Tuesday 19 November 2019

COMO POPULAÇÕES TRADICIONAIS AO REDOR DO MUNDO PERCEBEM E SÃO AFETADAS PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS?


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COMO POPULAÇÕES TRADICIONAIS AO REDOR DO MUNDO PERCEBEM E SÃO AFETADAS PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS?


Por Tainá Scartezini e Laura Segovia Tercic
O termo “climate frontlines”, ou “linhas de frente do clima”, foi adotado para se referir aos locais do planeta mais severamente atingidos pelas mudanças climáticas. Em tais ambientes “as mudanças climáticas afetam desproporcionalmente as populações indígenas e outras populações marginalizadas. Seus efeitos estão sendo observados nas ecologias e geografias mais vulneráveis”, afirma o antropólogo e professor do Centro de Estudos da Ásia e África, do Colégio de México (Colmex), Carlos Mondragón. Segundo o professor, lugares como o ártico e outras regiões frias do mundo (Himalaia, Andes, Sibéria, regiões com comunidades circumpolares etc), assim como pequenas ilhas em todos os oceanos do mundo, especialmente no oceano Pacífico, e também áreas desérticas, tais como África subsaariana e partes do Oriente Médio, são as principais representantes das chamadas zonas de linha de frente do clima.
Dentre as razões para as populações tradicionais estarem entre as mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, Mondragón aponta para o fato de elas viverem com níveis muito baixos de renda, por vezes abaixo da linha da pobreza, o que é confirmado por Nádia Pontes, jornalista especializada em meio ambiente e ciência e mestre em ciência ambiental pelo Instituto de Ambiente e Energia da Universidade de São Paulo (IEE/USP). De acordo com Nádia, “vários artigos científicos mostram já há algum tempo que essas populações serão muito atingidas, justamente por serem mais vulneráveis, por terem menos recursos para se adaptar”. Além disso, Mondragón ressalta que “elas não têm acesso a abrigo, serviços e recursos para recorrer em caso de desastres climáticos”.
No entanto, não são apenas as populações habitantes das chamadas linhas de frente do clima que são impactadas. Em outras regiões, como, por exemplo, a floresta amazônica, populações indígenas também percebem mudanças e têm muito o que dizer sobre o assunto. De todo modo, seja no ártico, em áreas desérticas, ou no Brasil, essas populações costumam ser “sociedades sem Estado, ou sociedades que continuam a existir com formas de vida relativamente rurais e de subsistência”, diz Mondragón, e são classificadas como “tradicionais”.
O termo “populações tradicionais”, na definição dos antropólogos Manuela Carneiro da Cunha e Mauro Almeida, professores da USP e da Unicamp, respectivamente, caracteriza povos que, além de terem formas igualitárias de organização social, fazem uso de técnicas de baixo impacto ambiental. No entanto, na visão do antropólogo mexicano, é preciso cuidado, pois o termo pode acabar sugerindo “que eles vivem num passado pré-moderno”, quando, na realidade, “eles não são pré-modernos, são simplesmente não-modernos, mas eles são nossos contemporâneos. Eles são uma parte do presente”. Como alternativa, Mondragón prefere a denominação “população local”, em especial quando o termo “indígena” não é usado, assim como ocorre entre seus interlocutores de pesquisa na Melanésia.
No caso brasileiro, Chica Arara, liderança indígena do povo Shawãdawa-Arara, que conta com uma população de 700 pessoas residindo em área demarcada de 87 mil hectares no município de Porto Walter – Acre, região do Juruá, afirma que “o governo tem de ouvir o que os índios acham que é melhor”, pois são justamente as populações tradicionais, dentre as quais os povos indígenas, as mais afetadas.
Para Chica, “os governos podem apoiar iniciativas para manter em pé a floresta que a gente já tem, trabalhando a produção com baixa emissão de gases de efeito estufa, trabalhar com a matéria-prima sem desmatar, mas que gere renda para as comunidades”. Ela aponta ainda que, embora exista um diálogo importante entre o governo acreano e os povos indígenas, “talvez esse é o desafio que o estado do Acre tem, porque nós não cuidamos só de floresta, nós cuidamos da floresta, mas na floresta tem animais, vidas, pessoas, e as políticas públicas precisam chegar lá – mas sem chegar desmatando, acabando com tudo, pensando só em agronegócio, agropecuária”.
