fonte: OPAN
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INDÍGENAS DISCUTEM ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS DO CLIMA
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INDÍGENAS DISCUTEM ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS DO CLIMA
23/08/2011 Cuiabá, MT -
Durante oficina para elaboração de caderno sobre Avaliação Ecossistêmica do Milênio, diversos povos demonstraram que as respostas estão numa gestão séria dos territórios indígenas e de seu entorno. |
“Nós estamos ilhados. Semana passada bateu uma ventania como eu nunca tinha visto e deixou a nossa terra vermelha. O agrotóxico das lavouras que nos cercam entrou e nos contaminou. Nós sabemos que ele não vem só pelo avião, vem pela poeira também. E, na época da chuva, ele vem pelos rios. Antigamente não tinha isso”. As palavras do cacique Manoel Kanuxi, do povo Manoki, calaram os participantes de uma oficina realizada na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Os Manoki, além de representantes Nambikwara, Kayabi, Myky e Xavante, estiveram reunidos de 17 a 19 de agosto para construir coletivamente o conteúdo do fascículo sobre povos indígenas da Avaliação Ecossistêmica do Milênio, o maior estudo já realizado sobre as consequências das mudanças nos ecossistemas.
A proposta de difundir em Mato Grosso o conteúdo dos relatórios científicos da Organização das Nações Unidas (ONU) partiu do Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental (GPEA), da UFMT, que elaborou cadernos sobre as ações necessárias para assegurar a conservação e o uso sustentável do meio ambiente voltados a comunidades, jovens e tomadores de decisão. Os povos indígenas, que tradicionalmente conseguem viver sem causar declínio nos recursos naturais, não poderiam ficar de fora dessa iniciativa.
Eles foram convidados através de uma parceria entre a OPAN e a Rede Mato-grossense de Educação Ambiental (Remtea), GPEA e Instituto Caracol para demonstrar seu modo de vida, sua visão, os conflitos que os ameaçam, suas propostas para enfrentá-los e seus sonhos em mais um fascículo da série que pretende influenciar as políticas públicas. A oficina e a elaboração do fascículo são apoiados pelo Projeto Berço das Águas, da OPAN, um patrocínio da Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental. “A ideia é que esse material suscite reflexão, mudança de comportamento a partir da experiência que eles compartilham, mas, sobretudo, que eles se fortaleçam enquanto organização”, comentou a educadora ambiental Imara Quadros, do GPEA.
A oficina
A primeira parte da oficina foi uma palestra do ecólogo australiano e especialista em áreas úmidas, Max Finlayson, da Universidade Charles Sturt. “Ele falou como a Ciência é arrogante e não compreende outras linguagens. Mas os cientistas podem aprender com as comunidades para serem mais sensíveis. Isso foi muito fascinante”, avaliou a educadora ambiental Michèle Sato, do GPEA, que faz parte da rede mundial da ONU “Sub-Global Assessment”.
Nos dois dias seguintes, os indígenas reforçaram seu posicionamento em relação à necessidade de políticas sérias de gestão de seus territórios e do entorno das terras indígenas. “São preocupantes as visões de progresso do governo. O não índio tem sua lei, mas não está cumprindo. Cada fazendeiro podia perfeitamente deixar uma porcentagem de sua área para garantir a proteção das matas. Mas o homem branco acaba com tudo, não respeita a lei”, disse o cacique Kanuxi.
“Queremos nossas terras seguras e demarcadas, pois sem ela não sobrevivemos. Mesmo sem perceber, os não índios se beneficiam do nosso território porque, se depender deles, tudo será detonado. Um fazendeiro outro dia falou que a nossa área era dele e retirou as placas da terra indígena. Tudo isso é ruim. Ele não sabe o que está fazendo”, disse Bernardino Realino, do povo Manoki. “Onde tinha mata fechada, o branco derrubou tudo para colocar boi. Ficou mais quente. Os peixes sumiram. Como querem que a gente viva assim?”, questionou o cacique Janaxi, do povo Myky.
