Tuesday, 30 April 2019

gearte - v. 6, n. 1 (2019)

https://seer.ufrgs.br/gearte/issue/view/3702/showToc

v. 6, n. 1 (2019)

Artes visuais e tecnologias na educação: história e contemporaneidade

Tuesday, 2 April 2019

RECURSOS NATURAIS : Educação Ambiental - Mato Grosso





https://www.youtube.com/watch?v=35FEY_p9kSk&feature=youtu.be

Em outro episódio fora do Rio Grande do Norte, o programa gravado em Mato Grosso foi mostrar um pouco das belezas naturais deste estado, em Cuiabá e Chapada dos Guimarães. Vamos conhecer o projeto REAJA, as fotos e vídeos feitos por jovens do Quilombo Mata Cavalo no município de Nossa Senhora do Livramento/MT. A entrevistada é professora Michèle Sato, docente que coordena o Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA). Michele é bióloga de formação, com percurso interdisciplinar e luta pelos direitos humanos e populações em situação de vulnerabilidade. Atualmente, é também bolsista de Produtividade CNPq. A reportagem é do jornalista Marco Escobar.



Biodiversidade da Amazônia e Cerrado sofre com delimitação de biomas

http://www.ihu.unisinos.br/588010-biodiversidade-da-amazonia-e-cerrado-sofre-com-delimitacao-de-biomas

Biodiversidade da Amazônia e Cerrado sofre com delimitação de biomas


02 Abril 2019
A biodiversidade da área de transição entre o Cerrado e Amazônia pode ser impactada devido aos métodos utilizados para definir o limite dos biomas. Estudo publicado na última edição da revista Biodiversity and Conservation  detecta que usar uma simples linha para separar os biomas em mapas oficiais pode ocasionar em grande perda de vegetação.
A reportagem é publicada por Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - IPAM, 26-03-2019.
A porção estudada tem mais de 600 mil quilômetros quadrados, sendo que a maior parte está em Mato Grosso. O limite original detectado pelo IBGE é três vezes menor do que o detectado por este estudo. A “linha divisória” adotada por órgãos oficiais fez o Cerradão, região de florestas, ter um grau de proteção inferior.
Eduardo Marques, um dos autores do estudo, explica que existe uma transição larga e rica que possui características dos dois biomas formando uma região com especificidades únicas. “A complexidade dos limites das savanas tropicais não é representada de forma verossímil nos mapas atuais, ameaçando seriamente a biodiversidade da área de transição. Como consequência, as perdas de vegetação atingiram níveis próximos ao colapso em áreas de intensa atividade humana.”
A transição Cerrado-Amazônia (TCA) no Brasil é a maior transição savana-floresta do mundo. Ao longo dos 30 anos analisados no estudo, a região estudada sofreu mais desmatamento do que a Amazônia e o Cerrado individualmente. Na porção mapeada existiam 127,434 km² de matas transição em 1984, já em 2014 caiu para 74,933 km². Ou seja, 41.2% de matas de transição foram transformadas em lavouras, pastagens ou outros tipos de uso humano. A savana perdeu 40.9% e a floresta densa perdeu 39.9% de área.
O avanço da fronteira agrícola em conjunto com as leis mais brandas para as áreas de Cerrado, o Código Florestal protege 35% do Cerrado e 80% da Amazônia, são os principais fatores responsáveis pela destruição da transição Amazônia-Cerrado.
O autor acredita que são necessárias mais pesquisas sobre transições entre biomas e novos projetos de mapeamentos para que políticas de uso da terra sejam criadas para essas áreas. Marques atualmente faz doutorado na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) onde é orientado pelo pesquisador do IPAM Paulo Brando. Em seu doutorado, Marques está dando sequência aos estudos relacionados às áreas de transição analisando os impactos da degradação florestal na Fazenda Tanguro, situada entre a Amazônia e o Cerrado.

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Situação do clima em 2018 mostrou aumento dos efeitos das mudanças climáticas, diz relatório

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Situação do clima em 2018 mostrou aumento dos efeitos das mudanças climáticas, diz relatório


