C, 9%, a Rússia, com 0,059⁰C, 8%, o Brasil, com 0,049⁰C, 7%, e a Índia, com 0,047⁰C, 7%.
Os países europeus aparecem como os grandes favorecidos pela metodologia, com gigantes industriais como Inglaterra e Alemanha sendo apontados como responsáveis por apenas 5% do aquecimento, 0,032⁰C e 0,033⁰C, respectivamente.
“É surpreendente ver nações menos industrializadas nas primeiras posições, mas isso reflete suas emissões relacionadas ao desmatamento”, explica Damon Matthews, principal autor do estudo.
A metodologia adotada é particularmente rigorosa com emissões do uso da terra, uma vez que mudanças na cobertura florestal são computadas de forma cumulativa nas emissões históricas de cada país.
Dessa forma, mesmo países que até hoje apresentam pouca industrialização, como Nigéria e Tailândia, aparecem entre os 20 maiores responsáveis pelo aquecimento global. Porém, quando é calculada a proporção per capita, é a Inglaterra que se torna a grande vilã, seguida por Estados Unidos, Canadá, Rússia e Alemanha.
Os autores destacam que não querem que esses novos dados sirvam para a troca de acusações entre os países nas negociações climáticas internacionais, mas que sejam utilizados para orientar políticas de redução das emissões.
“Nossa análise tem potencial de contribuir aos debates, fornecendo tanto uma estimativa melhorada das atuais contribuições [de cada nação para o aquecimento global], quanto um método robusto e simples para calcular a responsabilidade futura de determinado país”, conclui o estudo.
Imagem: Contribuições nacionais para o aquecimento global em cada um dos quatro tipos de emissões avaliados: uso de combustíveis fósseis, emissões de outros gases que não o CO2 (como metano da pecuária), mudanças no uso da terra e aerossóis.   
*Durante a semana, procuramos pesquisadores brasileiros para comentar sobre essa nova metodologia, mas até o momento da publicação deste texto não obtivemos respostas.

Mapa de resgates reforça relação entre trabalho escravo e desmatamento na Amazônia

repórter br
http://reporterbrasil.org.br/2014/01/mapa-de-resgates-reforca-relacao-entre-trabalho-escravo-e-desmatamento-na-amazonia/#comment-13395


Mapa de resgates reforça relação entre trabalho escravo e desmatamento na Amazônia

Visualização permite observar a alta incidência de flagrantes em áreas de desmatamento, e reforça a relação entre avanço da fronteira agrícola, degradação social e devastação do meio ambiente
Por Daniel Santini | Categoria(s): Notícias
Todos os resgates de trabalho escravo realizados pelo Ministério do Trabalho e Emprego entre 2003 e 2013 foram organizados em um mapa no projeto Infoamazonia. A visualização permite observar a alta incidência de flagrantes nas áreas em que mais houve desmatamento na Amazônia e reforça a relação entre avanço da fronteira agrícola, degradação social e devastação do meio ambiente.  No mapa abaixo, passe o cursor sobre os círculos vermelhos para ver a quantidade de trabalhadores libertados por município no período – quanto maior o círculo, maior a incidência. Clique nos botões “frigoríficos” e “desmatamento” para visualizar onde estão frigoríficos na Amazônia e onde ocorreu o desmatamento.
Mapa de resgates de escravos na Amazônia 
recarregue a página ou clique aqui se não conseguir visualizar
O Infoamazonia é hoje a principal base de dados sobre Amazônia e agrega as notícias publicadas sobre a região. Além de organizar as informações sobre resgates, o projeto passou a divulgar também as reportagens sobre trabalho escravo na região, incluindo os textos publicados pela Repórter Brasil.

Davos 2014: climate change and sustainability – day three live

guardian
http://www.theguardian.com/sustainable-business/2014/jan/24/davos-2014-climate-change-resource-security-sustainability-day-three-live


Davos 2014: climate change and sustainability – day three live

LIVE
All of the sustainable business action from Friday at the World Economic Forum. Look out for our coverage on:
  • Young people and climate change
  • Business model innovation & design
  • Ending deforestation
  • Cities and climate change
Mobilising young people to act on climate change is on the agenda at Davos today.
Mobilising young people to act on climate change is up for discussion at Davos today. Photograph: Ross Gilmore/Redferns via Getty Images
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World Bank president: "what did you do when you knew about the impact of climate change?"

World Bank president, Jim Yong Kim today called for everyone to put their “necks on the line” by creating bold solutions to climate change ahead of the UN summit in September.
Kim said that UN secretary general Ban Ki-moon had taken a big risk by calling the summit and it was the duty of politicians, businesses and NGOs to work together to ensure it did not end with empty promises.
Kim said that countries were starting to respond to climate risks, highlighting initiatives in Thailand, Chile, South Africa, Morocco and Nigeria.
In the wake of the recent devastation in the Philippines, Kim said the country now wanted to develop an innovative climate resilience insurance fund.
He also called for a scaling up of green investment funds, saying that the World Bank hoped to create green bonds worth $50 billion by the time of the global climate talks in Paris.
“All these initiatives have to be brought together,” he said. “We cannot fall into the trap of waiting for a political agreement before moving. By working on very practical initiatives and getting something moving on a stable price of carbon, we can create a platform that makes it easier for politicians to reach an agreement.
We can all act now. There are so many win win win situations.”
While Kim appealed to peoples’ business sense, he also gave a very personal appeal for action. Pointing out that his youngest son may still be alive in the year 2100, he said: “Oh my god, we try to give people a sense of urgency by 2030 but even that is not working yet. All our children and future generations will ask of their ancestors; what did you do when you knew about the impact of climate change.”

