Thursday 25 May 2023

MICHÈLE SATO, PRESENTE!

                      MICHÈLE SATO, PRESENTE!




MICHÈLE TOMOKO SATO


O que dizer  escrever  - sobre Michèle Sato, em poucos parágrafos, que sejam expressivos e representativos da existência  e obra dessa mulher?

Uma profissional indescritível! Pós-doutora em Educação e na Arte de aliar Arte-Educação como ninguém jamais havia feito para denunciar e anunciar as mazelas e crimes na área ambiental! Uma pesquisadora na essência da palavra! Tudo foi motivo de estudo. Nada passava por uma leitura simples de mundo. Ao contrário, lia o mundo por diferentes vieses. Interpretava-o e o traduzia em múltiplas linguagens para todos que dela se aproximassem.

 Não tinha tempo ruim para Michèle “arregaçar as mangas” e disseminar conhecimentos a quem quer que fosse e onde quer que estivesse. Falava aos pantaneiros-as, indígenas, negros-as, educadores-as, estudantes, migrantes, enfim... Humanos de todos os grupos e lugares, sempre com seu jeito humilde, inteligente, firme e decisivo de dizer verdades. Michèle surpreendia sempre! Foi brilhante!

Falava e atuava, com propriedade, sobre temas diversos, pois havia ciência em tudo que fazia. Aliás, Ciência – Amor - Esperança sustentavam sempre seus argumentos. Educadora encharcada nas obras de Paulo Freire, militava em favor da VIDA. Vida para o planeta inteiro e todos seus habitantes – criaturas de todas as espécies – em  todos os lugares. 

A água, a terra, o fogo e o ar impregnaram todos os momentos de sua vida, arte e militância. Pois é um espírito semeador que lançou sementes em diferentes direções, sempre preocupada em desfazer a invisibilidade e a vulnerabilidade dos seres esquecidos nesse mundo. Lutou por um planeta inteiro! 

E mesmo no leito de um hospital de UTI, ao longo de 33 dias, foi guerreira, ensinando-nos a lutar. Como lutou!

Nunca será dito o bastante sobre essa mulher que foi ÁGUA, TERRA, FOGO e AR. 

GRATIDÃO!


Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicado e Arte

 

Wednesday 5 April 2023

Quem foi Paulo Freire

 https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46830942


Quem foi Paulo Freire: como o legado do educador brasileiro é visto no exterior

Edison Veiga
De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil
12 janeiro 2019
Atualizado 15 março 2023


CRÉDITO,LUIZ CARLOS CAPPELLANO/DOMINIO PUBLICO
Legenda da foto, Paulo Freire está entre os pensadores mais citados do mundo

O nome do pensador e educador brasileiro Paulo Freire, premiado mundialmente pelos métodos educacionais que criou e desenvolveu, está comumente associado a polêmicas e tem dividido opiniões em seu país natal.

Seu sistema de alfabetização reconhecido mundo afora pela eficácia quando aplicado em larga escala principalmente em comunidades carentes, é ligado pelo espectro político mais conservador a ideologias de esquerda. Em consequência, o nome de Paulo Freire vem sendo usado com frequência como um rótulo político-partidário, um emblema de referência para reforçar argumentos e narrativas tanto dos que o criticam como dos que o defendem.

Agora, nesse começo de 2023, o nome de Paulo Freire volta ao centro de debates com a intenção de mudança do nome de uma estação do metrô de São Paulo, como noticiado pelo jornal Folha de S.Paulo, nesta terça-feira (14/03).

Segundo a reportagem, a estação que ainda não foi inaugurada, deixaria de chamar-se Paulo Freire como inicialmente planejado e passaria a ser batizada como Fernão Dias, em homenagem ao polêmico bandeirante.

A mudança teria sido feita por dirigentes da empresa que administra o metrô, controlada pelo governo de Tarcísio de Freitas, um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, que atacou Freire em diversas ocasiões.

Aproveitamos para republicar esta reportagem (publicada originalmente no dia 12 de janeiro de 2019 e republicada em 19 de setembro de 2021, data do aniversário de cem anos do nascimento de Paulo Freire) sobre aquele que é considerado patrono da educação do Brasil.

Tratada pelo governo Bolsonaro como bode expiatório da má qualidade do ensino público brasileiro, a obra do educador Paulo Freire (1921-1997) pode ser controversa. Mas o trabalho do pedagogo e filósofo, nomeado em 2012 patrono da educação brasileira e autor de um método de alfabetização que completou 50 anos em 2013, não deixa de ser bastante relevante nas discussões mundiais sobre pedagogia.

Para especialistas em educação ouvidos pela BBC News Brasil, entretanto, a raiz da controvérsia em torno da pedagogia de Paulo Freire não é sua aplicação em si - mas o uso político-partidário que foi feito dela, historicamente e, mais do que nunca, nos dias atuais.

Freire é estudado em universidades americanas, homenageado com escultura na Suécia, nome de centro de estudos na Finlândia e inspiração para cientistas em Kosovo. De acordo com levantamento do pesquisador Elliott Green, professor da Escola de Economia e Ciência Política de Londres, na Inglaterra, o livro fundamental da obra do educador, Pedagogia do Oprimido, escrito em 1968, é o terceiro mais citado em trabalhos acadêmicos na área de humanidades em todo o mundo.

"Li a maior parte dos livros dele. Minha tese de doutorado foi amplamente baseada em seus ensinamentos. Tenho aplicado seu método de várias maneiras em minha carreira profissional, na prática e na pesquisa", afirmou a pedagoga Eeva Anttila, professora da Universidade de Artes de Helsinque, na Finlândia.

"A maior vantagem de sua metodologia é a abordagem anti-opressiva e não autoritária, a pedagogia dialógica e respeitosa que ele promoveu. O problema é que suas ideias têm sido usadas para fins políticos - o que, em meu entendimento, nunca foi seu propósito inicial", disse a finlandesa.

Freire tornou-se conhecido a partir do início dos anos 1960. Ele desenvolveu um método de alfabetização de adultos baseado nos contextos e saberes de cada comunidade, respeitando as experiências de vida próprias do indivíduo. Aplicou o modelo pela primeira vez em um grupo de 300 trabalhadores de canaviais em Angicos, no Rio Grande do Norte. De acordo com os registros da época, a alfabetização ocorreu em tempo recorde: 45 dias.

Homenagens pelo mundo

Referência mundial em qualidade do ensino, a Finlândia conta, desde 2007, com um espaço dedicado a discutir a obra do educador brasileiro. O Centro Paulo Freire Finlândia fica na cidade de Tampere. "É um hub para os interessados em Paulo Freire e em seu legado para tornar o mundo mais igualitário e justo", de acordo com a definição da própria instituição. Eles publicaram, online, três livros com artigos - em finlandês - analisando a obra do brasileiro. O material teve 17 mil downloads.


