Tuesday 9 December 2014

Interculturalidades no Sul Global - IHU

Interculturalidades no Sul Global

Descolonização, Direitos Culturais e Política em debate

Com o intuito de encorajar a comunidade acadêmica e o público em geral a discutir problemas específicos do Sul Global, especialmente da África e da América Latina, desde o referencial teórico descolonial, a revista IHU On-Line desta semana participa da discussão do tema do evento Interculturalidades no Sul Global. Descolonização, Direitos Culturais e Política em debate, promovido pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI e Universidade de Santiago do Chile e apoiado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Muitos dos pesquisadores e pesquisadoras de várias partes do Sul Global que participarão do evento em São Miguel das Missões e em São Leopoldo, respectivamente, contribuem nesta edição:Eduardo Devés-ValdésFernanda Frizzo Bragato,Germain Ngoie TshibambeFernando CamposGladys Lechini, Lewis GordonMbuyi Kabunda e Santiago Castro-Gómez.

Monday 8 December 2014

Escritórios criados para livrar pesquisadores da burocracia oferecem novos serviços

fapesp
http://revistapesquisa.fapesp.br/2014/11/18/suporte-sofisticado/


Suporte sofisticado

Escritórios criados para livrar pesquisadores da burocracia oferecem novos serviços
FABRÍCIO MARQUES | Edição 225 - Novembro de 2014

