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20/07/2015MATO GROSSO
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Notícias
Festa da Banana celebra cultura agroecológica em comunidade quilombola do MT
A 7ª Festa da Banana contou com a presença de cerca de 600 pessoas e foi realizada na Comunidade Negra Rural Quilombola da Mutuca, que está se tornando uma referência na prática agroecológica
Andrés Pasquis ¹
“A banana não é só alimento ou medicina. A Festa da Banana é cultural”, exclamou Laura Ferreira da Silva, presidenta da Associação da Comunidade Negra Rural do Quilombo Ribeirão da Mutuca – Acorquirim, durante a abertura da 7ª Festa da Banana, realizada no dia 4 de julho, na comunidade Ribeirão da Mutuca do município de Nossa Livramento, situada a aproximadamente 32 quilômetros de Cuiabá (MT).
Ribeirão da Mutuca, que faz parte do complexo Mata Cavalo, composto por mais cinco comunidades quilombolas, foi o palco de palestras sobre a agroecologia, feira de artesanato, culinária regional, música e dança, espantando o frio do dia com caldo de banana verde preparado ao fogo de lenha, licor de banana e os movimentos frenéticos do siriri, rasqueado cuiabano e lambadão.
A festa foi criada em 2008 com o intuito de valorizar a produção e a cultura afro-brasileira que sustenta as cerca de 120 famílias da comunidade. O cultivo da banana e de muitos outros alimentos é feito de forma tradicional e livre de agrotóxicos, seguindo os princípios da agroecologia.
“Nossos ancestrais já trabalhavam desse jeito, com muito esforço, variedade de sementes e sem veneno, sem nem saber que isso era agroecologia. Essa tradição foi passando de geração em geração e, hoje, é uma referência para muitos”, explicou Laura.
No entanto, por trás dos doces, balas e tortas de banana, por trás da melodia do cururu e por trás da animação dos participantes, a situação não foi e não é ainda tão simples. No passado, o garimpo assolou a região e pressionou seus habitantes, deixando marcas profundas neles como na terra. “Faz dez anos que o garimpo acabou, mas lacunas enormes no nosso solo ainda nos lembram dessa época”, lamenta a organizadora da festa.
Porém, essa tranquilidade está novamente ameaçada pelo avanço do agronegócio e mais especificamente pela chegada da soja em Poconé, município a cerca de 75 quilômetros da comunidade.
Lucienio da Silva Miranda, técnico agrícola da Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural – Empaer, confirma que a sojicultora avança com rapidez e que, com a fragilidade da situação fundiária do complexo Mata Cavalo, o futuro parece ameaçador. “Nós, técnicos da Empaer que já conhecemos e fazemos parte desta comunidade há anos, gostaríamos muito que o governo regularizasse a situação destas terras, que pertencem aos habitantes da Mutuca, o que facilitaria também o acesso deles a crédito e financiamentos”, cobrou o técnico.
Laura Ferreira comenta que, anos atrás, um laudo antropológico realizado por Maria de Lourdes Bandeira, professora da Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT e membro do Conselho dos Direitos da Mulher, qualificou a região como uma área remanescente de quilombos a ser preservada.
“Sempre lutamos e lutaremos por defender nossa cultura, nossas tradições e esta terra, onde nossos ancestrais foram enterrados há mais de duzentos anos. Foi assim que, na época do garimpo, procuramos os direitos humanos e acabamos conhecendo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que nos convidou, através de eventos e feiras, a fazer parte do Grupo de Intercâmbio em Agroecologia (Gias)”, revelou Laura.
Fran Paula de Castro, técnica do programa da FASE em Mato Grosso, uma das organizações que compõem o Gias, ressaltou que é uma honra poder contar com a experiência agroecológica que a Arcoquirim oferece ao estado de Mato Grosso. “Uma referência forte desta comunidade é a luta que vem levando há anos, inclusive pelo resgate e preservação de suas sementes, como o milho crioulo. Por isso eles têm que perseverar esse trabalho tão reconhecido”, disse.
A 7ª Festa da Banana contou com a presença de cerca de 600 pessoas e a Comunidade Negra Rural Quilombola da Mutuca está se tornando uma referência estadual de prática agroecológica e tradição quilombola. “Para nós, a semente é importantíssima. Ela é tradição, é vida!”, finalizou Laura.
(1) Para o site do Grupo de Intercâmbio em Agroecologia (Gias).
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