CRÉDITO,NEFANDISIMO /CC BY-SA 4.0
Legenda da foto, Um mural retratando o pedagogo pernambucano na Universidade do Bío-Bío, no Chile

Há centros de estudos semelhantes, todos batizados com o nome do brasileiro, na África do Sul, na Áustria, na Alemanha, na Holanda, em Portugal, na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Canadá. Na Suécia, Freire é lembrado em um monumento público. Localizada no subúrbio de Estocolmo, 'Depois do Banho' é uma obra em pedra-sabão esculpida entre 1971 e 1976 pela artista Pye Engström. Sentadas lado a lado, estão retratadas sete personalidades com apelo político, como o poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), a escritora sueca Sara Lidman (1923-2004) e a sexóloga norueguesa Elise Ottesen-Jensen (1886-1973).

Mas a obra do educador brasileiro está longe de ser unanimidade entre os países que costumam liderar o ranking Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). Em Cingapura, que apareceu na primeira colocação na edição 2016 da avaliação trienal realizada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) com escolas conhecidas por adotar um método linha-dura, a BBC News Brasil procurou a mais importante instituição de ensino superior do país para saber se algum pesquisador comentaria a obra do brasileiro Paulo Freire.

Professor destacado pela assessoria de comunicação da Universidade Nacional de Cingapura para atender à reportagem, Kelvin Seah disse que "não era a melhor pessoa para comentar sobre Paulo Freire". "Eu não sou familiarizado com seu método", afirmou.


CRÉDITO,INSTITUTO PAULO FREIRE

Convidado a comentar sobre qual seria o método mais adequado ao contexto brasileiro, o especialista recomendou que os gestores analisassem caso a caso. "O método mais apropriado para os alunos em uma escola depende do perfil dos alunos da escola, do treinamento prévio recebido pelos professores, bem como dos recursos de instrução e financeiros disponíveis para a escola."

Pedagogia do diálogo nos Estados Unidos
Em artigo acadêmico analisando o legado de Paulo Freire pelo mundo, o professor de filosofia da educação da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, Ronald David Glass aponta que o mérito de Paulo Freire está no método que valoriza a "consciência crítica, transformadora e diferencial, que emerge da educação como uma prática de liberdade".

"Paulo Freire viveu sua vida no espaço desta consciência; é por isso que inspirou e energizou pessoas no mundo inteiro, e é por isso que seu legado se prolongará muito além de qualquer horizonte que possamos enxergar agora", escreveu o professor. "Freire sempre estava buscando se tornar mais humano, tornar possível que outros fossem mais humanos e, se acolhermos esta busca com tanto amor e determinação quanto ele, então uma maior medida de justiça e democracia estará ao alcance."

Professor da Faculdade de Educação da Universidade Cristã do Texas, Douglas J. Simpson causou certa polêmica no meio acadêmico ao publicar, anos atrás, um artigo intitulado 'É Hora de Engavetar Paulo Freire?'. "Na verdade, não acho que suas ideias devam ser arquivadas", esclareceu ele à BBC News Brasil. "Meu texto foi pensado para atrair a atenção daqueles que acham que sempre estamos recorrendo a Freire. Pessoalmente, acho importante descobrir de novo ou pela primeira vez por que precisamos combinar uma forte paixão reflexiva 'freireana', de respeito e amor, a pessoas carentes de justiça pessoal."


CRÉDITO,INSTITUTO PAULO FREIRE

Simpson afirma que a pedagogia baseada no diálogo é fundamental "para que a educação e a democracia prosperem, ou pelo menos sobrevivam". Ele culpa justamente a falta de diálogo pelo fato de as sociedades - e as escolas - estarem fortemente polarizadas politicamente. "Não temos sido efetivamente ensinados a praticar o diálogo nas escolas, muito menos nos governos." Para o professor, Paulo Freire ensinou, acima de tudo, que precisamos aprender "a ouvir, a entender e a respeitar uns aos outros" e a "trabalhar juntos nos problemas".

Considerando o contexto brasileiro, Simpson acredita que não deveria haver uma padronização - ou seja, que as escolas não deveriam seguir todas o mesmo método pedagógico. "As escolas precisam de culturas e responsabilidades que se baseiem em uma ética profissional, políticas e práticas meritórias", disse. Para ele, os métodos são necessários, "mas devem ser vistos como revisáveis, porque as escolas, sociedades, trabalhos e aprendizados são dinâmicos". "A padronização nas escolas muitas vezes leva a uma inércia indevida, de mesmice, de regulamentação estéril", complementou.

Nos anos 1970, o pedagogo John L. Elias, então professor da Universidade de Nova Jersey, escreveu muito a respeito de Paulo Freire. O educador brasileiro foi tema de sua tese de doutorado. Em texto de 1975, Elias apontou "sérios problemas no método" do brasileiro.

"A teoria da aprendizagem de Freire está subordinada a propósitos políticos e sociais. Tal teoria se abre para acusações de doutrinação e manipulação", afirmou ele. "A teoria de Freire da aprendizagem é doutrinária e manipuladora?", provocou.


CRÉDITO,BERGNT OBERGER/ CC BY-SA 3.0/ PAULO FREIRE FINLAND Legenda da foto, Paulo Freire é a segunda figura, da esq. para a dir., nesta escultura de 1976 de Nye Engström. A obra fica em Estocolmo, na Suécia

Elias apontou que o educador brasileiro via "os sistemas educacionais do Terceiro Mundo como o principal meio que as elites opressoras usam para dominar as massas". "Conhecimento e aprendizado são políticos para Freire, porque eles são o poder para aqueles que os geram, como são para aqueles que os usam", argumentou.

Professora de Educação Internacional e Comparada na Faculdade dos Professores da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, Regina Cortina já abordou a metodologia de Paulo Freire em diversos estudos sobre educação na América Latina, mas disse à BBC News Brasil que não se sentia "confortável" em comentar o tema no momento "por causa das mudanças administrativas no Brasil". Cortina afirmou, por meio da assessoria de imprensa da universidade, que não é possível vislumbrar com clareza "como as coisas vão seguir nas escolas brasileiras".
CRÉDITO,EDITORA PAZ E TERRA/ REPRODUCAO
Legenda da foto,

Principal obra de Freire, "Pedagogia do Oprimido" foi escrito em 1968, mas só foi publicado no Brasil anos depois, em 1974

Quais as ideias de Freire?
Para Freire, o ensino ocorre a partir do diálogo entre professor e aluno, desenvolvendo assim capacidade crítica e preparando os estudantes para sua emancipação social. No jargão do meio, o método Freire é o oposto ao conceito "bancário" de educação - aquele no qual o professor "deposita" o conhecimento nas mentes dos alunos. Para Freire, a educação é construída em conjunto.