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© ILUSTRAÇÕES MAURÍCIO PIERRO
Começa a render frutos uma iniciativa da FAPESP que busca reduzir o tempo gasto pelos pesquisadores na administração burocrática de seus projetos, permitindo que se concentrem em sua atividade principal, que é a produção do conhecimento. No final de 2010, a Fundação criou um programa que oferece treinamento para equipes de funcionários de universidades e instituições de pesquisa dedicados a reduzir a carga de trabalho imposta aos cientistas na gestão e administração de seus projetos. O treinamento tem duração de quatro dias, em turmas de no máximo seis participantes. Desde o advento do programa, mais de 110 equipes já receberam capacitação na sede da Fundação – e pelo menos 24 delas organizaram Escritórios de Apoio Institucional ao Pesquisador, que estão em plena operação.
A novidade é que esses escritórios, além de ajudarem na compra de insumos e na prestação de contas, começam a oferecer novos serviços. Alguns se dedicam a prospectar oportunidades de financiamento em editais e chamadas de propostas, ajudando os pesquisadores também a levantar recursos. Outros dão suporte não só para os projetos, mas também para os bolsistas. “Esses escritórios estão se disseminando e alguns já fornecem um apoio bastante sofisticado”, diz Marcia Regina Napoli, responsável pela Gerência de Apoio, Informação e Comunicação (Gaic) da Diretoria Administrativa da FAPESP, que coordena o programa desde 2010.
Um exemplo é o Escritório de Apoio Institucional ao Pesquisador do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, que mantém dois funcionários trabalhando tanto no suporte a quem pretende submeter um projeto de pesquisa a agências quanto na fase posterior à obtenção dos recursos, auxiliando na compra dos insumos, prestação de contas e até mesmo ajudando a publicar os resultados em revistas científicas. Vinculado ao Hospital Israelita Albert Einstein, o instituto dispõe de laboratórios organizados em core facilities, um biotério acreditado pela Association for Assessment and Acreditation of Laboratory Animal Care Internacional (AAALAC) e um centro de pesquisa clínica onde são realizados estudos científicos por 23 pesquisadores contratados, 42 docentes do programa de pós-graduação acadêmica e mais de 200 médicos de seu corpo clínico envolvidos em pesquisa. Desde sua criação, em meados de 2012, o escritório já ajudou a submeter 67 projetos de pesquisa. A taxa de aprovação de projetos submetidos chega a 61% do total – e a captação de recursos oriundos de agências de fomento cresceu 323% entre 2012 e 2013.
Na chamada fase pre-award, o trabalho tem várias frentes. Diariamente, a equipe rastreia chamadas de projetos e editais lançados no Brasil (por meio da visita a sites de agências) e no exterior (através de um serviço pago) e informa por e-mails os pesquisadores da instituição que podem ter algum interesse. “Esse mapeamento de oportunidades é a primeira coisa que fazemos no dia”, diz Aline Pacífico Rodrigues, coordenadora de projetos de pesquisa do escritório. Quando surge um interessado, Aline e sua equipe marcam uma reunião para orientá-lo. “Às vezes, precisamos alinhar com o pesquisador as suas expectativas sobre o financiamento. Alguns querem, por exemplo, que as agências financiem serviços ou exames. Explicamos que é mais fácil obter recursos para pagar insumos, comprar equipamentos e contratar serviços pontuais de terceiros”, diz. “Mas sempre buscamos oferecer alguma saída para ele e nunca fechamos portas.”
© ILUSTRAÇÕES MAURÍCIO PIERRO
O escritório não ajuda o pesquisador a escrever seu projeto, pois considera que tal tarefa não pode ser delegada. “O mérito científico do projeto é do pesquisador. Nosso papel é desonerá-lo do trabalho burocrático, que não é sua atividade-fim”, afirma Aline. Ainda assim, é oferecido um serviço de aconselhamento. Uma professora aposentada da Universidade de São Paulo (USP) tornou-se consultora do escritório e faz uma avaliação preliminar do projeto de pesquisa. “Ela analisa o projeto e sugere mudanças, que o tornam mais competitivo, com um olhar semelhante ao que o avaliador do projeto terá”, explica Aline. Com isso, evita-se que o pesquisador menos experiente cometa erros previsíveis. Se o projeto for rejeitado, o escritório avalia se é possível pedir reconsideração. “Analisamos o parecer do revisor e às vezes fica claro que pequenas alterações no projeto podem habilitá-lo a ser aceito.” Aline cita o caso de um pesquisador que não escondeu a decepção quando seu primeiro projeto foi rejeitado. “Ele mandou um e-mail pedindo desculpas por ter ocupado o nosso tempo. Eu mostrei para ele que não era o fim da linha e que podíamos pedir reconsideração. E na segunda tentativa o projeto foi aprovado”, afirma. Em algumas situações, contudo, o “não” é mesmo o fim do caminho. “Se o problema, por exemplo, for curricular, ou se o avaliador considera que o proponente não tem experiência para executar aquele projeto, não há muito o que fazer”, diz. Aline e sua equipe também atuam no chamado post-award, que é a administração dos projetos aprovados. Compram os insumos necessários ao projeto, organizam a prestação de contas e orientam os pesquisadores a não cometer erros. No final, ainda os estimulam a publicar os resultados. O instituto contrata os serviços de uma empresa de comunicação científica que faz workshops com autores de artigos, ajudando-os a escrever os manuscritos.
