Déborah Moreira
Edilaine Mendes
Elizete dos Santos
No dia 10 de setembro
de 2015, chegamos a Escola Estadual Professora Tereza Conceição de Arruda na
comunidade quilombola de Mata Cavalo às 14h, a equipe presente foi: Elizete,
Anita, Priscilla, Deborah, Caio e Edilaine. Fomos recebidos pela diretora Eliane
Arruda e a coordenadora pedagógica Rosângela.
Para o início dos
trabalhos nos dividimos em dois grupos, um com professores, funcionários da
escola e membros da comunidade para tratar do Projeto Político Pedagógico (PPP)
e Educação Ambiental (EA) com a Edilaine e outro com os estudantes do Ensino
Fundamental e Médio para falar sobre Protagonismo Juvenil, e compreender a
atual situação dos jovens de Mata Cavalo em relação à escola e à comunidade com
a Elizete.
Com @s estudantes fizemos
um momento de conversa, e buscamos sensibilizá-l@s para a importância do
engajamento político para construir um Brasil que respeite as diversidades
(Figura 01).
Figura 1-Diálogo com os
estudantes.
Dialogamos sobre as situações
que gostariam de mudar tanto na escola como na comunidade, foram momentos que
expressaram seus sonhos, desejos, dilemas e dificuldades.
Os jovens relataram que poucos são
os momentos em os adultos os escutam, talvez o pouco diálogo entre gerações
interfira na sua entrada e permanência em “espaços” da comunidade em que se
organizam as lutas; alguns disseram que ouvem falar de notícias sobre o
quilombo e a luta, mas não se sentem inseridos e nem convidados à participação.
Um grupo de estudantes
demonstrou bastante interesse em criar uma organização estudantil para discutir
questões relacionadas à juventude e aos dilemas enfrentados pela comunidade.
Citaram a questão da discriminação racial fora e dentro do quilombo, e até na Escola.
Relataram que muitas vezes, quando o grupo de dança se apresenta para outras
escolas e em cidades do entorno, são vítimas de racismo, situações que
descrevem como dolorosas e incômodas. Este grupo também manifestou o desejo
produzir um vídeo ou escrever um pequeno livro contando el@s mesmos às
histórias de Mata Cavalo.
Convidamos @s jovens
para pensar em propostas a partir dos eixos de debates da CNJ. Os eixos
escolhidos por eles foram: Cultura, Direito à Comunicação, Meio Ambiente e, Diversidade e igualdade.
Finalizamos a oficina com alguns jovens
entusiasmados com a possibilidade de se inscreverem na Conferência e de criarem
na escola um espaço para maior atuação e participativos d@s estudantes.
Quanto ao diálogo sobre
o PPP e EA (Figura 1), iniciamos com uma reflexão a partir do poema: “Onde você
vê” de Fernando Pessoa (Alberto Caeiro).
Onde você vê um obstáculo,
alguém vê o término da viagem
e o outro vê uma chance de crescer.
Onde você vê um motivo para se
irritar,
alguém vê a tragédia total
e o outro vê uma prova para sua
paciência.
Onde você vê a morte,
alguém vê o fim
e o outro vê o começo de uma nova
etapa…
Onde você vê a fortuna,
alguém vê a riqueza material
e o outro pode encontrar por trás de
tudo, a dor e a miséria total.
Onde você vê a teimosia,
alguém vê a ignorância,
um outro compreende as limitações do
companheiro,
percebendo que cada qual caminha em
seu próprio passo.
E que é inútil querer apressar o
passo do outro,
a não ser que ele deseje isso.
Cada qual vê o que quer, pode ou
consegue enxergar.
“Não sou da altura que me veem,
Mas sim da altura que os meus olhos
podem ver.”
A partir daí o debate
foi se construindo e ampliando, na perspectiva de perceber que a ação pedagógica
se dá a partir de diferentes olhares, saberes, sentires, fazeres e aprenderes
e, assim, faz-se necessário entender que cada um tem o seu próprio ritmo de
ensino e aprendizagens. Instigamos os participantes e lançamos alguns desafios
para buscar informações como por exemplo: e a escola como vai? Vem se
atualizando? Vem inovando suas propostas de pedagógicas? Vem se tornando
prazerosa? Houve uma participação bastante expressiva e reflexiva por parte dos
participantes, pudemos perceber que eles se preocupam com a formação continuada
dos professores, afirmaram que, na medida do possível, vem implantando na
prática educacional alternativas educativas mais atraentes aos alunos e afirmam
sua identidade enquanto comunidade escolar quilombola.