02 Abril 2019
Os sinais físicos e os impactos socioeconômicos deixados pela mudança climática são cada vez maiores devido às concentrações de gases de efeito estufa sem precedentes, que provocam um aumento das temperaturas mundiais a níveis perigosos, segundo o relatório mais recente da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
A reportagem é publicada por ONU Brasil e reproduzida por EcoDebate, 01-04-2019.
A 25ª edição da Declaração da OMM sobre o estado do clima mundial, correspondente a 2018, destacou a elevação recorde do nível do mar, assim como das temperaturas terrestres e oceânicas, que ficaram excepcionalmente altas nos últimos quatro anos. Esta tendência de aquecimento começou no início do século e deve continuar.
“Desde a primeira publicação da Declaração, a climatologia alcançou um grau de robustez sem precedentes e proporcionou provas confiáveis do aumento da temperatura mundial e de circunstâncias relacionadas, como o aumento acelerado do nível do mar, a redução dos gelos marítimos, o retrocesso das geleiras e fenômenos extremos, tais como as ondas de calor”, afirmou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.
Estes indicadores fundamentais da mudança climática estão se tornando mais pronunciados. Assim, os níveis de dióxido de carbono, que eram de 357,0 partes por milhão (ppm) em 1994, quando a Declaração foi publicada pela primeira vez, seguem aumentando, tendo alcançado 405,5 ppm em 2017. É previsto que em 2018 e 2019 as concentrações de gases causadores do efeito estufa aumentem ainda mais.
A Declaração da OMM sobre o clima inclui contribuições dos Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais, de uma ampla comunidade de especialistas científicos e de órgãos das Nações Unidas. Nela, são explicados com detalhes os riscos relacionados ao clima e seus impactos à saúde e ao bem-estar das pessoas, às migrações e aos deslocamentos, à segurança alimentar, ao meio ambiente, aos ecossistemas oceânicos e terrestres. Da mesma forma, os fenômenos extremos que acontecem em todo o mundo são catalogados.
“Fenômenos extremos continuaram no início de 2019, como o caso recente do ciclone tropical Idai, que provocou inundações devastadoras e a trágica perda de vidas humanas em Moçambique, Zimbábue e Malauí. Pode ser que se transforme em um dos desastres meteorológicos mais letais a afetar o Hemisfério Sul”, destacou Taalas.
“O Idai tocou a terra na cidade de Beira (Moçambique) — uma cidade em rápido crescimento, situada em baixa altitude em um litoral vulnerável às marés de tempestade e que já está sofrendo as consequências da elevação do nível do mar. As vítimas do Idai encarnam as razões pelas quais é necessário contar com uma agenda mundial de desenvolvimento sustentável, de adaptação à mudança climática e de redução de riscos de desastres”, afirmou.
No início do ano, as temperaturas diárias de inverno na Europa bateram recordes de calor, enquanto se observou um frio incomum na América do Norte e ondas de calor abrasador na Austrália; por sua vez, a superfície de gelo do Ártico e da Antártida voltou a ficar muito abaixo da média.
Segundo o mais recente Boletim sobre o Clima Estacional Mundial (de março a março) da OMM, temperaturas da superfície do mar acima da média – parcialmente por conta de um El Niño de baixa força no Pacífico – deve levar a uma temperatura acima do normal em terra, especialmente em latitudes tropicais.

Cúpula sobre o Clima

A Declaração da OMM sobre o estado do clima mundial foi divulgada oficialmente em coletiva de imprensa com participação do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, da presidente da Assembleia Geral da ONU, María Fernanda Espinosa, e do secretário-geral da OMM, Petteri Taalas. A conferência será realizada na sede da ONU em Nova Iorque e irá coincidir com uma reunião de alto nível sobre o clima e desenvolvimento sustentável para todos.
“Os dados divulgados neste relatório geram grande preocupação. Os últimos quatro anos foram os mais quentes já registrados e a temperatura média mundial na superfície de 2018 esteve aproximadamente 1°C acima do valor de referência da era pré-industrial”, escreveu Guterres no relatório.
“Já não pode haver mais demora”, disse. Guterres irá convocar uma Cúpula de chefes de Estado sobre o Clima para 23 de setembro. A Declaração sobre o estado do clima será uma das contribuições da OMM à Cúpula, e Taalas irá presidir o grupo consultivo científico do evento.
“Enquanto presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, tenho entre minhas prioridades destacar de que maneira a mudança climática afeta a conquista dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a necessidade de alcançar uma compreensão holística das consequências socioeconômicas e da maior intensidade dos fenômenos meteorológicos extremos que estão acontecendo no mundo todo. Este relatório da OMM irá contribuir de forma importante para nossa ação internacional conjunta para captar a atenção para este problema”, destacou Espinosa.