Greenpeace's Kumi Naidoo and Oxfam's Winnie Byanyima: corporate power and climate change

On climate day at Davos, Greenpeace's Kumi Naidoo and Oxfam's Winnie Byanyima call for a concerted effort from progressive companies to push governments to set tougher climate change targets. They highlight big food and beverage companies as among those that have the most to be gained from standing up and being counted on climate change:
Their bottom line is under threat as extreme weather and shifting seasons threaten to disrupt their supply chains and drive higher and more volatile commodity prices.
They should be doing much more to tackle their own emissions, including switching to 100% renewable energy in their operations and by taking the lead in ditching suppliers who recklessly cause deforestation. They should use their substantial power and influence to demand action from governments and not allow big polluters to dominate business groups such as the International Chamber of Commerce. With exceptions, their modest role in national and global debates on climate action to date has been striking given how much they have to lose.

Green bonds

If you read Achim Steiner & Rachel Kyte on green bonds earlier, and wondered how they work, the World Bank have a handy guide. 

Climate change at Davos

Jo Confino has managed to grab a few minutes with UN climate chief Christiana Figueres. She says she is encouraged by the diversity of opinion on climate change at Davos and impressed by the extent to which it has been included on the WEF agenda. (Apologies for a slightly noisy recording)
UN Climate Chief Christiana Figueres.
UN Climate Chief Christiana Figueres. Photograph: Alejandro Bolivar/epa
Updated 

From limits to growth...

Bill McDonough, designer and author of Cradle to Cradle, laid down a challenge to business to stop trying to do less bad and do more good. He was called 'the mastermind of sustainable design' by Al Gore in the session he just hosted and had a few words to say to Caroline Holtum:

Nike's Hannah Jones - we need to collaborate to tackle systemic challenges

Hannah Jones, vice-president of sustainable business and innovation at Nike, is at Davos and has been writing  about the immense complexity of mainstreaming the principles of the circular economy into the company’s core operations.
While Nike-led technologies have greatly advanced the integration of sustainability and performance, materials innovation is not a problem we can solve alone. 
Creating a sustainable palette of materials would be disruptive to the world of production, but it’s also incredibly complicated. The production of Nike footwear and apparel is contracted to around 765 factories globally. Materials for those products are supplied by hundreds more vendors. And those products use a palette of more than 16,000 materials. 
And that’s just Nike’s supply chain. It is clear that no single company, organisation or government has the ability to tackle this innovation challenge on their own. Instead, it will require new models of collaboration. 
We need to catalyse capital, capabilities, science and technology and resources far beyond the boundaries of our own supply chain. To tackle massive systemic challenges like those in the materials and manufacturing industries, Nike is harnessing the collective power of unconventional collaborations. Our ability to positively influence the systems in which we operate is critical to our future success.
Read the full article on the WEF website.

Paul Simpson - regulators must make action on stranded assets mandatory

I've been speaking to Paul Simpson, the CEO of global NGO CDP, who has just come out of a debate on the risk of stranded carbon assets to capital markets.
This is what he had to say:
The IPCC, which has shown we have already emitted more than half of the one trillion tonnes of our total carbon budget, has alerted the world to the limits of emissions. 
This means that a significant percentage of fossil fuel reserves needs to be kept in the ground to keep us within a maximum two degree warming. The discussion concluded that stranded carbon assets present a potential material risk to the global economy and compared this to the risk of inflated real estate assets that precipitated the 2008 financial crisis. 
The meeting focused on the need for better disclosure from fossil fuel companies on the potential of their reserves to be stranded and their plans of how they intend to respond to this. 
Given that current accounting rules do not require them to do this , the discussion concluded that institutional investors and financial market regulators must take action to make this mandatory. 
Interestingly, the governor of the central bank of Korea, Kim Choong-Soo, who was present, said he could not initially understand why he had been invited, but after hearing the speakers, said he now recognised it as a significant issue for his country.
Updated 

Michael Porter v Paul Polman – who is more radical?