Em sintonia, Carlos Mondragón e Nádia Pontes corroboram a fala de Chica Arara. De um lado, para o antropólogo, “o mais importante que governos e a comunidade internacional podem fazer é entender e aprender a partir do conhecimento e práticas ambientais dos povos locais. Sendo sensíveis à sabedoria local existente, legisladores podem então elaborar intervenções que são co-produzidas com esses povos, em vez de impostas sobre eles”. De outro, para a jornalista, “é bom e importante que a ciência formal se aproxime desse saber tradicional para encontrar as melhores ferramentas para se adaptar e mitigar as mudanças climáticas”.
Mudanças nos ciclos hidrológicos (chuvas fora de época e secas) e o aumento da temperatura terrestre acarretam graves impactos sobre essas populações, pois, apesar de residirem em áreas altamente preservadas em virtude de suas ações de manejo florestal, elas geralmente sobrevivem da agricultura de subsistência e mantêm uma relação diferenciada com a terra. Portanto, alterações nos ciclos naturais têm efeitos profundos e imediatos sobre eles.
No caso do povo Shawãdawa-Arara, Chica Arara, que participou do documentário Quentura, dirigido por Mari Corrêa, fala que “por mais que a gente tenha uma floresta intacta, hoje, nós temos sofrido grandes problemas com a seca do nosso rio, o Cruzeiro do Vale. Os remansos onde tinha peixe não existem mais, aqueles remansos grandes onde tinham os jacarés, as raias, os sucuri, o jaú, os peixes foram migrando, foram embora, não tem muito peixe. O outro problema é que na nossa terra é que ela é vizinha dos nossos amigos extrativistas, das pessoas que são os não-indígenas que moram do lado da nossa terra. E esse povo, eles desmatam muito as beiradas do rio, fazem pasto de gado, vão aterrando as nascentes do rio, as matas ciliares. Temos sofrido muito também com esses impactos e, indiretamente, com a questão da quentura mesmo. O tempo está muito quente, a chuva fora de época, o que mata a nossa produção. Não tem mais um tempo definido dos calendários de plantar nossas plantas, porque, às vezes, a gente planta a roça, mas vem a chuva fora de época e aterra tudo e aí temos problemas nos legumes e na segurança alimentar; e também, por a terra estar muito quente, as plantas às vezes não nascem, não vingam, morrem, e isso tem um impacto muito grande na segurança alimentar do meu povo”.
Para além dos impactos diretos das mudanças climáticas, ao ambiente natural e à saúde dos indivíduos, estão também em jogo outros tipos de consequências sociais e impactos nas culturas locais. Segundo Chica, o calendário das festividades e dos rituais tradicionais já está sendo afetado pelo desequilíbrio nos ciclos naturais, pois depende da sazonalidade do clima, do aparecimento de certas espécies em épocas específicas e do sucesso das colheitas. Sociedades indígenas costumam praticar cerimônias nas quais alimentos e bebidas são trocados por novas formas de status, como casamento, entrada para a vida adulta etc. Por conta disso, a desregulação do calendário agrícola, a qual prejudica a produção alimentar, não os ameaça só com fome e desnutrição, mas também com o risco de que os próprios rituais deixem de ser praticados.
Em relação ao combate aos efeitos das mudanças climáticas pelo governo brasileiro, Nádia Pontes alerta que, apesar do Brasil ser signatário do Acordo de Paris, assinado em 2015 e ratificado em 2016, e de termos o Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas (PNA),  “desde que esse governo assumiu o que se viu foi um desmantelamento das sessões de ministérios que cuidavam de negociações climáticas e desse plano de adaptação às mudanças climáticas, a gente viu o enfraquecimento desses setores. Portanto, nada tem sido feito em relação a vários pontos que estão ali no Acordo de Paris, como o reflorestamento. Temos, por parte de algumas alas do governo, esse negacionismo de que mudanças climáticas são causadas pelo homem. É um momento muito crítico, pouco tem sido feito, ou nada tem sido feito”. Apesar disso, Pontes vê com otimismo o crescente “reconhecimento e preocupação em incluir os saberes tradicionais nessa questão de adaptação às mudanças” nas conferências do clima.
Tainá Scartezini é formada em ciências sociais pela USP e cursa especialização em jornalismo científico no Labjor/Unicamp.
Laura S. Tercic é bióloga formada pela USP e cursa a especialização em jornalismo científico pelo Labjor/Unicamp.