Destaques da Declaração da OMM

Impactos Climáticos

Perigos: Em 2018, a maioria dos perigos naturais que afetaram quase 62 milhões de pessoas esteve associada com fenômenos meteorológicos e climáticos extremos.
As inundações seguem como fenômeno com maior número de afetados — mais de 35 milhões de pessoas —, segundo análises de 281 fenômenos registrados pelo Centro de Investigação da Epidemiologia de Desastres e pela Estratégia Internacional das Nações Unidas para a Redução de Desastres.
Os furacões Florence e Michael foram dois dos quatorze “desastres de milhares de milhões de dólares” que aconteceram em 2018 nos Estados Unidos, provocando em torno de 49 bilhões de dólares em danos e deixando mais de 100 vítimas fatais.
O supertufão Mangkhut atingiu mais de 2,4 milhões de pessoas e provocou a morte de ao menos 134, principalmente nas Filipinas.
Na Europa, no Japão e nos Estados Unidos, mais de 1.600 mortes foram atribuídas às intensas ondas de calor e a incêndios florestais, que também causaram danos materiais sem precedentes de quase 24 bilhões de dólares nos EUA. Em Kerala, na Índia, foram registradas as piores inundações em quase um século.
Segurança alimentar: A exposição do setor agrícola aos fenômenos climáticos extremos ameaça reverter ganhos da luta contra a desnutrição. Novos indícios apontam para um aumento contínuo da fome após um período prolongado de diminuição, segundo dados complicados por órgãos das Nações Unidas, entre eles a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA).
Estima-se que o número de pessoas subalimentadas tenha chegado a 821 milhões em 2017, devido em parte às graves secas associadas ao intenso episódio do El Niño de 2015/2016.
Deslocamentos populacionais: Dos 11,7 milhões de deslocados internos registrados pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) em setembro de 2018, havia mais de 2 milhões de pessoas em situação de deslocamento por conta de desastres relacionados a fenômenos meteorológicos e climáticos.
Secas, enchentes e tempestades (incluindo furacões e ciclones) são os fenômenos que ocasionaram a maior quantidade de deslocamentos por desastres em 2018. Em todos os casos, as populações deslocadas são vulneráveis e precisam de proteção.
Segundo a Rede de Vigilância e Proteção dos Repatriados, do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), entre janeiro e dezembro de 2018 foram registrados cerca de 880 mil novos deslocamentos internos. Destes, 32% foram atribuídos às inundações e 29% à seca.
Centenas de milhares de refugiados rohingyas foram obrigados a fazer deslocamentos secundários por conta de fenômenos meteorológicos extremos, como fortes chuvas, inundações e deslizamentos de terra.
Calor, qualidade do ar e saúde: Existem diversas interconexões entre clima e qualidade do ar que estão sendo exacerbadas pela mudança climática.
Estima-se que, entre 2000 e 2016, o número de pessoas expostas a ondas de calor tenha aumentado aproximadamente 125 milhões, dado que as ondas de calor eram, em média, 0,37 dias mais longas que no período de 1986 a 2008, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Estas tendências levantam alerta na comunidade da saúde pública, à medida que se prevê que a intensidade, a frequência e a duração dos episódios de temperaturas extremas aumentem ainda mais.
Alguns dos efeitos ambientais são o branqueamento dos corais e a redução da concentração de oxigênio nos oceanos. Outros efeitos são a perda de “carbono azul”, associado a ecossistemas costeiros, como mangues, pradarias marinhas e pântanos; e a alteração de ecossistemas muito diversos.
É esperado que o aquecimento global contribua para a diminuição do oxigênio em alto mar e em zonas oceânicas costeiras, entre elas, estuários e mares semifechados. Desde meados do século passado, há uma estimativa de diminuição de entre 1% e 2% no estoque de oxigênio oceânico em todo o mundo, segundo a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
A mudança climática emergiu como uma grande ameaça aos ecossistemas de turfas, porque acentua os efeitos de drenagem e aumenta o risco de incêndios, segundo a ONU Meio Ambiente.
As turfas são de grande importância para sociedades humanas de todo o mundo. Elas contribuem de forma significativa para a adaptação à mudança climática e para a mitigação de seus efeitos mediante o sequestro e o armazenamento de carbono, a conservação da diversidade biológica, a regulação do regime hidrológico e da qualidade da água, e outros benefícios para ecossistemas que repercutem positivamente nos meios de subsistência.

Indicadores climáticos

Calor oceânico: O ano de 2018 teve novas máximas de conteúdo calorífico nos oceanos até os 700 metros de profundidade (desde 1955) e até os 2 mil metros (desde 2005), superando assim os recordes previamente registrados em 2017.
Mais de 90% da energia presa pelos gases causadores do efeito estufa acaba nos oceanos e o conteúdo calorífico fornece uma medição direta desse acúmulo de energia nas partes superiores dos oceanos.
Nível do mar: O nível do mar segue aumentando em ritmo acelerado. Em 2018, o nível médio do mar em escala mundial foi aproximadamente 3,7 mm mais alto que em 2017, um patamar que representou um novo recorde.
A perda acelerada de massa das camadas de gelo é a primeira causa do aumento no ritmo de elevação do nível médio do mar em escala mundial, como revelam dados obtidos por imagens de satélite do Programa Mundial de Pesquisas Climáticas.
Acidificação dos oceanos: Na última década, os oceanos absorveram aproximadamente 30% das emissões antropogênicas de CO2. O CO2 absorvido reage com a água marinha e modifica seu pH. Este processo é conhecido como acidificação dos oceanos e pode afetar a capacidade de organismos marinhos, como moluscos e corais que formam recifes, de criar e manter carcaças e esqueletos.
As observações realizadas em águas oceânicas abertas durante os 30 anos mostram uma clara redução do pH. Em linha com relatos e projeções anteriores, a acidificação dos oceanos persiste e os níveis do pH oceânico global continuam caindo, segundo a UNESCO e a Comissão Oceanográfica Intergovernamental.
Gelo marinho: A extensão do gelo marinho no Ártico ficou abaixo da média durante 2018 e se manteve em níveis baixos sem precedentes durante os dois primeiros meses deste ano. O pico anual ocorreu em meados de março e foi o terceiro menor já registrado em um mês de março do período 1979-2018 mediante observações de satélites.
A extensão de gelo marinho de setembro teve seu sexto valor mais baixo para o mês desde que se tem registros. As 12 menores extensões para o mês de setembro ocorreram todas desde 2007. No final de 2017, a extensão de gelo diária chegou perto de níveis mínimos recordes.
A extensão de gelo marinho da Antártida alcançou sua máxima anual no final de setembro e começo de outubro. Após extensão máxima no começo da primavera, o gelo marinho da Antártida diminuiu em grande velocidade e os valores das extensões mensais estão entre os cinco registros mais baixos desde o fim de 2018.
A capa de gelo da Groenlândia perdeu massa praticamente a cada ano nas últimas duas décadas. O balanço de massa superficial aumentou graças a uma queda de neve acima da média, em particular na zona oriental da Groenlândia, e a uma estação de degelo perto da média.
Isso levou a um aumento do balanço de massa superficial global, mas teve pouco impacto na tendência observada nas últimas duas décadas, nas quais foi evidenciada, desde 2002, uma perda de massa na capa de gelo da Groenlândia de aproximadamente 3.600 gigatoneladas.
Recuo das geleiras: O Serviço Mundial de Vigilância das Geleiras mede balanço de massa de geleiras usando um conjunto de geleiras de referência em todo o mundo, com mais de 30 anos de observações entre 1950 e 2018. Elas cobrem 19 regiões montanhosas. Resultados preliminares para 2018, baseados em uma série de geleiras, indicam que o ano hidrológico 2017/18 foi o 31º ano consecutivo de balanço de massa negativo.
Clique aqui para acessar o relatório completo (em inglês).

