Tuesday 25 November 2014

A Executiva Nacional do PT e a ausência da consciência ecológica

A Executiva Nacional do PT e a ausência da consciência ecológica

O PT como partido majoritário que reelegeu para a Presidência Dilma Rousseff não pode se omitir diante do grave desafio ecológico
24/11/2014
Por Leonardo Boff
No dia 3 de novembro do corrente ano a Executiva Nacional do PT estabeleceu algumas diretrizes tendo em vista o 5º Congresso do Partido dos Trabalhadores.
Retomou com razão o ideario que vem desde os anos  1980:”para transformar o Brasil precisa-se combinar ação institucional, mobilização social e revolução cultural”. Acrescentou agora, num contexto mudado, “a reforma política e a democratização da mídia”. Lançou uma consigna clara:”O PT precisa estar à altura dos desafios deste novo período histórico”.
É a partir desta consigna que pretendo trazer alguma contribuição, a meu ver, imprescindível para estar à altura dos desafios deste novo período histórico. Estimo que o “novo período histórico” não se restringe apenas ao Brasil. Significaria um estreitamento da análise como se o Brasil pudesse ser pensado nele mesmo, desvinculado do resto mundo no qual está irrefragavelmente inserido.
Considero acertadas as diretrizes, todas elas fundamentais,  especialmente o que se esconde atrás “da revolução cultural” que é a projeção de outro tipo de Brasil, de outros valores e sonhos, a partir das bases populares e englobando generalidade de nosso povo em sua riqueza singular e em toda a produção de sentido, de arte e de beleza.
Mas o grande desafio, aquele que não assumido, invalida todos os acima referidos, é o desafio ecológico, palavra que não ocorre nenhuma vez no texto da Executiva Nacional. Isso é preocupante, pois, nas palavras de Frijhof Capra, tal omissão representa grave analfabetismo ecológico.
A preocupação ecológica, ou o destino da Terra, da natureza e de nossa civilização estão em jogo. Esta preocupação está deixando cada vez mais o campo dos especialistas e entrando na consciência coletiva da humanidade e no Brasil, nos movimentos populares como a CONTAG, a CUT, o MST e outros, além de muitos cientistas e dos movimentos especificamente ecológicos.
Por isso causa espécie que esta consciência não seja compartida pelos membros da Executiva e, diria, em grande parte pelo próprio PT.
Para citar um argumento de autoridade que vem da Carta da Terra que sob a coordenação de Michail Gorbachev (tive a honra de participar do grupo de 23 pessoas) fez entre 1992-2000 uma vasta consulta em grande parte da humanidade de como deveríamos nos comportar para salvar a vida e a espécie humana na Terra. É um dos mais belos e profundos documentos nos inícios do século XXI, imediatamene assumido pela UNESCO e por grandes instituições.
A primeira frase da Carta começa assim:”Estamos diante de um momento crítico na histórida da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro….A escolha é esta: ou formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros ou arriscar a nossa destruição e a destruição da diversidade da vida”(Preêmbulo). Não são ideias apocalípticas, mas advertências fundadas nos dados mais seguros  da ciência, seja dos cientistas que nos acompanhavam seja das grandes comunidades científicas dos países centrais.
Não estamos indo ao encontro do aquecimento global. Estamos  já dentro dele e de forma cada vez mais  acelerada. Já em 2002 a Academia Nacional Norte-americana de Ciências fazia esta comunicação:”O novo paradigma de um aquecimento abrupto está bem estabelecido pela ciência mas esse dado é pouco conhecido e escassamente tomado em conta pela vasta comunidade dos cientistas da natureza, pelos cientistas sociais e ainda pelos que tomam decisões políticas(policymakers: National Academy Press, 2001, p.1))”. O clima pode subir de  4-6 graus Celsius. “Estamos jogando uma roleta russa com o revolver apontando para a geração de nossos filhos e netos” (Andrew C. Revkin, em New York Times, 28 de março 2009). Com  esta temperatura dificilmente a vida que conhecemos subsistirá e a humanidade estará sob grande ameaça em sua sobrevivência.
Outros dados poderiam ainda ser citados. Basta uma severa advertência de um nosso cientista Antônio A. Nobre que acaba de publicar um livro sobre O futuro climático da Amazônia (2014) no qual diz:"A agricultura consciente, se soubesse o que a comunidade científica sabe, estaria na rua, com cartazes, exigindo do governo a proteção das florestas e plantando árvores em suas propriedades."
O PT como partido majoritário que reelegeu para a Presidência Dilma Rousseff não pode se omitir diante deste grave desafio. O Brasil por sua situação ecológica é um dos fatores principais no equilíbrio climático da Terra. Se não cuidarmos, a Terra pode continuar sua trejetória mas sem nós.

