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A
utilização dos muros para comunicação e registro já vem desde a
pré-história e, no espaço urbano, se consolida como um meio de expressão
comum à cultura hip-hop. Em Cuiabá, são preenchidos com
grafites e intervenções artísticas que retratam indignações, episódios
históricos e enchem os olhos e a cidade de cor.
Nas principais avenidas e Centro Histórico, os desenhos chamam atenção pela criatividade, localização e significado. Alguns são resultado de ocupações políticas e culturais da cidade e até resultam em políticas públicas.
Na
avenida Tenente Coronel Duarte, antiga Prainha, uma das artes mais
famosas entre os cuiabanos chama atenção pela localização e
criatividade. Ela divide a subida e a descida da Avenida Coronel
Escolástico e dialoga com a arquitetura de uma casa abandonada, onde
tijolinhos expostos ganham cor.
“É a princesinha do rio, uma personagem que eu criei e deu vida para essa casa”, explica Rafael Jonnier, autor da obra. O artista se destaca nas ruas da cidade por suas criações adaptadas e integradas ao espaço. “Eu estava procurando lugar para pintar, e eu sempre tive atração por espaços abandonados e a intenção de usar meu dom para ajudar visualmente aquele lugar”.
A casa já virou ponto turístico na cidade e abriu muitas portas para Rafael. “Foi onde eu comecei e ela abriu muito o mercado da arte para mim”, afirma.
Ao
lado dela, nos escombros do local conhecido como “Ilha da Banana”, o
grafite de Jean Siqueira problematiza a recente demolição da estrutura
que abrigava dezenas de moradores de rua da região. Ela reflete um
questionamento do artista comum à grande parte da população:
“Demoliram um espaço gigantesco, poderiam ter feito qualquer coisa, é um lugar que poderia ser melhor reaproveitado”, explica Jean. “E não adiantou nada tirar a galera de lá, ficaram ainda mais expostas e agora estão no morando no Morro da Luz”, completa.
Ainda
em frente a Ilha da Banana, a arte de Babu 78 relembra uma história que
marcou o Centro Histórico da cidade. Na região conhecida como “Beco do
Candeeiro”, onde está localizada, três adolescentes de 13, 15 e 16 anos
foram assassinados a tiros por um policial militar, em julho de 1998.
Em
frente à escultura feita em homenagem às vítimas da chacina, na esquina
da Prainha com a Voluntários da Pátria, o grafiteiro denuncia a
marginalização da juventude no local, que é ocupado pelo uso de drogas.
Ao
lado, outro beco transforma-se em registro de mais um evento na cidade,
prestes a ser apagada. O muro da travessa ao lado do Instituto de
Patrimônio Histórico e Cultural (Iphan) é resultado de uma ação coletiva
dos artistas Jean Siqueira, André Gorayeb, Morto e Keko, durante a
ocupação cultural e política em 2016.
Na
ocasião, todas as capitais brasileiras tiveram sua sede do Ministério
da Cultura (MinC) ocupadas por artistas e intelectuais, como reação ao
projeto de extinção da pasta – um dos primeiros atos da gestão do então
interino Michel Temer, que recuou após as reivindicações.
Uma pichação realizada na mesma ocasião, do outro
lado da rua, reflete o propósito do episódio e ganha ainda mais
simbologia somada à colagem da imagem de dona Alice, cuiabana que
reflete a resistência da tradição ribeirinha através da linguagem
cosmopolita e moderna da arte “lambe-lambe”.
Na imensidão
cinza da trincheira Jurumirim, na Avenida Miguel Sutil, alguns metros
de grafite dão cor ao trecho próximo ao viaduto que cruza a Avenida do
CPA. As intervenções também são frutos de uma ocupação artística;
organizada por Siqueira que pintou um grande menino no local. “Coloquei a
mão com a flor e a algema porque uma semana antes a galera tinha sido
presa por grafitar”, explica.
O
episódio reuniu jovens e artistas no local com alguns momentos de
tensão, mas gerou repercussão positiva. “Eu lembro de ir com medo de
estar sozinho e, quando eu cheguei lá, tinha muita gente, uma galera
nova e grafiteiro das antigas, deu até nó na garganta”, lembra.
Na
ocasião, a reação foi elogiada pelo Governo do Estado nas redes
sociais. “Depois desse dia surgiram outros diálogos com as secretarias,
mas no fim a gente só foi visto, porque na prática não deu em muita
coisa”, conta Jean.