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Pesquisadores explicam os reflexos das mudanças climáticas para a economia brasileira

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Pesquisadores explicam os reflexos das mudanças climáticas para a economia brasileira



Especialistas explicam como as mudanças climáticas podem trazer prejuízos na agricultura, pecuária, geração de energia e, consequentemente, ao Produto Interno Bruto.
A reportagem é publicada por Rede de Especialistas em Conservação da Natureza e reproduzida por EcoDebate, 01-04-2019.

Créditos: NASA
Reduzir a emissão de poluentes na atmosfera, diminuir os impactos à biodiversidade e ao clima e intensificar ações de preservação ambiental para garantir que a economia brasileira prospere nas próximas décadas. Esse é o caminho apontado por pesquisadores da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza. Sem essa preocupação estratégica, tudo indica que haverá impacto da produção agropecuária e industrial, com produtos ainda mais caros para a população. É possível, contudo, adotar medidas para que as consequências do aquecimento global não prejudiquem o setor econômico do país.
O climatologista Carlos Nobre, doutor pelo Massachusetts Institute of Technology e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, alerta que caso o Acordo de Paris, que visa frear as emissões de gases de efeito estufa no contexto do desenvolvimento sustentável, não seja cumprido, o Brasil deixaria em pouco tempo de ser a potência agrícola que é hoje.
“Se a temperatura subir entre 3°C e 4°C, o Brasil não terá mais condições de manter uma expressiva produção agrícola. Talvez apenas a Região Sul tenha alguma condição. A pecuária também vai cair muito”, afirma Nobre. O Brasil sofreria, portanto, impactos significativos na produção de alimentos e, por consequência, nas exportações.
O secretário-executivo do Observatório do Clima e membro da Rede de Especialistas, Carlos Rittl, ressalta que pode ocorrer uma mudança na geografia agrícola do país pela perda de aptidão de solos agrícolas a determinadas culturas devido às mudanças nos padrões de temperatura e pluviosidade a geográfica agrícola brasileira. “Algumas regiões terão perda de aptidão para diferentes culturas, gerando até a inviabilidade de produção. Há casos de produtores de café em Minas Gerais que já estão migrando para outros cultivos”, relata.
Com a agricultura e a pecuária sofrendo os impactos decorrentes do aquecimento global, o PIB brasileiro também será afetado. O agronegócio representa cerca de 23% do PIB nacional. Seria, portanto, um círculo vicioso que afetará toda a sociedade. Como consequência da escassez de produção agrícola, os preços das mercadorias em supermercados e feiras deverão se tornar mais caros para o consumidor final e perda de competitividade nos mercados internacionais.
A alteração climática gerará ainda outros impactos. Um deles é que terá maior tendência em aumentar o fluxo migratório de pessoas que deixarão o interior para morar em capitais. Afinal, com a produção agrícola em queda, as pessoas buscarão outras fontes de renda. “Este êxodo rural tem uma série de implicações, inclusive para a capacidade das cidades de oferecer serviços públicos adequados para aqueles que fogem das regiões cujo clima se tornou impróprio para a subsistência das famílias”, ressalta Rittl.
Ainda conforme Rittl, a possibilidade de escassez de água é outro efeito que merece atenção. “Além de afetar diretamente a população, a falta de água impacta setores econômicos importantes, como a produção de alimentos e a geração de energia. A agricultura brasileira consome cerca de 2/3 da água produzida no país. E as hidrelétricas dependem das chuvas que abastecem os rios que movem as turbinas. Em determinados cenários, há rios da Amazônia, onde se planeja a construção de grandes hidrelétricas que podem perder 30% ou mais da vazão pela perda de chuvas em suas bacias. Isto torna os empreendimentos inviáveis”, ressalta. Para compensar os baixos reservatórios, usinas termoelétricas serão mais acionadas, gerando mais poluentes e mais caras para operar. “Hoje, quando os reservatórios das hidrelétricas, estão em baixa, são acionadas termelétricas que emitem gases de efeito estufa, agravando o problema do aquecimento global, e que têm um custo elevado para as famílias e para a economia” completa o especialista.