Leonardo Boff escreveu A grande transformação na economia, na política e na ecologia, Vozes 2014.

Monday 24 November 2014

Quem são os desmatadores?

Edição 225 - Novembro de 2014
Print this pageEmail this to someoneTweet about this on TwitterShare on Google+Share on FacebookShare on LinkedIn

© LÉO RAMOS
Amazônia rural: propriedades grandes desmatam mais do que as menores
Amazônia rural: propriedades grandes desmatam mais do que as menores
Na Amazônia Legal, as grandes propriedades são responsáveis por boa parte do desmatamento. É o que conclui um grupo internacional liderado por Javier Godar, do Instituto Ambiental de Estocolmo, na Suécia, que reuniu dados de censos agropecuários e de sensoriamento remoto para identificar onde o desmatamento aconteceu na Amazônia entre 2004 e 2011, quando os índices de derrubada da floresta diminuíram (PNAS, 28 de outubro). O estudo avaliou uma escala detalhada: os 13.303 setores censitários da região, que abrange 771 municípios. Os setores em que predominam propriedades maiores do que 500 hectares representaram a maior parte (55,6%) do desmatamento no período. Nas áreas caracterizadas por pequenas propriedades, esse valor cai para 16,3%. Como a taxa de desmatamento voltou a crescer entre 2012 e 2013, os pesquisadores avisam que é importante entender esse perfil para direcionar estratégias de combate à eliminação da floresta, que prejudica sua capacidade de armazenar carbono atmosférico e contribuir para o ciclo da água. É possível, o estudo sugere, que os grandes produtores tenham aprendido a burlar a fiscalização abrindo clareiras menores. Uma solução para fazer frente ao problema pode ser uma política de incentivos positivos, como já é praticado em uma série de iniciativas, entre elas o Programa Municípios Verdes do Pará. Esse tipo de programa também pode ajudar pequenos fazendeiros a praticar um desenvolvimento rural mais sustentável.
Print this pageEmail this to someoneTweet about this on TwitterShare on Google+Share on FacebookShare on LinkedIn

Sunday 23 November 2014

3º Feira de Arte Quilombola da Escola Estadual Tereza Conceição Arruda 14 de novembro de 2014.

3º Feira de Arte Quilombola da Escola Estadual Tereza Conceição Arruda
14 de novembro de 2014.
Giseli Dalla Nora

                No dia 14 de novembro visitamos a Escola Estadual Tereza Conceição Arruda, localizada na Comunidade Quilombola de Mata Cavalo no município de Nossa Senhora do Livramento.
                 A feira de Arte tem o proposito de mostrar a produção artística da escola bem como os talentos que a comunidade possui seja na dança, no canto ou no artesanato. Neste dia varias instituições estiveram presentes como a Universidade Federal de Mato Grosso através do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte - GPEA, o SENAI, Prefeitura de Nossa Senhora do Livramento, Vereadores, Organizações da Sociedade Civil e varias escolas da rede publica de ensino.
                 Na abertura, uma mesa solene foi montada apresentando as instituições presentes bem como a fala da Diretora Gonçalina sobre a feira que falou sobre a feira e as atividades da escola, agradeceu a presença de todos. Dentre as atividades desenvolvidas da escola no ano de 2014 temos: Grupo de Dança Afro, Festa Junina, Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças, Desfile, Formatura, Arte e Tecnologia, e a Capoeira.  
                Ao visitar esta atividade, entendemos a importância da valorização do trabalho docente de uma escola quilombola que pode trazer para a comunidade uma pequena mostra do que produz no decorrer do ano letivo. Esse enredo nos motiva ao trabalho de formação continuada de professores bem como o estudo de comunidades tradicionais e saberes populares.







