Monday 26 December 2011

Guardian: “2011 reescreveu o livro dos recordes”

fonte - o eco
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População de tigres na Índia aumentou. Uma das poucas boas notícias de 2011. Foto: Brian Gratwicke

John Vidal*

O ano de 2011 foi mais um ano ecologicamente problemático, com níveis recordes de gases do efeito estufa, derretimento do gelo Ártico próximo do máximo, verificado em 2007, e com a temperatura média atingindo o 11º lugar entre as mais altas de todos os tempos.

Na superfície, o ano foi marcado por extremos de calor e frio sem paralelos nos EUA, secas e ondas de calor na Europa e na África, fora o número recorde de desastres naturais relacionados ao clima.

Além disso, em 2011 a população mundial atingiu 7 bilhões de pessoas, ocorreu o segundo pior desastre nuclear de todos os tempos e tivemos investimentos recorde em energia renovável.

Os 41 indicadores sobre o ar e a superfície usados pelo NOAA (Administração Nacional de Atmosfera e Oceanos), órgão americano, mostraram de forma inequívoca que, visto pelas temperaturas do ar e do solo, o mundo continuou a aquecer ao longo de 2011. Em julho, um relatório do NOAA apontou que os últimos 300 meses foram todos de temperaturas acima da média e que os 13 anos mais quentes da história estão entre os últimos 15 anos desde 1997. O ano de 2011 também se destacou nesse sentido, disse o relatório, porque tivemos uma ocorrência de La Niña , um fenômeno natural de resfriamento oceânico que, normalmente, reduziria as temperaturas. 

 
Apesar da estagnação ou recessão econômica em diversos países industrializados, as concentrações de CO2medidas em Mauna Loa, no Havaí, atingiram picos de mais de 394 partes por milhão em maio e estão agora 39% acima do que estavam no início da era industrial, se aproximando do ponto no qual alguns cientistas acreditam que se tornará impossível conter o aquecimento global.

Em setembro, a universidade de Bremen, na Alemanha, relatou que a camada de gelo Ártica atingira uma nova baixa recorde, baseada em dados de um sensor japonês instalado no satélite Aqua, da Nasa. Dias mais tarde, o Centro de Dados para Neve e Gelo dos EUA, usando outros números, relatou um número ligeiramente melhor para a camada de gelo, tornando 2011 o segundo pior ano já medido.

Christophe Kinnard, do Centro de Estudos Avançados sobre Zonas Áridas, em La Serena, Chile, relatou que, em novembro,  ambas a duração e a magnitude do atual declínio no gelo oceânico “parece não ter precedentes nos últimos 1.450 anos”.
"2011 foi descrito por vários comentaristas como o ano do tornado. Entre janeiro e junho, 43 grandes tempestades lançaram quase 1.600 tornados nas regiões Sul, Leste e Central dos Estados Unidos"

Tudo parece estar com tendência para cima – temperatura da superfície, da atmosfera, e também do oceano. Esse último está se aquecendo e levando uma quantidade maior de águas aquecidas e salinas ao Ártico. O gelo oceânico está sendo erodido por baixo e derretido por cima”, disse Kinnard.

Enquanto, em 2010, a Europa Oriental, Rússia, Paquistão e Oriente Médio sofreram os piores eventos de clima extremo, em 2011 foi a vez da América do Norte. O continente experimentou enchentes de grande porte ao longo dos rios Mississippi e Missouri, incêndios recorde e secas incapacitantes no Sul.

 
Em 2011, mais de 2.942 recordes mensais de calor e frio extremos foram quebrados nos 50 estados Americanos, disse o Conselho de Defesa de Recursos Naturais.

Os custos dos desastres relacionados ao clima disparararam. Os EUA experimentaram 14 desastres diferentes, cada um custando mais de US$1 bilhão. No total, as perdas financeiras foram estimadas em US$50 bilhões.

“De várias maneiras, 2011 reescreveu o livro dos recordes. De tempestades de neve desastrosas, ao segundo tornado mais letal já visto, a enchentes épicas, secas e ondas de calor, à terceira mais intensa temporada de furacões já registrada, nós fomos testemunhas de extremos em praticamente todas as categorias de mau tempo”, disse o porta-voz do NOAA, Christopher Vaccaro.