Como as mudanças Climáticas alteram o seu pf



https://youtu.be/S8yxXrs_k9o




A CHAPA ESQUENTOU, E AGORA?

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A CHAPA ESQUENTOU, E AGORA?

Por Christopher Cunningham e Liana Anderson
Oclima é parte integrante das nossas vidas, afinal vivemos e morremos “mergulhados” na atmosfera. No passado talvez fosse possível viver sem tomar muito conhecimento dele, mas nas últimas décadas a questão vem ganhando rapidamente a atenção da população mundial. Todos já vimos notícias sobre grandes desastres climáticos mundo afora, desde grandes tempestades e furacões que matam e destroem até incêndios devastadores na Califórnia e Amazônia.
Em um mundo polarizado como o nosso atualmente, você pode ser negacionista do clima ou simpatizante da causa climática; só não vale ficar alheio a ela. No centro desse debate está a causa do aquecimento: o dióxido do carbono (CO2). Por que o CO2? Primeiro, porque é um dos chamados gases de efeito estufa, cujo principal efeito é acumular calor na atmosfera. Depois, porque os processos de industrialização, urbanização e crescimento populacional desde o século XVIII aumentaram, e muito, os níveis desse gás na atmosfera. Desde a revolução industrial a concentração de CO2 aumentou aproximadamente 40%.
Esse artigo não é, entretanto, para reforçar um dos lados, e sim para dizer que não podemos dar as costas aos fatos. Independentemente de acreditar se o planeta está aquecendo em consequência de atividades humanas ou naturalmente, quando somamos diversas evidências e indicadores eles nos mostram que o clima é apenas um aspecto de uma crise mais ampla: uma crise socioambiental. Plástico nos oceanos, florestas cortadas, pastagens improdutivas, poluição do ar, agrotóxicos nos alimentos e espalhando-se pelos grandes reservatórios de água doce, os aquíferos, e mesmo o impacto no meio ambiente devido a grandes desastres, como o rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho e, por fim, óleo no mar. A seguir apresentamos resultados de estudos científicos, e esperamos que o leitor reflita e tire suas próprias conclusões.
Medições de longa duração vêm detectando que a atmosfera do planeta está se aquecendo rapidamente. A temperatura média atualmente está aproximadamente 1 grau mais quente do que era antes de começar a revolução industrial, no final do século XVIII. Esse grau a mais é como botar mais lenha em uma caldeira que já está trabalhando intensamente. Esta analogia é bem fiel, pois uma boa parte do problema do aquecimento global é o fato de que em um planeta mais quente temos mais vapor de água na atmosfera, que evapora principalmente dos oceanos. O vapor de água na atmosfera funciona como um meio para transportar energia de um lugar para o outro. Assim a água que evapora no meio do Oceano Pacífico pode estar relacionada às chuvas torrenciais na costa da Califórnia.
Um dos efeitos de a atmosfera estar mais quente e com mais vapor de água é que os eventos extremos estão se tornando mais frequentes. Isto vem sendo alertado pelos cientistas de mais de 38 países que compõe o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) há pelo menos duas décadas. Diversos extremos climáticos batem recordes mundo afora, e não são somente do ponto de vista meteorológico, mas de impactos na sociedade e no ecossistema. Em novembro de 2017, por exemplo, uma onda de calor extremo aniquilou milhares de morcegos na Austrália. Cientistas e moradores locais afirmaram nunca ter visto algo parecido antes. No Brasil, a seca que atingiu o Sudeste em 2014 foi a pior em mais de 50 anos, e levou à maior crise de abastecimento da história da metrópole de São Paulo.
Também já foi comprovado que as áreas de florestas tropicais que foram desmatadas, independentemente do tipo de uso subsequente, são mais quentes e seguram menos umidade que as áreas de florestas. Estudos demonstraram que as massas de ar que passam sobre essas áreas convertidas, na Amazônia, carregam menos água que as massas de ar que viajam sobre as florestas. Isso significa que essas massas de ar estão mais secas quando chegam à região central e sul do continente, potencialmente afetando as grandes áreas de produção de grãos do Brasil, Uruguai e Argentina. Os padrões de chuvas na própria Amazônia também estão se alterando. Nas bordas dessa grande floresta, seja na porção sul, seja na porção norte, há menos chuvas nos meses de inverno que há 30 anos.
Existem grandes discussões mundiais sobre a responsabilização tanto das emissões de gases de efeito estufa (GEE) quanto dos desastres ocorridos devido às mudanças do clima. Com o aumento da regulação sobre as emissões de GEE por empresas na Europa, muitas indústrias se mudaram para a China, Vietnã e mesmo para a Índia. Essa estratégia para diminuir as emissões, no fim das contas, apenas altera onde a poluição é gerada, sem atingir a raiz do problema. Na região tropical, temos desmatado as florestas, emitindo assim grandes quantidades de GEE, sob o argumento que precisamos de mais terra para produção agropecuária. No entanto, basta você viajar de carro, seja pela região Norte, seja pela região Sudeste ou em qualquer outro local, que poderá observar as grandes áreas de pastagens degradas e improdutivas que temos. Não seria mais racional utilizar de forma mais adequada e intensiva as áreas já abertas? Ao pensarmos sobre esses dois pontos extremos podemos encontrar algo comum: os atuais modelos de desenvolvimento econômicos não estão se mostrando como as melhores alternativas para a sustentabilidade, e talvez o desenvolvimento não esteja necessariamente acoplado ao crescimento econômico, como novos economistas sugerem.
Muitas vezes, os debates sobre as mudanças do clima e seus impactos tendem a apontar os erros ou caminhos adotados pelos diferentes países ou a dívida histórica que eles têm devido à sua maior contribuição na emissão de gases de efeito estufa. No entanto, gostamos de lembrar da primeira fotografia do planeta, tirada em 1968 pelos tripulantes da Apollo 8. Naquele momento, e ainda hoje, essa foto histórica revela nosso pequeno planeta, fechado em si mesmo, sem fronteiras e sem países, nossa casa compartilhada com milhões de outras espécies em um balanço dinâmico, interconectado, pulsante e vivo.
Para que ele continue saudável, precisamos avaliar cuidadosamente nossos padrões de consumo, o lixo que geramos e o que estamos deixando como legado para as próximas gerações. Podemos ser a geração que mudou o planeta, não para algo mais deteriorado que o encontramos quando éramos crianças, mas para algo melhor para todos, mais justo e com acesso a um meio ambiente preservado capaz de sustentar todos seus serviços dos quais dependemos, como o ciclo das águas e chuvas, a polinização de frutas, a diversidade biológica que, dentre muitas outras coisas, gera medicamentos. Para atingir este objetivo precisamos também respeitar as diferenças e ter a capacidade de dialogar, lembrando que, no fim das contas, estamos todos sobre a chapa que está esquentando.
Christopher Cunningham e Liana Anderson são pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). christopher.cunning@gmail.com e liana.anderson@gmail.com