Monday 17 November 2014

Pantanal por inteiro, não pela metade

No dia do rio Paraguai entidades da sociedade civil, lançam estudo sobre as ameaças à integridade do Pantanal. #Pantanal

http://www.formad.org.br/wp-content/uploads/downloads/2014/11/rev_PORT_pantanal_fase_MT.pdf

Foto: No dia do rio Paraguai entidades da sociedade civil, lançam estudo sobre as ameaças à integridade do Pantanal. #Pantanal

http://www.formad.org.br/wp-content/uploads/downloads/2014/11/rev_PORT_pantanal_fase_MT.pdf

Pantanal: um dos últimos refúgios da natureza segue ameaçado em silêncio


Na semana do Rio Paraguai e do Pantanal o Projeto Bichos do Pantanal faz um alerta sobre  as ameaças  contra a preservação desse ecossistema.
rio Paraguai é a sustentação de todo um ecossistema, o Pantanal.  As chuvas que regem o seu pulso de cheias e o fazem transbordar também são responsáveis pela transformação drástica e única da paisagem pantaneira, inundada por águas durante quatro meses e depois reaberta pela vazão dos rios na forma de campos, tomados por animais e pássaros – um equilíbrio tão antigo quanto a formação da Cordilheira dos Andes. Alterar essa paisagem, moldada por milhões de anos, pode ser literalmente o fim do rio Paraguai e de todo o Pantanal.
A reportagem foi publicada por Projeto Bichos do Pantanal, 13-11-2014.
Como o Cerrado, o Pantanal vive um silencioso aumento de suas ameaças. Durante esta semana serão comemorados o dia do Pantanal (12/11) e o dia do rio Paraguai (14/11), e os pesquisadores do Projeto Bichos do Pantanal fazem um alerta sobre os impactos que podem por em risco o equilíbrio que sustenta o rio Paraguai e oPantanal.  “Existem muitas atividades econômicas possíveis no Pantanal, e a própria população local espera por mais crescimento, a grande questão é que devemos sempre relembrar que em uma região tão frágil, essas ações necessitam de estudos prévios e muito debate com a sociedade”, afirma Jussara Utsch, coordenadora do Projeto Bichos do Pantanal, realizado pelo Instituto Sustentar, com patrocínio da Petrobras pelo programa Petrobras Socioambiental.
A construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), o aumento do desmatamento, do assoreamento e da poluição dos mananciais são algumas das ações que podem acelerar o desaparecimento de uma das mais belas paisagens do planeta.   Vivem hoje no Pantanal cerca de 500 espécies de aves, 269 de peixes, 212 mamíferos e 4.700 espécies de plantas diferentes. A beleza e singularidade desse ecossistema fizeram com que  geólogos comoAziz Nacib Ab’ Saber o batizassem como: paisagem de exceção. O cenário pantaneiro formado por lagoas, antigas morrarias, e grandes planícies é considerado um dos locais mais belos do mundo e a região é Patrimônio NacionalPatrimônio Natural da Humanidade, reconhecido pela Unesco.
Apesar de toda essa beleza, nem essa porção isolada no coração do país está livre de ameaças. O lixo já é um problema visível em muitos pontos do rio Paraguai. No dia 9 de novembro, a equipe do Projeto Bichos do Pantanalparticipou do 26º  Mutirão de limpeza do rio Paraguai, organizado pela sociedade civil de Cáceres, no Mato Grosso. Foram retiradas aproximadamente 10 toneladas de lixo do rio, um dos principais formadores do Pantanal. “Os plásticos, filtros de cigarro e restos de linhas de pescaria podem parecer inofensivos, porém para a fauna doPantanal isso pode ser confundido com alimento e mata-los. Também não sabemos ao certo quais serão os efeitos do crescente uso de agrotóxico nas regiões das cabeceiras dos rios do Pantanal”, afirma Douglas Trent, pesquisador-chefe do Projeto Bichos do Pantanal.
Além da poluição, outra ameaça a esse importante bioma é o desmatamento. A perda da vegetação nativa nas margens do rios do Pantanal induz o aumento do assoreamento, um processo que ocorre quando os detritos são levados de forma mais intensa para o leito dos rios deixando as águas mais rasas. O problema se agrava quando o desmatamento é somado as queimadas e produz o que os pantaneiros chamam de “Dequada”.
Para o pescador profissional, Jorge Pedroso de Almeida, conhecido como “Poconé” o processo da Dequada é uma das piores ameaças a vida nos rios da região. “Nós que vivemos parte do ano isolados nos acampamentos do rio Paraguai, temos muito medo de onça-pintada e de jacaré. Mas, na verdade o que acaba com os peixes é a tal da Dequada. Quando o solo queimado e desmatado é levado para dentro do rio pela enxurrada”, afirma o pescador. “Eu queria trazer gente aqui para filmar, morrem tantos peixes que o rio e as baías ficam alastrados de animais mortos e apodrecidos”, alerta o pescador.
O fenômeno é conhecido por cientistas como um processo natural do Pantanal. Dependendo da rapidez e intensidade das cheias, a Dequada pode baixar drasticamente o nível de oxigênio do rio Paraguai, porém, muitos peixes podem se adaptar e sobreviverem a esse ambiente inóspito.