I caught up with Michael Porter and asked him about Unilever CEO Paul Polman’s recent comment to me that Porter's "shared value" concept is no longer radical enough.
This is what he had to say:
We think shared value is tremendously radical. It redefines how business operates at the core – how they think about their products and value chains, how they think about the boundaries of their responsibilities. 
A lot of companies are still on the journey between CSR and shared value and have not made the truly radical transformation of seeing society and social issues as being a core part of running the business.
Paul uses the label of sustainability for much of their work. We believe that sustainability is not necessarily shared valued; it is a broad catch-all phrase. We have been accustomed for too long to believing there is a trade off between profitability and doing good which has fostered a culture that makes it profitable to pollute and make factories an unsafe place to work. 
But this idea is Alice in Wonderland; actually societal problems are the greatest business opportunity to restructure how you operate, to become more productive. Selling products to Africa is not doing good but a giant new market. 
But this takes a long time – CEOs often see the opportunity but it’s difficult driving it down into the organisation, where staff are used to thinking narrowly.
Porter gave the example of Dow Chemical which had created new billion dollar businesses after deciding to look at how the company could contribute to the Millennium Development Goals.

The agony and the ecstasy of the circular economy

The circular economy is a great concept but heck, it is difficult to bring into reality.
These are the conclusions of a World Economic Forum (WEF) report launched today in Davos.
The study points to mouth watering savings of $1 trillion a year by 2025 and the creation of 100 000 new jobs within five years.
But like may other radical new business models it requires a systemic change, which no single business or organisation can bring about on their own.
That’s because the circular economy relies on the eradication of toxins from products so they can be up-cycled.
But even the most simple products can contain hundreds of different substances, which each need to be tested.
Not only is that an uphill task of its own, but many suppliers plead confidentiality and refuse to even tell their customers what materials they use.
This is why WEF, in collaboration with the Ellen MacArthur Foundation is launching Project Mainstream; a collaboration of businesses that will focus their attention on a few key products that will have a global impact.
Read Jo Confino’s full report here.
The circular economy: difficult to crack
 A new report on the the circular economy - offers significant opportunities that could be very challenging to realise. Photograph: Alamy

Boris Johnson bought by Coke

A bit of light hearted relief from the Coca Cola party last night. London Mayor Boris Johnson is always a tease and thought it was a great idea for the Guardian to publish this photo of him being “bought” by Coke.
Here he is with his own personalised Coke can, along with Muhtar Kent, the CEO of the drinks giant.
Johnson joked that while he should not announce it, Coke was going to become the next corporate to sponsor his Boris bikes scheme in the capital.
This, of course, may not be a bad idea given that Coke is focussing on wellbeing and encouraging people to exercise.
Was Johnson being more serious than he was letting on? Only time will tell.
Boris Johnson Muhtar Kent
London Mayor Boris Johnson with Coca-Cola CEO Muhtar Kent. Photograph: Guardian
Updated 

Circular economy launch

Our colleagues over on the business desk are bringing you all the latest news from the congress centre, where Larry Summers, former US treasury secretary is currently on stage. You can follow their live bloghere

Positive noises on finance for the green economy

Rachel Kyte, group vice president and special envoy for climate change at the World Bank, echoes Achim Steiner's reflection on  the positive outcome of yesterday's session on finance and the green economy.
She sent us this update:
Following on from the Investor Summit on Climate Change in New York earlier this month there has been lots of discussion about the future of green bonds. Zurich Re, some weeks ago, indicated that it would buy $1bn in green bonds. Discussions in this session sought to encourage others to follow suit. Can infrastructure, energy and other companies follow EDF and issue corporate green bonds, was the other question up for discussion. And Jim Yong Kim, president of the World Bank asked why not aim to double the size of the green bond market to $20bn by time of the UN Leaders Summit in September and double it again (or more) to $50bn by the Paris climate summit in December 2015. Doable seemed the response. An impactful result if the growth expands the universe of investors going into green assets. 
Updated 

Key event

Achim Steiner, the executive director of UNEP gives us a whistle stop tour of his day yesterday:
Davos! Big debates, big brains, big names. My day consisted of 16 hours of non-stop meetings with people full of ideas, sometimes full of themselves but all important in some way. 
The water session this morning : it must be progress when CEOs, ministers of finance and presidents focus on the global water crisis even if the answers only semi-reassuring. 
Next session: getting sustainability into the DNA of business. I listened to some real pioneers in the business world. I see some real shifts here, but why still so few leaders? The debate centred on what to do about the average CEO. 
Then agriculture and climate change, two big topics in Davos this year. From big agribusiness to consumer groups and ministers sitting in a big circle in real debate on solutions; most are still locked in to a 'more of the same but better' mode. A new UNEP report tomorrow will show dramatic loss of arable land across globe.
Next, a session with Ban Ki-moon, Jim Yong Kim and leaders of the finance world. Will they commit to scaling up their funding for a low carbon green economy? Surprisingly, the answer was a yes. Watch the finance space! 
I also had many 'bilaterals' in the course of the day. One stood out: a young woman from India who has set up an inspiring social enterprise on the environment. WEF finds and invites these young global change makers to the table: another ingredient that goes into making Davos interesting. 
Good morning from a snowy Davos. We'll be bringing you all the news and views on sustainability and business as day three progresses. And a busy day it promises to be, we'll be hearing from Al Gore, William McDonough, Michael Porter and a host of others. 
To catch-up on what happened yesterday, read the day two blog here