Festa da Banana celebra cultura agroecológica em comunidade quilombola do MT
A 7ª Festa da Banana contou com a presença de cerca de 600 pessoas e foi realizada na Comunidade Negra Rural Quilombola da Mutuca, que está se tornando uma referência na prática agroecológica
Andrés Pasquis ¹
“A banana não é só alimento ou medicina. A Festa da Banana é cultural”, exclamou Laura Ferreira da Silva, presidenta da Associação da Comunidade Negra Rural do Quilombo Ribeirão da Mutuca – Acorquirim, durante a abertura da 7ª Festa da Banana, realizada no dia 4 de julho, na comunidade Ribeirão da Mutuca do município de Nossa Livramento, situada a aproximadamente 32 quilômetros de Cuiabá (MT).
A 7ª Festa da Banana reuniu cerca de 600 pessoas. (Foto: GIAS/Flickr)
Ribeirão da Mutuca, que faz parte do complexo Mata Cavalo, composto por mais cinco comunidades quilombolas, foi o palco de palestras sobre a agroecologia, feira de artesanato, culinária regional, música e dança, espantando o frio do dia com caldo de banana verde preparado ao fogo de lenha, licor de banana e os movimentos frenéticos do siriri, rasqueado cuiabano e lambadão.
A festa foi criada em 2008 com o intuito de valorizar a produção e a cultura afro-brasileira que sustenta as cerca de 120 famílias da comunidade. O cultivo da banana e de muitos outros alimentos é feito de forma tradicional e livre de agrotóxicos, seguindo os princípios da agroecologia.
“Nossos ancestrais já trabalhavam desse jeito, com muito esforço, variedade de sementes e sem veneno, sem nem saber que isso era agroecologia. Essa tradição foi passando de geração em geração e, hoje, é uma referência para muitos”, explicou Laura.
No entanto, por trás dos doces, balas e tortas de banana, por trás da melodia do cururu e por trás da animação dos participantes, a situação não foi e não é ainda tão simples. No passado, o garimpo assolou a região e pressionou seus habitantes, deixando marcas profundas neles como na terra. “Faz dez anos que o garimpo acabou, mas lacunas enormes no nosso solo ainda nos lembram dessa época”, lamenta a organizadora da festa.
Comunidade é referência cultural e agroecológica. (Foto: GIAS/ Flicker)
Porém, essa tranquilidade está novamente ameaçada pelo avanço do agronegócio e mais especificamente pela chegada da soja em Poconé, município a cerca de 75 quilômetros da comunidade.
Lucienio da Silva Miranda, técnico agrícola da Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural – Empaer, confirma que a sojicultora avança com rapidez e que, com a fragilidade da situação fundiária do complexo Mata Cavalo, o futuro parece ameaçador. “Nós, técnicos da Empaer que já conhecemos e fazemos parte desta comunidade há anos, gostaríamos muito que o governo regularizasse a situação destas terras, que pertencem aos habitantes da Mutuca, o que facilitaria também o acesso deles a crédito e financiamentos”, cobrou o técnico.
Laura Ferreira comenta que, anos atrás, um laudo antropológico realizado por Maria de Lourdes Bandeira, professora da Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT e membro do Conselho dos Direitos da Mulher, qualificou a região como uma área remanescente de quilombos a ser preservada.
“Sempre lutamos e lutaremos por defender nossa cultura, nossas tradições e esta terra, onde nossos ancestrais foram enterrados há mais de duzentos anos. Foi assim que, na época do garimpo, procuramos os direitos humanos e acabamos conhecendo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que nos convidou, através de eventos e feiras, a fazer parte do Grupo de Intercâmbio em Agroecologia (Gias)”, revelou Laura.
Fran Paula, do programa da FASE no MT , durante o evento. (Foto: GIAS/Flickr)
Fran Paula de Castro, técnica do programa da FASE em Mato Grosso, uma das organizações que compõem o Gias, ressaltou que é uma honra poder contar com a experiência agroecológica que a Arcoquirim oferece ao estado de Mato Grosso. “Uma referência forte desta comunidade é a luta que vem levando há anos, inclusive pelo resgate e preservação de suas sementes, como o milho crioulo. Por isso eles têm que perseverar esse trabalho tão reconhecido”, disse.