Saúde

A saúde é outra área que terá impacto decorrente da mudança climática e ambiental. Quanto mais emissão de poluentes, mais pessoas ficarão doentes, especialmente crianças e idosos. “Temperaturas muito elevadas podem gerar graves problemas de saúde para a população, em especial os mais idosos e bebês, em especial doenças cardiorrespiratórias. Mas as doenças transmitidas por mosquitos, como zika, dengue, Chikungunya, febre amarela e malária, entre outras, podem ter sua área de ocorrência ampliada e levar a muito mais casos. Além disso, a falta ou o excesso de chuvas leva ao consumo de água impropria ou contaminada pela população, o que aumenta os riscos de outras doenças. Além do impacto para a saúde do ser humano, os custos para a saúde pública também irão aumentar”, afirma Rittl.

Adaptação

A mudança climática já é uma realidade. Para isso, é necessário que haja um processo de adaptação. Uma das estratégias, como explana Nobre, é a restauração florestal. “As árvores são essenciais para retirar o excesso de gás carbônico que produz o aquecimento global pelo efeito estufa da atmosfera”, afirma. Além disso, estudos recentes confirmam que a restauração florestal em bacias hidrográficas é uma estratégia para garantir a segurança hídrica e reduzir os custos com o tratamento da água. Nesse caminho, é fundamental o Brasil cessar o processo de desmatamento.
Outro ponto que Nobre ressalta é a necessidade de uma redução na emissão de poluentes na atmosfera. Para tanto, a matriz energética e o transporte devem ser revistos. “Para o transporte a saída é utilizar carros, caminhões e ônibus movidos à eletricidade. O Brasil está atrasado neste sentido. Mas isso irá acontecer no país”, afirma. Atualmente, a maioria dos meios de transporte no Brasil usa gasolina ou diesel, que emitem gás carbônico e vários poluentes que impactam a saúde.
Ele também acredita ser fundamental apostar em fontes de energia renováveis, como a solar e a eólica. “O Brasil tem potencial para isso. As usinas hidrelétricas existentes funcionariam como uma espécie de enorme bateria que seria acionada quando necessário. É preciso apostar nisso até chegar a condição que todas as pessoas tenham uma pequena usina em casa, gerando sua própria energia elétrica”, aponta Nobre. Isso já é realidade para cerca de 40 mil brasileiros, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

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Monday, 1 April 2019

Migrantes, o apelo de Francisco: "Coloquemos pontes nos portos". Entrevista do Papa na volta do Marrocos


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Migrantes, o apelo de Francisco: "Coloquemos pontes nos portos". Entrevista do Papa na volta do Marrocos



01 Abril 2019
O papa Francisco diz que "aqueles que constroem muros acabarão sendo prisioneiros dos muros que construíram".
Falando a respeito de migrantes, ele explica que viu um vídeo mostrando "muros com facas colocadas ali para cortar: meu coração viu tanta crueldade". E diz que "não entra" em sua cabeça e em seu coração "ver afogamentos no Mediterrâneo". "Vamos colocar pontes nos portos", pede.
Depois fala sobre os populismos: "O medo é o discurso costumeiro dos populismos, é o início das ditaduras". E da liberdade de consciência que alguns "católicos não admitem desde que passou o Concílio Vaticano II": "Temos esse problema", ele afirma. E, ainda, desfere um golpe pesado contra a Europa: "Se essa Europa tão generosa vende armas ao Iêmen para matar crianças, como pode a Europa ser coerente?". A uma pergunta sobre o Congresso da Família de Verona (Nota de IHU On-Line: evento promovido pela direita italiana liderada por Matteo Salvini - Lega Nord, Vice Primeiro-Ministro e Ministro do Interior da Itália), explica que ele não entende de "política italiana". E novamente: "Eu realmente não sei o que é. Li a carta do cardeal Pietro Parolin e concordo, é uma carta pastoral de boa educação".
Assim fala o Papa Francisco no voo de regresso de Rabat, capital do Marrocos, sua segunda viagem apostólica para um país de maioria muçulmana.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 31-03-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis a entrevista.