2011 foi descrito por vários comentaristas como o “ano do tornado”. Entre janeiro e junho, 43 grandes tempestades lançaram quase 1.600 tornados nas regiões Sul, Leste e Central dos Estados Unidos. Metade aconteceu em abril e 226 ocorreram em um dia, 27 de abril.

Mas 2011 também foi o ano de água demais ou água de menos. Começou com uma devastadora enchente na Austrália, que cobriu uma área do tamanho da França e da Alemanha combinadas, e acabou com a tempestade tropical Washi matando quase mil pessoas e deixando 300 mil desabrigados nas Filipinas.

As piores enchentes da Tailândia em 50 anos reclamaram 730 vidas, a seca do norte da China, que começou em 2010 e avançou 2011 adentro, foi a pior seca a atingir o país em 60 anos.

Enormes secas afetaram algumas das comunidades mais pobres e mais ricas do mundo. A pior seca em 60 anos atingiu mais de 10 milhões de pessoas e levou a morte de milhares de pessoas e milhões de animais na Somália e no chifre da África.

Entrementes, o Texas foi gravemente atingido por ondas de calor e seca. A cidade de Austin teve 27 dias de temperaturas acima de 100 graus Fahrenheit (37,7 graus Celsius) e 90 dias no total em que a temperatura ultrapassou esse limiar. O Serviço Florestal do Texas disse que secas contínuas mataram entre 100 e 500 milhões de árvores, um número que não inclui as árvores destruídas por incêndios, que incidiram sobre 4 milhões de acres (1,6 milhão de hectares) no estado.

O ano começou e terminou com seca e temperaturas recorde na Europa. A temperatura média no norte da Noruega em novembro foi 5,3 Celsius acima do normal, o rio Danúbio manteve o seu nível mais baixo em 60 anos, e a Alemanha e boa parte do norte da Europa tiverram o ano mais seco desde que os registros começaram em 1881.

2011 foi também um ano de terremotos excepcionais. Nas sete semanas entre 01 de janeiro e 21 de fevereiro, Argentina, Chile, Irã, Paquistão, Tajiquistão, Tonga, Burma, Ilhas Salomão, Sulawesi, Fiji e Nova Zelândia foram todos atingidos.

Mas, de longe, o terremoto de maior estrago foi o do Japão, que levou ao tsunami letal de março de 2011. Ele matou 15.500 pessoas, causou o derretimento de três reatores nucleares na usina de energia Fukushima Daiichi e fez com que 160 mil pessoas fossem obrigadas a fugir ou ser retiradas da área. Ao final do ano, estima-se que o custo tenha chegado a cerca de 210 bilhões de dólares em danos físicos e produção perdida. Estima-se que a desativação da usina custe outros 15 bilhões de dólares.

O debate sobre os níveis de radiação ainda está quente, mas enquanto a indústria, apoiada por comentaristas ocidentais, minimizou as consequências, mostrou-se que os níveis de césio radioativo atingiram 50 milhões de vezes os níveis normais fora da costa da região. À medida que 2011 terminava, ainda estava difícil medir com precisão o grau de devastação, o quanto derreteram os reatores e os níveis exatos de radiação. Na semana passada, o primeiro ministro japonês, Yoshihiko Noda, disse que os donos da usina finalmente tinham conseguido trazer a usina para um estado conhecido como “fechamento frio”.

Uma consequência clara do desastre de Fukushima foi levar países europeus a darem as costas à energia nuclear. Principalmente, Angela Merkel, chanceler da Alemanha, disse em maio que implementaria até 2022 o fechamento progressivo das usinas nucleares alemãs. Os italianos votaram esmagadoramente contra novos reatores e o governo suíço decidiu desligar progressivamente os seus.

"Ambientalistas na batalha global contra a perda de florestas receberam bem os dados de satélite do Brasil mostrando que o desmatamento na Amazônia caiu para o menor nível em 23 anos. "
Pelo lado das notícias boas. Em julho, o Programa Ambiental das Nações Unidas anunciou que os investimentos em energias renováveis cresceram 32% em 2010, atingindo um recorde de 211 bilhões de dólares desde 2004. Pela primeira vez, esse investimento nos mais dinâmicos países em desenvolvimento foi maior do que aquele ocorrido nos países desenvolvidos.

