Wednesday, 6 April 2022

Estudo da UFMT investiga riscos para população com deficiência visual diante de desastres ambientais

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Quarta-Feira, 06 de Abril de 2022, 10h:25 | - A | + A

CIÊNCIA

Estudo da UFMT investiga riscos para população com deficiência visual diante de desastres ambientais

Pesquisa é fundamentada no conceito de “injustiça climática” e aponta como determinados grupos tendem a encarar uma carga maior de degradação ambiental em razão de suas vulnerabilidades.

Safira Campos

Da Redação

Agência Brasil

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Apesar dos inúmeros avanços legais já conquistados, pessoas com deficiência visual ainda encontram várias barreiras que comprometem sua participação social em diferentes espaços. Um estudo desenvolvido na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), e publicado recentemente pela revista científica internacional ‘International Journal of Disaster Risk Science’, aponta as vulnerabilidades que a população cega ou com baixa visão enfrenta diante de desastres ambientais. Com foco em Cuiabá e região metropolitana, a pesquisa ainda aponta caminhos para uma mudança de cenário. 

 

Resultado da tese de doutoramento da bióloga Giselly Gomes, o artigo intitulado ‘(In)visibilidades sobre as Vulnerabilidades das Pessoas com Deficiência Visual aos Desastres e Mudanças Climáticas’, desenvolvido no âmbito do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA), é fundamentado no conceito de “injustiça climática”. O termo é utilizado por pesquisadores do mundo todo para designar o fato de que determinados grupos tendem a encarar uma carga maior de degradação ambiental em razão de suas vulnerabilidades. 

 

No caso das pessoas com deficiência visual, isto fica evidente na falta de programas e iniciativas educacionais sobre meio ambiente e na ausência de plano de ação e políticas públicas voltadas a esta população em caso de desastres. “Os desastres ambientais atingem todos nós, mas há grupos sociais que sofrem muito mais. De um modo geral, são os grupos sociais mais desfavorecidos economicamente. E, no caso do recorte desta pesquisa, são vulnerabilidades que se somam, já que se trata de pessoas com deficiência visual e mais pobres”, afirma Gomes. 

 

Nesse sentido, o estudo destaca o fato de que no Brasil, os desastres têm raízes sociais bastante profundas. Esse é o motivo, por exemplo, dos autores não utilizarem o termo ‘desastre natural', já que este remeteria à naturalização das tragédias. No caso das pessoas com deficiência, a exclusão de sua participação na discussão sobre meio ambiente agrava as consequências dos desastres sobre suas vidas e muitas vezes tira delas a possibilidade de reagir de maneiras mais seguras em casos de emergência. 

 

É o que relata um dos entrevistados pelos pesquisadores. Marconi, que tem 48 anos e visão parcial, conta que não sabe como agiria caso estivesse sozinho e precisasse agir rapidamente. “Seja durante o dia ou à noite, sempre tentamos estar com outras pessoas... Se acontecer um desastre, a maioria das pessoas vai estar no trabalho, na escola, com outras pessoas... No meu caso, por exemplo, se acontecer alguma coisa durante o dia, eu estarei aqui na AMC [Associação Matogrossense dos Cegos]. Fora isso, não vejo como criar algo específico para nós deficientes visuais, mas espero que tenha”, afirma. 

 

Perspectivas de avanços

 

Elaborado pelos autores do estudo

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Georreferenciamento de algumas pessoas com deficiência visual associadas à AMC (Associação de Cegos de Mato Grosso) e ICEMAT (Instituto dos Cegos do Estado do Mato Grosso), bem como áreas propensas a inundações e deslizamentos de terra na região metropolitana de Cuiabá.

No estudo, os cientistas montaram mapas georreferenciados usando áreas de risco detectadas pela Defesa Civil e pelo Serviço Geológico do Brasil e cruzaram com os locais de residência e convívio de 21 pessoas com deficiência em Cuiabá e sete em Várzea Grande. Com base nestes resultados, houve a proposta de criação de um aplicativo adaptado às necessidades de informação desses indivíduos. Também foi desenvolvido um mapa de risco tátil, coproduzido com um professor e dois técnicos do Centro de Apoio e Suporte à Inclusão da Educação Especial (Casies) do Estado de Mato Grosso (Casies) e revisado por especialistas em braille.

 

Os pesquisadores também apontam a necessidade de que as pessoas com deficiência sejam ouvidas e participem efetivamente dos espaços de decisão. E que tenham acesso, por meio de planos educacionais, a discussões sobre meio ambiente e riscos de desastres. “As pessoas com deficiência visual são as que

que melhor entendem suas próprias barreiras e sua inclusão no debate fazem com que o tema seja contemplado de maneira mais ampla. Nenhuma política que diga respeito a essas pessoas deveria ser decidida sem a sua plena participação”, afirma Giselly. 

 

Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), além de Giselly Gomes, também participaram do estudo o sociólogo Victor Marchezini e a professora da UFMT, Michèle Sato, como orientadora. Contribuíram para a pesquisa o Instituto dos Cegos do Estado de Mato Grosso (Icemat), o Centro de Apoio e Suporte à Inclusão da Educação Especial (Casies) do Estado de Mato Grosso e a Associação Mato-Grossense dos Cegos (AMC). 


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