A equipe da Gaic, da FAPESP, que oferece treinamento a funcionários e faz visitas periódicas aos escritórios em implantação, observou que o tipo de serviço oferecido por eles é desigual – e há casos de instituições que não conseguiram tirar a ideia do papel. “Notamos que os escritórios mais bem estruturados são aqueles vinculados a unidades cujos diretores apostam no sucesso da iniciativa e se envolvem diretamente nela”, diz Marcia Regina Napoli, da Gaic.
O Centro de Apoio a Projetos (CAP), vinculado à Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP, foi criado em maio deste ano e já se dedica à administração de 12 projetos de pesquisa, contemplados com cerca de R$ 10 milhões. A criação do escritório fez parte da plataforma de campanha da diretora da faculdade, Maria Vitória Bentley, que assumiu o cargo em janeiro. “Realoquei dois funcionários, um com formação em contabilidade e outro graduado em ciências da informação, para estruturar o escritório”, conta ela, que se inspirou numa experiência bem-sucedida, a do Centro de Gerenciamento de Projetos (CGP) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (ver Pesquisa FAPESP nº 203). Para ajudar no trabalho, foi adquirido umsoftware de gerenciamento financeiro, customizado conforme as necessidades e perspectiva de atuação do CAP. A equipe atua articulada com o setor de compras e a tesouraria da faculdade, auxiliando nos processos de importação pela USP, FAPESP e Importa Fácil do CNPq. Também auxilia docentes e secretárias a realizarem a prestação de contas de projetos e propostas de orçamentos segundo normas das agências e da universidade, atuando como um setor de informação. “Nosso próximo passo é aperfeiçoar a estrutura e começar também a prospectar oportunidades”, diz a professora. Por enquanto, o escritório cuida apenas dos projetos cujos termos de outorga foram assinados após sua criação, entre os quais dois temáticos, reserva técnica institucional da FAPESP e projetos de cooperação internacional, além de alguns financiados pelo CNPq, Finep e USP. Esse número, espera Maria Vitória, vai aumentar. A unidade submeteu duas propostas ao programa dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia e está em vias de assinar um acordo com o BNDES.
© ILUSTRAÇÕES MAURÍCIO PIERRO
Alguns dos melhores exemplos de escritórios de apoio ao pesquisador foram selecionados para apresentar suas experiências num workshop programado para o dia 4 de novembro na sede da FAPESP. O caso do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein é um deles. Outro exemplo destacado foi o da Embrapa Instrumentação, instalada em São Carlos, cujo corpo de suporte à pesquisa passou a auxiliar também os bolsistas. Uma terceira experiência de destaque é a da Secretaria de Pesquisa e Projetos do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Trata-se de uma das mais longevas iniciativas de apoio a pesquisadores. Existe desde 1993 e atende 65 docentes e 17 pesquisadores-colaboradores dos três departamentos do instituto. “O trabalho não se resume à prestação de contas. O escritório faz levantamento de custos e cotações necessários na preparação do projeto, ajuda a inserir dados nos sites das agências e monitora a divulgação de editais nacionais e internacionais”, diz a professora Matilde Virginia Ricardi Scaramucci, diretora do IEL desde 2011. A equipe tem três funcionários: uma secretária e dois técnicos que fazem o atendimento aos pesquisadores. “Como o quadro é enxuto, não é possível fazer tudo o que gostaríamos. Mas eles conseguem controlar as datas em que pesquisadores e bolsistas têm de submeter as suas renovações”, diz. A adesão dos pesquisadores do IEL não é uniforme. Alguns delegam todas as tarefas burocráticas para a equipe, outros apenas parte delas. “Queremos ampliar o atendimento. Gostaríamos de ter um funcionário que falasse bem inglês”, afirma. Em 2013, o IEL submeteu 128 projetos a agências de fomento. No ano passado, só da FAPESP os pesquisadores do instituto obtiveram R$ 3,9 milhões em recursos – em 2011, o total foi de R$ 2 milhões.
Há cerca de três anos, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) determinou a criação de seções de apoio a pesquisadores em cada um de seus 22 campi espalhados pelo estado. O Escritório Regional de Apoio à Pesquisa e à Internacionalização (Erapi) da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (Faac), em Bauru, é um dos mais articulados. Lançado em 2012, viu um crescimento de 72% nas solicitações de auxílio à pesquisa e 66% em pedidos de bolsas. “Chegamos a responder a 200 solicitações de informação por semana”, diz Angélica Parreira Lemos Ruiz, diretora técnica acadêmica da Faac. Ela comanda a equipe de dois funcionários, responsável por apoiar aproximadamente 105 docentes, 400 alunos de pós-graduação e 1.580 de graduação. “Tudo passa por nós, como pedidos e prestações de conta de bolsas, auxílios à pesquisa, uso de reserva técnica, busca de orçamentos. Orientamos propostas, colhemos as assinaturas dos pesquisadores e acompanhamos os processos”, diz Angélica. Um banco de dados com informações sobre pesquisadores e projetos foi criado para monitorar o desempenho do escritório, cuja criação inspirou-se em exemplos como o do Erapi do Instituto de Química de Araraquara, que existe desde os anos 1980. “Acreditamos que, nos próximos cinco anos, nossas estatísticas vão melhorar bastante, estimulando a pesquisa e a produção do conhecimento de qualidade na nossa instituição”, afirma.