O método Paulo Freire chegou a ser adotado pelo governo de João Goulart (1919-1976) em esforços para alfabetização de adultos. Com a ditadura militar, entretanto, o educador passou a ser perseguido, chegou a ser preso por 70 dias e viveu no exílio na Bolívia e no Chile. Após a publicação da 'Pedagogia do Oprimido', em 1968, Freire foi convidado para ser professor visitante na Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

Reconhecido desde 2012 como o Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire é considerado o brasileiro mais vezes laureado com títulos de doutor honoris causa pelo mundo. No total, ele recebeu homenagens em pelo menos 35 universidades, entre brasileiras e estrangeiras, como a Universidade de Genebra, a Universidade de Bolonha, a Universidade de Estocolmo, a Universidade de Massachusetts, a Universidade de Illinois e a Universidade de Lisboa. Em 1986, Freire recebeu o Prêmio Educação para a Paz, concedido pela Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura.



ARQUIVO NACIONAL/ DOMINIO PUBLICO
Legenda da foto, Paulo Freire em retrato de 1963


Há instituições de ensino que seguem o método Paulo Freire em diversos países. É o caso da Revere High School, escola em Massachusetts que em 2014 foi avaliada como a melhor instituição pública de Ensino Médio nos Estados Unidos. Em Kosovo, um grupo de jovens acadêmicos criou um projeto de ciência cidadã inspirado na pedagogia crítica do brasileiro. Os participantes recebem um kit para monitorar as condições ambientais e, assim, juntos, pressionar o governo por melhorias na área.

"Acredito que seria ótimo que a pedagogia em qualquer escola de qualquer país partisse do pensamento de Freire", comentou a pedagoga finlandesa Anttila. "Especialmente no Brasil, dada a atual situação política e a história do país." Ela diz que um método de ensino, para funcionar bem, precisa levar em conta as situações de vida dos alunos. "Não acredito em pedagogia autoritária. As aulas não precisam ser autoritárias. É preciso diálogo, discussão, negociação, exploração. Construir conhecimento para que haja capacidade de expressar ideias e ouvir os outros. Eis a chave para a democracia. E a educação democrática é a única maneira de salvaguardar uma sociedade democrática", declarou.

Monday 3 April 2023

TerraVida

poeta do 3º ano Pedagogia, UFMT

abril 2023


Ninguém ousa comer o pão

Que venha a cair na lama suja

Mas, por que o ar essencial, então,

Quase ninguém se preocupa?

 

Reflitamos: contida nessa dimensão ungida,

A água dos mares e oceanos

Não escapam desta distopia suicida

 

No século 21 temos a desagradável

Existência do microplástico nocivo

Cuja vastidão de poluição imensurável

Expande-se sem freio, rápido, invasivo

 

Em devastação sem precedente

Rios e peixes saturados de mercúrio

Também o são por essa lógica demente...

Será a Revelação? nosso péssimo augúrio?

 

Por outro lado, temos aqueles e aquelas

Que passaram aqui em defesa,

Seja em grandes batalhas ou querelas,

Da nossa estimada Natureza!

 

Cujas vidas foram ceifadas

Por aqueles que se acham poderosos,

São, em verdade, pobres de Humanidade,

Apenas toscos gananciosos...

 

Para estes tacanhos

Só prantos e ranger de dentes,

Por seus malditos lucros e ganhos

Terão expiações convenientes...

 

Enquanto isso, agora! onde estamos,

Vale abrir a mente e compreender

Que a TerraVida a qual contemplamos

É nossa Mãe, e honrá-la é nosso dever!


ecosphere - GLOBAÏA
https://globaia.org/ecosphere


*

Sunday 2 April 2023

10 poemas incríveis de Manoel de Barros para crianças

 https://www.culturagenial.com/poemas-manoel-de-barros-infancia/

Conheça 10 poemas incríveis de Manoel de Barros para crianças


Laura Aidar
Laura Aidar
 
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

A poesia de Manoel de Barros é feita de singelezas e coisas "sem nome".

O escritor, que passou sua infância no Pantanal, foi criado em meio à natureza. Por conta disso, trouxe para seus textos todo mistério dos bichos e plantas.

Sua escrita encanta pessoas de todas as idades, tendo uma conexão, sobretudo, com o universo infantil. O escritor consegue exibir de forma imaginativa e sensível suas reflexões sobre o mundo através das palavras.

Selecionamos 10 poemas desse grande autor para você ler para os pequenos.

1. Borboletas

Borboletas me convidaram a elas.
O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu.
Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens e das coisas.
Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta seria, com certeza,
um mundo livre aos poemas.
Daquele ponto de vista:
Vi que as árvores são mais competentes em auroras do que os homens.
Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças do que pelos homens.
Vi que as águas têm mais qualidade para a paz do que os homens.
Vi que as andorinhas sabem mais das chuvas do que os cientistas.
Poderia narrar muitas coisas ainda que pude ver do ponto de vista de
uma borboleta.
Ali até o meu fascínio era azul.

Manoel de Barros publicou esse poema no livro Ensaios fotográficos, lançado em 2000. Nele, o escritor nos convida a imaginar o mundo através do "olhar" das borboletas.

E como seria esse olhar? Segundo o autor seria enxergar as coisas de uma forma "insetal". Essa palavra não existe na língua portuguesa, é um termo inventado e dá-se o nome de neologismo a esse tipo de criação.

Manoel de Barros utiliza bastante esse recurso em sua escrita para conseguir dar nome a sensações que ainda não foram definidas.

Aqui, ele chega a algumas "conclusões" por meio de seu olhar subjetivo e quase etéreo. Podemos dizer que o autor, basicamente, exibe uma inteligência e sabedoria da natureza muito maior do que a dos seres humanos, que se esquecem muitas vezes que são parte da natureza.

2. O menino que carregava água na peneira

manoel de barros
Arte feita por bordadeiras de Minas Gerais, grupo Matizes Dumont, que ilustra o livro Exercícios de ser criança

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.

A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!

Esse lindo poema faz parte do livro Exercícios de ser criança, publicado em 1999. Por meio do texto, adentramos o universo psicológico, fantástico, poético e absurdo de uma criança.

O menino que carregava água na peneira narra as peraltagens de um garoto que gostava de fazer coisas consideradas ilógicas, mas que para ele tinham um outro significado. Para ele, tais despropósitos eram parte de um sistema maior e fantasioso de brincadeiras que o ajudavam a compreender a vida.

No poema, percebemos a relação amorosa da mãe com sua cria. Ela, a princípio, argumenta que "carregar água na peneira" era algo sem sentido, mas depois, se dá conta da potência transformadora e imaginativa dessa ação.

