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Wednesday, 27 April 2022

Mais de cem mil famílias foram afetadas em uma década de conflitos no campo na Amazônia

Mais de cem mil famílias foram afetadas em uma década de conflitos no campo na Amazônia

https://apublica.org/2022/04/mais-de-cem-mil-familias-foram-afetadas-em-uma-decada-de-conflitos-no-campo-na-amazonia/

Fonte: Agência Pública


Resumo:

Mapa dos conflitos, ferramenta exclusiva lançada pela Agência Pública e CPT, mapeia conflitos e dados socioambientais de todos os municípios da Amazônia Legal

Por Bianca Muniz, Bruno Fonseca

O ano de 2020 marcou um triste recorde na Terra Indígena (TI) Kaxarari, localizada no oeste do município de Porto Velho, capital de Rondônia. De junho a agosto, houve três episódios conflituosos envolvendo madeireiros, empresários e o governo federal, que ocorreram após uma ação das Forças Armadas que patrulhou a TI, segundo o Ministério da Defesa, para tentar coibir o desmatamento e a extração ilegal de madeira na região.

A sequência de conflitos — a maior registrada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) na área da Kaxarari na década de 2011 a 2020 — ocorreu num ano em que a região, além de ser alvo de madeireiros ilegais, registrou diversos focos de incêndio das queimadas que avançaram pela Amazônia. Mais que um caso isolado, a realidade da Kaxarari dá a dimensão do que vem ocorrendo em Porto Velho como um todo: o município combina um grande número de conflitos em terras indígenas, assentamentos e propriedades rurais ao mesmo tempo que registra o avanço do desmatamento e o alto número de incêndios na floresta.Operação de fiscalização do Ibama em área desmatada na Terra Indígena Kaxarari



A conclusão é um dos resultados de meses de investigação inédita da Agência Pública com base em uma década de apuração de conflitos no campo pela CPT na Amazônia Legal brasileira. Além de mapear os conflitos em todos os municípios da região no período, a investigação levantou, a partir de bases públicas, dados socioambientais em todos eles. O resultado é a ferramenta Mapa dos Conflitos, que mostra os municípios da Amazônia sob diversas lentes, que, juntas, ajudam a entender o que vem ocorrendo na região.

Ao todo, o mapa traz um histórico de 7.818 conflitos, em 583 municípios dos nove estados da Amazônia Legal. Mais de 100 mil famílias foram afetadas, com 2.397 vítimas de ameaça, assassinato ou tentativa de assassinato. As agressões geraram 312 mortes.
Conflitos, desmatamento e queimadas avançam em áreas da Amazônia brasileira

Em Porto Velho, três índices têm caminhado juntos e com valores elevados: conflitos, desmatamento e queimadas. Em nove dos dez anos analisados, a quantidade de conflitos no município esteve na maior faixa — que registra onde houve mais ocorrências —, em comparação a todos os demais municípios da Amazônia Legal. Coincidentemente, nesses nove anos, Porto Velho registrou também o patamar mais alto de avanço do desmatamento, considerando sua área. E os incêndios não ficaram muito atrás: em seis dos dez anos, os focos de queimadas estiveram nos maiores níveis na Amazônia.

A realidade de Porto Velho reflete a de outros municípios em Rondônia: Nova Mamoré, vizinho à capital, e Seringueiras também registraram conflitos e desmatamento nas faixas mais altas em 2020, junto a índices de queimadas acima da média do ano. Já em 2019, ambos tiveram um número alto de conflitos enquanto figuravam no topo do desmatamento, junto a índices significativos de focos de queimadas.

Situação parecida ocorreu na capital do Acre, Rio Branco. Em vários anos, enquanto registrava o nível mais alto de conflitos, o município figurou também no topo do avanço do desmatamento. O cenário foi especialmente grave em 2019, quando a capital marcou o patamar mais alto nos dois índices: de queimadas e de aumento do desmatamento. Relatório do Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental (Cigma) do governo do Acre sobre 2019 destacou que naquele ano 12% dos desmatamentos no estado se concentraram em Rio Branco.

