Organizações do MT lançam carta exigindo medidas urgentes de combate ao uso de agrotóxicos e garantias de uma vida saudável para a população
Mel Mendes/ Formad*
Na próxima quarta-feira, 3 de dezembro, data em que se celebra o Dia Internacional de Luta Contra os Agrotóxicos, o Brasil irá às ruas para exigir o fim da contaminação das pessoas, do solo e da água por agrotóxicos. Manifestantes vão denunciar os danos causados pelo modelo agrícola representado pela Bancada Ruralista e exigir mais estímulo à Agroecologia, uma alternativa à produção de alimentos saudáveis e com capacidade de garantir a segurança alimentar da população, através da agricultura familiar e camponesa. Os atos já estão confirmadas em 23 cidades, e mais pessoas estão se mobilizando a cada momento.
Em Cuiabá (MT) a mobilização acontecerá a partir das 16h00 em frente ao Shopping Pantanal. A concentração, com oficina de confecção de materiais, começa às 13h00 na sede do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). O Formad convida a todos para se unirem a essa luta, por alimentos sem veneno, por um ambiente livre de contaminações… pela vida!
Abaixo, a carta das organizações do Mato Grosso:
03 de Dezembro: Dia Internacional de Não Uso de Agrotóxicos
Por ocasião do dia 3 de dezembro, data em que se celebra o Dia Internacional do Não Uso dos Agrotóxicos, a Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida e as entidades abaixo assinadas, atendendo o clamor dos cidadãos e das cidadãs brasileiras que precisam de comida e água sem veneno, ambiente sem contaminação e vida sem doenças provocadas pelos agrotóxicos, exigem do governo do estado do Mato Grosso e de suas respectivas secretarias providências abaixo elencadas.
A empresa Union Carbide, posteriormente foi adquirida pela Dow Química que hoje é uma das seis gigantes do mercado mundial e brasileiro de venenos agrícolas e sementes transgênicas. Em 2011 teve um faturamento de U$ 60 bilhões[1].
Dentre os vários impactos da cadeia produtiva do agronegócio, os de maior relevância para a saúde e o ambiente são as poluições e intoxicações agudas e crônicas relacionadas aos agrotóxicos. Neste processo agroquímico dependente, os fazendeiros contaminam a lavoura, o produto, o ambiente, os trabalhadores rurais e a população do entorno com o objetivo de atingir o alvo denominado por eles, de “pragas” da lavoura (inseto, fungo ou erva daninha).
O Brasil é um dos maiores produtores de comodities, mas é também o maior consumidor mundial de agrotóxicos. Segundo dados do IBGE foram utilizados 1,05 bilhões de litros em suas lavouras em 2013. Dentre os estados brasileiros, Mato Grosso é o maior produtor de soja, milho, algodão, girassol e gado bovino. É também o maior consumidor de agrotóxicos.