O grande problema é quando esse fenômeno é associado as queimadas provocadas pelo homem para abrir novas pastagens e desmatar florestas nas margens dos rios. “O que percebemos é que as queimadas intensificam esse processo de perda de oxigênio na água e também traz para a água inúmeras substâncias tóxicas que aumentam a mortandade dos peixes”, explica Claumir Muniz, pesquisador de ictiologia do Projeto Bichos do Pantanal e da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). “Nas baías que se formam durante as cheias, e que servem de berçário para a maioria das espécies de peixes do Pantanal, o processo é mais grave, pois os pequenos alevinos são mais sensíveis a perda de oxigênio e ao envenenamento d’águas. Não é incorreto afirmar que as queimadas ilegais e descontroladas são hoje uma das principais ameaças ao equilíbrio do Pantanal”, conclui.
O uso de agrotóxico para limpar as pastagens e a construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHS) nos afluentes do rio Paraguai se somam ao problema da intensificação das queimadas, criando uma verdadeira bomba contra o futuro do Pantanal.
A proximidade da região com a fronteira do Paraguai e da Bolívia facilita o contrabando de agrotóxicos (muitos proibidos) no país, que são vendidos de forma ilegal e desregulada.  Os principais são os herbicidas.“Além de envenenar os rios e os peixes, a pessoa acaba comprando esse tipo de produto sem qualquer orientação de uso, o que traz um risco também de envenenamento das pessoas”, afirma Isidoro Salomão, ou padre Salomão como também é conhecido o coordenador da sociedade civil de Cáceres e do comitê popular do rio Paraguai.
O crescimento das hidrelétricas é outro ponto de atenção quando o tema são as ameaças que pairam sobre oPantanal. No rio Jauru, um dos principais afluentes do rio Paraguai já existem cinco PCHs. A grande questão é que a maioria foi construída sem estudo de impacto ambiental, ou com análises que não consideram toda a bacia hidrográfica. “Estamos para publicar um documentário sobre o dia em que o rio secou, em setembro de 2008, quando começaram a construir essas PCHs e quase todos os peixes do Jauru morreram. Até hoje o rio não se recuperou”, afirma Salomão.
As ameaças ao Pantanal marcam inclusive a data de comemoração desse ecossistema. O dia 12 de novembro foi decretado, por Marina Silva, ministra do meio ambiente na época, como o Dia do Pantanal. A data foi uma homenagem a morte de Francisco Anselmo de Barros (Francelmo), que se matou em 2005 em um protesto contra a liberação das usinas de álcool no Pantanal e outras ameaças a esse ecossistema.
No dia 14 de novembro, o Pantanal volta a ganhar uma data de comemoração, dessa vez o Dia do rio Paraguai, que tem como foco uma vitória da sociedade civil contra a construção da hidrovia Paraná-Paraguai. O projeto foi intensamente debatido na década de 1990 e previa a retificação das curva originais do rio Paraguai para transformar a região em um enorme canal de transporte fluvial, tal qual o rio Mississipi nos EUA. Pesquisadores, ambientalistas, acadêmicos e a população do Pantanal se uniram contra o projeto, conseguindo evitar que o governo construísse ahidrovia. O marco da luta contra o projeto foi uma audiência pública no dia 14 de novembro de 2001, quando  a sociedade civil organizada do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul conseguiram pressionar que o governo desistisse do projeto que previa intensas modificações do rio Paraguai na região do Pantanal de Cáceres.
As ameaças contra o Pantanal podem afetar muitas outras regiões, inclusive o Sudeste que sofre hoje uma crise de abastecimento de água. “A planície alagável de até 250 mil quilômetros quadrados tem um papel fundamental na reprodução dos peixes e no abastecimento dos recursos hídricos das regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Qualquer impacto sobre o Pantanal, afeta de forma negativa, as outras regiões.”, afirma Claumir Muniz.
Para Douglas Trent, além do equilíbrio ambiental o Pantanal é o último refúgio da vida selvagem e uma importante morada para espécies como a onça-pintada. “No futuro, se vamos desejar que esse tipo de animal exista e fique livre dos riscos de extinção que já pairam sobre as onças na Mata Atlântica, vamos precisar preservar grandes áreas naturais intocadas como o Pantanal”, diz Trent. “A região é um dos últimos refúgios para a vida selvagem do mundo, cabe aos homens decidirem por preservá-lo”.
Projeto Bichos do Pantanal atua no Alto Pantanal desde 2013, com sede em Cáceres, no Mato Grosso. Sua proposta é trabalhar em três frentes de ações em prol do desenvolvimento e da preservação do Pantanal: pesquisa e conservação, desenvolvimento econômico regional e turismo de natureza e com a educação ambiental.