Houve momentos muito fortes, esta visita foi um evento histórico excepcional, histórico para o povo marroquino. Quais são as consequências desta visita para o futuro, para a paz mundial, para a coexistência no diálogo entre culturas?
Agora são flores, os frutos virão depois. Mas as flores são promissoras. Fico feliz porque nessas duas viagens pude falar sobre o que tanto toca o meu coração: a paz, a unidade, a fraternidade. Com os irmãos muçulmanos e muçulmanas selamos essa fraternidade no documento de Abu Dhabi e aqui no Marrocos todos nós vimos uma liberdade, uma fraternidade, uma acolhida de todos os irmãos com muito respeito. Essa é uma linda flor de coexistência que promete dar frutos. Nós não devemos desistir! É verdade que ainda haverá dificuldades, muitas dificuldades porque, infelizmente, existem grupos intransigentes.
Mas isso eu gostaria de dizer claramente: em toda religião há sempre um grupo fundamentalista que não quer ir em frente e vive de lembranças amargas, das lutas do passado, busca mais a guerra e até semeia medo. Vimos que é mais lindo semear a esperança, ir sempre em frente de mãos dadas. Vimos, até mesmo no diálogo com vocês aqui no Marrocos, que são necessárias pontes e sentimos dor quando vemos as pessoas que preferem construir muros. Por que sentimos dor? Porque aqueles que constroem os muros acabarão ficando prisioneiros dos muros que construíram. Em vez disso, aqueles que constroem pontes, irão sempre em frente. Construir pontes para mim é algo que vai além do humano, é preciso um grande esforço. Eu sempre me senti tocado por uma frase do romance de Ivo Andrich, 'Il ponte sulla Drina': ele diz que a ponte é feita por Deus com as asas dos anjos para os homens comunicarem ... para que os homens possam se comunicar. A ponte é para comunicação humana. E isso é belíssimo e eu vi aqui no Marrocos. Em vez disso, os muros são contra a comunicação, são para o isolamento e aqueles que os constroem se tornarão prisioneiros. Os frutos não se veem, mas vemos tantas flores que elas darão frutos.
Vocês assinaram um pacto por Jerusalém, o que pensa disso?
Sempre que há um diálogo fraterno, há um relacionamento em vários níveis. Permita-me uma imagem: o diálogo não pode ser de laboratório, deve ser humano e, se for humano, é com a mente, com o coração e com as mãos, e assim que os acordos são assinados. Por exemplo, o apelo comum sobre Jerusalém foi um passo em frente não feito por uma autoridade do Marrocos e por uma autoridade do Vaticano, mas por irmãos crentes que sofrem ao ver essa cidade de esperança ainda não conseguir ser tão universal quanto todos nós queremos: judeus, muçulmanos e cristãos. Nós todos queremos isso. E para isso assinamos esse desejo: é um desejo, um chamado à fraternidade religiosa que é simbolizado nessa cidade que é toda nossa. Somos todos cidadãos de Jerusalém, todos os crentes.
Ontem, o rei do Marrocos disse que vai proteger judeus marroquinos e cristãos de outros países que vivem no Marrocos. O que o senhor pensa dos muçulmanos que se convertem ao cristianismo? Está preocupado com esses homens e mulheres que correm risco de serem presos?
Eu posso dizer que no Marrocos há liberdade de culto, há liberdade religiosa, há liberdade de pertencimento religioso. A liberdade sempre se desenvolve, cresce: basta pensar em nós, cristãos, 300 anos atrás: havia essa liberdade que temos hoje? A fé cresce na consciência, na capacidade de entender a si mesma. Um monge francês, Vincenzo De Lerine, cunhou uma bela expressão para explicar como se pode crescer na fé: crescer na moral, mas sempre permanecendo fiel às raízes. Ele disse três palavras que realmente marcam o caminho: crescer na explicitação e na consciência da fé e da moral deve ser algo consolidado ao longo dos anos e ampliado ao longo do tempo, mas é a mesma fé sublimada nos anos. Assim, compreende-se, por exemplo, o fato de que hoje removemos a pena de morte do Catecismo da Igreja Católica: 300 anos atrás os heréticos eram queimados vivos, a Igreja cresceu em consciência moral. O respeito pela pessoa e a liberdade de culto também estão crescendo e nós também devemos continuar a crescer. Há católicos que não aceitam o que o Vaticano II disse sobre liberdade de culto, a liberdade de consciência. Temos esse problema, mas nossos irmãos muçulmanos também crescem em consciência e alguns países não entendem bem ou não crescem tão bem quanto outros.
Nessa perspectiva há o problema da conversão. Alguns países ainda não a aceitam, a prática é proibida. Outros países, como o Marrocos, não criam problemas, são mais abertos, mais respeitosos, tentam alguma maneira de proceder com discrição. Outros países com os quais falei ainda dizem que preferem que o batismo seja feito fora do país. O que me preocupa é outra coisa: o retrocesso de nós, cristãos, quando removemos a liberdade de consciência. Basta pensar nos médicos e nas instituições hospitalares cristãs que não têm o direito da objeção de consciência, por exemplo, para a eutanásia. Como? A Igreja seguiu em frente e vocês, países cristãos, vão para trás? Pensem sobre isso, porque é uma verdade. Hoje nós, cristãos, enfrentamos o perigo de que alguns governos tirem nossa liberdade de consciência, que é o primeiro passo para a liberdade de culto. A resposta não é fácil, mas não acusamos os muçulmanos, acusamos esses países onde isso acontece. É algo que causa vergonha".
O cardeal Barbarin - acusado de acobertar os abusos de um sacerdote de sua diocese (ndr) - nasceu em Rabat. Esta semana o conselho da diocese de Lyon votou quase por unanimidade para que seja encontrada uma solução duradoura para seu afastamento. É possível que o senhor ouça esse apelo?
Barbarin é um homem da Igreja, ele renunciou, mas eu não posso aceitá-lo moralmente porque, juridicamente, mas também na jurisprudência mundial clássica, há a presunção de inocência durante o tempo em que a causa está aberta. Ele impetrou recurso e o caso está aberto. Quando o segundo tribunal der a sentença, vamos ver o que acontece. Mas é sempre necessário ter a presunção de inocência. Isso é importante porque vai contra a condenação superficial midiática. O que fala a jurisprudência mundial? Que, se uma causa está aberta, há a presunção de inocência. Talvez ele não seja inocente, mas há presunção. Certa vez, falei sobre um caso na Espanha e como a condenação midiática tenha arruinado a vida de sacerdotes que depois foram considerados inocentes. Antes da condenação midiática, é preciso pensar duas vezes. E ele honestamente preferiu dizer: eu me afasto, peço uma licença voluntária e deixo o vigário geral administrar a arquidiocese até que o tribunal dê a sentença final.
No discurso de sábado para as autoridades, disse que o fenômeno da migração não se resolve com barreiras físicas, mas aqui no Marrocos, a Espanha construiu duas barreiras com lâminas para ferir aqueles que querem ultrapassá-las. Trump disse, nos últimos dias, que quer fechar completamente as fronteiras e suspender a ajuda a três países da América Central. O que o senhor gostaria de dizer a esses governantes, a esses políticos que ainda defendem essas decisões?
Primeiro de tudo o que eu disse há pouco: os construtores de muros, sejam com lâminas cortantes como facas ou com tijolos, se tornarão prisioneiros dos muros que fazem. A história dirá. Segundo: quando Jordi Évole me entrevistou, ele me mostrou um pedaço daquele arame farpado com lâminas. Eu lhe digo sinceramente que fiquei abalado e quando ele saiu eu chorei. Chorei porque não entra na minha cabeça e no meu coração tamanha crueldade. Não entra na minha cabeça e no meu coração ver afogamentos no Mediterrâneo: vamos colocar pontes nos portos. Este não é o modo para resolver o grave problema da imigração.

