Monday 19 October 2020

O aquecimento global pode esquentar o Brasil em até seis graus nas próximas décadas

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O aquecimento global pode esquentar o Brasil em até seis graus nas próximas décadas

aquecimento global é um dos principais assuntos entre os países para o futuro da humanidade. Com o aumento da população, a emissão de carbono e, principalmente, da poluição causada pelos humanos, os efeitos catastróficos de um futuro não tão distante já afetam o clima, causam um aumento nas catástrofes naturais e o derretimento das geleiras árticas, que podem desencadear um aumento progressivo dos mares e uma situação irreversível no mundo para as próximas décadas.

A reportagem é de André Martins, estagiário do Curso de Jornalismo da Unisinos.

ONU, por exemplo, criou a Agenda 2030 com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, uma coleção de 17 metas globais para colocar o planeta em um caminho mais sustentável. Alguns países europeus já discutem e analisam com preocupação a situação da Amazônia, por exemplo, a maior floresta do mundo e vítima de ataques brutais vindos de grileiros e agricultores, além de terem assinado o Acordo de Paris para que os países reduzam a emissão de gases estufa a partir de 2020.

Para analisar as razões do aquecimento global e a situação na qual nos encontramos, o Prof. Dr. Carlos Nobre ministrou, nesta quinta-feira, 15-10-2020, a palestra “Urgência Climática e os Riscos para o Brasil”, organizada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, transmitida via Microsoft Teams e Youtube.

Nobre abordou em sua palestra os fatores que determinaram o aceleramento do aquecimento global; o principal deles é a grande quantidade de emissão de gás carbono na atmosfera. Com o crescimento da população, o aumento dos transportes e outras atividades, a emissão de gás carbono cresceu significativamente, causando assim, o aquecimento da terra e comprometendo o sistema global futuro, já que a defesa existente na atmosfera do planeta para os raios solares está enfraquecendo. “Infelizmente a atmosfera não consegue se livrar de todo esse gás carbônico e o principal fator para essa crescente é a queima de combustíveis fosseis. Nós estamos causando um cenário que a terra não via há milhões de anos, antes mesmo da vida no planeta”, afirma.

Os últimos 16 anos no mundo foram de crescente na temperatura. Segundo Nobre, esses foram os anos mais quentes da história, o que evidencia a clara mudança climática, com aquecimentos dos oceanos e os encolhimentos dos mantos de gelo. “2020 bateu o recorde de temperatura e o índice é que irá aumentar mais ainda”, afirma. No Brasil, a temperatura aumentou 1,5 graus desde 1850. Com o aquecimento, veio também a crescente nas catástrofes naturais, que aumentaram 3 vezes mais desde os anos 1980, chegando à casa de 1000 desastres por ano no Brasil.

As regiões brasileiras serão afetadas de maneira desordenada e alguns locais já sentem a falta de chuva, como o Nordeste, que passa cada vez mais tempo em um clima seco e quente. Nesse século, a região já permaneceu sete anos consecutivos com dias sem chuva, o tempo mais longo da história. Em outras regiões, como no Sul, as chuvas virão cada vez mais fortes, com os ciclones bombas, que ocorrem com mais frequência e intensidade. “Estamos seguindo uma trajetória que é o pior cenário projetado para o aumento das temperaturas e infelizmente estamos muito próximos de um caminho com forte calor e desastres naturais. No final do século, poderemos ter um aumento de até seis graus no Brasil, se tornando um país quase fervendo”, explica.

Com o derretimento das geleiras e o aumento da temperatura dos mares, o nível do mar está crescendo ano após ano e isso preocupa Nobre. “O derretimento pode levar séculos até milênios, mas essa transformação é irreversível”, alerta. Os oceanos estão crescendo de forma acelerada, mais até que o programado. Isso pode afetar a vida de pessoas que moram perto de praias e locais próximos aos mares. O prognóstico é que até 2100 algumas cidades ficarão à deriva no mar. “Até 2300 restaria pouquíssimas geleiras e isso faria com que o nível do mar aumentasse alguns metros”, afirma.

Nobre alerta também para os biomas brasileiros e os prognósticos com o aquecimento global acelerado. A caatinga poderá sumir em 2100, com o forte calor e a seca severa. O bioma poderá deixar de existir, virando apenas um grande deserto de intenso calor. A Amazônia poderá se transformar numa savana e estamos muito próximos ao ponto de a floresta não conseguir reverter esse cenário. Nobre já concedeu uma entrevista à IHU On-Line mostrando alternativas para frear o desmatamento da Amazônia e desenvolveu um robusto modelo econômico sustentável para a floresta, com base nos recursos locais existentes. “Frear o desmatamento requer uma política pública de desmatamento zero. É possível, sim, o Brasil continuar a ser uma potência na produção de alimentos utilizando os cerca de 270 milhões de hectares já em atividade agropecuária e silvicultura”, reitera.

Nobre concluiu sua palestra falando sobre alguns pontos que precisam ocorrer para evitar um cenário apocalítico no futuro. Além de diminuir a emissão de carbono pela metade em algumas décadas, o Brasil precisará manter um cenário de protagonismo no enfrentamento do aquecimento global e acelerar políticas e práticas ambiciosas para que até 2030 esteja em acordo com as metas da Agenda da ONU. “Precisamos acelerar políticas de adaptação em todos os setores; estamos muito atrasados. Nós temos que mudar esse quadro e ser muito mais proativos nessa implementação da sustentabilidade. O Brasil precisa ter isso para termos futuras gerações e só conseguiremos isso com a educação”, assegura.

Para dar sequência a este importante debate, o Instituto Humanitas Unisinos - IHU continuará com o ciclo de debates Emergência climática: ecologia integral e o cuidado da nossa casa comum. Na próxima palestra, o convidado é o Prof. Dr. Andrea Fumagalli, da Università di Pavia - Itália, que no dia, 21-10-2020, tratará sobre a renda básica universal. Novos modelos econômicos, de proteção social e de reapropriação do comum. Para participar, acesse o canal do YouTube do IHU ou assista pela plataforma Microsoft teams.

 

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