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Situação do clima em 2018 mostrou aumento dos efeitos das mudanças climáticas, diz relatório
02 Abril 2019
Os sinais físicos e os impactos socioeconômicos deixados pela
mudança climática são cada vez maiores devido às concentrações de
gases de efeito estufa sem precedentes, que provocam um
aumento das temperaturas mundiais a níveis perigosos, segundo o relatório mais recente da
Organização Meteorológica Mundial (
OMM).
A reportagem é publicada por
ONU Brasil e reproduzida por
EcoDebate, 01-04-2019.
A 25ª edição da
Declaração da
OMM sobre o estado do clima mundial, correspondente a 2018, destacou a
elevação recorde do nível do mar, assim como das temperaturas terrestres e oceânicas, que ficaram excepcionalmente altas nos
últimos quatro anos. Esta tendência de aquecimento começou no início do século e deve continuar.
“Desde a primeira publicação da
Declaração, a climatologia alcançou um grau de robustez sem precedentes e proporcionou provas confiáveis do
aumento da temperatura mundial e de circunstâncias relacionadas, como o
aumento acelerado do nível do mar, a
redução dos gelos marítimos, o retrocesso das geleiras e fenômenos extremos, tais como as
ondas de calor”, afirmou o secretário-geral da
OMM,
Petteri Taalas.
Estes indicadores fundamentais da
mudança climática
estão se tornando mais pronunciados. Assim, os níveis de dióxido de
carbono, que eram de 357,0 partes por milhão (ppm) em 1994, quando a
Declaração
foi publicada pela primeira vez, seguem aumentando, tendo alcançado
405,5 ppm em 2017. É previsto que em 2018 e 2019 as concentrações de
gases causadores do efeito estufa aumentem ainda mais.
A
Declaração da
OMM sobre o clima inclui contribuições dos
Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais, de uma ampla comunidade de especialistas científicos e de órgãos das
Nações Unidas.
Nela, são explicados com detalhes os riscos relacionados ao clima e
seus impactos à saúde e ao bem-estar das pessoas, às migrações e aos
deslocamentos, à segurança alimentar, ao meio ambiente, aos ecossistemas
oceânicos e terrestres. Da mesma forma, os fenômenos extremos que
acontecem em todo o mundo são catalogados.
“Fenômenos extremos continuaram no início de 2019, como o caso recente do
ciclone tropical Idai, que provocou inundações devastadoras e a trágica perda de vidas humanas em
Moçambique, Zimbábue e Malauí. Pode ser que se transforme em um dos desastres meteorológicos mais letais a afetar o
Hemisfério Sul”, destacou
Taalas.
“O
Idai tocou a terra na
cidade de Beira (
Moçambique)
— uma cidade em rápido crescimento, situada em baixa altitude em um
litoral vulnerável às marés de tempestade e que já está sofrendo as
consequências da elevação do nível do mar. As vítimas do
Idai encarnam as razões pelas quais é necessário contar com uma agenda mundial de desenvolvimento sustentável, de adaptação à
mudança climática e de redução de riscos de desastres”, afirmou.
No início do ano, as temperaturas diárias de inverno na
Europa bateram recordes de calor, enquanto se observou um frio incomum na
América do Norte e ondas de calor abrasador na
Austrália; por sua vez, a superfície de gelo do
Ártico e da
Antártida voltou a ficar muito abaixo da média.
Segundo o mais recente Boletim sobre o
Clima Estacional Mundial (de março a março) da
OMM, temperaturas da superfície do mar acima da média – parcialmente por conta de um
El Niño de baixa força no
Pacífico – deve levar a uma temperatura acima do normal em terra, especialmente em latitudes tropicais.
Cúpula sobre o Clima
A
Declaração da OMM sobre o estado do clima mundial foi divulgada oficialmente em coletiva de imprensa com participação do secretário-geral das Nações Unidas,
António Guterres, da presidente da Assembleia Geral da
ONU,
María Fernanda Espinosa, e do secretário-geral da
OMM,
Petteri Taalas. A conferência será realizada na sede da
ONU em
Nova Iorque e irá coincidir com uma reunião de alto nível sobre o clima e desenvolvimento sustentável para todos.
“Os dados divulgados neste relatório geram grande preocupação. Os
últimos quatro anos foram os mais quentes já registrados e a temperatura
média mundial na superfície de 2018 esteve aproximadamente 1°C acima do
valor de referência da era pré-industrial”, escreveu
Guterres no relatório.
“Já não pode haver mais demora”, disse.
