Friday 5 December 2014

Painel debate pesquisa com resultados “deprimentes” sobre mudanças climáticas

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Painel debate pesquisa com resultados “deprimentes” sobre mudanças climáticas

Uma pesquisa divulgada no encontro anual da American Academy of Religion e da Society of Biblical Literature, ocorrido entre os dias 22 e 25 de novembro, revela que as pessoas religiosas não consideram as mudanças climáticas o problema mais importante que os EUA enfrentam atualmente e nem acreditam que serão pessoalmente prejudicadas por seus impactos. Elas, porém, consideram esta situação como uma crise que exige ação por parte do governo agora, e não mais tarde.
A reportagem é de Rosemary Johnston, publicada pela National Catholic Reporter, 02-12-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A pesquisa, realizada pelo Instituto de Pesquisas Públicas sobre Religião – PRRI (na sigla em inglês), em parceria com aAmerican Academy of Religion, envolveu entrevistas por telefone com mais de 3 mil pessoas.
O estudo dividiu os participantes em três categorias: os crentes, aqueles que creem que a Terra está aquecendo principalmente por causa da atividade humana; os simpatizantes, aqueles que creem que a temperatura global está aumentando, mas tributam este aumento a flutuações naturais ou a causas desconhecidas; e os céticos, aqueles que insistem em não existir provas sólidas de que a temperatura da Terra está subindo ao longo das últimas décadas.
Robert Jones, chefe executivo do PRRI, disse, durante um debate no painel sobre os resultados no encontro anual, que menos da metade dos pesquisados (46%) podem ser identificados como crentes, enquanto que os outros se dividem entre simpatizantes (25%) e céticos (26%).
“Cerca da metade daqueles que não acreditam nas mudanças climáticas tiveram uma atitude baseada na observação pessoal das mudanças no clima ao redor deles”, disse Jones.
Houve diferenças significativas na atitude baseada nas afiliações partidárias e, até certo ponto, nas identidades religiosas e étnicas. Quase dois terços dos democratas creem nas mudanças climáticas, enquanto que menos de 22% dosrepublicanos poderiam ser identificados como crentes. Cerca da metade dos republicanos pesquisados foram considerados céticos, enquanto que só 13% dos democratas pesquisados entraram nesta categoria.
Os evangélicos brancos são mais propensos do que qualquer outro grupo religioso a se mostrarem céticos para com as mudanças climáticas, revelou a pesquisa. 73% dos católicos hispânicos estão bastante preocupados com as mudanças no clima, comparados com os 41% dos católicos brancos. E entre os protestantes negros e protestantes brancos históricos, 58% dos protestantes negros estavam muito preocupados ou um pouco preocupados, enquanto que 43% dos protestantes brancos históricos expressaram o mesmo nível de preocupação.
Os hispânicos (41%) e os americanos negros (36%) estão, pelos menos, duas vezes mais propensos do que osamericanos brancos (18%) a antecipar que eles serão pessoalmente prejudicados com as mudanças climáticas. Houve um maior consenso sobre o fato de que as pessoas que vivem nos países em desenvolvimento sofreriam um maior impacto.
Num painel composto por quatro acadêmicos relacionados às áreas da religião, ética e teologia do meio ambiente, David Gushee, professor de ética cristã na Mercer University e vice-presidente do PRRI, chamou os resultados da pesquisa de “deprimentes”.
“Está claro que o nosso objetivo deve ser fazer deste problema uma questão menos partidária e transformar os simpatizantes em crentes”, disse. “Acho que os resultados da pesquisa também mostram provas de uma desconfiança substancial entre a religião e a ciência, especialmente quando a ciência entra em conflito com a fé e a autoridade bíblica”.
Quando questionado a respeito do conflito entre fé e ciência, os membros dos grupos religiosos, exceto os protestantes brancos históricos, acreditam que a ciência e a religião estão, frequentemente, em conflito.
Enquanto a maioria dos pesquisados acreditam que as mudanças no clima resultaram num aumento dos desastres naturais nos últimos anos, houve também um aumento entre os que atribuem os recentes desastres naturais como sendo sinais do “fim dos tempos” bíblico, em particular entre os evangélicos brancos (77%) e protestantes negros (75%).
“Claro, temos muito trabalho a fazer”, disse Gushee said. “O fato de que 39% dos participantes na pesquisa não acreditam que Deus permitir-nos-ia destruir a Terra revela uma desvalorização da responsabilidade humana. Isso é simplesmente uma má teologia bíblica”.
Willis Jenkins, professor de estudos religiosos e ética na University of Virginia, observou que as mudanças climáticas são um “problema perverso que não tem um conjunto óbvio de soluções. Precisamos olhar para os dizeres representados nas lacunas das respostas entre os participantes de diferentes etnias e observar como os valores culturais podem modelar a percepção deste risco”.
Laurel Kearns, professora associada de sociologia e religião e estudos ambientais na Drew Theological School, falou que os resultados da pesquisa revelam que os pobres e pessoas de cor serão os mais impactados.
“Olhemos para o impacto do Furacão Katrina e do Furacão Sandy em nosso próprio país [EUA]”, disse, Kearns. Ao observar que a maioria dos americanos que participam, dos serviços religiosos, uma ou duas vezes ao mês ouvem pouco por parte de seu sacerdote a respeito do problema das mudanças climáticas, “poder ouvir sobre o assunto faz a diferença”, acrescentou.
A pesquisa revelou que os participantes que mostraram mais preocupação sobre as mudanças do clima estão mais propensos a crerem na mudança climática. Mais de 6 em cada 10 participantes disseram que o seu líder religioso raramente ou nunca fala sobre as mudanças climáticas.
Laurie Zoloth, presidente da American Academy of Religion e professora de estudos judaicos e ética social naNorthwestern University, chamou as mudanças climáticas de “o problema moral central” de nossa época.
“Trata-se da maior questão coletiva que a humanidade já enfrentou”, disse. “Ninguém ficará livre dela”. É deprimente, acrescentou Zoloth, que as pessoas pensem que Deus iria intervir para evitar a destruição do planeta, quando Deus não interviu para evitar o holocausto.
“É encorajador que as pessoas compreendam que este problema irá afetar os pobres principalmente, e que há um desejo entre as pessoas ao sacrifício”, disse Zoloth. “Penso que precisamos perguntar como estes resultados irão transformar o nosso ensino”.

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