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PERTO DA "PARTÍCULA DE DEUS"
Fonte: Max Milliano Melo, Diário de Pernambuco de 14.12.2011
Cientistas anunciam estar mais próximo do que nunca de confirmar a existência do bóson de Higgs
Este ano, as grandes estrelas da ciência, ironicamente, pertencem ao mundo das minúsculas partículas. Depois de cientistas italianos terem medido neutrinos viajando mais rápido do que a luz, estruturas menores que os átomos voltaram a causar alvoroço na comunidade científica. Pesquisadores do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês) anunciaram ontem ter “encurralado” o bóson de Higgs, ou “partícula de Deus”, hipoteticamente responsável pela matéria, logo pela existência da gravidade e de todo o Universo.
Segundo o Modelo Padrão de Partículas, principal teoria que explica a formação dos átomos, o bóson seria uma estrutura subatômica, ou seja, menor que um átomo, formada durante o big-bang, há cerca de 13,7 bilhões de anos. Pelo modelo, o bóson teria a capacidade de interagir com o campo magnético que permeia todas as partículas existentes no mundo. Dependendo de como acontece essa interação, as outras partículas ganham massa ou permanecem sem massa, como ocorre com a luz, por exemplo. Embora a teoria se encaixe na maioria dos experimentos existentes até hoje, sua existência nunca foi comprovada.
Para encontrar o rastro dessa espécie de “tijolo” do cosmos, proposto pelo pesquisador britânico Peter Higgs na década de 1960, os pesquisadores precisaram investir tempo e recursos, além de contar um pouco com a sorte. A ocorrência do bóson é extremamente rara. Dentro do Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), um gigantesco equipamento com 27km de diâmetro, instalado no subsolo da fronteira entre a França e a Suíça, os cientistas enviaram em direções opostas prótons que, ao se chocarem, liberavam uma série de partículas.
Cada minúscula estrutura possuiu uma massa, medida na forma de energia por giga elétron-volts (GeV). O LHC tenta então encontrar os bósons observando aquelas partículas com massa entre 100 GeV a 600 GeV. Os dois grupos (Atlas e CMS) que pesquisam no laboratório europeu chegaram às mesmas conclusões. “Nossas análises confirmam a exclusão do bóson de Higgs em um intervalo de massa de 127 a 600 GeV, mas ao mesmo tempo mostram pela primeira vez alguns indícios, ainda não conclusivos, de que o bóson de Higgs pode existir com uma massa ao redor de 125 GeV”, contou o pesquisador do Cern Rogerio Rosenfeld, também ligado à Universidade Paulista (Unesp).
Rastros
Além de descartar uma ampla gama de possibilidades de faixas de localização, os cientistas determinaram na faixa dos 127GeV a provável localização das ditas partículas divinas. “O que vemos hoje são apenas ‘rastros’ do que podem ser os bósons. Os resultados ainda são muito tênues para determinar conclusivamente a existência da partícula, mas dão uma pista importantíssima de onde procurá-la”, conta o também pesquisador do Cern e da Unesp Sérgio Novaes. “É como se fosse um rádio chiando. Conseguimos, em meio a todo o barulho, encontrar um sinal do que estamos procurando. Agora, precisamos tentar fazer esse sinal ocorrer novamente para confirmar sua existência.”
A expectativa dos especialistas é de que o próximo ano seja histórico para a física. Seguindo o planejamento de experiências, até o final de 2012 os pesquisadores já terão realizado colisões de prótons suficientes para ter observado a liberação dos bósons. “O próximo passo agora é repetir os experimentos várias vezes para tentar localizar novamente essas alterações na faixa dos 127GeV, o que esperamos ter conseguido até o final do próximo ano, se tudo correr bem”, conta Novaes. “Somente resultados mais robustos podem confirmar a existência destas partículas, mas o apresentado hoje (ontem) mostra que estamos no caminho certo”, completa.
Há dois anos em funcionamento, o LHC foi concebido justamente para confirmar a existência e compreender melhor essa partícula, que há décadas se esconde dos pesquisadores. Ela seria uma das últimas — e talvez a mais importante — peças do quebra-cabeça que explica o surgimento da matéria. Embora o restante do Modelo Padrão de Partículas e Interações já tenha sido desvendado, ainda faltava confirmar a existência da partícula e determinar sua massa. “Ao longo das últimas décadas, a massa de outras partículas elementares da matérias, os quarks e os léptons, foram determinadas. Mas, para confirmar essa teoria, ainda falta entender a cola que une essas informações: o bóson”, conta Eduardo do Couto e Silva, físico do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT).
Para ele, embora ainda não seja possível determinar com exatidão a existência da partícula, este é um momento “extraordinário” para a física. “O homem foi capaz de criar condições para entender alguns dos processos que mais desafiam o nosso entendimento”.
Maldição
Embora o termo “partícula de Deus” tenha sido consagrado, ele desagrada muitos cientistas, que consideram a designação exagerada. A origem do apelido não se deve a um pesquisador, mas a uma editora de livros. Quando o vencedor no Nobel de Física de 1988, Leon Lederman, terminou de escrever, em 1993, um livro sobre o assunto, o nomeou como the goddamn particle (expressão em inglês que pode ser traduzida como maldita partícula), em função da dificuldade que os cientistas enfrentam para localizá-la. No entanto, o editor do livro achou o termo agressivo e de pouco impacto, e sugeriu o título The God Particle (A partícula de Deus), termo do qual os cientistas nunca mais conseguiram se livrar.