Figura 2-Diálogo com a comunidade escolar de Mata Cavalo
Foto: Anita Aiko
Adentramos na dimensão
educação partindo das indagações “que escola queremos? Para quem? ” Trouxemos
para o debate a perspectiva de que educação não ocorre somente na escola, mas
que é preciso se atentar para os processos educativos fora dela. E que é papel
da escola promover o diálogo entre os diversos segmentos sociais, provocando a
aliança entre a educação escolarizada e a educação popular, construindo um
currículo escolar mais próximo das vivências, ou seja um currículo da vida. Um
currículo que venha integrar escola e comunidade, por meio da construção de
projetos cidadãos, de Projetos Ambientais Escolares Comunitários.
Ao tratar da temática
meio ambiente, partimos de três dimensões: quem somos? Como nos relacionamos
com o outro? E, como percebemos o mundo que habitamos? Pois entendemos que
etapas de descobrimento e redescobrimento contribuem para a compreensão dos
fenômenos, assim o diálogo sobre ambiente foi ancorando na corrente filosófica da
fenomenologia. A abordagem sobre a dimensão ambiental implicou iniciar a
reflexão desde ecologia interna (identidades, valores, percepções a cerca do
mundo e dos fenômenos).
Reforçamos que a
inclusão da temática EA no PPP da escola não pode se dar de maneira pontual e
como forma de resolver problemas socioambientais, pois esse não consiste em seu
preceito. A EA deve ser incorporada de forma transversal, transcendendo os
problemas evidenciados, considerando outras perspectivas de maneira que
compreenda um fenômeno, propondo atividades para comunidades biorregionais,
reinventando o currículo, recuperando histórias e mitologias quilombolas,
manifestações da cultura afro-brasileira, valorizando a diversidade
étnico-racial, sendo uma proposta duradoura entendida como “sustentabilidade”.
A partir de um breve
estudo feito anteriormente no PPP da escola, percebemos que a temática
evidenciada no documento, sobre EA, traz uma referência na perspectiva do
“desenvolvimento sustentável”, assim achamos prudente trabalhar o texto de Sato
(2008) intitulado “Em busca de sociedades sustentáveis”, enfatizando bem qual
sociedade queremos e pontuando a tabela 1, identificada no texto como
“Sustentabilidade”, a qual traça um paralelo que diferencia “sociedade
sustentável” de “desenvolvimento sustentável”. Dialogamos também, com base no
caderno pedagógico 3 – Educação Ambiental/Série Mais Educação/MEC, elaborado
por Rachel Trajber e Silvia Czapski, os 10 itens de uma escola sustentável: integridade,
conhecimento e saberes, cultura, ética do cuidado, transformação, democracia,
responsabilidade socioambiental, criatividade, metas e transversalidade. Cada
item foi pontuado e no diálogo com a comunidade escolar presente, foram relacionando
a discussão com as ações que já são fortemente tratadas e que vem sido
construídas na escola.
Na finalização do
diálogo, retomamos os cartazes (Figura 2) que foram confeccionados pela
comunidade escolar e formadores do GPEA em um dos encontros anteriores. Na
dinâmica efetuada, anteriormente, representaram no desenho de 3 árvores, as
pedras encontradas no caminho e os sonhos almejados, na perspectiva de
construir uma escola sustentável a partir de seu tripé espaço-currículo-gestão.
Figura 3-Retomando a
dinâmica pedras e sonhos.
Fotos: Anita Aiko.
Assim, tentamos evidenciar que é possível inserir a EA de
maneira transversal no ambiente de aprendizagem escolar, porém há a necessidade
da construção ou revisão de seu PPP deixando explícito que a proposta consiste
no incentivo do desenvolvimento de habilidades e valores da comunidade escolar
para estilos de vida sustentáveis.
Bibliografia
BRASIL,
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Série Cadernos
Pedagógicos – Educação Ambiental. Brasília: 2011, 55p.
BRASIL,
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade. Processo formador em educação ambiental a distância: módulo 4:
projeto ambiental escolar comunitário. Brasília: 2009, 98p.
SATO,
Michèle. Em busca de sociedades sustentáveis. Pátio – Revista Pedagógica: Educação para o desenvolvimento
sustentável. Porto Alegre: ano XII, maio/jun. 2008. P. 55-59
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