A mãe então, incentiva o filho, que com o passar do tempo também descobre a escrita. Ela diz que o menino será um bom poeta e fará diferença no mundo.

Nesse poema, podemos considerar que, talvez, o personagem seja o próprio autor, Manoel de Barros.

3. Um bem-te-vi

O leve e macio
raio de sol
se põe no rio.
Faz arrebol…
Da árvore evola
amarelo, do alto
bem-te-vi-cartola
e, de um salto
pousa envergado
no bebedouro
a banhar seu louro
pelo enramado…
De arrepio, na cerca
já se abriu, e seca.

O poema em questão integra o livro Compêndio para uso dos pássaros, lançado em 1999. Nesse texto, Manoel nos descreve uma cena bucólica e bastante habitual de um bem-te-vi a banhar-se em um fim de tarde.

O autor, por meio da palavras, nos conduz a imaginar e contemplar um acontecimento corriqueiro, mas incrivelmente belo.

Esse pequeno poema pode ser lido para as crianças como um maneira de incentivar a imaginação e valorização da natureza e das coisas simples, nos colocando como testemunhas das belezas do mundo.

4. Mundo pequeno I

O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco,
os besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa.
Ele me rã.
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos.

Mundo Pequeno está contido no Livro das Ignorãças, de 1993. Mais uma vez, Manoel de Barros nos convida, nesse poema, a conhecer seu espaço, sua casa, seu quintal.

É um universo natural, cheio de simplicidade, plantas e bichos, que o autor consegue converter em um ambiente mágico, de contemplação e até mesmo gratidão.

No texto, o personagem principal é o próprio mundo. O menino em questão, se apresenta amalgamado à natureza, e o autor depois aparece também imerso nesse lugar, afetado intensamente pela força criadora dos animais, das águas e das árvores.

As crianças podem se identificar com o cenário proposto e imaginar a avó, o menino e o velho, figuras que podem trazer um resgate e sugestão para uma infância simples e descomplicada.

5. Bernardo é quase uma árvore

Bernardo é quase uma árvore
Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem
de longe
E vêm pousar em seu ombro.
Seu olho renova as tardes.
Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho;
1 abridor de amanhecer
1 prego que farfalha
1 encolhedor de rios - e
1 esticador de horizontes.
(Bernardo consegue esticar o horizonte usando três
Fios de teias de aranha. A coisa fica bem esticada.)
Bernardo desregula a natureza:
Seu olho aumenta o poente.
(Pode um homem enriquecer a natureza com a sua
Incompletude?)

No Livro das Ignorãças, de 1993, Manoel de Barros incluiu o poema Bernardo é quase uma árvore. Nele, o personagem Bernardo carrega uma intimidade tão grande com a natureza e um senso de percepção do todo, que é quase como se ele próprio se transformasse em árvore.

Manoel traça uma relação fecunda entre o trabalho e a contemplação, dando a importância devida ao ócio criativo e à sabedoria adquirida do contato com as coisas naturais.

No poema, temos a sensação de que o personagem é uma criança. Entretanto, na realidade, Bernardo era um funcionário da fazenda de Manoel. Um homem simples do campo que conhecia estreitamente os rios, os horizontes, o amanhecer e os passarinhos.

6. A menina avoada

Foi na fazenda de meu pai antigamente
Eu teria dois anos; meu irmão, nove.

Meu irmão pregava no caixote
duas rodas de lata de goiabada.
A gente ia viajar.

As rodas ficavam cambaias debaixo do caixote:
Uma olhava para a outra.
Na hora de caminhar
as rodas se abriam para o lado de fora.
De forma que o carro se arrastava no chão.
Eu ia pousada dentro do caixote
com as perninhas encolhidas.
Imitava estar viajando.

Meu irmão puxava o caixote
por uma corda de embira.
Mas o carro era diz-que puxado por dois bois.

Eu comandava os bois:
- Puxa, Maravilha!
- Avança, Redomão!
Meu irmão falava
que eu tomasse cuidado
porque Redomão era coiceiro.

As cigarras derretiam a tarde com seus cantos.
Meu irmão desejava alcançar logo a cidade -
Porque ele tinha uma namorada lá.
A namorada do meu irmão dava febre no corpo dele.
Isso ele contava.

No caminho, antes, a gente precisava
de atravessar um rio inventado.
Na travessia o carro afundou
e os bois morreram afogados.
Eu não morri porque o rio era inventado.

Sempre a gente só chegava no fim do quintal
E meu irmão nunca via a namorada dele -
Que diz-que dava febre em seu corpo."

A menina avoada compõe o livro Exercícios de ser criança, publicado em 1999. Ao ler esse poema, viajamos juntos com a menina e seu irmão e adentramos as memórias de sua primeira infância.

Aqui, é narrada uma brincadeira imaginativa em que a menininha é conduzida em um caixote por seu irmão mais velho. O poeta consegue compor uma cena de divertimento infantil ao retratar o imaginário das crianças, que vivem verdadeiras aventuras em seus mundos interiores, mas na realidade estavam apenas atravessando o quintal de casa.

Manoel de Barros eleva, com esse poema, a capacidade criativa das crianças a um outro patamar. O escritor exibe também o sentimento amoroso de forma ingênua, com uma beleza sutil, através da namorada do irmão.

7. O fazedor de amanhecer

Sou leso em tratagens com máquina.
Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis.
Em toda a minha vida só engenhei
3 máquinas
Como sejam:
Uma pequena manivela para pegar no sono.
Um fazedor de amanhecer
para usamentos de poetas
E um platinado de mandioca para o
fordeco de meu irmão.
Cheguei de ganhar um prêmio das indústrias
automobilísticas pelo Platinado de Mandioca.
Fui aclamado de idiota pela maioria
das autoridades na entrega do prêmio.
Pelo que fiquei um tanto soberbo.
E a glória entronizou-se para sempre
em minha existência.

Nesse poema, publicado no livro O fazedor de amanhecer, em 2011, o poeta subverte o sentido das palavras e exibe orgulhoso seu dom para coisas "inúteis".

Ele nos conta que suas únicas "invenções" foram objetos fantasiosos para fins igualmente utópicos. Manoel consegue conciliar o caráter prático de ferramentas e máquinas com uma aura imaginativa e considerada supérflua.

Entretanto, a importância que o autor dá para essas inutilidades é tão grande que considera elogioso ser intitulado como "idiota" nessa sociedade.

8. O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Poema extraído de Memórias Inventadas: As Infâncias de de Manoel de Barros, de 2008. O apanhador de desperdícios exibe um poeta que tem como característica "colecionar" as coisas sem importância.

Ele valoriza essas coisas, considerando osacontecimentos banais da natureza como verdadeiras riquezas. Assim, rejeita a tecnologia em prol dos animais, plantas e elementos orgânicos.