Guterres irá convocar uma
Cúpula de chefes de Estado sobre o
Clima para 23 de setembro. A
Declaração sobre o estado do clima será uma das contribuições da
OMM à
Cúpula, e
Taalas irá presidir o grupo consultivo científico do evento.
“Enquanto presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, tenho entre minhas prioridades destacar de que maneira a
mudança climática afeta a conquista dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e a necessidade de alcançar uma compreensão holística das consequências
socioeconômicas e da maior intensidade dos fenômenos meteorológicos
extremos que estão acontecendo no mundo todo. Este relatório da
OMM irá contribuir de forma importante para nossa ação internacional conjunta para captar a atenção para este problema”, destacou
Espinosa.
Destaques da Declaração da OMM
Impactos Climáticos
Perigos: Em 2018, a maioria dos perigos naturais que
afetaram quase 62 milhões de pessoas esteve associada com fenômenos
meteorológicos e
climáticos extremos.
As inundações seguem como fenômeno com maior número de afetados —
mais de 35 milhões de pessoas —, segundo análises de 281 fenômenos
registrados pelo
Centro de Investigação da Epidemiologia de Desastres e pela
Estratégia Internacional das Nações Unidas para a
Redução de Desastres.
Os
furacões Florence e
Michael foram dois dos quatorze “
desastres de milhares de milhões de dólares” que aconteceram em 2018 nos
Estados Unidos, provocando em torno de 49 bilhões de dólares em danos e deixando mais de 100 vítimas fatais.
O
supertufão Mangkhut atingiu mais de 2,4 milhões de pessoas e provocou a morte de ao menos 134, principalmente nas
Filipinas.
Na
Europa, no
Japão e nos
Estados Unidos, mais de 1.600 mortes foram atribuídas às
intensas ondas de calor e a
incêndios florestais, que também causaram danos materiais sem precedentes de quase 24 bilhões de dólares nos
EUA. Em
Kerala, na
Índia, foram registradas as piores inundações em quase um século.
Segurança alimentar: A exposição do setor agrícola
aos fenômenos climáticos extremos ameaça reverter ganhos da luta contra a
desnutrição. Novos indícios apontam para um aumento contínuo da fome
após um período prolongado de diminuição, segundo dados complicados por
órgãos das
Nações Unidas, entre eles a
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (
FAO) e o
Programa Mundial de Alimentos (
PMA).
Estima-se que o número de pessoas subalimentadas tenha chegado a 821
milhões em 2017, devido em parte às graves secas associadas ao intenso
episódio do
El Niño de 2015/2016.
Deslocamentos populacionais: Dos 11,7 milhões de deslocados internos registrados pela
Organização Internacional para as Migrações (
OIM)
em setembro de 2018, havia mais de 2 milhões de pessoas em situação de
deslocamento por conta de desastres relacionados a fenômenos
meteorológicos e climáticos.
Secas, enchentes e tempestades (incluindo furacões e ciclones) são os
fenômenos que ocasionaram a maior quantidade de deslocamentos por
desastres em 2018. Em todos os casos, as populações deslocadas são
vulneráveis e precisam de proteção.
Segundo a
Rede de Vigilância e Proteção dos Repatriados, do
Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (
ACNUR),
entre janeiro e dezembro de 2018 foram registrados cerca de 880 mil
novos deslocamentos internos. Destes, 32% foram atribuídos às inundações
e 29% à seca.
Centenas de milhares de
refugiados rohingyas
foram obrigados a fazer deslocamentos secundários por conta de
fenômenos meteorológicos extremos, como fortes chuvas, inundações e
deslizamentos de terra.
Calor, qualidade do ar e saúde: Existem diversas interconexões entre clima e qualidade do ar que estão sendo exacerbadas pela
mudança climática.
Estima-se que, entre 2000 e 2016, o número de pessoas expostas a
ondas de calor tenha aumentado aproximadamente 125 milhões, dado que as
ondas de calor eram, em média, 0,37 dias mais longas que no período de
1986 a 2008, segundo a
Organização Mundial da Saúde (
OMS).
Estas tendências levantam alerta na comunidade da saúde pública, à
medida que se prevê que a intensidade, a frequência e a duração dos
episódios de temperaturas extremas aumentem ainda mais.
Alguns dos efeitos ambientais são o branqueamento dos corais e a
redução da concentração de oxigênio nos oceanos.
Outros efeitos são a perda de “carbono azul”, associado a ecossistemas
costeiros, como mangues, pradarias marinhas e pântanos; e a alteração de
ecossistemas muito diversos.