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Um governo com esse problema está com a batata quente em suas mãos, mas deve resolvê-lo de outra forma, humanamente. Quando vi aquela concertina, não pude acreditar.

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Depois, certa vez tive a oportunidade de ver um vídeo da prisão dos refugiados que retornam, prisões não oficiais e prisões de traficantes. Causam sofrimento, causam sofrimento. Eles vendem as mulheres e as crianças, sobram os homens. A União Europeia precisa falar. Dizem: não deixo entrar, ou deixo que eles se afoguem ali, ou os mando de volta sabendo que muitos deles cairão nas mãos desses traficantes que venderão as mulheres e as crianças, matarão ou torturarão para escravizar os homens. Certa vez falei com um governante, um homem que eu respeito, Alexis Tsipras. Ele me explicou as dificuldades, mas no final ele me disse esta frase: "Os direitos humanos vêm antes de acordos". Esta frase merece o Prêmio Nobel.
O senhor luta há muitos anos para proteger e ajudar os migrantes, como fez nos últimos dias no Marrocos. A política europeia vai exatamente na direção oposta. A Europa se torna um bastião contra os migrantes. Essa política reflete a opinião dos eleitores. A maioria desses eleitores são cristãos católicos. Como se sente diante dessa triste situação?
Eu vejo que muitas pessoas de boa vontade, não apenas católicas, mas boas pessoas, de boa vontade, estão um pouco tomadas pelo medo que é o discurso costumeiro dos populismos, o medo. Semeia-se o medo e depois se tomam as decisões. O medo é o início das ditaduras. Vamos para o último século, para a queda do império de Weimer, repito muito isso. A Alemanha precisava de uma saída e, com promessas e medos, Hitler foi em frente, sabemos o resultado. Aprendemos com a história, isso não é novo: semear medo é fazer uma colheita de crueldade, de fechamentos e até de esterilidade. Pensem no inverno demográfico da Europa. Nós que vivemos na Itália também estamos abaixo de zero. Pensem na falta de memória histórica: a Europa foi feita de migrações e esta é a sua riqueza. Ponderemos a generosidade de tantos países, com os migrantes europeus que, nos dois pós-guerra foram, em massa, para a América do Norte, América Central, América do Sul. Meu pai foi para lá no pós-guerra. Precisamos de um pouco de gratidão ...
É verdade, para ser compreensivos, que o primeiro trabalho que temos a fazer é tentar fazer com que as pessoas que migram por causa da guerra ou da fome não tenham essa necessidade. Se essa Europa tão generosa vende as armas ao Iêmen para matar crianças, como a Europa pode ser coerente? E digo, este é um exemplo, mas a Europa vende armas.
Depois, há o problema da fome, da sede. A Europa, se quiser ser a mãe Europa e não a avó Europa precisa investir, precisa tentar de forma inteligente ajudar a elevar com a educação, com os investimentos e isso não é uma opinião minha, foi dita pela chanceler Merkel. É algo que ela faz bastante: impedir a emigração não pela força, mas pela generosidade, pelos investimentos educacionais, econômicos, etc. E isso é muito importante.
Em segundo lugar, sobre como agir: é verdade que um país não pode receber a todos, mas há toda uma Europa para distribuir aos migrantes, há toda a Europa. Porque o acolhimento deve ser de coração aberto, depois acompanhar, promover e integrar. Se um país não pode integrar, deve pensar imediatamente em conversar com outros países: quanto você pode se integrar, para dar uma vida digna às pessoas.