Outro ponto importante do texto versa sobre a preciocidade do silêncio, tão raro nos grandes centros urbanos. Aqui, ele exibe sua intenção de fazer das palavras ferramentas para dizer o "indizível", criando nos leitores um espaço interno de contemplação da existência.

9. Deus disse

Deus disse: Vou ajeitar a você um dom:
Vou pertencer você para uma árvore.
E pertenceu-me.
Escuto o perfume dos rios.
Sei que a voz das águas tem sotaque azul.
Sei botar cílio nos silêncios.
Para encontrar o azul eu uso pássaros.
Só não desejo cair em sensatez.
Não quero a boa razão das coisas.
Quero o feitiço das palavras.

O poema em questão consta no projeto A biblioteca de Manoel de Barros, coleção com todas as obras do poeta, lançado em 2013.

No texto, o autor manipula as palavras, trazendo novos significados e surpreendendo o leitor ao aliar sensações díspares em uma mesma frase, como no caso de "escutar o perfume dos rios". Manoel utiliza-se bastante desse recurso de sinestesia em suas obras.

O poema se aproxima do universo das crianças, pois sugere fantasiosas cenas que o aproximam da natureza, tendo uma relação até mesmo com brincadeiras, como no verso "sei botar cílios nos silêncios".

10. Exercícios de ser criança

exercícios de ser criança
Bordado de mulheres de Minas Gerais, que ilustra a capa do livro Exercícios de ser criança

No aeroporto o menino perguntou:
-E se o avião tropicar num passarinho?
O pai ficou torto e não respondeu.
O menino perguntou de novo:
-E se o avião tropicar num passarinho triste?
A mãe teve ternuras e pensou:
Será que os absurdos não são as maiores virtudes da poesia?
Será que os despropósitos não são mais carregados de poesia do que o bom senso?
Ao sair do sufoco o pai refletiu:
Com certeza, a liberdade e a poesia a gente aprende com as crianças.
E ficou sendo.

Esse poema integra o livro Exercícios de ser criança, de 1999. Aqui, Manoel de Barros expõe de forma incrível a ingenuidade e curiosidade infantil através do diálogo entre uma criança e seus pais.

O menino faz uma indagação muitopertinente na imaginação dele, mas que por ser algo que não se constitui uma preocupação para os adultos, acaba sendo recebida com surpresa.

Entretanto, a criança insiste, querendo saber o que aconteceria se um avião trombasse com um pássaro triste em pleno voo. A mãe então, entende que aquela curiosidade trazia também uma grande beleza e poesia.

Manoel de Barros musicado para crianças

Alguns poemas do escritor foram transformados em canções para crianças através do projeto Crianceiras, do músico Márcio de Camillo. Ele passou 5 anos estudando a obra do poeta para a elaboração das músicas.

Confira um dos clipes do projeto feito com a técnica de animação.

Quem foi Manoel de Barros?

Manoel de Barros nasceu em 19 de dezembro de 1916 em Cuiabá, no Mato Grosso. Formou-se em direito no Rio de Janeiro em 1941, mas já em 1937 havia publicado seu primeiro livro, intitulado Poemas concebidos sem pecado.

Na década de 60 passa a dedicar-se à sua fazenda no Pantanal e, a partir dos anos 80, tem o reconhecimento do público. O escritor teve uma produção intensa, publicando mais de vinte livros ao longo da vida.

Em 2014, depois de se submeter a uma cirurgia, Manoel de Barros falece, em 13 de novembro, no Mato Grosso do Sul.

poeta manoel de barros

Livros de Manoel de Barros direcionados ao público infantil

Manoel de Barros escrevia para todo tipo de pessoa, mas sua maneira tão espontânea, simples e fantasiosa de enxergar o mundo acabou cativando o público infantil. Dessa forma, alguns de seus livros ganharam reedições direcionadas para as crianças. Entre eles:

  • Exercícios de ser criança (1999)
  • Poeminhas pescados numa fala de João (2001)
  • Poeminhas em língua de Brincar (2007)
  • O fazedor de amanhecer (2011)

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Monday 27 March 2023

Inteligência Artificial como infraestrutura financeira. Entrevista com Edemilson Paraná

 https://www.ihu.unisinos.br/categorias/627150-ia-como-infraestrutura-financeira-entrevista-com-edemilson-parana


Inteligência Artificial como infraestrutura financeira. Entrevista com Edemilson Paraná

Edemilson Paraná é professor de sociologia econômica e sociologia do trabalho da Universidade Federal do Ceará e autor dos livros A finança digitalizada: capitalismo financeiro e Revolução informacional e Bitcoin: a utopia tecnocrática do dinheiro apolítico.

Nesta segunda-feira, ele ministrará uma conferência na Universidade de Toronto sobre sua nova pesquisa que envolve inteligência artificial como infraestrutura financeira. Nesta entrevista com Rafael Grohmann, ele explica o argumento da pesquisa, como se relaciona a agenda mais ampla de estudos críticos sobre IA, a noção de infraestrutura e outros debates sobre tecnologia a partir de uma perspectiva marxista.

A entrevista com Edemilson Paraná é de Rafael Grohmann, publicada por DigiLabour, 13-03-2023.

Eis a entrevista.

O que significa pensar inteligência artificial como uma infraestrutura financeira?

A ideia é entender que a penetração da inteligência artificial nos mercados financeiros, que vem ocorrendo com mais velocidade nos últimos anos, não é algo que acontece da noite para o dia, mas tem a ver com um conjunto de transformações que envolvem distintas escalas e que possibilitam que a IA possa ser implementada deste modo nos mercados contemporaneamente. De que modo a IA é implementada? Ela é utilizada para avaliação de risco, avaliação de crédito, negociação em tempo real de ativos e papéis financeiros os mais diversos, administração e gestão dos mercados. A IA está se espalhando muito rapidamente pelas finanças.

ChatGPT e os impactos da inteligência artificial na educação

As dimensões em que ela é utilizada de maneira mais intensiva tem a ver basicamente com três aspectos: com credit score e ranqueamento de acesso ao crédito no caso dos serviços bancários; com a contabilidade e gestão de risco nas empresas financeiras; e, por fim, com a administração de portfólios de investimento e negociação no mercado de capitais. Há grandes fundos que se utilizam de negociações algorítmicas e inteligência artificial e que vendem o acesso a esses produtos para seus clientes e investidores. Há fundos enormes como BlackRock e Bridgewater, que estão utilizando inteligência artificial em escala crescente.

