Friday, 16 December 2011

6/8 REL.2011 sistematização

SISTEMATIZAÇÃO

Embora alguns membros do projeto 5.2 trabalhem com vários municípios do Pantanal, considerando aspectos genéricos de Barão de Melgaço, Cáceres, Nossa Senhora do Livramento, Poconé e Santo Antônio de Leverger, nosso lócus de atuação e pesquisa se dá em São Pedro de Joselândia, que apresenta um complexo de comunidades. Em outras palavras, sobrevoamos a paisagem pantaneira, mas pousamos em Joselândia para as intervenções, vivências e estudos empíricos [figura 10].

Figura 10: Localização de São Pedro de Joselândia, Barão de Melgaço, MT (SILVA; JABER; SATO, 2011).



Joselândia é um local bastante religioso, cujas festividades mantêm estreita conexões com os marcos religiosos cristãos, em especial à católica, que tem São Pedro como padroeiro da região. Vivem de maneira simples, mas sentem-se livres e felizes [figura 11]. As tradicionais expressões culturais estão sendo perdidas (cururu, siriri, viola de cocho, redes, etc.) e os novos valores são impostos principalmente pelos jovens. Tradição e inovação se conjugam neste espaço que ainda resiste aos avanços da Modernidade, mantendo algumas expressões culturais amalgamadas pela memória, narrativas, crenças e valores. 


Figura 11: Pantaneiros de São Pedro de Joselândia (Fotografias: Regina Silva).




Há muito trabalho informal na região e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região pantaneira é um dos mais baixos em todo estado de MT. Constatamos que o Pantanal está sendo ameaçado pelas tendências desenvolvimentistas, já que o modo de vida pantaneiro está sendo alterado pela pecuária extensiva, pela exploração intensiva, seguida do desmatamento e da deterioração dos cursos de água. Embora a mídia e os discursos políticos enfatizem que os projetos desenvolvimentistas trazem riquezas, essas atividades não têm oferecido melhor qualidade de vida aos moradores da região. Isso é possível de observar pelo mapa de pobreza e desigualdade dos municípios brasileiros (IBGE, 2008), em que os locais mais pobres de MT concentram-se na região do Pantanal [figura 12].


Figura 12 – Incidência de pobreza em MT
Fonte: IBGE, 2008.




Sem enfatizar o lado utilitarista da pesquisa, reconhecemos que nem sempre a ciência resolve problemas. Todavia, no marco essencial da investigação em ciências humanas, com ênfase na educação ambiental, o projeto 5.2 busca investigar diversos temas: educação científica, jornalismo ambiental, educomunicação, arte, território, identidades, gênero, etnoconhecimento da avifauna, cultura do trabalho, economia popular e solidária, economia ecológica, conflitos socioambientais, trabalhos ecossistêmicos, canoas, festas religiosas, mitologia e legislação do Pantanal [figura 13]. Todos os pesquisadores envolvidos são preocupados em promover a audiência científica, por meio de cadernos pedagógicos construídos junto com as comunidades. A educação científica se dá em todos os níveis, desde o ensino fundamental, médio, graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. A identidade é outro tema transversal no projeto, já que investigamos a área pantaneira por meio de entrevistas com moradores e suas narrativas são essenciais à nossa pesquisa qualitativa essencialmente fenomenológica.

Figure 13: Laboratory 5 and research themes




Reconhecemos que as ciências acadêmicas não são as únicas fontes de conhecimento humano, e que as populações tradicionais possuem histórias, narrativas, mitos, crenças e fé que encerram um outro arcabouço de sabedorias que, se somados aos acadêmicos, podem melhorar o jeito de viver. A tessitura da educação ambiental, assim, despe-se do “ensino científico” e advoga por um “diálogo de saberes”. É a formação de um grupo pesquisador entre a universidade e a comunidade, construindo conhecimentos biorregionais pelo patrimônio universal consagrado pelas ciências, e que ousa a guinada conceitual e não apenas divulgar as ciências, mas essencialmente construir sua audiência pela pesquisa participativa e sociopoética. E porque somos diversos, cada ser humano tem suas marcas indeléveis de crenças e valores que corroboram na matriz perceptiva dos estudos fenomenológicos da educação ambiental.

Nesta construção que nem sempre tem consenso, mas que também enfrenta seus momentos de caos e recuos, os avanços surgem pela criatividade e coragem de sair da mesmice, da mera reprodução da ciência ou da cópia de modelos hegemônicos. Todavia, também pela produção do novo, ainda que seja arriscado e com tendências a erros, mas, sobretudo na originalidade e na abrangência em se tramar diversas temáticas que possam fiar um mosaico que seja significativo e fidedigno ao cotidiano local. A rede ainda está sendo tecida e dá pistas que o balanço tem interrupções e que nem sempre se consegue bons sonhos, mas é na trança dos desejos que o labirinto se desfaz revelando a eloquência da esperança.

REFERÊNCIAS

IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA). Mapa da pobreza e desigualdade dos municípios brasileiros 2003. Rio de Janeiro: IBGE, 2008.

MOURA Mariluce. Atrair a atenção do público é o grande desafio para os satisfeitos jornalistas de ciência. Revista de Pesquisa Fapesp, n. 188, outubro de 2011, p. 28-31.
http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=4524&bd=1&pg=1&lg=

VOGT, Carlos. Ciência e bem-estar cultural. In Comciencia, revista eletrônica de jornalismo científico. Edição de 10 de junho de 2010 [http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=57&id=724]. Download: 10/06/10.

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