Em 2013 se cultivou e se produziu neste Estado cerca de 7,9 milhões de hectares de soja; 3,3 milhões de milho; 600 mil de algodão; 400 mil de cana; 200 mil de arroz; 70 mil de girassol, 400 mil hectares de outros (feijão, mandioca, café, frutas e verduras) e 20 milhões de hectares de pastagem com 28 milhões de bovinos e se pulverizou nessas lavouras e pastagens, 150 milhões de litros de agrotóxicos, principalmente de herbicidas, inseticidas e fungicidas[2], que implica em vários determinantes, doenças e contaminações, assim resumidas:
- exposição ambiental, ocupacional e alimentar de 50 litros de agrotóxicos por habitante por ano;
- disseminação do veneno por avião e trator a menos de10 metros de fontes de água potável, córregos, de criação de animais e de residências. A Instrução Normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do governo brasileiro, MAPA 02/2008 proíbe pulverização aérea a 500 metros destes locais;
- contaminação com resíduos de vários tipos de agrotóxicos em centenas de poços de água potável, da chuva e do ar que respiramos[3];
- contaminação com resíduos de agrotóxicos em amostras de sangue e urina duas vezes maior em professores e trabalhadores rurais em relação aos que moram e atuam na zona urbana[4];
- contaminação com resíduos de agrotóxicos (DDE, Endosulfan, Deltametrina e DDT) de 100% das amostras de leite materno de 62 mães que deram à luz e amamentavam em Lucas do Rio Verde durante o ano[5];
- presença de resíduos de agrotóxicos em sedimentos de lagoas, semelhantes aos tipos de resíduos encontrados no sangue de sapos, sendo que a incidência de malformação congênita nestes animais foi quatro vezes maior do que na lagoa controle[6];
- aumento de gastos com saúde: para cada US$ 1 gasto na compra de agrotóxicos no Brasil, são gerados US$ 1,28 de custos externos com tratamento de saúde[7];
- acidentes de trabalho, intoxicações, cânceres, malformações e agravos respiratórios aumentaram entre 40% a 102% nos últimos 10 anos[8], sendo que as maiores incidências estão nas regiões de maior produção de soja, milho e algodão e que, consequentemente, usam mais venenos: Sinop, Tangará, Rondonópolis e Barra do Garças[8];
- a Vigilância em Saúde dos Trabalhadores e das Populações Expostas aos Agrotóxicos não está implantada nos Serviços de Saúde da maioria dos municípios. A vigilância se resume ao uso “correto” de agrotóxicos e recolhimento de embalagens vazias, sem questionar onde foi parar o seu conteúdo, o veneno.
O ritmo de produção imposto pelo agronegócio, somado às falhas no controle social e falhas na fiscalização pública, expõe a população do “interior” de Mato Grosso à contaminação por agrotóxicos e agravos à saúde, além de causar danos ambientais e a poluição da bacia do Amazonas, do Pantanal, do Araguaia e do aquífero Guarani.
Exigimos medidas urgentes:
- Cumprir a legislação federal (lei 7.802/89 e decreto 4.074/02) e estadual (lei 8.588/06), e revogar o Decreto Nº 1.651, de 11 de março de 2013, do Governo do Estado de Mato Grosso, visando restabelecer as distâncias mínimas de 300m para pulverização de agrotóxicos em relação a povoações, cidades, vilas, bairros, mananciais de água, moradias isoladas, agrupamentos de animais e nascentes (Decreto MT Nº 2.283/2009) e de 500m para pulverização aérea como recomenda o MAPA.
- Proibir o lançamento de agrotóxicos por aviões, de modo a proteger as populações, sua produção agrícola e os recursos hídricos vizinhos às áreas de monocultivos e de pastagem.
- Vedar o uso de agrotóxicos proibidos em outros países por causarem danos comprovados à saúde ou ao meio ambiente.
- Promover regulamentação e fiscalização rigorosa da venda e uso de agrotóxicos e sementes transgênicas, como medida para proteger os territórios da agricultura familiar que adotam o ciclo de transição para a produção agroecológica de alimentos.
- Implantar um sistema de monitoramento de resíduos de agrotóxicos em água potável, no ar, na chuva, sangue e urina de trabalhadores e moradores de áreas próximas a monoculturas, no leite materno em bancos de leite e nos alimentos.
- Promover estudos sobre a incidência de doenças vinculadas à exposição aos agrotóxicos, comparando os resultados obtidos nestas áreas com os de outras onde a monocultura não está presente.
- Prever indenização aos agricultores familiares por perda de produção causada pela utilização de agrotóxicos em áreas próximas, a ser cobrada dos responsáveis pela pulverização.
- Coibir práticas de intimidação à comunicação e registro de doenças causadas por agrotóxicos a trabalhadores e residentes na região, e de outras enfermidades decorrentes de exposição a riscos em locais de trabalho, sobretudo em áreas de monocultivos e frigoríficos. Exigir indenização às respectivas vítimas.