Então, é preciso, primeiro, entender em qual escala isso se dá. Há uma alteração de grande monta do mercado financeiro nas últimas décadas que praticamente faz com que o mercado se confunda com uma infraestrutura tecnológica, com um sistema sociotécnico que serve de base a outras interações. Discuto nos meus trabalhos há um bom tempo a ideia que a gente vive num contexto marcado por aquilo que defini como “finança digitalizada”. Não é possível mais pensar as finanças fora da dinâmica informacional tecnológica. No passo em que esses mercados são eletronificados e que as negociações por meio das tecnologias da informação e da comunicação se tornam ubíquas, contando com o avanço da capacidade de processamento computacional, esses modelos se tornam mais refinados.

Na medida em que todas essas camadas vão se sobrepondo umas às outras é que você pode, na superfície, ter a “inteligência”, a camada “inteligente”, da inteligência artificial. Para isso, é preciso, então, antes montar uma dimensão enorme de infraestruturas sobrepostas para que essa inteligência artificial possa ganhar o domínio nesses campos em que ganhou hoje. Isso tem uma uma implicação importante, que é a de entender que esse jogo de escalas é fundamental para acessarmos o que que é inteligência artificial no mercado financeiro hoje.

ChatGPT e DALL-E: Inteligência Artificial, da ética ao trabalho passando pelo aprendizado

Tem uma aplicação “micro” da inteligência artificial em serviços específicos, alguns produtos financeiros específicos, e tem um desdobramento sistêmico macro da inteligência artificial – menos compreendido – no sistema financeiro. Ou seja, a inteligência artificial pode possibilitar ganhos, retornos, lucros e eficiência no sentido econômico mais estrito no nível micro para alguns agentes, sobretudo, os agentes que estão mais bem posicionados na infraestrutura econômica e tecnológica, sociotécnica do mercado financeiro. Mas no nível macro, você tem um aumento do risco, da imprevisibilidade e quiçá de ineficiência. Então, essa contradição precisa ser melhor explorada e não está sendo devidamente endereçada no meu modo de ver. O aumento de “eficiência” no nível micro, com aumento de risco e complexidade, em muitos casos significa ineficiência no nível macro, com aumento de concentração do poder e do controle informacional nos mercados. É isso que eu tento explorar ao tratar a inteligência artificial como uma infraestrutura financeira.

Hoje a IA vai se tornando cada vez mais incontornável. Para você entrar no mercado, seja um pequeno investidor ou um grande investidor, você precisa acessar esses recursos cada vez mais. Mas essa diferença de escala, tanto dos agentes que estão no mercado, quanto do próprio funcionamento sociotécnico, é fundamental para entender isso. É o que se chama de falácia da composição, algo muito explorado pelo Keynes na economia. Muitas vezes as pessoas que estão olhando para a tecnologia no mercado não enxergam muito bem o que de fundamental está acontecendo porque as análises sempre ficam no nível micro e descritivo.

O que é a falácia da composição? A ideia de que o todo não é a mera soma quantitativa das partes. O todo tem propriedades emergentes que são qualitativamente distintas da soma das partes. É analago, para nos valermos de outro exemplo, ao postulado funcionalista básico da sociologia segundo Durkheim. O social é algo diferente da mera soma das interações individuais, pois guarda propriedades em si mesmo, próprias. E o que eu estou querendo demonstrar com esse trabalho é que isso vale também para aplicação da IA no mercado financeiro. Ela está produzindo efeitos que são preocupantes. E isso precisa ser avaliado à luz da contradição entre essas duas dimensões.

Qual é o seu argumento central?

Minha linha argumentativa está centrada na ideia de que, neste caso, maior eficiência no nível micro não necessariamente significa maior “eficiência” no nível macro, antes o contrário. A competição acirrada no mercado força a adoção de tecnologias no campo da informação e comunicação. As bases sociotécnicas e infraestruturais do funcionamento do mercado – e os próprios mercados financeiros – são historicamente muito sensíveis à informação. Talvez o mercado financeiro seja um dos setores econômicos mais intensivos em informação.

Então essas são tecnologias, dinâmicas e setores que tem esse aspecto como estratégico. Por isso é que o mercado financeiro tende a antecipar os outros setores da economia na adoção dessas tecnologias de ponta. Isso é uma coisa que eu venho desenvolvendo já há um bom tempo. A gente fala contemporaneamente em algoritmos, no Vale do Silício, nas empresas de comunicação e de interação social, mas na verdade os algoritmos estão sendo aplicados no mercado financeiro desde a década de 1980. A gente fala de redes neurais, machine learning e deep learning para os produtos informacionais e educacionais contemporâneos, mas eles já estão sendo aplicados no mercado financeiro antes mesmo de terem se tornado algo presente no cotidiano das nossas interações sociais.

Essas tecnologias de informação e comunicação são, então, a base infraestrutural a partir das quais funcionam os mercados já há algum tempo. Eu discuti isso no meu primeiro livro, Finança Digitalizada. São tecnologias que antecipam e comprimem os fluxos de espaço tempo, possibilitam ao mercado ampliar a base e a velocidade das negociações financeiras e isso produz uma ampliação da complexidade e da concentração, com aumento dos riscos e desigualdades. No meu primeiro livro, eu chamei isso de espiral de complexidade. A IA entra agora nessa história como uma nova infraestrutura financeira, compondo esse complexo sociotecnico, que tem também, é claro, seus aspectos políticos, institucionais. Os grandes agentes do mercado financeiro buscam adotá-la como uma tecnologia de propósito geral, para ser cada vez mais utilizada como base de todos os demais serviços financeiros.

E quais são os imaginários envolvidos na inteligência artificial?

Os agentes antevêem maior controle, maior transparência, maior previsibilidade, maior produtividade, maior lucratividade. Os relatórios de alguns reguladores e de grandes empresas e consultorias estão basicamente louvando essa transformação da IA em infraestrutura, com tudo de bom que ela pode trazer para o mercado. Eu apresento a ideia de que a questão da escala complexifica um pouco esse imaginário sociotécnico porque nele não estão presentes as ideias de poder, controle, atravessamentos políticos na governança dessas infraestruturas econômicas e técnicas. Neste ponto, entram os problemas do desconhecimento quanto às lógicas de causalidade no interior dos modelos, da falácia da composição, da complexidade, da volatilidade, da incerteza, em suma, que a inteligência artificial não só não é capaz de conter, como, ao contrário, pode fazer ampliar.

O argumento, então, é de que a inteligência artificial muitas vezes faz o oposto do que esses agentes estão dizendo. As tensões entre o micro e o macro, entre o material e o ideacional, entre o técnico e o político, não são novas, mas são fundamentais para entender a disseminação da inteligência artificial como infraestrutura financeira. A inteligência artificial ampliada no seu uso eventual como tecnologia de uso geral nos mercados financeiros tende a intensificar ao invés de controlar o risco e a opacidade. Isso pode trazer mais problemas do que esses agentes estão sendo capazes de ver.