PALEOCLIMATOLOGIA BUSCA DESVENDAR O PASSADO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

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PALEOCLIMATOLOGIA BUSCA DESVENDAR O PASSADO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS


Por Tatiana Jorgetti Fernandes
Foi investigando o clima do passado que o cientista Wallace Broecker percebeu indícios da mudança climática provocada pelo homem. Broecker foi responsável pela primeira publicação científica em que aparece o termo ‘aquecimento global’, em 1975.
Quando ouvimos falar sobre mudanças climáticas, sem hesitar pensamos no atual aquecimento global que vivenciamos. Apesar de essa mudança atual ser comprovadamente causada pelo homem, o clima da Terra já mudou muito em função de variações naturais experimentadas ao longo dos seus bilhões de anos.
Olhar para o passado nos permite entender como o clima mudou ao longo do tempo, quais foram os gatilhos dessas mudanças e as respostas dos ecossistemas. Um profundo conhecimento sobre as variações do clima da Terra nos permite separar os processos climáticos naturais daqueles gerados pelo ser humano.
Foi justamente investigando o clima do passado que o cientista Wallace Broecker percebeu indícios da mudança climática provocada pelo homem. Ele foi responsável pela primeira publicação científica em que aparece o termo “aquecimento global”, em 1975[1] e, desde então, esse termo foi popularizado. Sua hipótese, hoje comprovada, era de que um acelerado aquecimento ocorreria nas próximas décadas em função do aumento exponencial dos gases de efeito estufa.
Mas o que difere o estudo do clima do passado e o estudo do clima do presente?
Atualmente definimos o clima através das condições do tempo acumuladas em um intervalo de pelo menos 30 anos, obtidas por medições instrumentais. As coletas de dados de temperatura, pressão, chuva, ventos e muitas outras variáveis é bastante recente, iniciada há alguns séculos e amplamente disseminados a menos de 100 anos. Apesar da grande relevância de todas as informações climáticas atuais, elas representam uma ínfima parte da história do clima da Terra.
Antes disso a natureza se encarregou de guardar muito bem tudo o que aconteceu no passado, e alguns cientistas se empenham em buscar esses vestígios naturais para, a partir deles, inferir como era a temperatura e o regime de chuvas muito antes de existirem termômetros e pluviômetros – na realidade, muito antes de o homem habitar a Terra.
Essa é a tarefa da paleoclimatologia, ciência que busca descrever a história do clima, de centenas a milhões de anos atrás. Para alcançar esse objetivo é necessário um esforço multidisciplinar de geólogos, geofísicos, oceanógrafos, glaciólogos, biólogos, químicos, arqueólogos, paleontólogos, geógrafos, astrônomos, meteorologistas e matemáticos.
A importância da paleoclimatologia para compreensão da atual mudança climática e seus impactos sempre foi bastante clara para os cientistas do clima. Desde o primeiro relatório de Avaliação Científica das Mudanças Climáticas do IPCC, em 1990[2], um dos capítulos já era dedicado especificamente a essa área.
Da herança na natureza aos avanços científicos e tecnológicos
As marcas do clima do passado estão registradas de muitas maneiras na natureza em indicadores ambientais, conhecidos como proxies. Esses registros geológicos são medidas indiretas do clima passado, que podem ser analisados e relacionados com parâmetros climáticos ou ambientais.
Normalmente os proxies mais conhecidos são os anéis de árvore e os testemunhos de gelo, mas pistas do clima do passado podem ser encontradas em muitos outros indicadores como documentos históricos, sedimentos de lagos e oceanos, rochas de cavernas, corais, entre outros.
Os proxies são encontrados na superfície continental, no fundo dos oceanos, no topo de montanhas e em todas as latitudes, fornecendo informações do passado em todo o mundo. Suas características físicas, químicas ou biológicas são analisadas e podem conter informações representativas de diversos parâmetros climáticos e em diferentes escalas de tempo.
Os anéis de árvores fornecem informações dos padrões de chuva e temperatura de cada ano – desde o presente até mais de mil anos – pois essas condições climáticas influenciam o crescimento da árvore. Os testemunhos de gelo guardam informações da temperatura e indícios da composição da atmosfera, uma vez que aprisionam bolhas de ar de períodos que podem chegar a centenas de milhares de anos. Sedimentos marinhos podem revelar quanto gelo existia no mundo e como a temperatura variou, resguardando vestígios das características da fauna e da flora de milhões de anos atrás.