Friday 5 December 2014

Água de lençol freático em edifícios de SP pode ser usada para limpeza

folha spaulo


Água de lençol freático em edifícios de SP pode ser usada para limpeza

MARCOS DÁVILA, de SÃO PAULO, 23/11/2014

Faz dias que não chove. O sol castiga o asfalto no bairro da Liberdade e eis que surge um riacho veloz na sarjeta da rua Dr. Tomaz de Lima (região central). O nível do reservatório Cantareira registra apenas 10% de sua capacidade, contando o volume morto. Então, de onde vem tanta água em plena crise hídrica?

A corredeira chega a fazer barulho, arrastando as folhas secas e bitucas de cigarro à beira do meio-fio. Será algum desavisado limpando a calçada com o esguicho? Ninguém à vista naquele trecho da via.

O mistério é resolvido ao dobrar a esquina na rua Conde de Sarzeda, no alto da ladeira. O aguaçal vem de um cano na calçada em frente ao Tribunal de Justiça de São Paulo, no Edifício 9 de Julho, número 100.

"Com essa água dava para lavar a nossa frota de carros", diz um motorista que trabalha no tribunal. Segundo ele, a água jorra de meia em meia hora. Todos os dias são despejados milhares de litros na sarjeta, que já ganhou uma camada de limo.

Devido à profundidade da fundação do prédio, a água do lençol freático é desviada para um reservatório para não causar alagamento nas garagens dos subsolos. De quando em quando, a bomba é acionada, lançando o excesso de líquido para a rede pluvial na rua.

De acordo com o Tribunal de Justiça, "foram feitas diversas tentativas de reutilização da água, mas o forte cheiro de esgoto inviabiliza o uso".

Esse tipo de situação se repete em centenas de prédios na cidade, porém, não existe um levantamento oficial que contabilize todos os casos de edificações que fazem brotar água do lençol freático por conta da profundidade da fundação.

Dependendo da região da cidade, esses reservatórios superficiais subterrâneos, abastecidos pelas chuvas e vazamentos da rede pública, podem ser atingidos a menos de cinco metros de profundidade.

ARMAZENAMENTO

Na rua Estevão Barbosa, nos fundos do edifício residencial Spazio di Vivere, na Vila Anglo (região oeste), um cano lança água na rua. Segundo o zelador Miguel Ramos da Costa, 55, a construção atingiu o lençol freático e precisa bombear a água para não inundar o segundo subsolo.

Parte da água drenada é armazenada em um poço em um reservatório de 5.000 litros e é usada para lavar o pátio e regar as plantas.

"Não é água potável, mas fizemos uma análise no Instituto Adolfo Lutz e ela foi considerada satisfatória para esse uso", diz o zelador.

Logo em frente fica um depósito de material reciclável. Indignado com o desperdício, o proprietário Roberto Barriento, 46, criou um sistema de captação com um pedaço de cano e uma mangueira.

São necessários apenas três minutos para encher um tonel de 200 litros, tamanha a pressão. Ele trabalha há 28 anos no mesmo local e aproveita a água para lavar os carros e o pátio.