É esperado que o
aquecimento global
contribua para a diminuição do oxigênio em alto mar e em zonas
oceânicas costeiras, entre elas, estuários e mares semifechados. Desde
meados do século passado, há uma estimativa de diminuição de entre 1% e
2% no estoque de oxigênio oceânico em todo o mundo, segundo a
Comissão Oceanográfica Intergovernamental (
COI) e a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (
UNESCO).
A
mudança climática emergiu
como uma grande ameaça aos ecossistemas de turfas, porque acentua os
efeitos de drenagem e aumenta o risco de incêndios, segundo a
ONU Meio Ambiente.
As turfas são de grande importância para sociedades humanas de todo o
mundo. Elas contribuem de forma significativa para a adaptação à
mudança climática
e para a mitigação de seus efeitos mediante o sequestro e o
armazenamento de carbono, a conservação da diversidade biológica, a
regulação do regime hidrológico e da qualidade da água, e outros
benefícios para ecossistemas que repercutem positivamente nos meios de
subsistência.
Indicadores climáticos
Calor oceânico: O ano de 2018 teve novas máximas de
conteúdo calorífico nos oceanos até os 700 metros de profundidade (desde
1955) e até os 2 mil metros (desde 2005), superando assim os recordes
previamente registrados em 2017.
Mais de 90% da energia presa pelos gases causadores do efeito estufa
acaba nos oceanos e o conteúdo calorífico fornece uma medição direta
desse acúmulo de energia nas partes superiores dos oceanos.
Nível do mar: O
nível do mar segue aumentando em ritmo acelerado.
Em 2018, o nível médio do mar em escala mundial foi aproximadamente 3,7
mm mais alto que em 2017, um patamar que representou um novo recorde.
A perda acelerada de massa das camadas de gelo é a primeira causa do
aumento no ritmo de elevação do nível médio do mar em escala mundial,
como revelam dados obtidos por imagens de satélite do
Programa Mundial de Pesquisas Climáticas.
Acidificação dos oceanos: Na última década, os
oceanos absorveram aproximadamente 30% das emissões antropogênicas de
CO2. O CO2 absorvido reage com a água marinha e modifica seu pH. Este
processo é conhecido como acidificação dos oceanos e pode afetar a
capacidade de organismos marinhos, como moluscos e corais que formam
recifes, de criar e manter carcaças e esqueletos.
As observações realizadas em águas oceânicas abertas durante os 30
anos mostram uma clara redução do pH. Em linha com relatos e projeções
anteriores, a acidificação dos oceanos persiste e os níveis do pH
oceânico global continuam caindo, segundo a
UNESCO e a
Comissão Oceanográfica Intergovernamental.
Gelo marinho: A extensão do gelo marinho no Ártico
ficou abaixo da média durante 2018 e se manteve em níveis baixos sem
precedentes durante os dois primeiros meses deste ano. O pico anual
ocorreu em meados de março e foi o terceiro menor já registrado em um
mês de março do período 1979-2018 mediante observações de satélites.
A
extensão de gelo marinho
de setembro teve seu sexto valor mais baixo para o mês desde que se tem
registros. As 12 menores extensões para o mês de setembro ocorreram
todas desde 2007. No final de 2017, a extensão de gelo diária chegou
perto de níveis mínimos recordes.
A extensão de gelo marinho da
Antártida alcançou sua
máxima anual no final de setembro e começo de outubro. Após extensão
máxima no começo da primavera, o gelo marinho da
Antártida
diminuiu em grande velocidade e os valores das extensões mensais estão
entre os cinco registros mais baixos desde o fim de 2018.
A
capa de gelo da Groenlândia
perdeu massa praticamente a cada ano nas últimas duas décadas. O
balanço de massa superficial aumentou graças a uma queda de neve acima
da média, em particular na zona oriental da
Groenlândia, e a uma estação de degelo perto da média.
Isso levou a um aumento do balanço de massa superficial global, mas
teve pouco impacto na tendência observada nas últimas duas décadas, nas
quais foi evidenciada, desde 2002, uma perda de massa na capa de gelo da
Groenlândia de aproximadamente 3.600 gigatoneladas.
Recuo das geleiras: O
Serviço Mundial de Vigilância das Geleiras
mede balanço de massa de geleiras usando um conjunto de geleiras de
referência em todo o mundo, com mais de 30 anos de observações entre
1950 e 2018. Elas cobrem 19 regiões montanhosas. Resultados preliminares
para 2018, baseados em uma série de geleiras, indicam que o ano
hidrológico 2017/18 foi o 31º ano consecutivo de balanço de massa
negativo.
Clique
aqui para acessar o relatório completo (em inglês).
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