Friday, 28 October 2011

Leitores esquivos 2/2

fonte: fapesp
http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=4524&bd=1&pg=2&lg=



CULTURA CIENTÍFICA
Leitores esquivos
(Página 2 de 2)
© CATARINA BESSELL
Na parte do trabalho sobre interesse geral em C&T, chama a atenção como o tema está medianamente situado pelos entrevistados em quinto lugar, depois de esporte e antes de cinema, arte e cultura, dentre 10 assuntos usualmente cobertos pela mídia (gráfico 12.1). Mas enquanto para esporte 30,5% deles se declaram muito interessados e 34,9%, interessados, em ciência e tecnologia são 16,3% os muito interessados e 47,1% os interessados, ou seja, a intensidade do interesse é menor. Vale também observar como os diferentes graus de interesse em C&T aproximam a cidade de São Paulo de Madri e a distanciam imensamente de Bogotá (gráfico 12.2). Assim, respectivamente, 15,4% dos entrevistados em São Paulo e 16,7% dos entrevistados em Madri declararam-se muito interessados em C&T; para a categoria interessado, os percentuais foram 49,6% e 52,7%; para pouco interessado, 25,5% e 24,8%, e para nada interessado, respectivamente, 9,4% e 5,9%. Já em Bogotá, nada menos que 47,5% declararam-se muito interessados. Por quê, não se sabe. Os interessados totalizam 33,2%, os pouco interessados, 15,3% e os nada interessados, 4%.
Não há muita diferença no nível de interesse por idade. Jovens e pessoas mais velhas se distribuem democraticamente pelos diversos graus considerados (gráfico 12.6a). Já quanto ao grau de escolaridade, se dá exatamente o oposto: entre os muito interessados em ciência e tecnologia, 21,9% são graduados e pós-graduados, 53,9% têm grau de ensino médio, 21,5%, ensino fundamental, 1,7%, educação infantil e 1% não teve nenhuma escolaridade. Já na categoria nada interessado se encontra 1,2% de graduados e pós-graduados, 26,3% de pessoas com nível médio, 47,4% com ensino fundamental, 8,8% com educação infantil e 16,4% de pessoas que não tiveram nenhum tipo de escolaridade (gráfico 12.5).
A par de todas as inferências que os resultados tabulados e interpretados dos questionários permitem, Vogt destaca que se a maioria da população não lê notícias científicas, ela entretanto está exposta de forma mais ou menos passiva à informação que circula sobre ciência. “Cada vez que o Jornal Nacional ou o Globo Repórter fala, por exemplo, sobre um alimento funcional, praticamente a sociedade como um todo passa a tratar disso nos dias seguintes”, diz. Ele acredita que pesquisas de mídia e de frequência do noticiário sobre ciência na imprensa poderão dar parâmetros de indicação para estudos que possam complementar o que já se construiu até agora sobre percepção pública da ciência.
Profissionais satisfeitos - Luisa Massarani observa que se hoje já se avançou nos estudos de audiência em muitos campos, especialmente para as telenovelas no Brasil, na área de jornalismo científico ainda não existem estudos capazes de indicar o que acontece em termos de percepção quando a pessoa ouve e vê uma notícia dessa especialidade no Jornal Nacional. “As pessoas entendem bem? A informação suscita desconfiança? Não sabemos.” De qualquer sorte, permanece em seu entendimento como uma grande questão o que significa fazer jornalismo científico, em termos da produção e da recepção.
Por enquanto, o estudo que ela coordena conseguiu identificar que as mulheres são maioria entre os jornalistas de ciência na América Latina, 61% contra 39% de homens, e que essa é uma especialidade de jovens: quase 30% da amostra situa-se na faixa de 31 a 40 anos e 23% têm entre 21 e 30 anos. De forma coerente com esse último dado, 39% dos entrevistados trabalham há menos de 5 anos em jornalismo científico e 23% entre 6 e 10 anos. E, o dado impressionante, 62% estão satisfeitos com seu trabalho em jornalismo científico e mais 9% muito satisfeitos. É possível que isso tenha relação com o fato de 60% terem emprego formal de tempo integral na área.
Por outro lado, se os jornalistas de ciência da América Latina não têm muitas fontes oficiais que lhes deem um feedback de seu trabalho, 40% deles es--tão seguros de que seu papel é informar o público, 26% pensam que sua função é traduzir material complexo, 13% educar e 9% mobilizar o público. E avaliando o resultado do trabalho, 50% creem que o jornalismo científico produzido no Brasil é médio, 21% bom e somente 2% o classificam como muito bom.
A melhor indicação do quanto os jornalistas de ciência gostam do que fazem está na resposta à questão sobre se recomendariam a outros a carreira. Nada menos do que a metade respondeu que sim, com certeza, enquanto 40% responderam que provavelmente sim. De qualquer sorte, ainda há um caminho a percorrer na definição do papel que cabe aos jornalistas entre os atores que dizem o que a ciência é e faz. “Quem são esses atores?”, indaga Vogt. “Os cientistas achavam que eram eles. Os governos acreditavam que eram eles. Mas hoje dizemos que é a sociedade. Mas de que forma?”
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