"Liguei para a Sabesp várias vezes, mandei e-mail, mas ninguém vem", diz Barriento. A empresa não é responsável pelos casos de rebaixamento do lençol freático -apenas se a água for direcionada para a rede de esgoto, cuidada pela estatal, é preciso pagar taxa mensal.

As águas subterrâneas são assunto do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica). Por meio de sua assessoria de comunicação, o Daee afirma que "o processo de lançamento dessa água [dos lençóis freáticos] na sarjeta é uma prática regular, pois, dessa maneira, ela cumpre o seu ciclo hídrico. O não descarte desse recurso pode ser prejudicial à estrutura do imóvel".


Segundo o Daee, para o descarte em via pública, não é necessária nenhuma formalização.

O pedido de outorga ou cadastramento só é necessário quando se faz a utilização da água. Em setembro, o órgão publicou uma portaria que permite o uso de recursos hídricos decorrentes de rebaixamento de lençol freático. Quando a captação atinge uma quantidade igual ou superior a 5.000 litros por dia, está sujeita ao cadastramento e à outorga. Se for inferior, é necessário apenas o cadastramento.

De acordo com a Cetesb (companhia ambiental de SP), a água proveniente do rebaixamento do lençol não pode ser ingerida e deve ser armazenada separadamente da água potável da rede pública.

"Estamos jogando fora uma coisa que agora tem valor, mas antes não se dava bola", afirma Reginaldo Bertolo, diretor do Cepas (Centro de Pesquisa de Águas Subterrâneas), da USP, sobre os recursos do lençol freático. Ele explica que essas águas tendem a ter uma qualidade ruim.

"Toda sorte de atividades que acontecem na superfície geram poluentes que migram solo adentro até alcançar o aquífero freático."

Os vazamentos da rede pública de esgoto, de postos de gasolina e de fossas são apontados como os principais causadores de contaminação. Os resíduos industriais podem gerar uma poluição ainda mais tóxica.

Mesmo sem potabilidade, esse recurso hídrico poderia ser utilizado para lavagem de calçadas, pátios e carros, rega de jardins e até como descarga sanitária. "Prédios que drenam continuamente a água do freático devem investir num reservatório para que a água seja usada para fins não nobres", diz Bertolo.

O professor de engenharia hídrica Ivanildo Hespanhol, diretor do Centro Internacional de Referência em Reuso de Água, cita o exemplo do Sesc Pinheiros, na zona oeste.

Durante a construção, brotou água com alta concentração de ferro em dois pontos da garagem. Depois de tratada, a água pode ser usada nas bacias sanitárias e na limpeza do piso. Mensalmente, são captados e utilizados 600 mil litros.

ÁGUAS PROFUNDAS

Um estudo do Cepas mostra que há hoje uma oferta de 16 mil litros de água por segundo nos aquíferos da região metropolitana. É uma vazão compatível com uma Guarapiranga inteira, que abastece 4,9 milhões de pessoas. Dez mil litros de água por segundo já são utilizados por poços privados, inclusive os clandestinos.

De acordo com o diretor do Cepas, é preciso diferenciar a água encontrada no aquífero superficial —que pode aparecer nas garagens dos prédios— daquela dos poços profundos, chamados de artesianos.

Esses poços chegam a ter entre 150 e 200 metros de profundidade e captam uma água de boa qualidade. A vazão é alta e permite atender demandas de hospitais, creches, escolas, indústrias e condomínios.

A maior parte deles, no entanto, é ilegal. O mesmo estudo do Cepas mostra que, dos 12 mil poços 60% são clandestinos. Além disso, existem áreas superexploradas. "Algumas zonas estão secando", alerta.

O diretor do Cepas explica que a quantidade de poços profundos utilizada para o abastecimento público é irrisória. Esse recurso deveria ser considerado nas épocas de seca.

"É uma água privatizada. Talvez chegue o momento em que alguma autoridade pública decrete estado de calamidade ou emergência e esses poços particulares sejam requeridos. A água subterrânea pode desempenhar um papel muito importante para a segurança hídrica da população, principalmente em momentos de escassez", afirma Bertolo.
 
 
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COP20: aprovada responsabilidade diferenciada entre países ricos e pobres na redução do efeito estufa

adital
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=83578


COP20: aprovada responsabilidade diferenciada entre países ricos e pobres na redução do efeito estufa