Exemplos de proxies climáticos. Fonte: National Centers for Environmental Information – National Oceanic and Atmospheric Administration

Além dos proxies, a paleoclimatologia conta com outra importante ferramenta, os modelos climáticos, que são representações matemáticas dos principais componentes desse complexo sistema (atmosfera, superfície continental, oceano, gelo) e de suas interações.
Modelos bastante complexos desenvolvidos nas últimas décadas com modernos recursos computacionais são capazes de representar como era o clima do passado. Essas representações, conhecidas como simulações climáticas, são verificadas com os proxies e, à medida em que temos maior quantidade e mais detalhes das informações do clima do passado, os modelos são melhorados.
Os mesmos modelos que são utilizados e aprimorados para representar o clima do passado também são usados para prever o clima do futuro e mostram-se ferramentas cada vez mais robustas e confiáveis. As simulações paleoclimáticas têm contribuído muito para um melhor entendimento dos sistemas naturais, levando em consideração sua multidisciplinaridade[3]. Avanços no entendimento da sensibilidade climática às alterações de dióxido de carbono (CO2) na cobertura de gelo, no nível do mar, na ocorrência de eventos climáticos extremos, no abastecimento de água e nos ecossistemas são exemplos de contribuições da modelagem paleoclimática. Além disso, os resultados dos modelos paleoclimáticos fornecem maior detalhamento espacial e temporal da história do clima, preenchendo as lacunas deixadas pelos proxies.

Ilustração de como o modelo climático representa a atmosfera e um supercomputador utilizado para executar bilhões de operações durante as simulações climáticas
Fontes: MIT e Nasa 

Um pouco da história do clima
Os proxies aliados aos modelos paleoclimáticos proporcionam a reconstrução da história do clima da Terra, que permite compreender como e por que as mudanças climáticas naturais aconteceram.
Hoje são bastante conhecidos diversos gatilhos que provocaram mudanças no clima, sendo um dos principais a diferença na quantidade de energia do Sol que a Terra recebe. Essa diferença pode ser gerada por alterações na atividade solar ou por variações dos parâmetros orbitais da Terra, que afetam a quantidade e a distribuição da energia que chega no planeta. Os ciclos dos parâmetros orbitais da Terra foram responsáveis pelos principais períodos de aumento e retração de gelo sobre a superfície da Terra, conhecidos como períodos glaciais e interglaciais, na escala de dezenas de milhares de anos.
Mudanças climáticas naturais também podem ser originadas da movimentação das placas tectônicas, através de alterações na distribuição dos continentes e oceanos, formação de cadeias de montanhas ou variações na composição da atmosfera, por exemplo em períodos de atividade vulcânica muito intensa.
Além de explicar a origem das mudanças climáticas, a paleoclimatologia também investiga como essas mudanças evoluem com o tempo, e quais são os impactos gerados por elas, como é o caso da relação entre temperatura e CO2, importante gás de efeito estufa. A reconstrução de séries globais históricas dessas duas variáveis aponta para uma forte relação entre elas, onde períodos mais quentes sempre acompanharam um aumento de CO2.
Embora o principal gatilho dos períodos glaciais-interglaciais seja a mudança da energia solar recebida, as alterações na concentração atmosférica de CO2 desempenham um papel fundamental na evolução desses períodos[4]. O CO2 amplifica o sinal climático através de um mecanismo de retroalimentação, em que o aquecimento provoca a liberação de CO2 para a atmosfera enquanto o próprio CO2 é responsável por aumentar o aquecimento.
A forte evidência paleoclimática de que o clima é sensível às variações de CO2 preocupa os climatologistas, pois a concentração atual de gases de efeito estufa é a maior dos últimos 800 mil anos, de acordo com análises de testemunhos de gelo[4]. A taxa de aumento desses gases é a maior registrada nos últimos 22 mil anos[4], atual período interglacial em que ocorreu um significativo aquecimento da Terra após o Último Máximo Glacial, que ocorreu há 21 mil anos.