O
episódio ainda teve como consequência um edital inédito, o “Prêmio
Grafite MT”, lançado pela Secretaria do Estado de Cultura no mesmo ano.
Entre cinco projetos contemplados, o “Cuiabá Lúdico” e o “Minha pele, sua roupa”, do casal Mário Henrique Neves e Deborah Rocha Neves, coloriram o muro do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), local que enche os olhos de quem passa pela Marechal Deodoro.
Próximo
ao local, na Rua Odorico Tocantins, esquina com a mesma avenida,
janelas ganham olhos e mais uma casa ganha rosto pelas tintas de Rafael
Jonnier. Ele conta que quando passou na rua pela primeira vez, a vontade
de intervir foi instintiva. “Hoje eu falo que não sou eu que escolho os
muros e as casas que eu vou pintar, são elas que me escolhem”.
O desenho ao lado da janela é mais uma criação de Rafael que caracteriza sua arte. Ela mistura elementos regionais com um universo mágico. “Esse é o pescador de sonhos, minha arte hoje é baseada no mundo lúdico desses dois personagens”, explica.
Arte na rua: o que os muros contam sobre Cuiabá
Nas principais avenidas e Centro Histórico, os desenhos chamam atenção pela criatividade, localização e significado. Alguns são resultado de ocupações políticas e culturais da cidade e até resultam em políticas públicas.
Ednilson Aguiar/Olivre
Os desenhos nos muros se aperfeiçoam e incorporam a arquitetura, dando vida a espaços abandonados
“É a princesinha do rio, uma personagem que eu criei e deu vida para essa casa”, explica Rafael Jonnier, autor da obra. O artista se destaca nas ruas da cidade por suas criações adaptadas e integradas ao espaço. “Eu estava procurando lugar para pintar, e eu sempre tive atração por espaços abandonados e a intenção de usar meu dom para ajudar visualmente aquele lugar”.
A casa já virou ponto turístico na cidade e abriu muitas portas para Rafael. “Foi onde eu comecei e ela abriu muito o mercado da arte para mim”, afirma.
Ednilson Aguiar/Olivre
11 dos 15 imóveis instalados na “Ilha da Banana” foram demolidos para a passagem do VLT
“Demoliram um espaço gigantesco, poderiam ter feito qualquer coisa, é um lugar que poderia ser melhor reaproveitado”, explica Jean. “E não adiantou nada tirar a galera de lá, ficaram ainda mais expostas e agora estão no morando no Morro da Luz”, completa.
Ednilson Aguiar/Olivre
A arte de Babu choca quem vem se locomove sentido CPA/Centro
Ednilson Aguiar/Olivre
Grafiteiros e coletivos como o “Psicanálise na rua” também realizam atividades e intervenções como forma de levar arte ao local
Ednilson Aguiar/Olivre
O muro do Iphan é o exemplo da arte de rua como registro passível às intervenções do tempo
Ocupa MinC MT
Ocupa Minc MT
A
manifestação deu vida ao beco com atos culturais e shows que reuniram
grandes nomes da música mato-grossense, bandas e artistas jovens e
veteranos
Ednilson Aguiar/Olivre
A
intervenção é do artista Maurício Pokemon, natural do Piauí, que esteve
em Cuiabá com o projeto “Existências” e espalhou pela cidade, em
tamanho real, personagens da cultura ribeirinha
Ednilson Aguiar/Olivre
A manifestação contou com a presença de veteranos como Adir Sodré e Clóvis Irigaray
Ednilson Aguiar/Olivre
Arte de André Gorayeb, o GORÁ, um dos jovens grafiteiros que manifestou sua arte durante a ocupação
Ednilson Aguiar/Olivre
“Minha pele, sua roupa” de Deborah Rocha Neves
Entre cinco projetos contemplados, o “Cuiabá Lúdico” e o “Minha pele, sua roupa”, do casal Mário Henrique Neves e Deborah Rocha Neves, coloriram o muro do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), local que enche os olhos de quem passa pela Marechal Deodoro.
Ednilson Aguiar/Olivre
“Cuiabá Lúdico” de Mário Henrique Neves
O desenho ao lado da janela é mais uma criação de Rafael que caracteriza sua arte. Ela mistura elementos regionais com um universo mágico. “Esse é o pescador de sonhos, minha arte hoje é baseada no mundo lúdico desses dois personagens”, explica.
Ednilson Aguiar/Olivre
Espaços abandonados se transformam através da criatividade do grafiteiro
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