http://www.ihu.unisinos.br/noticias/537469-pantanal-um-dos-ultimos-refugios-da-natureza-segue-ameacado-em-silencio

Monday 10 November 2014

Stedile encontra Papa Francisco: “Lutaremos juntos para parar os bancos e as transnacionais”

Da redação da http://www.revistaforum.com.br/

novembro 6, 2014 
Stedile encontra Papa Francisco: “Lutaremos juntos para parar os bancos e as transnacionais”
Por Salvatore Cannavò*
Do jornal Il Fatto Quotidiano, via página do MST
João Pedro Stedile olha a primeira página do jornal Il Fatto Quotidiano em que se vê Maurizio Landini enfrentando a polícia. “Um líder sindical sem gravata? Sério?” A piada sintetiza muito o perfil e a história desse dirigente, já de nível internacional, do movimento “campesino”.
O Movimento dos Sem Terra (MST) é uma organização fundamental do Brasil, imortalizada pelas históricas imagens de Sebastião Salgado e com uma história de 30 anos feita de vitórias e de derrotas, mas sempre no primeiro plano da organização dos agricultores.
Stedile é o seu dirigente mais importante. Ele nunca usou gravata e sempre concebeu o seu papel como porta-voz de uma realidade pobre, muito em busca da sua própria emancipação.
Marxista ligado à história da teologia da libertação, ele foi um dos organizadores do Encontro Mundial de Movimentos Populares que ocorreu no Vaticano na semana passada. Em uma das sessões desse debate, que ocorreu entre as curvas sugestivas da sala do Velho Sínodo, ele sugeriu aos apurados presentes que canonizem até “Santo Antônio… Gramsci”.
Os Sem Terra, a imponente organização que ele dirige, com cerca de 1,5 milhão de membros, têm uma história antiga de ocupações de terra, de lutas e conflitos também duros. Mas também cultivam uma relação “leiga” com o poder, ou, como ele explica, de “autonomia absoluta”=. Por isso, na última eleição brasileira, apesar de não se envolver muito no primeiro turno eleitoral, depois apoiaram Dilma Rousseff no segundo.
Chegando na Itália para o encontro no Vaticano, ele fez uma turnê de encontros na península apresentando o livro La lunga marcia dei senza terra [A longa marcha dos sem-terra] (EMI Edizioni), de Claudia Fanti, Serena Romagnoli e Marinella Correggia.
No sábado à tarde, foi visitar a Rimaflow, em Trezzano sul Naviglio, a fábrica recuperada que Stedile, diante de 300 pessoas, batizou como “embaixadora dos Sem-Terra em Milão”.
Como nasceu o encontro no Vaticano?
Tivemos a sorte de manter relações com os movimentos sociais da Argentina, amigos de Francisco, com os quais começamos a trabalhar no encontro mundial. Assim, reunimos 100 dirigentes populares de todo o mundo, sem confissões religiosas. A maioria não era católica. Um encontro muito proveitoso.
O senhor é de formação marxista. Qual a sua opinião sobre o papa e a iniciativa vaticana?
O papa deu uma grande contribuição, com um documento irrepreensível, mais à esquerda do que muitos de nós. Porque afirmou questões de princípio importantes como a reforma agrária, que não é só um problema econômico e político, mas também moral. De fato, ele condenou a grande propriedade. O importante é a simbologia: em 2.000 anos, nenhum papa jamais organizou uma reunião desse tipo com movimentos sociais.
O senhor foi um dos promotores dos Fóruns Sociais nascidos em Porto Alegre. Há uma substituição simbólica por parte do Vaticano em relação à esquerda?
Não, acho que Francisco teve a capacidade de se colocar corretamente diante dos grandes problemas do capitalismo atual como a guerra, a ecologia, o trabalho, a alimentação. E ele tem o mérito de ter iniciado um diálogo com os movimentos sociais. Eu não acho que há sobreposição, mas complementaridade.
Em todo caso, assumo a autocrítica, como promotor do Fórum Social, do seu esgotamento e da sua incapacidade de criar uma assembleia mundial dos movimentos sociais.
Do encontro com Francisco, nascem duas iniciativas: formar um espaço de diálogo permanente com o Vaticano e, independentemente da Igreja, mas aproveitando a reunião de Roma, construir no futuro um espaço internacional dos movimentos do mundo.
Para fazer o quê?
Para combater o capital financeiro, os bancos, as grandes multinacionais. Os “inimigos do povo” são esses. Como diria o papa, esse é o diabo. Mesmo que todos nós vivamos o inferno.
Os pontos traçados do encontro de Roma são muito claros: a terra, para que os alimentos não sejam uma mercadoria, mas um direito; o direito de todos os povos de terem um território, seu próprio país, pense-se nos curdos de Kobane os nos palestinos; um teto digno para todos; o trabalho como direito inalienável.
Os Sem Terra organizam cursos de formação sobre Gramsci e Rosa Luxemburgo. Nenhum problema para trabalhar com o Vaticano?
Nós vivemos uma crise epocal. As ideologias do segundo pós-guerra se aprofundaram. As pessoas não se sentem mais representadas. No entanto, essa crise também oferece oportunidades de mudança, desde que ninguém se apresente com a solução pronta no bolso. Será preciso um processo, um movimento de participação popular. E qualquer pessoa disposta a participar dele deve ser incluída.
No Brasil, vocês apoiaram a eleição de Dilma Rousseff. Qual é a sua opinião sobre o governo do PT e o seu futuro?
A autonomia, para nós, é um valor importante. O PT geriu o poder com uma linha de “neodesenvolvimentismo”, mais progressista do que o neoliberalismo, mas baseada em um pacto de conciliação entre grandes bancos, capital financeiro e setores sociais mais pobres.
A operação de redistribuição da renda favoreceu a todos, mas principalmente os bancos. Agora, porém, esse pacto não funciona mais, as expectativas populares cresceram. O ensino universitário, por exemplo, integrou 15% da população estudantil, mas os 85% que ficaram de fora pressionam para entrar. Só que, para responder a essa demanda, seria preciso ao menos 10% do PIB, e, para levantar recursos desse tamanho, se romperia o pacto com as grandes empresas e os bancos.
Então?
O governo tem três caminhos: unir-se novamente à grande burguesia brasileira, como lhe pede o PMDB, construir um novo pacto social com os movimentos populares ou não escolher e abrir uma longa fase de crise. Nós queremos desempenhar um papel e, por isso, propomos um plebiscito popular para uma Assembleia Constituinte para a reforma da política. A força do povo não está no Parlamento.
Qual é a situação do Movimento dos Sem Terra hoje?
A nossa ideia, no início, era a de realizar o sonho de todo agricultor do século XX: a terra para todos, bater o latifúndio. Mas o capitalismo mudou, a concentração da terra também significa concentração das tecnologias, da produção, das sementes. É inútil ocupar as terras se, depois, produzirem transgênicos. Não é mais suficiente repartir a terra, mas é preciso uma alimentação para todos, e uma alimentação sadia e de qualidade. Hoje visamos a uma reforma agrária integral, e a nossa luta diz respeito a todos. Por isso, é preciso uma ampla aliança com os operários, os consumidores e também com a Igreja. Somos aliados de qualquer pessoa que deseje a mudança.
*A tradução é de Moisés Sbardelotto