Evolução da temperatura e do CO2 baseada em testemunho de gelo da Antártica ao longo de 800 mil anos. Fonte: Nasa – Earth Observatory 

No Brasil a paleoclimatologia avançou principalmente nas últimas duas décadas, mas ainda há muito a ser explorado uma vez que alguns dos biomas mais importantes do mundo estão presentes aqui. Entender como os diferentes biomas responderam às variações climáticas do passado ajuda a entender como esses biomas podem responder no futuro. Os registros paleoclimáticos referentes ao Último Máximo Glacial indicam condições mais secas na região tropical e mais úmidas em regiões subtropicais[5]. Há 6 mil anos a Terra atingiu o auge de temperatura no atual período interglacial e o clima do Brasil era mais seco, com exceção do Nordeste[6]. Compreender os padrões climáticos estabelecidos nesses dois períodos-chave do passado e as diferenças entre eles pode ajudar a responder atuais questionamentos como, por exemplo, o papel da floresta amazônica no clima regional e global.
As perspectivas para a paleoclimatologia estão em aprimorar ainda mais a pesquisa multidisciplinar que visa ao entendimento da evolução do clima da Terra. Afinal, compreender o passado é a única maneira de descobrirmos o impacto da humanidade no clima, e o quanto os sistemas naturais e sociais são vulneráveis e adaptáveis às mudanças climáticas que estamos vivenciando.
Tatiana Jorgetti Fernandes é meteorologista formada pela USP, onde fez mestrado e pós-doutorado em paleoclimatologia. Atualmente cursa especialização em jornalismo científico pelo Labjor/Unicamp.
Referências
[1] Broecker, W. S. “Climatic change: are we on the brink of a pronounced global warming?”. Science, 1975, v. 189, p. 460–463.
[2] Houghton, J.T.; Jenkins, G.J,; Ephraums, J. Climate change 1990: The IPCC scientific assessment. Cambrigde University Press, 1990. https://www.ipcc.ch/report/ar1/wg1/
[3] Haywood, A. M.; Valdes, P.J.; Aze, T. et al. “What can paleoclimate modelling do for you?”. Earth Syst Environ, 2019, p. 1-18.
[4] Delmotte, V. M.; Schulz, M. “Information from paleoclimate archives”. In: Climate change 2013: the physical science basis. Contribution of working group I to the fifth assessment report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press. https://www.ipcc.ch/report/ar5/wg1/
[5] Sifeddine, A. et al. “Informações paleoclimáticas brasileiras”. In: Ambrizzi, T.; Araujo, M. (org.). Base científica das mudanças climáticas. Contribuição do Grupo de Trabalho 1 do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas ao primeiro relatório da avaliação nacional sobre mudanças climáticas. Rio de Janeiro: COPPE, 2014, p. 126-180.
http://www.pbmc.coppe.ufrj.br/documentos_publicos/GT1/GT1_volume_completo_cap4.pdf
[6] Perretti, A. R. et al. “Evolução climática e oceanográfica no Brasil e no oceano adjacente durante o Pleistoceno Superior e o Holoceno: uma atualização”. In: Ambrizzi, T.; Jacobi, P. R.; Dutra, L. M. M. (org.). Ciência das mudanças climáticas e sua interdisciplinaridade. São Paulo: Annablume, 2015, p. 149-167.

SEM ESPERANÇA, MAS SEM DESESPERO

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SEM ESPERANÇA, MAS SEM DESESPERO


