Tuesday, 7 July 2020

A foto do migrante no colo do marinheiro: “É a Pietà do mar”

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A foto do migrante no colo do marinheiro: “É a Pietà do mar”

O garoto africano, magro e assustado, olha fixo para o celular. Ele desce a escadinha da ponte nos braços de um marinheiro de terno azul e uma máscara anti-Covid. A foto circula na Internet, relançada por ONGs que trabalham há anos para salvar as pessoas desesperadas que fogem da África e do Oriente Médio. "Parece a Pietà", comentam várias pessoas nas mídias sociais. A Pietà do Mediterrâneo está a bordo do navio "Talia", um cargueiro libanês que normalmente transporta gado (porcos, bois, camelos, aves) e que há alguns dias recebe cerca de cinquenta migrantes, resgatados em condições extremas, bloqueados a poucos quilômetros de distância de Malta porque La Valletta, pelo menos até ontem à noite, se recusa a deixá-los desembarcar.

A reportagem é de Leonard Berberi, publicada por Corriere della Sera, 05-07-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.


(Foto: Sea-Watch Italy/Reprodução/Twitter)

O alarme

Tudo começou no dia 3 de julho com um sinal de alarme da ONG “Alarm Phone” sobre um bote danificado. Os marinheiros do cargueiro "Talia" - que partiu de Homs, na Líbia, onde transportou os animais - estão entre os mais próximos. Eles modificam a rota e os recuperam na que - e o detalhe não é insignificante - é a área Sar maltesa, a sudeste de Lampedusa. O aval à recuperação é dado pelos homens do Centro de Resgate de Malta, que autorizam a entrada nas águas territoriais para se abrigar do mar agitado (com ondas de até sete metros), mas não permitem atracar.


A bordo do navio mercantil "Talia". (Foto: Sea-Watch Italy/Reprodução/Twitter)

As condições de Malta

A partir daquele momento, começa o bate-volta político. As autoridades italianas – deixam vazar de Malta - dizem "não". O governo de La Valletta - reconstrói o jornal Times of Malta - pede à União Europeia garantias por escrito sobre a realocação. Em suma, não quer que nenhum dos desesperados ponha os pés no pequeno país e depois permaneça ali para sempre. "Antes de serem resgatadas, as pessoas ficaram no mar por cinco dias e estão exaustas - escreveu a ONG "Sea-Watch Italy" no Twitter -. Duas delas foram evacuadas em Malta, mas a tripulação não pode cuidar adequadamente dos que foram deixados a bordo”.


A bordo do navio mercantil "Talia". (Foto: Sea-Watch Italy/Reprodução/Twitter)

A denúncia

Os migrantes - a maior parte da África subsaariana - dormem em espaços onde os animais costumam ser abrigados. Justamente eles que, em algumas celas, em terra firme, permaneceram antes de serem embarcados para a Itália, a Europa, o renascimento. "Nem tivemos tempo de limpar a sujeira deixada pelos animais", diz Mohammed Shaban, comandante sírio do cargueiro. "Respeitamos a lei e não podemos desembarcar na Europa", denunciam do navio. "Não podemos acreditar que um cargueiro com possibilidades limitadas de assistência cumpra seu dever, enquanto um estado como Malta não indique um porto seguro conforme exigido por lei", acrescenta Shaban.


A bordo do navio mercantil "Talia". (Foto: Sea-Watch Italy/Reprodução/Twitter)

Ancorado no mar

O navio cargueiro na noite de domingo estava ancorado ao sudeste de Malta, de acordo com o site de rastreamento da MarineTraffic. Comida e água - dizem do navio - são escassas, assim como os medicamentos. Os malteses enviaram um médico ontem. "De qualquer forma, não os teríamos abandonado, mesmo que a lei do mar não tornasse obrigatório o resgate", comenta Majed Eid, gerente geral da Talia Shipping Line, fundada em 1982 e apta a transportar até dois mil bovinos por viagem. "Esse é o nosso código de ética - acrescenta, citado em um tweet das ONG - a solidariedade e a humanidade exigem que façamos isso".

 

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