Wednesday 5 November 2014

A produção e a subsistência na comunidade de São Pedro de Joselândia

A produção e a subsistência na comunidade de São Pedro de Joselândia

Relatório de Campo
São Pedro de Joselândia. 29/10 a 02/11/2014.
Giseli Dalla Nora

             
 Fonte: Nora, 2014.


O trabalho de campo realizado no período de 29/10 a 02/11/2014 teve como objetivo levantar dados para o projeto Identidades e emancipação das mulheres do campo: políticas, saberes e educação”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI)  cujo objetivo geral é Compreender como são construídas as identidades das mulheres do campo e suas emancipações,  tanto políticas quanto econômicas,  vislumbradas nos processos  pedagógicos escolar e não escolar aliado aos princípios da educação ambiental, arte e na reconhecimento dos saberes.

Durante o dia 29/11 visitamos  o curso que de produção de cabaça com biscuí no salão paroquial da Igreja  de São Pedro de Joselândia com a ministrante – Dudu;  e em seguida realizamos uma entrevista com o senhor  Paulo Santana  e seu genro Gonçalo investigando sobre o clima e as alterações sentidas no pantanal.

                A noite fomos agraciados com a apresentação do grupo Tibanaré, grupo de teatro que se apresentou nas comunidades do Pantanal de Joselândia a pedido do SESC PORTO CERCADO.


               Fonte:  Nora, 2014.