O serviço da Bloomberg de Finanças para Novas Energias disse que osinvestimentos em energia renovável devem dobrar nos próximos oito anos e atingir 395 bilhões de dólares ao ano em 2020. As más notícias são que a Agência Internacional de Energia (IEA) afirmou que isso não será suficiente para estabilizar as emissões e controlar a mudança climática.

O senso de realismo da Agência Internacional de Energia foi realçado na conferência das Nações Unidas sobre o clima, em dezembro. As negociações em Durban, África do Sul, evitaram um racha maior entre os grandes emissores e os demais países, com um acordo entre 194 países para trabalhar em direção a uma proposta com força de lei para cortar as emissões no futuro. No entanto, o encontro terminou com apenas promessas de cortes voluntários pelo momento.

“Sem um compromisso muito mais forte para os próximos 5-10 anos, o resultado de Durban vai deixar nada além de fumaça e espelhos – uma ilusão de ambição sem objetivos reais ou datas de implementação claras”, disse Nnimmo Bassey, chefe do Friends of the Earth International.

Negociadores também se concentraram em estabelecer mercados de carbono para proteção de florestas e transporte.

Ambientalistas na batalha global contra a perda de florestas receberam bem os dados de satélite do Brasil mostrando que o desmatamento na Amazônia caiu para o menor nível em 23 anos. Porém, novas leis passadas em Dezembro, se confirmadas, permitirão aos ruralistas derrubar mais árvores próximas aos rios e topos de morro das bacias hidrográficas.

Tigres e outros animais carismáticos da megafauna aparentemente se saíram melhor em 2011. Camboja, Índia, Indonésia, Laos, Burma e Nepal protegeram mais 2 milhões de hectares de terra para tigres. A Índia – onde está metade dos tigres do mundo – estimou que a população aumentou de 1.411, em 2007, para atuais 1.706. Entretanto, a WWF anunciou que somente 18 a 22 tigres siberianos sobrevivem em áreas selvagens no Norte-Leste da China.

Inesperadamente, houve um aumento significativo da população de gorilas registrada nas montanhas Virunga, que se dividem entre Ruanda, República Democrática do Congo e Uganda. Um levantamento do WWF contou 480 indivíduos, um aumento de 100 desde a última contagem de 2003.
Em outro pequeno triunfo para a conservação, o programa de Desenvolvimento das Nações Unidas anunciou em dezembro que arrecadou-se mais de 100 milhões de dólares, principalmente em países latino-americanos, para, temporariamente, deixar sob o solo 900 milhões de barris de óleo no parque nacional do Yasuni, na Amazônia Equatoriana.

*Esse artigo foi publicado pela Guardian Environmental Network, da qual ((o))eco faz parte. O texto original (em inglês) pode ser lido aqui.

Podcast ((o))eco
:
 

Friday 16 December 2011

1/8 REL.2011 - CIÊNCIA E CULTURA NA REINVENÇÃO EDUCOMUNICATIVA

LABORATÓRIO 5 - 
PRÁTICAS CULTURAIS, SOCIOECONOMIA E EDUCAÇÃO

PROJETO 5.0 – CIÊNCIA E CULTURA NA REINVENÇÃO EDUCOMUNICATIVA




Penso que os homens deste lugar são a continuação destas águas 
~ Manoel de Barros 

(fotografia: Regina Silva)

2/8 REL.2011 introdução

INTRODUÇÃO


Diversos centros de ciências, museus, eventos, revistas ou seções em jornais, além de todo aparato na Internet como blog, site, listas de discussão ou meios de informação científica circulam cotidianamente num volume de informação absurdamente alto, entretanto a ciência ainda não conseguiu se popularizar na sociedade. Segundo Moura (2011), a última Conferência Mundial de Jornalismo Científico, em Qatar 2011, reuniu 786 jornalistas de 81 países e embora a quantidade de jornalismo científico tenha aumentando, ainda é pequena a audiência das notícias científicas. Um estudo realizado em São Paulo por Carlos Vogt (MOURA, 2011), revela que embora a população tenha admiração pelos jornalistas e pelos cientistas, a maioria (76% da população paulista) ainda não lê notícia científica.