Os impactos no entorno das terras indígenas deixaram de ser, na percepção dos índios, apenas pontuais. “Os empreendimentos vêm atropelando tudo. O PAC é uma das nossas preocupações. Nós, indígenas, junto com outras minorias afetadas, não temos voz para nada. Quem está fazendo tudo isso é o próprio governo. Há 30 anos, você chegava à nossa terra e só via mata. Demorava muito para chegar e só tinha Cerrado. Hoje asfalto passa na porta da aldeia. Tem lavoura de soja e algodão bem do lado. Da aldeia se enxerga grandes armazéns e até subestação de energia. Tudo isso é um problema”, diz Bernardino.
Essa degradação generalizada tem afetado de forma crucial a continuidade da realização de rituais, entre diversos povos indígenas. “Nós fazemos as grandes caçadas no tempo dos rituais, mas dentro da nossa reserva podemos ficar o dia inteiro sem encontrar mais nada. Parece que as hidrelétricas vêm para melhorar a nossa vida, mas nos sentimos cada vez mais imprensados. Veja o rio Cuiabá como está. Parece tudo barro. Será que é isso que queremos para a nossa região?”, questiona José Francisco Jamaxi, do povo Manoki.
“Nesse contexto de gravíssimas ameaças à vida no planeta, a Avaliação Ecossistêmica do Milênio tem grande interesse em também fazer estudos sobre os saberes indígenas, seu modo de vida e suas inter-relações. Não é a só a ciência que produz conhecimento. E isso tem que ser valorizado pelos tomadores de decisão”, disse Adriana Werneck Regina, socióloga e membro da OPAN e do GPEA. “Este caderno vai ser muito bom, mas precisamos avançar nisso. Vamos colocar aqui que há pessoas que estão fazendo mal ao meio ambiente, mas qual é a política para eles? Para o entorno das nossas terras?” provoca o estudante nambikwara José Angelo. “Hoje nós estamos nos protegendo desse calor em Cuiabá com o ar condicionado. Até quando vamos conseguir viver nesse clima artificial? Enquanto a minoria luta por uma vida mais saudável, a maioria nem liga. Estamos vivendo a ilusão da ganância. Está faltando amor à vida”, conclui Giovani Tapura, um jovem Manoki.
OPAN
A OPAN foi a primeira organização indigenista fundada no Brasil, em 1969. Atualmente suas equipes trabalham em parceria com povos indígenas do Amazonas e do Mato Grosso, desenvolvendo ações voltadas à garantia dos direitos dos povos, gestão territorial e busca de alternativas de geração de renda baseadas na conservação ambiental e na manutenção das culturas indígenas.
Contatos com imprensa
Andreia Fanzeres: +55 65 33222980 / 84765620
Email: comunicacao@amazonianativa.org.br
OPAN – Operação Amazônia Nativa
http://www.amazonianativa.org.br
A proposta de difundir em Mato Grosso o conteúdo dos relatórios científicos da Organização das Nações Unidas (ONU) partiu do Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental (GPEA), da UFMT, que elaborou cadernos sobre as ações necessárias para assegurar a conservação e o uso sustentável do meio ambiente voltados a comunidades, jovens e tomadores de decisão. Os povos indígenas, que tradicionalmente conseguem viver sem causar declínio nos recursos naturais, não poderiam ficar de fora dessa iniciativa.
Eles foram convidados através de uma parceria entre a OPAN e a Rede Mato-grossense de Educação Ambiental (Remtea), GPEA e Instituto Caracol para demonstrar seu modo de vida, sua visão, os conflitos que os ameaçam, suas propostas para enfrentá-los e seus sonhos em mais um fascículo da série que pretende influenciar as políticas públicas. A oficina e a elaboração do fascículo são apoiados pelo Projeto Berço das Águas, da OPAN, um patrocínio da Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental. “A ideia é que esse material suscite reflexão, mudança de comportamento a partir da experiência que eles compartilham, mas, sobretudo, que eles se fortaleçam enquanto organização”, comentou a educadora ambiental Imara Quadros, do GPEA.