- Acabar com a isenção de impostos aos agrotóxicos e aos insumos químicos e os subsídios públicos a esses venenos;
- Implantar nos municípios a Vigilância à Saúde dos trabalhadores, do ambiente, dos expostos aos agrotóxicos e do Desenvolvimento local e regional;
- Implantar com urgência um serviço de registro e de notificações para as intoxicações agudas e crônicas.
- Exigir que o novo Governado e a nova Assembleia Legislativa de Mato Grosso defendam a saúde da população, a não contaminação dos nossos alimentos e a não poluição do nosso ambiente por agrotóxicos;
- Elaborar com a participação da sociedade civil organizada um Plano Estadual de Agroecologia;
- Garantir acesso aos consumidores de produtos não transgênicos e orgânicos disponibilizados pelas redes de supermercados;
- Proibir a capina química urbana atendendo orientação técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária de 15 de janeiro de 2010.
- Implantar em Cuiabá um centro de atendimento e um laboratório estadual de toxicologia para a saúde dos trabalhadores, poluições ambientais e populações expostas aos agrotóxicos.
Assinam este documento:
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida – Comitê/MT
Associação Matogrossense Divina Providência
Centro Burnier Fé e Justiça (CBFJ)
Centro de Direitos Humanos Dom Máximo Biennès (CDHDMB)
Centro de Estudos Bíblicos do Mato Grosso (CEBI-MT)
Centro de Referência em Direitos Humanos Cáceres/UNEMAT
Comissão Pastoral da Terra (CPT-MT)
Conselho Indigenista Missionário (CIMI-MT)
Comitê Popular do Rio Paraguai
Ecopantanal – Instituto de Ecologia e Populações Tradicionais do Pantanal
Escritório de Direitos Humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia
Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE)
Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (FORMAD)
Fundação Neotrópica do Brasil
Grupo de Intercâmbio em Agroecologia de Mato Grosso (GIAS)
Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA)
Grupo Raízes
Grupo Semente
Instituto Caracol (iC)
Instituto Centro de Vida (ICV)
Instituto Floresta de Pesquisa e Desenvolvimento Sustentável (IFPDS)
Instituto GAIA
Instituto Humana Raça Fêmina (INHURAFE)
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST)
Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NEAST/UFMT)
Operação Amazônia Nativa (OPAN)
Rede Mato-Grossense de Educação Ambiental (REMTEA)
Sindicato dos Trabalhadores de Ensino do Mato Grosso (SINTEP-MT)
Sociedade Fé e Vida
Associação Matogrossense Divina Providência
Centro Burnier Fé e Justiça (CBFJ)
Centro de Direitos Humanos Dom Máximo Biennès (CDHDMB)
Centro de Estudos Bíblicos do Mato Grosso (CEBI-MT)
Centro de Referência em Direitos Humanos Cáceres/UNEMAT
Comissão Pastoral da Terra (CPT-MT)
Conselho Indigenista Missionário (CIMI-MT)
Comitê Popular do Rio Paraguai
Ecopantanal – Instituto de Ecologia e Populações Tradicionais do Pantanal
Escritório de Direitos Humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia
Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE)
Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (FORMAD)
Fundação Neotrópica do Brasil
Grupo de Intercâmbio em Agroecologia de Mato Grosso (GIAS)
Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA)
Grupo Raízes
Grupo Semente
Instituto Caracol (iC)
Instituto Centro de Vida (ICV)
Instituto Floresta de Pesquisa e Desenvolvimento Sustentável (IFPDS)
Instituto GAIA
Instituto Humana Raça Fêmina (INHURAFE)
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST)
Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NEAST/UFMT)
Operação Amazônia Nativa (OPAN)
Rede Mato-Grossense de Educação Ambiental (REMTEA)
Sindicato dos Trabalhadores de Ensino do Mato Grosso (SINTEP-MT)
Sociedade Fé e Vida
* Com informações da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida No facebook: Mato Grosso contra os Agrotóxicos https://www.facebook.com/
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