Marcela Belchior
Adital

Há até bem pouco tempo, o debate acerca do meio ambiente girava em torno da mensuração da interferência humana na alteração do clima mundial. Ao que tudo indica, esta já não é a grande questão da agenda global. Durante a primeira semana da 20ª Conferência das Partes sobre a Mudança Climática das Nações Unidas (COP20), que acontece desde o último dia 1º de dezembro, em Lima, capital do Peru, a discussão se concentra nos riscos que a transformação climática apresenta à população e à economia, e os possíveis mecanismos de enfrentamento desse novo contexto. Para isso, uma proposta brasileira que muda o compromisso de cada país já foi aceita pela Organização das Nações Unidas (ONU). 
Pela proposta da diplomacia brasileira, os países em desenvolvimento serão divididos em diferentes graus de responsabilidade pelo aquecimento. A ideia foi lançada pelo país ainda em novembro deste ano e permite que nações emergentes como China, Brasil e Índia assumam compromissos mais ambiciosos de cortes de emissões. 
Países ditos menos desenvolvidos, ou seja, mais pobres e menos industrializados, seriam apenas estimulados a reduzir emissões, ficando livres de cumprirem meta. Isto porque essas nações, sobretudo situadas na África e na Ásia, são uma parte muito pequena do bolo de emissões mundiais. No caso dos países em desenvolvimento, as metas de corte seriam relativas, ficando dependentes do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), do número populacional ou das projeções de emissões. 
Já os 37 países considerados desenvolvidos teriam metas de redução de emissões e de ajuda financeira. Para este caso, cientistas recomendam um corte global de 40% a 70% até 2050. Com esse modelo de divisão, a expectativa é de que os países pobres que melhorarem seus padrões de vida migrem, gradualmente, para o centro, assumindo metas de corte de emissão mais rígidas. 
Uma vantagem dessa proposta é que deve incluir no acordo os Estados Unidos e as nações emergentes, que são os grandes emissores e vinham se recusando a adotar medidas. Já uma desvantagem está na ausência de uma lei que garanta o cumprimento do acordo. A grande diferença entre a proposta brasileira e o atual modelo (Protocolo de Kyoto, de 1997) é que o número de países submetidos a metas rigorosas pode aumentar pouco a pouco.

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Segundo a COP20, a mudança climática mata mais de meio milhão de pessoas por ano. Foto: COP20.

As primeiras conversações desta semana se sustentaram no debate com cientistas do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), do secretariado da Convenção e dos representantes das Partes, para discutir dados técnicos. O momento serve de base para a tomada de decisões políticas e funciona como um termômetro de como anda o processo de negociação entre os países envolvidos na Convenção. 
Nestes primeiros dias de debate, pesquisas técnico-científicas têm sido utilizadas no diálogo político para a construção do acordo climático. Compreendendo que já vivemos em um planeta climaticamente alterado por ações danosas do ser humano, o esforço da Convenção é na busca por instrumentos que suavizem essa repercussão socioambiental. Com uma temperatura média do planeta Terra 0,8°C mais alta, o foco é entender o que, efetivamente, é necessário fazer para que esse aumento não supere os 2°C até o final do século XXI. 
O evento é dividido em duas partes. Na primeira semana, são realizadas reuniões oficiais e paralelas, com a função de alinhar os temas e preparar a negociação de acordos. Os negociadores, membros das equipes de cada país, juntamente com o secretariado da Organização das Nações Unidas (ONU), avançam no processo de formulação das ações e orientações mundiais. Já na segunda semana da COP20, com a presença dos chefes de Estado, são firmados os acordos formalmente. 
Os dias iniciais da Conferência se deram sob a expectativa de grandes mudanças no tratamento da questão, principalmente pelo recente anúncio de compromisso (informal, até agora) entre Estados Unidos e China, os dois maiores poluidores do globo (concentrando juntos praticamente a metade das emissões), para reduzir a emissão de gases do efeito estufa. O principal objetivo da Conferência é revestir um caminho para um grande acordo global que deve ser selado em 2015, em Paris, capital da França, durante a COP21. 
Esse rascunho deve abordar as principais questões do setor, debatidas há duas décadas pelos países. Uma delas é a responsabilidade comum das nações, mas diferenciada, respeitando as chamadas condições de "desenvolvimento” de cada uma. Assim, todos os países devem assumir algum tipo de compromisso com relação à mitigação da mudança climática. Os chamados "desenvolvidos”, historicamente os maiores responsáveis pelo acúmulo de gases danosos na atmosfera, deverão assumir compromissos mais audaciosos que os demais. O evento se estende até o próximo dia 12 de dezembro.

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Temperatura da Terra já aumentou em 0,8°C. Foto: COP20.

Entenda a COP20 
A Conferência das Partes (COP) é o órgão supremo da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), que entrou em vigor em 1994 com o objetivo de reduzir a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Até o momento, 195 países participam das discussões e apresentam recursos para ratificarem os acordos e orientações internacionais. As nações reúnem-se anualmente para debaterem como são aplicadas as deliberações da Convenção, negociarem novos compromissos com responsabilidades comuns, considerando suas prioridades nacionais e regionais de desenvolvimento, seus objetivos e circunstâncias nacionais. Nesta 20ª edição, participam cerca de 10 mil delegados de todo o mundo.
Movimentos sociais fazem debate alternativo

De 08 a 11 de dezembro, também na capital peruana, será realizada a Cúpula dos Povos Frente à Mudança Climática, um encontro paralelo à COP20. O intuito é promover um espaço livre para que os movimentos sociais e civis debatam o fenômeno da mudança climática e formulem alternativas, ampliando a discussão institucional realizada pelas Nações Unidas. Com o lema "Mudemos o sistema, não o clima!”, o evento estima a participação de 8 mil representantes de vários setores, além da presença de 200 organizações de todo o mundo.

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Dentre os participantes, a Cúpula dos Povos receberá delegações indígenas de diversos países. Foto: Cúpula dos Povos.

