Pesquisadores do Brasil, Argentina, Bolívia e Paraguai mapeiam problemas e apontam caminhos para preservação
Cláudio Motta*
A exuberância dos rios do Pantanal, sobretudo na época da cheia, esconde a fragilidade de suas nascentes. O estudo "Análise de Risco Ecológico da Bacia do Rio Paraguai", divulgado hoje, Dia Mundial das Áreas Úmidas, pela ONG WWF, mapeou as áreas de maior vulnerabilidade de toda a bacia hidrográfica do Rio Paraguai, que se espraia por 1,2 milhão de quilômetros, abarcando a maior planície inundável do planeta.
Esta imensa região, na qual vivem oito milhões de pessoas e 30 milhões de cabeças de gado, que, além de conter o Pantanal, abrange toda a diversidade da Cordilheira dos Andes, do semiárido paraguaio e do Cerrado, tem metade de seus corpos hídricos sob risco médio ou alto. As áreas mais frágeis respondem por 14% do total.
Depois de cruzar dados geográficos, hídricos, ecológicos e econômicos, os pesquisadores criaram um ranking com os 13 principais problemas desta grande região: hidrelétricas, população, agricultura, desmatamento, hidrovias, rodovias, mineração, fogo, pecuária, barramentos, portos, pontes e gasodutos.
O trabalho levou três anos para ser concluído, mobilizando mais de 30 instituições e 200 especialistas do Brasil, da Argentina, da Bolívia e do Paraguai.
Além de apontar os problemas da região, os pesquisadores fazem recomendações.
Elas destacam a importância de que as cabeceiras dos rios sejam protegidas.
Para isto, será necessário criar novas unidades de conservação.
Hoje, apenas 11% da bacia têm algum dispositivo de preservação e somente 5% estão sob proteção integral.
E, pior, estas áreas não coincidem com as nascentes.
Além disso, os pesquisadores alegam que é necessário melhorar as práticas da agricultura, ainda muito dependente dos agrotóxicos, que acabam contaminando os mananciais.
O estudo também recomenda o desenvolvimento hidrelétrico sustentável.
No Pantanal, o trecho mais vulnerável fica no planalto, onde estão as nascentes da água que escorre para a planície.
Uma das maiores preocupações é que toda a ecologia pantaneira, que depende das variações entre os períodos de cheia e seca, além dos nutrientes trazidos pelos rios, possa entrar em colapso. O chamado pulso sazonal de inundação pode ser afetado pelas barragens das hidrelétricas. Esta crítica é contundente porque, até então, a energia das usinas, que corresponde a 70% da matriz brasileira, tem sido considerada uma forma limpa.
— Podemos concluir que a maior planície inundável do planeta está em risco crescente.
Se as medidas de proteção não forem tomadas, o Pantanal correrá sério risco nas próximas décadas — alertou Glauco Kimura, coordenador interino do Programa Água para a Vida do WWF-Brasil.
De acordo com os pesquisadores, todos os rios da região, menos o Negro, são alvo de projetos de usinas de pequeno porte.
— As represas interrompem a conexão dos rios, diminuem a quantidade de nutrientes na planície e atrasam ou avançam os períodos de seca e cheia — afirmou Albano Henrique de Araújo, coordenador da Estratégia de Água Doce da The Nature Conservancy.
Considerado um retrato da situação do Pantanal hoje, o estudo traz as informações básicas para novos trabalhos científicos.
O próximo passo será a criação de cenários de mudanças no clima causadas pelo aquecimento global e analisar como o ecossistema pantaneiro deverá reagir.
CLÁUDIO MOTTA viajou à convite da WWF-Brasil
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