               Também visitamos a escola estadual Maria Silvina Peixoto de Moura e observamos o desenvolvimento dos PAECs, já implantados na escola como a cortina verde, o telhado verde, a casa tradicional e também o Ecofiltro. A escola esta reformando o muro da entrada.

No dia 30/10 visitamos a comunidade de Pimenteira vizinha a comunidade de São Pedro, onde entrevistamos a senhora Deunice Bueno de Souza e seu marido o senhor Jose Domingos Padilha de Moura conhecido como “Zé Dias”.  Em seguida visitamos o seu Joaquim, figura histórica na comunidade de São Pedro.

              No dia 31/10 entrevistamos a senhora Adjanil Caldas da Silva a senhora “Deja” que mora na estrada do “Brejão” também em São Pedro, mas um pouco afastada do núcleo central que é nas imediações da Igreja.

               No período vespertino visitamos a senhora Rita de Almira de Arruda Alvarenga esposa do senhor Jose Maria da Silva Alvarenga, chacareiros localizados na região Matão.

No mesmo dia entrevistamos o senhor Salvador “Vadô” e conversamos sobre a festa de são Pedro bem como a roças da região. No dia seguinte dia 01/11 de 2014 conhecemos outra área de São Pedro a região do “Ceará” onde entrevistamos a senhora Adelina Cândida de Alvarenga, “Dona Pequitita”.  Entrevistamos também o senhor Marcos Almeida Dias, o Marquinho, diretor da escola que tem um profundo sentimento de ser pantaneiro e do que é ser pantaneiro, uma das lideranças da comunidade.

Com esta atividade de campo se pode conhecer mais da realidade local de São Pedro e  as comunidades de circunvizinhas. A imersão realizada neste momento ilustrou o imaginário e a abrangência do saber popular e como que as atividades de campo mostram os fenômenos em si.

Este campo se vislumbrou a importância das “roças” e de como a vida no meio rural esta ligada ao cotidiano da roça e de como o pulsar do pantanal é importante para vislumbrar o cuidar do ambiente.



Tuesday 4 November 2014

As mulheres do mundo da água no período de estiagem. O Pantanal na seca.

Relatório de viagem São Pedro de Joselândia 29 de outubro a 02 de novembro de 2014
Rosana Manfrinate


Nossa viagem de campo para São Pedro de Joselândia, teve início no dia 29 de outubro, seguimos de caminhonete, pela estrada de terra esburacada, com pontes de madeira mal cuidadas e de travessia perigosa, mas que segundo os critérios locais “tava boa” pelo fato de não estar alagada, e permitir que nela possa se transitar com caminhonetes com tração, Van que vão deixando pedaços pelo caminho, tratores, caminhões, cavalos e boiadas, nunca carros pequenos.
Figura 1-Estrada que leva a Joselândia/29out2014-foto RosanaManfrinate
O Solavanco proporcionado pela estrada, a poeira, se misturaram a ansiedade do trabalho que nos esperava em campo. A pesquisa se delineava no pensamento ao mesmo tempo em que a estrada abria espaço para a nossa chegada na comunidade, assim na nossa ida física e material a Joselândia tinhamos escolhido um modo mais prático: a caminhonete, mas na ida ideológica e epistemológica, a intenção foi ir no caracol traçando a cartografia do imaginário, demorando em cada entrevista, conversa e observação, deixando nosso rastro se misturando a terra em que passávamos.
Abordar um campo investigativo exige uma enorme responsabilidade e grau de compromisso para além de nós mesmos. (...) Uma aventura em risco, onde cada qual escolherá o seu itinerário de pesquisa. Fixando o destino, é possível escolher o meio de transporte pelo qual queremos chegar (SATO, 2011.p.545)

Essa viagem de campo no período da seca foi planejada para que pudéssemos conhecer e conversar com as mulheres de partes mais distantes de Joselândia, como a pimenteira, Matão e Santana que ficam isoladas no período da cheia.

Objetivo das entrevistas foi o de conhecer o cotidiano do trabalho doméstico dessas mulheres e seu modo de vida, e como elas entendem as mudanças climáticas, como apresentam suas identidades, e seu relacionamento com a água no dia a dia.

Esse trabalho de campo foi muito intenso e com bons resultados, pois consegui nesses dias conversar com várias mulheres dos locais que nem sempre temos acesso.