A 7ª Festa da Banana contou com a presença de cerca de 600 pessoas e a Comunidade Negra Rural Quilombola da Mutuca está se tornando uma referência estadual de prática agroecológica e tradição quilombola. “Para nós, a semente é importantíssima. Ela é tradição, é vida!”, finalizou Laura.
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Associadas produzem e comercializam macarrão de castanha-do-pará, amêndoas e biscoitos. Prêmio Fundação Banco do Brasil estimula mobilização de agricultoras e indígenas
No assentamento Vale do Amanhecer, em Juruena, a 930 km de Cuiabá (MT), cerca 120 integrantes da Associação de Mulheres Cantinho da Amazônia (AMCA), dedicam-se ao beneficiamento, produção, empacotamento e comercialização de produtos e derivados da castanha do Brasil, também conhecida como castanha-do-pará.
A tecnologia social, vencedora da sexta edição do Prêmio Fundação Banco do Brasil, é alternativa sustentável para a preservação da reserva legal de 7.500 hectares do assentamento, geração de renda e mobilização social das mulheres da região. Além de amêndoas, as associadas produzem biscoitos de castanha doce e salgado e macarrão de castanha-do-pará, iguaria criada por elas sob orientação de nutricionista.
“As mulheres tinham o sonho de fazer macarrão de castanha do Brasil, mas o equipamento era muito caro. Com o prêmio foi possível comprar equipamentos, inclusive a máquina secadora de massa. Também foi possível melhorar a estrutura do espaço e as condições de trabalho com ventiladores, ar condicionado e computador para o escritório” explica Lucineia Machado, Coordenadora da AMCA.
Pelo menos 60 mulheres trabalham diretamente na fábrica, com renda variável entre R$ 800 e R$1.200 por mês. “Elas trabalham por produção, o que ajuda muito, pois podem conciliar os horários. Umas trabalham apenas enquanto os filhos estão na escola; outras, que têm tarefas como casa, horta e atividades na propriedade, trabalham meio período”, esclarece a coordenadora.
Os produtos são distribuídos para escolas públicas, redes de proteção social e pastorais. Após o investimento, a produção, que em 2011 alcançava 18 mil pessoas, hoje chega a 42 mil. A expectativa da Associação é comercializar, em 2014, aproximadamente, 31 toneladas de biscoitos, 16 toneladas de castanhas e 10 toneladas de macarrão, o equivalente a R$ 600 mil.
Protagonismo feminino – Vencer a categoria “Mulheres na Gestão de Tecnologia Social” do Prêmio FBB gerou, nas comunidades vizinhas, uma onda de engajamento em torno da construção de políticas públicas. “A mobilização também é resultado de termos vencido o prêmio, pois isso possibilitou entender a importância da participação e do envolvimento. Mulheres unidas conseguem conquistar muito mais coisas”, avalia Lucineia.
Desde então a metodologia começou a ser multiplicada. Um exemplo é o da comunidade do assentamento Somapar, também localizado em Juruena, onde a tecnologia social “Mulheres da Amazônia” foi reaplicada e um novo grupo foi constituído – a Associação de Mulheres Andorinhas do Canamã (AMAC).
A nova Associação recebe incentivo da AMCA através do Projeto Cultivação, que já implantou 10 hortas esse ano e irá implantar mais 10 hortas até meados de 2015. “A produção está sendo comercializada diretamente pelas associadas na feira local e restaurantes“, comenta a coordenadora.
Outro exemplo de mobilização foi a formação da Rede de Mulheres Rurais e Indígenas, envolvendo os assentamentos 13 de Maio, Somapar, Vale do Amanhecer e as etnias Apiaka, Munduruku e Cinta Larga.
Na Rede, mulheres trocam experiências, compartilham saberes e debatem temas como geração do trabalho e renda, autonomia, economia solidária ou violência contra a mulher. Em julho 2014, a Rede realizou, no assentamento Vale do Amanhecer, o I Encontro de Mulheres Rurais e Indígenas do Noroeste de Mato Grosso e o I Seminário Protagonismo de Mulheres.