Thursday 3 November 2011

aprendizagem científica

fonte: fapemat ciência
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Semana Nacional de Ciência e T
A ciência na prática é a melhor forma de aprendizagem
18/10/2011
Tornar o ensino de disciplinas consideradas “complexas” como biologia, física, química ainda está entre os desafios para escolas de ensino fundamental e médio. Há alunos que têm mais facilidade do que outros. No entanto, com o passar do tempo, o interesse das novas gerações de jovens vem aumentando e, na maioria das vezes, graças ao trabalho bem desenvolvido pelos professores.
O projeto do Pequitos foi desenvolvido por alunos de Querência.
Uma das maneiras encontradas para estimular o aprendizado foi a criação das feiras de ciência, que passaram de locais de exposições de assunto clichês para espaço onde trabalhos inovadores são revelados. Escolas localizadas em cidades do interior de Mato Grosso estão ajudando seus alunos a desenvolverem trabalhos criativos, inteligentes e sérios. A Mostra Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação realizou sua quinta edição esse ano. Dos 10 projetos vencedores 9 foram criados por alunos de escolas do interior.
 
A maior pontuação foi para os alunos Jocelio Gomes Piekarzewicz e Rute de Melo Souza, orientados pela professora formada em biologia, Ângela Gargioni, e cooperação de Aparecida César Florenso, da cidade de Terra Nova do Norte. A ideia da turma surgiu de uma demanda vinda da sala de aula em 2010, trabalhando assuntos de educação ambiental. Eles pertencem a uma escola da zona rural e pensaram em um produto que fosse natural e pudesse ser usado na agricultura. 
 
Depois de muitas experiências, os alunos tiveram a ideia de juntar um fertilizante natural feito de húmus proveniente da minhoca com um inseticida a base de fumo. Cuidadosa, a professora não quis fornecer detalhes da fórmula. Ela conta que os alunos vão patentear o produto depois que uma universidade fizer o estudo para comprovar a eficácia cientificamente. Ângela ministra aula na escola desde 2009 e confessa que ganhar um prêmio assim é motivador não só para ela, mas também para os outros alunos que percebem que podem fazer muito mais do que uma leitura passiva do livro didático e reprodução de experiências.
 
A forma de desenvolver os trabalhos e o jeito encontrado para estimular os alunos no interesse pela ciência também foram comentados pelo professor Marco Antônio Amorim da cidade de Querência, orientador dos alunos Ivan Reche Correa Junior e Victor Ronaldo Panazzolo, que tiveram a terceira maior pontuação na feira. Eles desenvolveram um salgadinho de pequi, denominado Pequitos. Ao contrário da escola de Terra Nova, o projeto não foi uma demanda vinda da sala de aula. Os alunos quiseram desenvolver um trabalho diferente depois que um dos colegas foi ganhador na Mostra de 2010. A ideia veio de discussões dos alunos com suas famílias e com o professor. Depois de muita pesquisa, experimentações, erros, eles chegaram ao biscoito final, que pode ser preparado no micro-ondas. 
 
Os esforços desses professores revelam o quanto ainda pode ser feito pela educação por meio de iniciativas simples, mas muito eficientes. Eliana Ulhôa e um grupo de pesquisadores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, antigo Cefet, produziram um trabalho sobre o assunto intitulado “A Formação do Aluno Pesquisador”. De acordo com a pesquisa, as feiras permitem que o aluno tenha uma experiência concreta, hands-on (mão na massa), e conhecimento em um campo independente de estudo. Há a possibilidade do estudante fazer uso de suas próprias ideias. Os autores separam a forma como, na Instituição, os trabalhos são apresentados. Trabalhos explicativos (ou didáticos) são voltados às ilustrações, aplicações, mostrar os princípios científicos de funcionamento de certos objetos, máquinas, mecanismos e sistemas. Os trabalhos construtivos estão relacionados à construção de algo com objetivo de introduzir uma inovação. Por último, os trabalhos investigativos, que se referem à pesquisa em torno de problemas e situações do mundo, buscando soluções para os mesmos. 
 
 Quando desenvolvem projetos, os alunos ficam envolvidos e interessados em realizar pesquisas de forma mais séria.
Os estudantes do campus de Cuiabá do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) estão muito ligados à forma investigativa. Segundo o diretor de Pesquisa e Pós-Graduação do campus, Tony Inácio da Silva, uma das primeiras reflexões antes de projetos serem desenvolvidos está ligada à utilidade da pesquisa na sociedade. Ele revela que o intuito é resolver problemas imediatos com a ajuda da pesquisa e da inovação. É importante destacar que a forma como os estudantes de nível médio são conduzidos em sua formação é diferente da escola pública ou da privada tradicionais. Eles são submetidos a uma rotina de pesquisa semelhante à de alunos de graduação de uma universidade pública. Tony atribui essa realidade à formação docente que possui mestrados e doutorados.
 