Entre elas está a Dona Gonçalina, que em seu pequeno sítio faz queijo e doces para vender, e com sua voz serena e modos elegantes contou sobre sua vida e seu cotidiano, mostrando que a maior parte do rendimento da família vem do seu trabalho, aprendido com a mãe como uma obrigação doméstica. Para ela é apenas uma de suas atividades, porém essas atividades cotidianas das mulheres tem ganhado cada vez mais lugar na economia brasileira, como uma fonte segura de melhoria de vida para muitas famílias, demonstrando assim a importância desse trabalho, para Bachelard conseguimos ver cores e luzes invisibilizadas “figuras suaves e fortes saem da sombra” (p.13).





Figura 2-Dona Gonçalina-31out2014-Foto Rosana Manfrinate

Também pude participar de vários momentos em espaço coletivo das mulheres: oficina de artesanato, e encontro da Irmandade de Apostolado do Sagrado Coração de Jesus. Esses espaços se configuram como espaços de fé, de encontro, de discussão e diálogos e de acordo com Brandão também de aprendizado pois: “Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar” (BRANDÃO, 1985, p. 7).

Figura 3-Oficina de artesanato-31out2014-foto Rosana Manfrinate

Figura 4 Encontro da Irmandande do Postolado do Sagrado Coração de Jesus.
31out2014 -Foto Rosana Manfrinate


Figura 5 Dona Filhinha 01out2014-Foto Rosana Manfrinate

Consegui ainda uma entrevista muito importante com Dona Filhinha, uma senhora já bem idosa, que foi uma requisitada na comunidade por seus trabalhos de parteira, benzedeira e “achadora de poço de água com galho de goiabeira”. Apesar de Dona Filhinha já estar muito debilitada por conta de um derrame, e ter dificuldades de fala, sua memória é primorosa, e sua generosidade em participar da entrevista cativante.
Ela conta que a necessidade de ajudar as vizinhas na hora do parto, a fez aprender a profissão de parteira, a necessidade da falta de assistência a comunidade também a fez se tornar benzedeira e a achar água, mas a essas duas atividades ela diz que nem todo mundo consegue, pois é um Dom recebido de Deus, e que nunca sequer recebeu um centavo por nada que ajudou a fazer, pois não se cobra pelo trabalho de Deus. Assim encontramos eco no pensamento de Muraro(1998)
Desde a antiguidade as mulheres foram as curandeiras populares, cultivadoras de ervas, parteiras, as que conheciam os segredos do corpo, as que abençoavam na hora do nascimento e as que rezavam na hora da morte. Estavam sempre prontas a usarem seus saberes, recebidos de gerações anteriores, para ajudar os desvalidos, tornando-se imprescindíveis na vida das pessoas pobres e sem assistência.(p.34)

Ao todo foram entrevistadas 08 mulheres, e participei de 03 encontros coletivos com as mulheres. Observei a comunidade em outra época do ano e em outras necessidades impostas pela seca. Essas entrevistas foram gravadas e serão transcritas e interpretadas, considerando as observações e servirão como base para pensar a vulnerabilidade feminina frente as injustiças ambientais no território.
Nesse encontro da pesquisa com Joselândia, além do ciclo da seca e da cheia, dessa vez pude também reverenciar o ciclo da vida e da morte, infelizmente uma das idosas, talvez a mais espirituosa, que me cedeu entrevista logo nas primeiras vezes que fui a Joselândia faleceu no dia 03 de outubro. Dona Maria da Conceição, nos seus 85 anos de vida veio a Cuiabá para resolver assuntos de sua aposentadoria e segundo os médicos não resistiu ao calor que fazia nesse dia. Longe de seu Pantanal Dona Maria tristemente nos mostrou o que tanto a falta de estrutura, e o aumento de temperatura podem causar, e quem é mais vulnerável a esses problemas.
Mas na sua longa sabedoria de vida Dona Maria ensinou sempre um exemplo de força e amor pelo pantanal. Quando perguntei qual elemento da natureza do pantanal ela gostaria de ser, ela mostrou toda a sua irreverência dizendo: “ eu queria ser o Jacaré que come a piranha que come a gente”, ou seja dos fortes o mais forte. E é assim que lembraremos dela.


Referências:
BACHELARD, Gaston. O Direito de sonhar. São Paulo: Difel , 1985.
MURARO, Rose Marie. Breve introdução histórica. In: KRAMER, Heinrich; SPRENGER, James. O martelo das feiticeiras. Rio de Janeiro: Record; Rosas dos Tempos, 1998. p. 5-17.
SATO, Michèle. Cartografia do Imaginário no mundo da pesquisa. In: ABILÍO, Francisco Pegado. Educação Ambiental para o Semiárido. Ed. Universitária. João Pessoa, 2011