A oficina
A primeira parte da oficina foi uma palestra do ecólogo australiano e especialista em áreas úmidas, Max Finlayson, da Universidade Charles Sturt. “Ele falou como a Ciência é arrogante e não compreende outras linguagens. Mas os cientistas podem aprender com as comunidades para serem mais sensíveis. Isso foi muito fascinante”, avaliou a educadora ambiental Michèle Sato, do GPEA, que faz parte da rede mundial da ONU “Sub-Global Assessment”.
Nos dois dias seguintes, os indígenas reforçaram seu posicionamento em relação à necessidade de políticas sérias de gestão de seus territórios e do entorno das terras indígenas. “São preocupantes as visões de progresso do governo. O não índio tem sua lei, mas não está cumprindo. Cada fazendeiro podia perfeitamente deixar uma porcentagem de sua área para garantir a proteção das matas. Mas o homem branco acaba com tudo, não respeita a lei”, disse o cacique Kanuxi.
“Queremos nossas terras seguras e demarcadas, pois sem ela não sobrevivemos. Mesmo sem perceber, os não índios se beneficiam do nosso território porque, se depender deles, tudo será detonado. Um fazendeiro outro dia falou que a nossa área era dele e retirou as placas da terra indígena. Tudo isso é ruim. Ele não sabe o que está fazendo”, disse Bernardino Realino, do povo Manoki. “Onde tinha mata fechada, o branco derrubou tudo para colocar boi. Ficou mais quente. Os peixes sumiram. Como querem que a gente viva assim?”, questionou o cacique Janaxi, do povo Myky.
Os impactos no entorno das terras indígenas deixaram de ser, na percepção dos índios, apenas pontuais. “Os empreendimentos vêm atropelando tudo. O PAC é uma das nossas preocupações. Nós, indígenas, junto com outras minorias afetadas, não temos voz para nada. Quem está fazendo tudo isso é o próprio governo. Há 30 anos, você chegava à nossa terra e só via mata. Demorava muito para chegar e só tinha Cerrado. Hoje asfalto passa na porta da aldeia. Tem lavoura de soja e algodão bem do lado. Da aldeia se enxerga grandes armazéns e até subestação de energia. Tudo isso é um problema”, diz Bernardino.
Essa degradação generalizada tem afetado de forma crucial a continuidade da realização de rituais, entre diversos povos indígenas. “Nós fazemos as grandes caçadas no tempo dos rituais, mas dentro da nossa reserva podemos ficar o dia inteiro sem encontrar mais nada. Parece que as hidrelétricas vêm para melhorar a nossa vida, mas nos sentimos cada vez mais imprensados. Veja o rio Cuiabá como está. Parece tudo barro. Será que é isso que queremos para a nossa região?”, questiona José Francisco Jamaxi, do povo Manoki.
“Nesse contexto de gravíssimas ameaças à vida no planeta, a Avaliação Ecossistêmica do Milênio tem grande interesse em também fazer estudos sobre os saberes indígenas, seu modo de vida e suas inter-relações. Não é a só a ciência que produz conhecimento. E isso tem que ser valorizado pelos tomadores de decisão”, disse Adriana Werneck Regina, socióloga e membro da OPAN e do GPEA. “Este caderno vai ser muito bom, mas precisamos avançar nisso. Vamos colocar aqui que há pessoas que estão fazendo mal ao meio ambiente, mas qual é a política para eles? Para o entorno das nossas terras?” provoca o estudante nambikwara José Angelo. “Hoje nós estamos nos protegendo desse calor em Cuiabá com o ar condicionado. Até quando vamos conseguir viver nesse clima artificial? Enquanto a minoria luta por uma vida mais saudável, a maioria nem liga. Estamos vivendo a ilusão da ganância. Está faltando amor à vida”, conclui Giovani Tapura, um jovem Manoki.
OPAN
A OPAN foi a primeira organização indigenista fundada no Brasil, em 1969. Atualmente suas equipes trabalham em parceria com povos indígenas do Amazonas e do Mato Grosso, desenvolvendo ações voltadas à garantia dos direitos dos povos, gestão territorial e busca de alternativas de geração de renda baseadas na conservação ambiental e na manutenção das culturas indígenas.
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Andreia Fanzeres: +55 65 33222980 / 84765620
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