Gerenciamos três blogs, o primeiro ligado ao Fórum de Direitos Humanos e da Terra (FDHT)[1], com conteúdo principalmente de Mato Grosso, relacionados aos processos de direitos humanos; o segundo pela Rede Mato-Grossense de Educação (REMTEA)[2], abarcando essencialmente as atividades da rede e algumas notícias de meio ambiente; e um terceiro pelo projeto “Ciência e cultura na reinvenção educomunicativa”[3], ligado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (INAU). Embora possa parecer um exemplo pueril, as estatísticas do Google também dão provas que a ciência não tem audiência. Os 3 blogs têm criação em meses diferentes, mas todos no primeiro semestre do ano de 2011. Enquanto o blog dos direitos humanos dispara na frente com cerca de 50 acessos diários (14.331 acessos, criado no final de junho de 2011); a REMTEA diminui para 12 acessos diários (2.480 acessos, criado em janeiro de 2011); e finalmente o blog do projeto científico que registra aproximadamente 3 visitas diárias (1.122 acessos, criado em abril de 2011)[4] [figura 1].

Segundo Vogt (2010)[5], a expressão “cultura científica” tem três sentidos possíveis: a cultura DA, PELA e PARA a ciência. Numa espiral de possibilidades, é uma produção da ciência (pelos cientistas); a educação científica nos níveis profissionalizantes (cientistas, professores e estudantes de graduação e pós-graduação); a popularização das ciências aos níveis mais fundamentais (cientistas, professores, estudantes de todos os níveis, administradores de museus, centros ou estações de ciências); e finalmente a divulgação científica para toda sociedade (com acréscimo dos jornalistas).


Figura 1: audiência nos acessos de 3 blogs diferentes, criados em 2011



O mundo está cheio de fontes e recursos científicos, mas a sociedade ainda não incorporou a cultura científica. O Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA) parte da hipótese de que a ciência não possui audiência, e necessita inovar em seus métodos para que a ciência seja conhecida pela sociedade. Ancorados na premissa de Vogt, mas ampliando os cenários, partimos do pressuposto de que há um quadrante de interação entre ciência, educação, comunicação e arte, e que há que se sublinhar o papel da sociedade, para além dos tradicionais protagonistas das ciências. Em outras palavras, compreendemos que a cultura científica necessita da AUDIÊNCIA científica, em seus quatro pilares da educomunicação [figura 2]:
(I)   Produção e publicação das ciências (cientistas);
(II)         Educação científica em todos os níveis (cientistas, professores e estudantes);
(III)       Divulgação científica (cientistas, professores, estudantes, jornalistas, administradores de museus, centros ou laboratórios);
(IV)       Audiência científica (cientistas, professores, estudantes, jornalistas, administradores de museus, centros ou laboratórios COLETIVAMENTE COM A SOCIEDADE, sendo esta a principal protagonista).



Figura 2: Audiência científica pela educomunicação 
(Modificado de Vogt, 2010)




A inovação da educomunicação faz emergir o último quadrante, que além de cientistas, professores, jornalistas ou administradores de museus, é a sociedade que necessita absorver a informação científica e devolvê-la à sua maneira. Neste contexto, a educomunicação pressupõe uma intervenção que consiga divulgar a informação científica, promover o processo educativo da aprendizagem científica, incitar a intervenção participativa e finalmente construir a audiência científica contextualizada nos âmbitos biorregionais.

No caso específico do projeto 5.2, embora a planície pantaneira seja considerada de forma mais plena, nosso lócus de ação se dá em São Pedro de Joselândia, comunidade que muitas vezes tem seus moradores inábeis em grafar ou ler o mundo das palavras escritas. Neste contexto, a arte tem papel essencial em promover a audiência científica por meio do teatro, desenhos, mapas mentais, pinturas, artesanatos, danças, música ou cadernos pedagógicos produzidos pela e junto com a comunidade. Assim, um segundo objetivo do projeto 5.2 é aliar ciência com poesia amalgamada pela educação ambiental.

Para tal audiência científica, 3 subprojetos se aliam em temáticas específicas, dando um conjunto do território e identidades; dos conflitos existentes e dos meios de resistência; das leis e dos desejos de melhoria de vida; da labuta do trabalho e as relações com o artesanato; das relações de gênero e do imaginário mitológico; e finalmente das festas, das canoas, de violas de cochos e tantas outras expressões culturais que formam o mosaico da educação ambiental pantaneira.