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O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles; sem dúvida o pior titular da pasta na curta história do Ministério (Foto: Ueslei Marcelino)
Caiu o ministro Ricardo Salles, o controverso titular do Ministério do Meio Ambiente. E isso vem na sequência das espetaculares quedas de Ernesto Araújo e Eduardo Pazuello, em março deste ano, e Abraham Weintraub, em junho do ano passado, todos personagens políticos dos mais discutíveis. Em comum, uma inevitável pecha. Salles é, sem favor algum, o pior titular da pasta do Meio Ambiente na curta história do Ministério, assim como Araújo, Pazuello e Weintraub estarão certamente registrados como os piores ministros a assumir as Relações Exteriores, a Saúde e a Educação, desde sempre e em qualquer regime de governo. Ser o pior, no julgamento comum, demonstra ser condição essencial para servir o país no primeiro escalão do governo Bolsonaro.
Nenhum deles caiu como resultado da adoção das políticas públicas que chocaram o país e a opinião pública mundial. Nem por se terem tornado os inimigos mais mortais dos objetivos naturais das suas pastas: Salles contra o ambiente, Pazuello contra a saúde, Araújo contra a diplomacia, Weintraub versus a educação. Tampouco por serem ineptos, incompetentes, despreparados – seja para os desafios do cargo seja para lidar com jornalistas, opinião pública, “stakeholders”, os recursos humanos dos seus respetivos ministérios e, por fim, com a Lei -, coisa que certamente foram.
Aliás, qualquer item da enorme lista de malfeitos, obrigações não cumpridas, desastres patrocinados, desrespeito às leis, declarações inaceitáveis e destruições promovidas por esses ministros teria sido suficiente, em condições políticas saudáveis, para a sua demissão sumária. No governo Bolsonaro, não, pois nada fizeram os ministros que não faça também, quotidianamente, o chefe deles. Antes, o que é evidente, é que esses ministros são a materialização da mente, das crenças e da visão de mundo do patrão. Bolsonaro é Salles, e Salles é Bolsonaro.
Tanto é assim que ninguém mais tem as expectativas que seria normal ter, em qualquer outro governo, de que uma vez demitido um ministro as coisas pudessem progredir na sua pasta, com melhor gestão, comportamento mais republicano, maior eficiência ou correção de políticas públicas equivocadas.
Não, quando cai o ministro
Ruim a pergunta de todos é:
quem será o ministro Ainda
Pior que assumirá o seu lugar?
E já foram tantos a cair neste Governo dos Piores que conhecemos o padrão: o ministro que entra estará ainda mais sob o cabresto dos bolsonaros. Sai um entusiasmado militante da crença bolsonarista, que serve voluntária e cegamente à Causa, e assume um boneco de ventríloquo, cuja voz e alma é dada por quem lhe sopra as palavras.
A opinião pública não consegue forçar a adoção de filtros mais qualificados na escolha e manutenção do primeiro escalão deste governo. Nem mesmo a opinião internacional. Afinal, a opinião pública e o jornalismo se movem por valores republicanos, mas não há contratações e demissões baseadas em razões republicanas no governo Bolsonaro, vez que o republicanismo e o bolsonarismo jamais se encontraram e não se conhecem sequer de ouvir falar.
Pressões e demandas de investidores internacionais, organismos multilaterais, organizações e governos, como vimos no caso de Salles, tampouco são capazes de produzir qualquer mudança na retranca ideológica do Ministério de Bolsonaro, não importam os danos em imagem e reputação do país ou mesmo as enormes perdas financeiras e humanas. Notadamente, Salles, com a perda do Fundo Amazônia; Pazuello, com as vacinas não compradas; e Araújo, com a provocação da fúria da China, deram gigantesco prejuízo ao país, mas não foi isso que os derrubou.
O que derruba, então, um ministro deste governo?
O medo da cadeia. Ou, dito de outro modo, só caem por medo de que as poucas instituições do Estado que Bolsonaro (ainda) não conseguiu colonizar levem um deles ao cárcere. No caso de Salles, avançam as investigações contra ele por indícios de corrupção, advocacia administrativa e prevaricação, além de uma acusação de obstruir inquéritos sobre esquemas de desmatamento na Amazônia e facilitar contrabando de madeira brasileira. Nada mal para um ministro do Meio Ambiente, não é?
Mas o fator decisivo foram as últimas ofensivas que vieram do STF, particularmente do temível Alexandre de Moraes, o Terror do Palácio do Planalto, que está na iminência de obter as mensagens e ligações do celular de Salles, o ministro que mandou a boiada passar. E os segredos financeiros que serão revelados pela quebra do sigilo bancário da mãe do agora ex-ministro.
Com Pazuello, o do desmaio, e Weintraub, o fanfarrão que escapou do país em desabalada carreira no cair da noite, deu-se exatamente o mesmo.
Virtudes republicanas, portanto, não movem as peças no governo Bolsonaro. Em compensação, o bafo do STF e das CPIs no cangote dos valentões vai derrubando um a um os homens de ferro do governo. E, por enquanto, as instituições que ainda funcionam têm sido o único osso duro de roer em que o bolsonarismo, eventualmente, quebra alguns dentes.
Wilson Gomes é doutor em Filosofia, professor titular da Faculdade de Comunicação da UFBA e autor de A democracia no mundo digital: história, problemas e temas (Edições Sesc SP)
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