Como você define infraestrutura?

Eu estou entendendo a infraestrutura num sentido sociológico mais ampliado. Não são apenas coisas. Não são só amontoados de coisas que compõem a operacionalidade técnica de funcionamento de certos processos informacionais, mas sim uma composição complexa, escalar, que envolve recursos naturais, trabalho e – evidentemente – a materialidade dos objetos que são mobilizados no funcionamento sociotécnico e institucional dessas estruturas. Desde aparatos regulatórios e arranjos institucionais a cabos submarinos compõem as infraestruturas funcionais no mercado financeiro. E a inteligência artificial cada vez mais passa a fazer parte desse complexo infraestrutural de funcionamento do mercado.

Ou seja, a base cotidiana na qual e a partir da qual a IA opera muitas vezes entra na dinâmica de uma maneira invisível, basilar, sem que a gente consiga entender como a inter-relação dessas camadas diversas se dá de maneira complexa para produzir os mercados que a gente tem hoje, com todas essas tensões. É como se a gente, ao olhar para as infraestruturas, tentasse acessar esse “grande sistema global de maquinaria”, para lembrar um termo do Marx, resgatado pela minha colega Esther Majerowicz. Um “sistema de maquinaria” que envolve, evidentemente, relações de trabalho, exploração, coleta, utilização e armazenamento de dados, conflitos, tensões e até mesmo ideias e narrativas.

Ciclo de Estudos Inteligência Artificial, fronteiras tecnológicas e devires humanos

Porque a maneira como você cria formas de visualizar, explicar e apresentar o mercado para a sociedade, também cria, na prática, esses mercados. Como os STS (estudos de ciência e tecnologia), a sociologia dos mercados financeiros e da tecnologia já vem tentando explicar há algumas décadas, o modo como esses mercados são perpassados por performatividade, discursos e imaginários, isso tem uma existência material. E essa existência material se conforma e condiciona a maneira de como os mercados funcionam. Quando eu estou falando de infraestrutura e pensando a IA como uma infraestrutura, estou tentando conectar a inteligência artificial a uma forma mais integrada, mais sistêmica de pensar os mercados.

Nos últimos anos, houve uma proliferação de estudos críticos sobre inteligência artificial, mas o mercado financeiro ainda é um ponto cego nesta discussão. Por que será?

Eu acho que esse gap ocorre porque as finanças ainda aparecem como algo muito do domínio puramente econômico dos processos sociais. Por mais que a sociologia da ciência e da tecnologia, os estudos sociais da tecnologia tenham se esforçado nas últimas décadas, particularmente a partir dos anos 2000, para demonstrar o caráter social, construído, performático e até narrativo dos mercados, nos estudos críticos de inteligência artificial ainda é raro um aporte sobre essa dinâmica tão importante para o mundo contemporâneo, para o funcionamento da vida social contemporânea, que é a lógica das finanças e da financeirização. Os estudos de financeirização, os estudos de plataformas e os estudos críticos da tecnologia não estão conversando muito bem, me parece. Tentar juntar esses mundos e preencher esse gap é um dos objetivos do meu trabalho.

Então, de um lado, há uma ideia de que isso ainda é uma coisa do domínio puramente econômico, dos economistas, e não algo do âmbito das ciências sociais. Ou seja, a gente faz a crítica do poder, mas para fazer isso, pegamos sistemas sociotécnicos específicos, destrinchamos e mostramos como as relações de exploração e dominação ocorrem ali, naquele contexto. O problema das finanças é que, por mais que sejam marcadas por importantes arranjos locais particulares, elas são complexos articulados de maneira global e isso cria uma uma dificuldade metodológica para acessar algumas das dinâmicas de poder, de hierarquia, de desigualdade que ocorre no sistema financeiro. Então, de um lado, há uma dificuldade disciplinar, e, de outro, uma dificuldade metodológica.

No meu modo de ver, para que a gente acesse criticamente o mercado financeiro, é fundamental que a gente olhe a partir dessa dimensão interrelacionada das escalas, ou seja, sistêmica e estrutural. É preciso pensar nas causalidades sistêmicas que se dão nesse jogo complexo que ocorre nos mercados a partir da tensão entre o micro e o macro. Isso é fundamental para compreender a inteligência artificial como infraestrutura financeira. Quer ver onde esse exemplo ocorre? Na lógica do risco sistêmico. Como é que a gente analisa o risco que a IA e a ampliação do uso da IA pode trazer para os mercados financeiros? Eu preciso pensar isso de maneira combinada e coordenada com o uso da IA em vários mercados ao mesmo tempo, por diferentes qualidades de agentes com diferentes estratégias de IA interagindo umas com as outras.

Esse é o modus operandi do mercado financeiro contemporaneamente. Ele ocorre em tempo real de maneira global e interconectada. Se eu pensar tão somente como ele ocorre em uma praça financeira específica ou em um produto específico, haverá dificuldade de entender essas contradições que eu estou tentando endereçar. É claro que há problemas de vieses e caixas pretas que a literatura também vem endereçando há um bom tempo. Mas é preciso, no meu modo de ver, entender problemas como a capacidade da inteligência artificial ser pró-cíclica, ou seja, o comportamento de uma IA tende a ser reforçado pelo comportamento de outra IA. Isso produz movimentos de mercado que, no agregado, produzem impactos, em termos de risco, que são sérios, uma possível ampliação do risco sistêmico. Eu acho que isso é uma questão fundamental para a gente analisar, ainda que tenha estado até aqui um pouco fora do escopo desse campo de estudos.

Outro exemplo importante é o problema da explicabilidade e da causalidade dos modelos de IA. Na IA nos mercados financeiros, isso é muito sério, porque você tem uma gestão de portfólio, de compra e venda de ativos para ter uma certa performance financeira e dar um certo retorno. Você joga lá o Deep Learning, que é o modelo dominante também nas finanças, e ele te dá lá uma taxa de precisão, um accuracy excelente do ponto de vista do retorno financeiro que você pode ter naquela estratégia.

Só que você simplesmente não sabe concretamente exatamente o que produziu aquele resultado. Isso não é um detalhe. Isso faz toda a diferença, por exemplo, para coordenação dos mercados, para regulação dos mercados, para o acompanhamento das lógicas de risco e até mesmo para o próprio investidor. Pode ser que haja uma causa oculta ali atrás funcionando para que ele tenha aquela rentabilidade que pode ser extremamente obscura do ponto de vista do amadurecimento do portfólio dele, que vai numa direção totalmente diferente se condições mínimas mudarem.