Por Claudio Angelo
Por que parei de acreditar que podemos resolver o aquecimento global
No verso final de seu assombroso poema Quede água?, musicado de forma igualmente assombrosa por Lenine, o letrista Carlos Rennó delineia um guia de sobrevivência para a humanidade no Antropoceno: “Sem esperanças, mas sem desespero/no futuro que tivermos”. Não importa quantas vezes eu ouça, a canção não falha em me levar às lágrimas.
Parte do álbum Carbono (2015)de Lenine, Quede água? pinta um quadro sufocante de como as mudanças do clima e outras formas de degradação ambiental estão retirando do alcance dos seres humanos a substância essencial à vida. A doçura do violão do cantor pernambucano não esconde – antes ressalta – uma narrativa pesada, de selvas virando savanas, rios secando, cidades sendo tomadas pelo mar e nações entrando em guerra “por um córrego, um chuvisco”.
É uma letra sobre resignação, escrita sob o impacto da crise hídrica paulistana de 2014/2015 e evocando o exemplo de resiliência do árido Nordeste – que também nos é lembrado o tempo todo pelas escolhas melódicas de Lenine. Diferentemente de outras canções que abordam a temática ambiental (e acabam virando manuais de conduta insuportáveis), aqui não há chance de final feliz se tomarmos consciência e mudarmos nossos maus modos; há uma situação à qual podemos almejar, no máximo, sobreviver, se aprendermos a lidar com um mundo irremediavelmente piorado.
Ironicamente, essa obra-prima do fatalismo apareceu num tempo de renovação da esperança. Poucos meses depois do lançamento de Carbono, líderes mundiais reunidos em Paris fecharam o primeiro acordo global contra as mudanças climáticas, pondo fim a anos de negociações frustradas. O multilateralismo estava em alta, com EUA e China deixando as diferenças de lado por um instante a fim de tentar garantir a sobrevivência da humanidade (afinal, não há disputa geopolítica possível num planeta destruído). Por um breve momento, as cenas narradas por Rennó pareceram evitáveis.
Quatro anos depois, às portas do ano em que as metas de Paris deveriam começar a ser cumpridas, é preciso encarar os fatos: não há mais chance de limitar o esquentamento da Terra no 1,5oC preconizado pelo tratado como ideal para a segurança climática. Tampouco há chance de uma estabilização “bem abaixo” de 2oC, limiar definido por Paris e pela ciência a partir do qual os impactos climáticos tornam-se muito mais difíceis de manejar. Salvo em caso de milagre ou de algum cataclismo thanosiano, devemos nos preparar para um aquecimento ao redor de 3oC no fim deste século. Quanto mais cedo admitirmos que não há final feliz em vista, mais cedo poderemos nos preparar para o que vem por aí. Sem esperanças, mas sem desespero.
Os líderes que negociaram o Acordo de Paris sabiam que o tratado já nascia sob um risco enorme: seu sucesso era totalmente dependente do alinhamento de astros único daquele momento da história. Sua implementação estava condicionada não apenas à manutenção, mas a uma ampliação da cooperação internacional para além dos sonhos mais loucos de qualquer marxista-cultural-globalista. Paris demandava mais multilateralismo, mais transferência de tecnologia, mais solidariedade internacional, mais dinheiro fluindo dos países ricos para os pobres.
E, mesmo assim, a chance de dar certo sempre foi pequena. Em 2018, no seu relatório Aquecimento Global de 1,5oC, o SR15 – o documento mais importante e mais criminosamente desprezado já escrito neste século –, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) conclui que não há nada nas leis da física que impeça a humanidade de atingir a meta do 1,5oC. Só que, para termos uma chance de 66% de estabilização, o nosso “teto de gastos” de CO2, ou seja, tudo o que podemos emitir daqui até o final dos tempos, seria algo entre 570 bilhões e 420 bilhões de toneladas. Como hoje emitimos cerca de 50 bilhões de toneladas por ano, gastaríamos o borderô em cerca de uma década. O problema é que a incerteza nesse número pode ser de 750 bilhões de toneladas ou mais. Ou seja, não pode ser descartada a possibilidade de já termos estourado nosso limite.
Pare por um momento para refletir sobre a premissa: o maior indicador de sucesso do acordo do clima seria uma chance de dois terços de nos mantermos na meta. Imagine-se agora entrando num avião e ouvindo antes da decolagem que seu voo tem uma chance de um terço de não chegar ao destino. Rejeitamos um risco pessoal dessa magnitude, mas embarcamos felizes num risco planetário semelhante. E nem ele estamos evitando.
Como o papel aceita tudo, o IPCC traduziu esses borderôs numa frase críptica sobre trajetórias de emissão que é uma pérola do autoengano: “Em trajetórias modeladas que excedem pouco ou nada o 1,5oC, as emissões antropogênicas líquidas declinam cerca de 45% em relação aos níveis de 2010 até 2030”. É mais ou menos o equivalente a um diagnóstico de câncer terminal que o médico assinasse com um smiley e um PS: “Sorria! Enquanto houver vida há esperança!”