A lacuna que diferencia o Instituto das escolas públicas ainda vai demorar para ser preenchida. No entanto, o ensino vem melhorando com o passar do tempo. De acordo com a pesquisa de Eliana, nas feiras, os alunos pareciam, muitas vezes, treinados em recitar passos estereotipados durante a exposição de seus trabalhos. “As feiras de ciências apresentam-se como uma forma de contribuir para a formação desse cidadão”, diz a pesquisa. Em uma abordagem feita pela autora no Colégio Logosófico González Pecotche, em Belo Horizonte, foi constatado que “profissão de pesquisador ainda é vista com muitas restrições”, mesmo quando gostam da pesquisa, os alunos não estariam dispostos a dedicar seu tempo numa área em que o investimento é muito baixo. O hands-on é uma forma de a escola incluir os fatores afetivos, gosto e estímulo, aliados ao desenvolvimento do cognitivo. São justamente as feiras e exposições de ciência que podem apoiar e incentivar essa ideia.
 
“Com a realização dessa pesquisa pôde-se concluir que os alunos não realizam pesquisas científicas por não saberem realizá-las e por não contarem com o apoio e orientação dos docentes. Quando desenvolvem projetos, os alunos ficam envolvidos e interessados em realizar pesquisas de forma mais séria”. A afirmação é do professor Marco Antônio, de Querência. Ele acredita na falta de base dos professores e, também, na necessidade de mais incentivos para os alunos. “Às vezes o professor não consegue fazer a conceituação teórica e a prática. Mas com o tempo você começa a ter habilidade de organizar e quebrar o pré-conceito de aula chata. Muitos acham que precisam de ótimos laboratórios, mas o estímulo são eles colocarem a mão na massa”, conta Marco Antônio. 
 
Outra pesquisa “O Trabalho Experimental de Investigação: Das Expectativas dos Alunos às Potencialidades no Desenvolvimento de Competências” realizada em Portugal por Maria Manuela Fernandes, da Escola EB1 de Eixo- Aveiro e por Maria Helena Santos Silva, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, aponta que a escola dever estar preparada não só para formar os indivíduos a fim de possibilitar a sobrevivência no mercado de trabalho, mas também para ser o lugar onde sejam dadas as condições para que adquiram capacidade de autoformação e que possa assumir responsabilidade na sociedade. As autoras manifestam que a maioria das atividades práticas realizadas em sala são muito orientadas, e consequentemente gera um nível baixo de indagação. Isso limita grau de motivação dos alunos na sua realização, dada a reduzida participação deles exigida. No estudo, elas fizeram uma mostra com 40 alunos pertencentes a duas turmas do Ensino Médio, do Nordeste de Portugal, e constataram que quando investigaram os constituintes químicos da castanha, alimento muito conhecido na região, em atividades que exigiam maior exercício de pensamento como formular problemas, hipóteses, planejar experiências, os alunos tiveram vontade de participar das atividades que lhes proporcionaram essa possibilidade de análise.
 
Nos estudos realizados por Deisy Piedade Munhoz Lopes, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), intitulado “O prazer da descoberta: A ciência por detrás dos fenômenos do dia a dia”, a falta de estímulo por parte das escolas e a ausência para execução de atividades práticas relacionadas ao ensino das Ciências Naturais como física, química e biologia, muitas vezes causa questionamentos por parte dos professores sobre a real necessidade de crianças e pré-adolescentes verem conteúdos tão complexos. “A resposta comumente se concretiza na forma de simples transmissão de informações, impedindo os alunos de descobrirem o prazer de aprender e associar o conhecimento com situações reais de seu cotidiano. Conseqüentemente, o próprio professor perde a motivação para ensinar” diz a pesquisa. 
 
O estudo sugere que uma das formas de trabalhar com os estudantes seja por meio de atividades lúdicas e ensinar com o manuseio do material de baixo custo. “Este vínculo entre experimentos e a atividade cotidiana, despertou interesse e motivação propiciando um melhor e real aprendizado, pois, quando indagados sobre os temas abordados em aulas anteriores, mesmo após algumas semanas, as crianças respondiam de pronto e corretamente”, revela o trabalho.
 
Os pesquisadores Gabriela Dias Bevilacqua e Robson Coutinho-Silva, da Escola Parque (RJ) e do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), respectivamente, desenvolveram o projeto “O ensino de Ciências na 5ª série através da experimentação”. De acordo com os autores, as escolas, segundo a legislação brasileira para educação por meio da Lei de Diretrizes de Base da Educação Nacional (LDB) e dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), têm responsabilidade de formar cidadãos conscientes, críticos e ativos na sociedade. Eles contam que há exemplos dessa iniciativa em diferentes segmentos e instituições de ensino, mas a maioria delas é representada por ações individuais e não sistematizadas.
 
Eles desenvolveram uma estratégia de ensino baseada na experimentação como condutora do conhecimento teórico, nos anos de 2005 e 2006. Os resultados mostraram que a metodologia aplicada em sala de aula foi eficiente. Ela consistiu na divisão de grupos, pesquisa teórica em livros, internet e biblioteca, montagem de um experimento com sucatas e outros materiais, relatório de atividades, apresentação do trabalho para a turma e entrega de uma ficha de avaliação para os alunos dizerem o que acharam da apresentação e do trabalho dos colegas. Segundo a pesquisa, os resultados demonstram os pré-requisitos essenciais na formação da educação científica do estudante.
 
As mostras de ciência que vêm acontecendo em Mato Grosso demonstram que existem iniciativas importantes por parte de docentes, que aos poucos estão mudando a visão dos discentes e mostrando o quanto a ciência é uma disciplina prazerosa.
 

Valerya Próspero / Fotos: Ednilson Aguiar/Secom-MT e Fapemat Ciência

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