Essa falta de explicabilidade dos modelos, essas dinâmicas de caixas pretas, são fundamentais para a gente entender como as coisas funcionam no nível operacional, mas elas têm implicações sistêmicas extremamente relevantes que muitas vezes não podem ser aprendidas se a gente não consegue entender a autonomia relativa dessas dimensões. Claro que isso é uma codeterminação, mas há uma autonomia relativa entre essas dimensões micro e macro, entre o cruzamento, por exemplo, que ocorre entre economia e a política, nas lógicas de poder, quando as escalas começam a se amontoar. E há problemas de desigualdade e concentração no mercado que também são muito caros aos estudos de plataformas. Então é preciso pensar sobre essas escalas. Escala é sempre sobre poder. Não é possível pensar em escalabilidade em um sistema sociotécnico sem pensar em dinâmicas de poder. Penso que este é um ponto de contato muito interessante para começar a endereçar este gap.

Para além da sua pesquisa sobre IA como infraestrutura financeira, como você tem se posicionado no debate sobre tecnofeudalismo?

Eu estou para escrever sobre isso e fazer uma intervenção nesse debate interessantíssimo. Vários colegas qualificados estão intervindo nessa discussão, que eu acho realmente muito importante. Eu sou, como o [Evgeny] Morozov, um crítico da tese do tecnofeudalismo. Eu acho que nós não estamos vivendo algo diferente do capitalismo. O capitalismo é um sistema muito plástico, com uma capacidade de se reconstruir e de se reinventar que é absolutamente surpreendente. Então eu não acho que, diante dessas transformações que ocorreram nas últimas décadas, a gente esteja diante de um novo modo de produção.

Mobilizar aspectos e processos típicos de outros modos de produção é um recurso que o capitalismo historicamente se valeu para continuar se reproduzindo e se refazendo à luz dos limites que lhe são impostos, de suas contradições. Isso não supera o fato social da exploração do trabalho, da busca pelo lucro como um fim em si mesmo, da valorização do valor como elemento central e estruturante da dinâmica econômica e social. Mas, ao mesmo tempo, se é verdade que a gente ainda continua no modo de produção capitalista, que se transforma e se refaz, não me parece adequado pensar que as coisas são igual, que são exatamente o que sempre foram. Acho que há mudanças extremamente significativas e importantes ocorrendo. Elas precisam ser endereçadas com muito cuidado, porque elas podem, de fato, significar uma mudança de fase, uma mudança geral de organização e de disposição no interior do capitalismo. Essa é uma hipótese que me parece sensata.

Eu acho que nós estamos vivendo uma mudança de fase no capitalismo nas últimas décadas. O capitalismo está se metamorfoseando em algo muito diferente do capitalismo de antes. Assim como o capitalismo welfarista, keynesiano e fordista foi diferente do capitalismo liberal, que, por sua vez, é diferente do capitalismo neoliberal e financeirizado contemporâneo, eu acho que nós estamos, sim, atravessando uma outra linha agora, contemporaneamente, para um outro tipo de capitalismo. Eu acho que essa mudança tem no seu centro a transformação digital, a digitalização dos processos, das dinâmicas e interações sociais. Isso marca, no meu modo de ver, uma outra forma qualitativa de funcionamento das relações econômicas no interior do capitalismo.

O que significa ser um marxista que pensa tecnologia hoje?

É um momento muito perigoso, mas também muito interessante, para se ser um marxista – se é que a gente vai conseguir chegar a um acordo sobre o que significa de fato “marxista”. Por que nós estamos, sim, no meu modo de ver, vivendo uma mudança qualitativa fundamental no interior do capitalismo. Uma mudança talvez sem precedentes mesmo.

Por que eu digo que é perigoso? Por que, diante dessas mudanças, há duas tentações, que são fortes para todos os analistas, mas talvez especialmente para os marxistas. Uma é a de dizer que essas mudanças não são isso tudo que as pessoas estão dizendo. Que isso é apenas uma expressão fenomênica de algo que a gente já sabe, que a gente já conhece de antemão. E que, por isso, só nos resta fazer uma boa crítica dessas mudanças à luz das proposições básicas, dos fundamentos que a gente já conhece. Portanto, nesta acepção, pormenorizar demais na descrição, no entendimento e na investigação cuidados dessas mudanças seria algo não apenas improdutivo, mas, no limite, fetichista e ideológico. Ou seja, a posição de que nada mudou e que as coisas continuam sendo exatamente como estão.

Uma segunda posição, que também pede cautela, é a ideia de que tudo está mudando de uma maneira irresistível, irreversível, incontornável, e que essas mudanças representam uma reconfiguração completa das coisas, com possibilidades para o fim do próprio capitalismo. A velha ideia da possibilidade iminente do fim do capitalismo. Este é outro cuidado que é preciso ter. Lembremos que alguns marxistas – claro que não só eles, mas também eles – já decretaram o fim do capitalismo algumas vezes, mas este teima em continuar se refazendo, se reinventando. A cada grande crise surge uma coluna de pensadores críticos para dizer “olha aí, o fim do capitalismo está chegando”. Mas essas crises são instrumentalizadas justamente para que o capitalismo, por meio de uma destruição criativa – lembrando a definição do Schumpeter – se reinvente; evidentemente, produzindo um conjunto de tragédias pelo caminho ao longo dessa “reinvenção”.

Então eu acho que isso exige ao mesmo tempo uma abertura e um entusiasmo para entender o que tem de novo, mas uma certa cautela e uma boa dose de humildade científica para também não entrar na panaceia de que absolutamente tudo é novo. Diante desse momento tão delicado que a gente está vivendo, ser um marxista é se dedicar com rigor teórico, profundidade analítica e muito cuidado empírico a essas novidades, mas sem ingenuidade para achar que elas são uma reversão completa de tudo que existe. O novo se reproduz no velho, e o velho se reproduz no novo. Entender as nuances dessa dialética é uma tarefa árdua, que exige o melhor dos nossos esforços e das nossas inteligências, sobretudo nessa área.

A minha aposta teórica difusa, de mais largo alcance, é a de que o dilema fundamental da reconfiguração do capitalismo no nosso tempo pode ser melhor endereçado a partir da interrelação entre financeirização e digitalização. A reconfiguração das lógicas do capital por meio do rearranjo entre finanças e produção, de um lado, e, do outro, a transformação dos processos produtivos, das lógicas de sociabilidade, e da vida social com a ampla e extensiva digitalização, são – junto da catástrofe ambiental e da necessidade de reconfigurações sociais que isso vai demandar – o dois dos processos mais relevantes da contemporaneidade na minha visão.

Na medida em que a relação entre tecnologia e sociedade se torna, por razões positivas ou negativas, cada vez mais central na vida social, penso que um olhar crítico e interdisciplinar, sistêmico, e atento rigorosamente à complexidade, como deve ser uma boa abordagem nessa tradição de pensamento, tem claras vantagens sobre outras aproximações atualmente dominantes.

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