Tuesday, 9 June 2015

Escassez hídrica e empobrecimento: fruto da expansão da indústria florestal

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Meio ambiente
08.06.2015
Chile ]
Escassez hídrica e empobrecimento: fruto da expansão da indústria florestal

Marcela Belchior
Adital
Dentre as principais causas da baixa disponibilidade de água para consumo humano nas áreas rurais do Chile está a expansão na indústria florestal. Além de contribuir, diretamente, para a escassez dos recursos hídricos em várias regiões chilenas e para o empobrecimento da população, as empresas e instituições públicas ligadas a esta atividade econômica ainda fraudam informações oficiais, na tentativa de negarem sua vinculação aos danos sociais e ambientais.

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Danos causados pela indústria florestal são ambientais e sociais. Foto: Reprodução. 

O problema é discutido no informe "Água para quem? Escassez hídrica e plantações florestais na Província de Arauco”, produzido pela pesquisadora espanhola Marien González-Hidalgo. Ela trabalhou entre agosto e outubro de 2014 em colaboração com a campanha "Água que há de beber” [Agua que has de beber] e a organização não governamental Engenheiros Florestais pelo Bosque Nativo [Ingenieros Forestales por el Bosque Nativo]. Em entrevista ao portal de informação chileno Resumen, Marien detalha a questão.
Segundo ela, os órgãos públicos da região de Bío-Bío, onde se localiza a Província de Arauco, disponibiliza informações apenas sobre os pontos de captação de água, deixando população e especialistas sem saberem a procedência da água e a quantidade disponível desse recurso. "Isso é grave, já que evidencia que o modelo econômico baseado na extração florestal, que predomina em Bío-Bío, se definiu e define dando as costas para as características e informação do território”, alerta Marien.
"Portanto, a ordenação territorial se baseia, unicamente, nas margens dos benefícios que podem ter o Estado ou os capitais privados, mas sem conhecer, entre outras coisas, se as características ecológicas do território podem sustentá-los”, acrescenta a pesquisadora.
Outro dado grave seria o mal uso de dados pluviométricos por parte de representantes governamentais. De acordo com Marien, dados científicos ou ambientais são utilizados com interesses específicos de certos setores e pessoas, sustentando argumentos para a implementação de novas políticas na região.
"Especialmente, em contextos rurais, os dados empíricos que estejam assinados por engenheiros, licenciados etc. (...) costumam dar uma legitimidade em nível local que é difícil de contestar”, explica. "Os dados apoiavam o discurso geral que se pretende [dar] a partir da institucionalidade pública e privada no sul do Chile: a mensagem que se quer dar é ‘se falta água aqui, a culpa é da mudança climática, nós não temos nada a ver’”, aponta a pesquisadora.

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Pesquisadora Marien González-Hidalgo é autora do informe. Foto: Reprodução.

Por conta do avanço das grandes indústrias extrativistas e da interferência nos ciclos ambientais, a pesquisadora relata que muitas famílias e comunidades camponesas e indígenas, nessa região chilena, são, não raras vezes, forçadas a venderem suas terras de forma direta ou indireta.
"A propriedade florestal no Chile está altamente concentrada em grandes e médios proprietários. A maioria do trabalho é subcontratada e temporária. As comunidades (...) veem comprometido o acesso à água, a produtos florestais não madeireiros, a espaços de relevância espiritual, ritual e territorial; como denunciam várias comunidades mapuche”, conta. "Basta visitar o território e escutar quem os habita para ver que o extrativismo florestal está criando pobreza para muitos e muitas no Chile”, assevera Marien.
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Marcela Belchior

É jornalista da Adital. Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), estuda as relações culturais na América Latina.
E-mail:
marcela@adital.com.br

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