Este ano, as grandes estrelas da ciência, ironicamente, pertencem ao mundo das minúsculas partículas. Depois de cientistas italianos terem medido neutrinos viajando mais rápido do que a luz, estruturas menores que os átomos voltaram a causar alvoroço na comunidade científica. Pesquisadores do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês) anunciaram ontem ter “encurralado” o bóson de Higgs, ou “partícula de Deus”, hipoteticamente responsável pela matéria, logo pela existência da gravidade e de todo o Universo.
Segundo o Modelo Padrão de Partículas, principal teoria que explica a formação dos átomos, o bóson seria uma estrutura subatômica, ou seja, menor que um átomo, formada durante o big-bang, há cerca de 13,7 bilhões de anos. Pelo modelo, o bóson teria a capacidade de interagir com o campo magnético que permeia todas as partículas existentes no mundo. Dependendo de como acontece essa interação, as outras partículas ganham massa ou permanecem sem massa, como ocorre com a luz, por exemplo. Embora a teoria se encaixe na maioria dos experimentos existentes até hoje, sua existência nunca foi comprovada.
Para encontrar o rastro dessa espécie de “tijolo” do cosmos, proposto pelo pesquisador britânico Peter Higgs na década de 1960, os pesquisadores precisaram investir tempo e recursos, além de contar um pouco com a sorte. A ocorrência do bóson é extremamente rara. Dentro do Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), um gigantesco equipamento com 27km de diâmetro, instalado no subsolo da fronteira entre a França e a Suíça, os cientistas enviaram em direções opostas prótons que, ao se chocarem, liberavam uma série de partículas.
Cada minúscula estrutura possuiu uma massa, medida na forma de energia por giga elétron-volts (GeV). O LHC tenta então encontrar os bósons observando aquelas partículas com massa entre 100 GeV a 600 GeV. Os dois grupos (Atlas e CMS) que pesquisam no laboratório europeu chegaram às mesmas conclusões. “Nossas análises confirmam a exclusão do bóson de Higgs em um intervalo de massa de 127 a 600 GeV, mas ao mesmo tempo mostram pela primeira vez alguns indícios, ainda não conclusivos, de que o bóson de Higgs pode existir com uma massa ao redor de 125 GeV”, contou o pesquisador do Cern Rogerio Rosenfeld, também ligado à Universidade Paulista (Unesp).
Rastros
Além de descartar uma ampla gama de possibilidades de faixas de localização, os cientistas determinaram na faixa dos 127GeV a provável localização das ditas partículas divinas. “O que vemos hoje são apenas ‘rastros’ do que podem ser os bósons. Os resultados ainda são muito tênues para determinar conclusivamente a existência da partícula, mas dão uma pista importantíssima de onde procurá-la”, conta o também pesquisador do Cern e da Unesp Sérgio Novaes. “É como se fosse um rádio chiando. Conseguimos, em meio a todo o barulho, encontrar um sinal do que estamos procurando. Agora, precisamos tentar fazer esse sinal ocorrer novamente para confirmar sua existência.”
A expectativa dos especialistas é de que o próximo ano seja histórico para a física. Seguindo o planejamento de experiências, até o final de 2012 os pesquisadores já terão realizado colisões de prótons suficientes para ter observado a liberação dos bósons. “O próximo passo agora é repetir os experimentos várias vezes para tentar localizar novamente essas alterações na faixa dos 127GeV, o que esperamos ter conseguido até o final do próximo ano, se tudo correr bem”, conta Novaes. “Somente resultados mais robustos podem confirmar a existência destas partículas, mas o apresentado hoje (ontem) mostra que estamos no caminho certo”, completa.
Há dois anos em funcionamento, o LHC foi concebido justamente para confirmar a existência e compreender melhor essa partícula, que há décadas se esconde dos pesquisadores. Ela seria uma das últimas — e talvez a mais importante — peças do quebra-cabeça que explica o surgimento da matéria. Embora o restante do Modelo Padrão de Partículas e Interações já tenha sido desvendado, ainda faltava confirmar a existência da partícula e determinar sua massa. “Ao longo das últimas décadas, a massa de outras partículas elementares da matérias, os quarks e os léptons, foram determinadas. Mas, para confirmar essa teoria, ainda falta entender a cola que une essas informações: o bóson”, conta Eduardo do Couto e Silva, físico do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT).
Para ele, embora ainda não seja possível determinar com exatidão a existência da partícula, este é um momento “extraordinário” para a física. “O homem foi capaz de criar condições para entender alguns dos processos que mais desafiam o nosso entendimento”.
Maldição
Embora o termo “partícula de Deus” tenha sido consagrado, ele desagrada muitos cientistas, que consideram a designação exagerada. A origem do apelido não se deve a um pesquisador, mas a uma editora de livros. Quando o vencedor no Nobel de Física de 1988, Leon Lederman, terminou de escrever, em 1993, um livro sobre o assunto, o nomeou como the goddamn particle (expressão em inglês que pode ser traduzida como maldita partícula), em função da dificuldade que os cientistas enfrentam para localizá-la. No entanto, o editor do livro achou o termo agressivo e de pouco impacto, e sugeriu o título The God Particle (A partícula de Deus), termo do qual os cientistas nunca mais conseguiram se livrar.
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