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Marcela Belchior

Jornalista da ADITAL

Painel debate pesquisa com resultados “deprimentes” sobre mudanças climáticas

ihu
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/538172-painel-debate-pesquisa-com-resultados-deprimentes-sobre-mudancas-climaticas


Painel debate pesquisa com resultados “deprimentes” sobre mudanças climáticas

Uma pesquisa divulgada no encontro anual da American Academy of Religion e da Society of Biblical Literature, ocorrido entre os dias 22 e 25 de novembro, revela que as pessoas religiosas não consideram as mudanças climáticas o problema mais importante que os EUA enfrentam atualmente e nem acreditam que serão pessoalmente prejudicadas por seus impactos. Elas, porém, consideram esta situação como uma crise que exige ação por parte do governo agora, e não mais tarde.
A reportagem é de Rosemary Johnston, publicada pela National Catholic Reporter, 02-12-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A pesquisa, realizada pelo Instituto de Pesquisas Públicas sobre Religião – PRRI (na sigla em inglês), em parceria com aAmerican Academy of Religion, envolveu entrevistas por telefone com mais de 3 mil pessoas.
O estudo dividiu os participantes em três categorias: os crentes, aqueles que creem que a Terra está aquecendo principalmente por causa da atividade humana; os simpatizantes, aqueles que creem que a temperatura global está aumentando, mas tributam este aumento a flutuações naturais ou a causas desconhecidas; e os céticos, aqueles que insistem em não existir provas sólidas de que a temperatura da Terra está subindo ao longo das últimas décadas.
Robert Jones, chefe executivo do PRRI, disse, durante um debate no painel sobre os resultados no encontro anual, que menos da metade dos pesquisados (46%) podem ser identificados como crentes, enquanto que os outros se dividem entre simpatizantes (25%) e céticos (26%).
“Cerca da metade daqueles que não acreditam nas mudanças climáticas tiveram uma atitude baseada na observação pessoal das mudanças no clima ao redor deles”, disse Jones.
Houve diferenças significativas na atitude baseada nas afiliações partidárias e, até certo ponto, nas identidades religiosas e étnicas. Quase dois terços dos democratas creem nas mudanças climáticas, enquanto que menos de 22% dosrepublicanos poderiam ser identificados como crentes. Cerca da metade dos republicanos pesquisados foram considerados céticos, enquanto que só 13% dos democratas pesquisados entraram nesta categoria.
Os evangélicos brancos são mais propensos do que qualquer outro grupo religioso a se mostrarem céticos para com as mudanças climáticas, revelou a pesquisa. 73% dos católicos hispânicos estão bastante preocupados com as mudanças no clima, comparados com os 41% dos católicos brancos. E entre os protestantes negros e protestantes brancos históricos, 58% dos protestantes negros estavam muito preocupados ou um pouco preocupados, enquanto que 43% dos protestantes brancos históricos expressaram o mesmo nível de preocupação.
Os hispânicos (41%) e os americanos negros (36%) estão, pelos menos, duas vezes mais propensos do que osamericanos brancos (18%) a antecipar que eles serão pessoalmente prejudicados com as mudanças climáticas. Houve um maior consenso sobre o fato de que as pessoas que vivem nos países em desenvolvimento sofreriam um maior impacto.
Num painel composto por quatro acadêmicos relacionados às áreas da religião, ética e teologia do meio ambiente, David Gushee, professor de ética cristã na Mercer University e vice-presidente do PRRI, chamou os resultados da pesquisa de “deprimentes”.
“Está claro que o nosso objetivo deve ser fazer deste problema uma questão menos partidária e transformar os simpatizantes em crentes”, disse. “Acho que os resultados da pesquisa também mostram provas de uma desconfiança substancial entre a religião e a ciência, especialmente quando a ciência entra em conflito com a fé e a autoridade bíblica”.
Quando questionado a respeito do conflito entre fé e ciência, os membros dos grupos religiosos, exceto os protestantes brancos históricos, acreditam que a ciência e a religião estão, frequentemente, em conflito.
Enquanto a maioria dos pesquisados acreditam que as mudanças no clima resultaram num aumento dos desastres naturais nos últimos anos, houve também um aumento entre os que atribuem os recentes desastres naturais como sendo sinais do “fim dos tempos” bíblico, em particular entre os evangélicos brancos (77%) e protestantes negros (75%).
“Claro, temos muito trabalho a fazer”, disse Gushee said. “O fato de que 39% dos participantes na pesquisa não acreditam que Deus permitir-nos-ia destruir a Terra revela uma desvalorização da responsabilidade humana. Isso é simplesmente uma má teologia bíblica”.
Willis Jenkins, professor de estudos religiosos e ética na University of Virginia, observou que as mudanças climáticas são um “problema perverso que não tem um conjunto óbvio de soluções. Precisamos olhar para os dizeres representados nas lacunas das respostas entre os participantes de diferentes etnias e observar como os valores culturais podem modelar a percepção deste risco”.
Laurel Kearns, professora associada de sociologia e religião e estudos ambientais na Drew Theological School, falou que os resultados da pesquisa revelam que os pobres e pessoas de cor serão os mais impactados.
“Olhemos para o impacto do Furacão Katrina e do Furacão Sandy em nosso próprio país [EUA]”, disse, Kearns. Ao observar que a maioria dos americanos que participam, dos serviços religiosos, uma ou duas vezes ao mês ouvem pouco por parte de seu sacerdote a respeito do problema das mudanças climáticas, “poder ouvir sobre o assunto faz a diferença”, acrescentou.
A pesquisa revelou que os participantes que mostraram mais preocupação sobre as mudanças do clima estão mais propensos a crerem na mudança climática. Mais de 6 em cada 10 participantes disseram que o seu líder religioso raramente ou nunca fala sobre as mudanças climáticas.
Laurie Zoloth, presidente da American Academy of Religion e professora de estudos judaicos e ética social naNorthwestern University, chamou as mudanças climáticas de “o problema moral central” de nossa época.
“Trata-se da maior questão coletiva que a humanidade já enfrentou”, disse. “Ninguém ficará livre dela”. É deprimente, acrescentou Zoloth, que as pessoas pensem que Deus iria intervir para evitar a destruição do planeta, quando Deus não interviu para evitar o holocausto.
“É encorajador que as pessoas compreendam que este problema irá afetar os pobres principalmente, e que há um desejo entre as pessoas ao sacrifício”, disse Zoloth. “Penso que precisamos perguntar como estes resultados irão transformar o nosso ensino”.