Porque a chance de as emissões caírem em 45% em relação aos níveis de uma década atrás nos próximos 11 anos, meus amores, é nula. As próprias metas dos países em Paris, as NDCs, que mesmo cumpridas à risca nos levariam acima dos 3oC, têm calendário de cumprimento até 2030 e o ajuste de sua ambição antes disso é incerto. Em dezembro do ano passado, o consórcio Global Carbon Project mostrou que as emissões cresceram quase 3% entre 2017 e 2018 e afirmou que o pico nas emissões “ainda não pode ser vislumbrado”. A China, que sozinha emite quase um quinto do CO2 do planeta, pretende aumentar suas emissões absolutas até 2030. E somente as usinas termelétricas a carvão já contratadas ou em construção na Ásia já levarão ao estouro da meta.
Se a matemática e a física parecem implacáveis é porque ainda não falamos da política. Não há nenhuma carta no baralho político internacional hoje que sequer se aproxime dos objetivos do Acordo de Paris. Estamos testemunhando o exato oposto: a ascensão da extrema-direita em países como os EUA (2o maior emissor), o Brasil (7o maior) e vários países da União Europeia (3o maior) reduz os espaços democráticos, manda às favas a cooperação internacional, corta ajuda financeira aos países pobres, refreia o ímpeto europeu de liderança e elimina a ciência das políticas públicas. Basta dizer que o ministro do Meio Ambiente do Brasil, em tese o encarregado de liderar a implementação das metas do país, é negacionista do clima. Mesmo que sejam transitórios, o populismo de direita e seu negacionismo embutido roubaram o resto do tempo que já não tínhamos para agir.
Qualquer adolescente que olhe para o cenário pode perceber o tamanho da enrascada. E, de fato, uma adolescente percebeu: a sueca Greta Thunberg, 16, que em 2018 iniciou uma greve escolar solitária por mais ação no clima que explodiu em 2019 num movimento global e tornou “greve pelo clima” o termo do ano em língua inglesa do dicionário Collins (o mesmo que consagrou “fake news” em 2017).
A resposta dos adultos ao movimento iniciado por Thunberg é o puro creme do mindset que nos trouxe aonde chegamos: “aiiiinn, mas que radical!” ou “riquinha que nunca passou fome e quer ferrar as criancinhas pobres”, ou, ainda, “simplista, fundamentalista e pré-política”, nas palavras do sociólogo Demétrio Magnoli. Migo, seu loko, deixa o Ernesto Araújo te explicar o que é “fundamentalismo”. Há 30 anos a ciência vem gritando sobre as causas e da mudança do clima e os riscos da inação. A “política” não fez nada. Não sei se Magnoli e outros sábios que analisam o século 21 com lentes do 20 têm filhos e netos. Mas, diante do que está em jogo, o movimento de jovens surpreende por ser pouco radical. O tempo acabou, queridos. Faz duas décadas que o tempo acabou.
Há um tabu no movimento ambientalista e na ciência sobre dizer abertamente que não dá mais para conter a mudança do clima. Pessimismo desengaja, diz o mantra da comunicação climática: se as pessoas acharem que não dá para mudar nada, não farão nada. Essa noção precisa cair. Há 20 anos eu escrevo sobre clima e há 20 anos assisto às mesmas cenas de contorcionismo retórico segundo as quais “se agirmos agora podemos evitar o pior”. Há 20 anos o “agora” é chutado um pouco mais para a frente. Alguns pesquisadores, como o americano David Victor e o alemão Oliver Geden, e escritores, como os americanos Jonathan Frazen e David Wallace-Wells, vêm gritando que o rei está nu. Passa da hora de engrossar esse coro.
Porque a esperança é péssima conselheira a esta altura do campeonato. A esperança nos autoriza a esperar mais um pouco antes de investir trilhões de dólares para preparar cidades como Beira e Luzon contra supertufões, ou restaurar manguezais e construir quebra-mares no Rio, em Santos e em Recife para proteger contra ressacas mais frequentes. A esperança em evitar o pior nos autoriza a procrastinar com o planejamento do abastecimento de água em Brasília e em São Paulo e a tratar nossas hidrelétricas como se no futuro elas fossem gerar a mesma energia que sempre geraram no passado. A esperança nos faz tolerar desmatamentos adicionais no Brasil.
Mas, o pior de tudo, a esperança nos dá o conforto de não precisar olhar com a urgência necessária para bilhões de pobres, que terão seu acesso a comida, água e serviços básicos ainda mais dificultado pelo clima nas próximas décadas e adoecerão mais, morrerão mais e migarão mais. Se 1 milhão de refugiados sírios na Europa redesenharam a vida e a política no continente, imagine o impacto de centenas de milhões de migrantes no mundo todo.
Como ensina Carlos Rennó, não ter esperança não significa ceder ao desespero. Não há uma fronteira fixa entre 2oC e o apocalipse. Cada termelétrica fóssil desligada e cada hectare de Amazônia preservado é menos carbono na atmosfera e menos desgraça no nosso caminho. O ambientalismo e a ciência importam mais do que nunca, e as tecnologias de substituição aos combustíveis fósseis também ajudam a melhorar a qualidade de vida de todo mundo. A transformação da economia global já em curso precisa ser acelerada e a dimensão climática não pode mais ficar de fora da política e do voto. Não salvar tudo não significa perder tudo. Mas é preciso pressa e – sim – uma boa dose de radicalismo para salvarmos o que resta.
No futuro que tivermos.
Claudio Angelo, 44, é coordenador de Comunicação do Observatório do Clima e autor de A espiral da morte – como a humanidade alterou a máquina do clima (Companhia das Letras, 2016). E-mail: claudioangelo@observatoriodoclima.eco.br