Outro exemplo que vivi em minha carne no tempo das ditaduras, a Operação Condor em Buenos Aires, na América Latina, Argentina, Chile e Uruguai. Foi a Suécia que recebeu com generosidade impressionante. Eles imediatamente aprendiam o idioma com a ajuda do estado, encontravam trabalho, casa. Agora a Suécia sente um pouco de dificuldade em integrar, mas fala isso e pede ajuda. Quando estive lá no ano passado, o primeiro-ministro me recebeu, mas na cerimônia de despedida havia uma ministra, uma jovem ministra, acredito que da educação, que era um pouco mais morena porque era filha de uma sueca e de um imigrante africano: assim integra um país, que eu coloco como um exemplo, como a Suécia. Mas para isso é preciso generosidade, é preciso querer avançar, mas com medo não iremos à frente, com os muros ficaremos fechados nesses muros.
O senhor muitas vezes denuncia a ação do diabo, também o fez na recente cúpula. Ultimamente ele tem trabalhado duro. O que fazer para combatê-lo, especialmente no que diz respeito aos escândalos da pedofilia?
Um jornal, após meu discurso no final da cúpula dos presidentes das conferências episcopais, escreveu: o Papa foi esperto, primeiro disse que a pedofilia é um problema mundial, depois disse algo sobre a Igreja, no final ele lavou suas mãos e culpou o diabo. Um pouco ‘simplista’ não?
Um filósofo francês, nos anos 1970, fez uma distinção que para mim foi bastante esclarecedora. Ele me deu um esclarecimento hermenêutico. Ele dizia: para entender uma situação, é preciso dar todas as explicações e depois procurar os significados. O que significa socialmente? O que significa pessoal ou religiosamente? Eu tento dar as medidas das explicações. Mas há um ponto em que não se consegue mais entender sem o mistério do mal. Pensem na pornografia infantil virtual. Houve dois encontros, pesados, em Roma e Abu Dhabi. Eu me pergunto, como isso se tornou uma coisa do cotidiano? Como? Se você quiser ver um abuso sexual contra menores ao vivo, basta se conectar com um site de pornografia infantil virtual, que mostram isso para você. Eu não estou mentindo. Eu me pergunto: os responsáveis não podem fazer nada? Nós, na Igreja, faremos de tudo para acabar com essa calamidade, faremos de tudo.
Nesse discurso dei medidas concretas. Os responsáveis por essas sujeiras são inocentes? Aqueles que ganham com isso? Em Buenos Aires, com dois gestores municipais, fizemos uma portaria, uma disposição não vinculante para hotéis de luxo, onde se dizia "coloquem na recepção do seu hotel que não são permitidas relações com menores". Ninguém quis colocar isso. Não, você precisa entender, não se pode, parece que somos sujos, todos sabem que não fazemos isso, mas sem o aviso.
Um governo não pode identificar onde esses vídeos com crianças são feitos? Todas filmados ao vivo. Isso para dizer que o flagelo mundial é grande, mas também que não se pode compreender sem o espírito do mal: é um problema concreto.
Para resolver isso, há duas publicações que recomendo: um artigo de Gianni Valente no Vatican Insider, onde ele fala sobre os donatistas. O perigo da Igreja hoje de se tornar donatista, fazendo prescrições humanas, esquecendo as outras dimensões. A oração, a penitência, que não estamos acostumados a fazer. Ambas! Porque, para vencer o espírito do mal não serve “lavar-se as mãos”, dizer “o diabo faz isso”, não. Nós também devemos lutar contra o diabo, contra as coisas humanas.
A outra publicação foi feita pela Civiltà Cattolica. Eu tinha escrito um livro, em 1987, as Cartas da Tribulação, eram cartas do padre geral dos jesuítas quando a companhia estava prestes a ser supressa. Fiz um prólogo, eles estudaram e fizeram um estudo sobre as cartas que fiz ao episcopado chileno e ao povo chileno, como agir com isso, as duas partes, a parte científica contra a parte espiritual. O mesmo foi feito com os bispos dos Estados Unidos, as propostas eram demasiado metodológicas, sem vontade, a dimensão espiritual era negligenciada.
Eu gostaria de lhes dizer: A Igreja não é congregacionalista, é católica, onde o bispo deve tomar as decisões em mãos e também o Papa deve fazer isso, como pastor. Mas como? Com as medidas disciplinares e também com a penitência, com a oração. Eu ficaria grato se vocês estudassem as duas coisas: a parte humana e espiritual.

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