Para evitar o holocausto biológico: aumentar as áreas anecúmenas e reselvagerizar metade do mundo

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http://www.ihu.unisinos.br/noticias/538176-para-evitar-o-holocausto-biologico-aumentar-as-areas-anecumenas-e-reselvagerizar-metade-do-mundo


Para evitar o holocausto biológico: aumentar as áreas anecúmenas e reselvagerizar metade do mundo

"A Revista Science publicou, em julho de 2014, uma série de estudos em que mostra taxas alarmantes de crimes contra os demais seres vivos. A humanidade é responsável pelo risco de espécies desaparecerem com 1000 vezes mais intensidade do que os processos naturais. A Revista confirma que o ser humano está provocando, em um curto espaço de tempo, a sexta extinção em massa no planeta", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 03-12-2014.
Eis o artigo.
“Há 10.000 anos os seres humanos e seus animais representavam
menos de um décimo de um por cento da biomassa dos
vertebrados da terra. Agora, eles são 97 por cento”.
Ron Patterson (2014)
O ser humano é uma das espécies caçulas da Terra. O Homo Sapiens surgiu na África a cerca de 200 mil anos e se espalhou por todo o território mundial. As grandes migrações do passado e o processo de globalização têm tornado o mundo cada vez mais ecúmeno, com impactos crescentes das atividades antrópicas sobre o meio ambiente e a redução das áreas anecúmenas. O termo anecúmeno designa uma área da superfície terrestre emersa que não seja habitada pelo ser humano de forma permanente, opondo-se ao termo ecúmeno que designa uma área onde os humanos permanecem no presente.
Como o Planeta é um só, todas as espécies estão em constante competição entre si, bem como com os membros de sua própria espécie. Todas as espécies evoluíram e fizeram adaptações voltadas para a sobrevivência. A Águia tem voo, garras, mira telescópica e assim por diante. Todas as outras espécies têm adaptações similares. O Homo sapiens desenvolveu várias adaptações, sendo que há uma que lhe dá uma enorme vantagem sobre todas as outras: sua capacidade intelectual. Esta habilidade favorece a competição com outras espécies para a alimentação e território. O ser humano não só venceu as demais espécies, como, na verdade, está em processo de acabar com elas, provocando uma grande extinção em massa, especialmente dos vertebrados da Terra (Patterson, 2014).
Para tentar evitar os danos irreversíveis da crescente dominação humana sobre o Planeta – época conhecida comoAntropoceno – existem várias propostas para salvar a vida de milhões de seres não-humanos e a biodiversidade da Terra.
O biólogo da Universidade de Harvard de 85 anos, Edward Osborne Wilson, duas vezes vencedor do Prêmio Pulitzer e autor de mais de 25 livros, acredita que o ser humano está provocando um “holocausto biológico” e para evitar a “extinção em massa de espécies”, ele propõe uma estratégia para destinar METADE DO PLANETA exclusivamente para a proteção dos animais. A tese também é defendida pela jornalista Elizabeth Kolbert no livro The Sixth Extinction.
Segundo reportagem de Marina Maciel, no Planeta Sustentável(09/09/2014), o plano de conservação do Dr. Wilson, chamado de“Half Earth”, inclui a criação de cadeias de corredores ininterruptos de vida selvagem, alguns deles grandes o bastante para abrigar parques nacionais de biodiversidade, idealizados para impedir o desaparecimento de espécies. Tais medidas ajudariam os animais a reagir aos efeitos das mudanças climáticas por meio da migração e também evitariam isolamento em ilhas sem conexão com outros habitats.
Revista Science publicou, em julho de 2014, uma série de estudos em que mostra taxas alarmantes de crimes contra os demais seres vivos. A humanidade é responsável pelo risco de espécies desaparecerem com 1000 vezes mais intensidade do que os processos naturais. A Revista confirma que o ser humano está provocando, em um curto espaço de tempo, a sexta extinção em massa no planeta. Isto acontece em função dos impactos da perda da fauna devido ao empobrecimento da cobertura vegetal, à falta de polinizadores, ao aumento de doenças, à erosão do solo, aos impactos na qualidade da água, etc. Ou seja, os efeitos são sistêmicos e um dos artigos da revista chama este processo de“Defaunação no Antropoceno”, que ocorre devido ao aprofundamento da discriminação contra as espécies não humanas e à generalização do crime do ecocídio.
Segundo a WWF, no relatório Planeta Vivo 2014, o estado atual da biodiversidade do planeta está pior do que nunca. O Índice do Planeta Vivo (LPI, sigla em Inglês), que mede as tendências de milhares de populações de vertebrados, diminuiu 52% entre 1970 e 2010. Em outras palavras, a quantidade de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes em todo o planeta é, em média, a metade do que era 40 anos atrás. Esta redução é muito maior do que a que foi divulgada em relatórios anteriores em função de uma nova metodologia que visa obter uma amostra mais representativa da biodiversidade global.
Ainda segundo a WWF, a biodiversidade está diminuindo em regiões temperadas e tropicais, mas a redução é maior nos trópicos. Entre 1970 e 2010, o LPI temperado diminuiu 36% em 6.569 populações das 1.606 espécies em regiões temperadas, ao passo que o LPI tropical diminuiu 56% em 3.811 populações das 1.638 espécies em regiões tropicais durante o mesmo período. A redução mais dramática aconteceu na América Latina – uma queda de 83%. As principais causas destas reduções são a perda de habitats e a degradação e exploração decorrente de caça e pesca. As mudanças climáticas são a segunda ameaça primária mais significativa e é provável que exercerão mais pressão sobre as populações no futuro.
Por tudo isto, se denomina Ecocídio o crime que acontece contra as espécies animais e vegetais do Planeta. Esse crime se espalha no mundo em uma escala maciça e a cada dia fica pior. Exatamente por isto, cresce a consciência de que é preciso mudar o modelo de desenvolvimento que adota um padrão de produção e consumo danoso para o meio ambiente e que é responsável pelo aumento da destruição da vida na Terra. Para tanto, é preciso considerar o Ecocídio um crime contra a paz, um crime contra a natureza e um crime contra a humanidade e as futuras gerações.
O site “Eradicating Ecocide” considera ser necessário a aprovação de uma lei internacional contra o Ecocídio para fazer com que os dirigentes de empresas e os chefes de Estado sejam legalmente responsáveis por proteger a Terra e as espécies não humanas. O Planeta teria que se tornar a prioridade número um da legislação nacional e internacional. O mundo já definiu o Genocídio como um crime, falta fazer o mesmo em relação ao Ecocídio. Não há direitos humanos no longo prazo sem o respeito aos direitos da natureza. Acabar com o ecocídio é também uma forma de evitar o suicídio.
O site do Instituto Rewilding é uma outra fonte para informações sobre a integração da vida selvagem tradicional e a conservação de terras selvagens e a preservação das paisagens naturais. Ele fornece explicações sobre conceitos-chave com documentos para download e links para documentos importantes.
Reselvagerizar o mundo pode ser uma alternativa, mesmo que parcial, aos crescentes crimes do especismo e do ecocídio. Para garantir espaços para a vida selvagem será preciso descivilizar amplas áreas territoriais, diminuindo a pegada ecológica antrópica global, regional e local. Neste sentido, a proposta de Caroline Fraser em seu livro “Rewilding the World” (Reselvagerizando o mundo) pode ser uma alternativa concreta para se evitar a extinção em massa da vida selvagem no Planeta e para criar uma esperança de conservação da biodiversidade e a convivência respeitosa e ética entre as espécies.
A humanidade ocupa cada vez mais espaço no Planeta e tem prejudicado de forma danosa todas as formas de vida ecossistêmicas da Terra. O ser humano está reincidindo cotidianamente nos crimes do especismo e do ecocídio. Se a dinâmica demográfica e econômica continuar sufocando a dinâmica biológica e ecológica a civilização caminhará para o abismo e o suicídio. Porém, antes de o antropoceno provocar uma extinção em massa da vida na Terra é preciso uma ação radical no sentido conter a ganância egoística, garantir a saúde do meio ambiente e a livre evolução da biodiversidade.
Referências:
PATTERSON, Ron. Of Fossil Fuels and Human Destiny, May 7, 2014
ATTENBOROUGH, David. Humans are plague on Earth. Telegraph, UK, 22/01/2013
Vanishing fauna. Science. Special Issue, 25 July 2014
MACIEL, Marina. Edward Wilson pede devolução de metade da Terra para os animais, Planeta Sustentável, 09/09/2014
HISS, Tony. Can the World Really Set Aside Half of the Planet for Wildlife? Smithsonian Magazine, 09/2014
Eradicating Ecocide
The Rewilding Institute Website
Rewilding the World: Dispatches from the Conservation Revolution