Madagascar
poderá ter situação de fome por mudança climática
Redação
25/10/2021 às
03:35 | Atualizado 25/10/2021 às 03:57
6 min de leitura
Foto: iStock
Mais de 1 milhão de pessoas no sul do Madagascar estão batalhando para
conseguir o suficiente para comer. O país africano poderá ter a
primeira situação de fome causada pela mudança climática, de acordo com o
Programa Mundial de Alimentos, PMA.
O Madagascar é a quarta maior ilha do mundo e tem
um ecossistema único, com plantas e animais que não são encontrados em mais
nenhuma outra parte do planeta. Geralmente, a temporada de secas vai de maio a
outubro, e a de chuvas começa em novembro.
Rotina interrompida
Mas a mudança climática vem alterando este ciclo,
afetando pequenos agricultores e seus vizinhos. Quem confirma é a porta-voz do
PMA na capital do país, Antananarivo.
Alice Rahmoun foi entrevistada pela ONU News e
declarou:
“É claro que há menos chuva, então quando acontecem
as primeiras chuvas, eles ficam com esperança e plantam algumas sementes. Mas
um pouquinho de chuva não é uma temporada de chuvas apropriada.”
Segundo a representante do PMA, é possível afirmar
que “os impactos da mudança climática são cada vez mais fortes. As
colheitas falham constantemente, e as pessoas não têm o que colher
nem nada para renovar seus estoques de alimentos.”
Impactos que
variam
Alice Rahmoun esteve recentemente em Madagascar, onde PMA e parceiros estão
apoiando centenas de milhares de pessoas. Ela explica que o impacto da seca
varia de lugar para lugar. Enquanto algumas comunidades
não tem uma temporada apropriada de chuvas há 3 anos, a situação é bem pior em
zonas a 100 km de distância.
A especialista lembra de ter visto vilarejos com
campos completamente secos e tomateiros “totalmente amarelados ou até mesmo
marrons” devido à falta de água.
Sobrevivendo à base de gafanhotos
“Em algumas áreas as pessoas até conseguem plantar
alguma coisa, mas não é nada fácil, então estão tentando plantar batata doce.
Mas em outras regiões, absolutamente nada está crescendo agora, então as
pessoas estão comendo gafanhotos para sobreviver, comendo
frutas e folhas de cactos”, afirma Rahmoun.
A representante do PMA explica que as folhas de
cacto geralmente servem para o gado e não são para consumo humano. A situação é
ainda pior porque segundo ela, “até os cactos estão morrendo com a seca”.
Famílias não estão
aguentando
O peso desta situação para as famílias é muito perturbador. Alice Rahmoun
declara que “as pessoas já começaram a desenvolver mecanismos para sobreviver.
Estão vendendo o próprio gado para ter dinheiro para comprar comida, sendo que
deveriam poder obter comida da sua própria produção agrícola.
Terrenos e até casas estão sendo vendidas. Há
famílias que tiraram seus filhos das escolas, numa “estratégia para conseguir
atividades rentáveis onde as crianças possam estar envolvidas”, explica a
especialista do PMA.
Fornecimento de assistência
vital
O PMA está colaborando com parceiros humanitários e com o governo do Madagascar
para fornecer dois tipos de resposta à crise. Cerca de 700 mil pessoas estão
recebendo ajuda alimentar, incluindo suplementos para prevenir a
desnutrição.
“A segunda resposta é mais de longo prazo, com o
objetivo de permitir que as comunidades estejam bem preparadas para responder aos choques climáticos”, afirma
Rahmoun.
O PMA auxilia com canais de irrigação,
reflorestamento e pequenos seguros para ajudar os agricultores quando perdem
uma colheita, por exemplo.
A agência da ONU também espera apoiar 1 milhão de
pessoas até abril e para isso, busca US$ 70 milhões para financiar suas
operações.
“Estamos também envolvendo mais parceiros para
encontrar e financiar soluções para que as comunidades se adaptem aos desafios
causados pela mudança climática.”
COP-26: Priorizar a
adaptação
Daqui a uma semana, os líderes mundiais estarão reunidos em Glasgow, na
Escócia, para a COP-26, a Conferência da ONU sobre Mudança Climática.
Segundo o secretário-geral António Guterres, esta poderá ser a última
chance de “mudar a corrente” para alinhar o planeta.
A representante do PMA explica que a agência
pretende usar a conferência para mudar o foco de resposta à crise para gestão
de riscos. Segundo Alice Rahmoun, os países precisam estar preparados para os
choques climáticos, e devem agir em conjunto para reduzir os impactos severos às pessoas mais vulneráveis,
incluindo os moradores do sul de Madagáscar.
“A COP-26 é uma oportunidade de pedir aos governos e
aos doadores para priorizarem o financiamento relacionado a programas de
adaptação climática, e para ajudar os países a controlarem melhor os riscos,
até mesmo em Madagascar, pois se nada for feito, a fome aumentará de forma
exponencial nos próximos anos devido à mudança climática. E não apenas em
Madagascar, mas em outros países”, afirma Alice Rahmoun.
Fonte: ONU News
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