Não há muitas novidades em relação ao que é orientado há anos, mas a forma mais detalhada como o relatório levanta soluções e quantifica benefícios merece destaque. Cada um dos cinco caminhos ilustrativos focados na mitigação tem uma abordagem um pouco diferente para reduzir emissões, uso de energia e produção de energia: uns mais e outros menos focados na eliminação de combustíveis fósseis e na maior penetração de energias renováveis, o que implica diferentes visões sobre o potencial de tecnologias de emissão negativa e da captura, armazenamento e uso de CO2 no futuro próximo ou distante. De um modo geral, as estratégias setoriais são as seguintes:
Um setor energético neutro em carbono, por exemplo, deve combinar: uso limitado de combustíveis fósseis; eletrificação generalizada com sistemas elétricos de emissões líquidas zero ou negativas de carbono; medidas de eficiência energética; e maior integração de sistemas. Tecnologias de baixo carbono precisarão fornecer quase toda eletricidade mundial até 2050 para limitar o aquecimento a níveis seguros, em comparação com os menos de 40% de hoje. Ao mesmo tempo, a proporção de eletricidade no consumo de energia final precisa aumentar para 30-60% até 2050, em comparação com cerca de 20% atualmente.
Redução de emissões na indústria envolve ações coordenadas em todas as cadeias de valor para promover: gestão da demanda, eficiência energética e de materiais, bem como economia circular. A produção de aço, cimento e plástico responde por 60-70% das emissões industriais de GEE. O progresso em direção a emissões líquidas zero exige a adoção de novos processos primários usando eletricidade, combustíveis, hidrogênio e matérias-primas de baixo ou zero carbono, empregando tecnologias de captura e armazenamento de dióxido de carbono (CCS, na sigla em inglês para as emissões residuais.
A crescente concentração de pessoas e atividades em áreas urbanas cria oportunidades para aumentar a eficiência dos recursos e descarbonizar em escala. As cidades podem alcançar reduções significativas de emissões por meio da transformação sistêmica do ambiente urbano, relacionado a infraestrutura, sistemas de energia e cadeias logísticas. Medidas de suficiência no desenho e tamanho de construções, aumentar a vida útil de edifícios e seus componentes e utilizar materiais de base biológica/madeira e soluções baseadas na natureza são oportunidades para reduzir emissões e armazenamento temporário de carbono. Através da geração distribuída (solar e eólica), as construções podem passar de um papel passivo para um ativo, gerando energia descarbonizada que pode contribuir para a flexibilidade do sistema energético. O planejamento espacial integrado para alcançar um crescimento compacto e eficiente em termos de recursos poderia reduzir o uso de energia em 23-26% em cidades na metade do século.
Uma combinação de opções de mitigação pelo lado dos consumidores (demanda) com tecnologias de baixo carbono pode resultar em profundas reduções de emissões no setor de transporte. A maioria das reduções de emissões de GEE até 2050 no setor de transporte deve vir da eletrificação de veículos leves (veículos elétricos), os quais oferecem o maior potencial para redução de emissões no setor. Alternativas à mobilidade convencional (baseada em combustíveis fósseis) se devem principalmente ao avanço da tecnologia de baterias. Hidrogênio e biocombustíveis avançados apresentam grande potencial no transporte marítimo e na aviação. Políticas focadas na redução da demanda podem apoiar a mudança para modos de transporte mais eficientes.
Opções relacionadas às atividades agricultura, floresta e uso do solo fornecem reduções e remoções de emissões em larga escala que beneficiam simultaneamente a biodiversidade, a segurança alimentar e outros serviços ecossistêmicos. As opções com cobenefícios substanciais incluem a proteção e restauração de ecossistemas naturais, reflorestamento, intensificação sustentável da agricultura e silvicultura, sequestro de carbono na agricultura, redução do desperdício de alimentos e mudanças na dieta. Produtos agrícolas e florestais podem também substituir combustíveis fósseis e materiais intensivos em emissões em todos os setores. Entretanto, a implementação dessas opções é desafiadora devido à natureza descentralizada e diferentes valores associados à posse e gestão da terra, com milhões de proprietários sob diversas circunstâncias culturais, econômicas e políticas.
Tendo em vista a emergência climática e objetivos voltados para alcançar emissões líquidas zero, entende-se que não há mais tempo hábil para viabilizar avanços em determinadas setores ou atividades, de modo que é possível e inevitável compensar emissões residuais difíceis de abater através das denominadas estratégias de remoção de dióxido de carbono (CDR, na sigla em inglês). A escala e o momento da implantação dependerão das trajetórias de reduções de emissões nos diferentes setores, mas cabe ressaltar que ainda há restrições de viabilidade e sustentabilidade, especialmente em grandes escalas.
Por fim, vale destacar que aquelas opções de mitigação que custam US$ 100 por tonelada de CO2 equivalente ou menos podem reduzir as emissões globais de GEE em pelo menos metade do nível atual até 2030 (Figura 3). Ainda, o PIB global deve continuar a crescer se levarmos em conta os benefícios econômicos da implementação de estratégias de mitigação. O benefício econômico global de limitar o aquecimento abaixo de 2°C, por exemplo, excede o custo da mitigação na maior parte da literatura/modelos avaliados.
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