Segundo Liana Anderson, pesquisadora do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta em Desastres Naturais (Cemaden), existe uma relação de consequência entre desmatamento e queimadas na Amazônia: em áreas onde houve desmatamento são comuns queimadas em seguida, utilizadas para “limpar” os restos da biomassa da floresta — troncos, folhas, galhos, raízes — que ficam para trás. “Você pode assumir que, absolutamente em todas as áreas que são desmatadas na Amazônia, queimam. Desmatou, é uma bomba relógio, ou naquele ano ou no ano seguinte vai acabar queimando”, comenta.Em áreas onde houve desmatamento são comuns queimadas em seguida



Antonio Oviedo, assessor do Instituto Socioambiental (ISA), explica que há uma lógica para que, na Amazônia, dados de queimadas e desmatamento andem juntos aos de conflitos por terra. “O desmatamento e as queimadas fazem parte de um processo de conversão da floresta para outros usos, como o agropecuário. Ou seja, o desmatamento na Amazônia está orientado para criar um banco de terras. Quando você tem indicadores econômicos favoráveis para expansão da fronteira agrícola, como o preço das commodities ou o baixo preço de insumos, você tem uma procura por terra, e aí grileiros se beneficiam, uma vez que já se disponibilizaram áreas desmatadas limpas”, explica.

Oviedo destaca que um dos motivos que podem levar à quantidade de registros de desmatamento e queimadas em Porto Velho é o fato de ser uma região que ainda possui áreas de floresta, mas que ao mesmo tempo conta com o acesso pela BR-364, que facilitaria o transporte de madeira, legal ou ilegal. “Você tem essa região antiga de ocupação, mas que ainda tem muito ativo florestal, muita floresta. Quando o governo começa a anunciar o interesse pela pavimentação dessa rodovia, gera toda uma migração de pessoas, porque eles têm a expectativa de que vai se abrir uma fronteira de desmatamento. E esse desmatamento sempre está atrelado com processos de grilagem e invasão”, diz.
Dados de conflitos revelam uso de agrotóxicos contra assentados

Ao todo, 323 municípios da Amazônia Legal registraram 1.376 intoxicações por agrotóxicos entre 2011 e 2020. O valor, contudo, é subestimado — estima-se que o número real seja cerca de 20 a 50 vezes superior ao reportado no sistema de saúde brasileiro — o que poderia elevar o dado a mais de 68 mil contaminações em dez anos.

Apesar de haver ocorrências de intoxicações por agrotóxicos em diversos municípios da Amazônia Legal, a combinação entre contaminações e conflitos foi especialmente alta em um local e ano: Nova Guarita, no Mato Grosso, em 2017.

Segundo os dados da CPT, foram oito episódios de conflitos entre janeiro e agosto, todos no assentamento Raimundo Vieira, envolvendo 12 famílias. De acordo com os registros, os assentados denunciaram invasões, intimidação, ameaça de expulsão e destruição de pertences pelos fazendeiros locais.

Em agosto, o Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso e a CPT publicaram nota denunciando as agressões e apontando, além de tortura, cárcere privado, destruição de casas e prática de pulverização aérea de agrotóxicos que teria envenenado assentados. Dados do Ministério da Saúde apontaram duas intoxicações no município naquele ano.

A “chuva de veneno” contra os assentados já havia sido revelada em reportagem do Estadão no ano anterior, que relatou que um fazendeiro contratara uma empresa aérea para lançar agrotóxico nas terras de famílias do assentamento.
Pará concentra combinação entre conflitos e pedidos para mineração

O estado do Pará é o líder absoluto em registros que pedem liberação para pesquisar ou garimpar substâncias minerais. Entre 2011 e 2020, 10.562 pedidos foram submetidos à Agência Nacional de Mineração (ANM).

O município recordista é bastante conhecido no noticiário: Itaituba. Situado nas margens do rio Tapajós, é um dos principais pontos de expansão da mineração na Amazônia brasileira e tem atraído garimpeiros e mineradoras que cobiçam as reservas de ouro e outros minerais na região. Para se ter uma ideia, a quantidade de processos minerários registrados anualmente saltou de 248 em 2011 para 413 em 2020. A média na década é de 311 pedidos de mineração por ano, mais de quatro vezes o número do segundo colocado no estado, Jacareacanga, que faz divisa com Itaituba e teve média de 67 pedidos.Itaituba lidera ranking de pedidos de mineração

Itaituba é também um município marcado por conflitos. Foram 35 na década, segundo a base da CPT, envolvendo famílias assentadas, ribeirinhos e indígenas. Quase metade desses conflitos ocorreu no último ano registrado no Mapa: 17, em 2020.

É em Itaituba que reportagem da Pública revelou a ocorrência de garimpo ilegal, dentro de área de conservação, e em locais requisitados à ANM por um empresário que, com o ex-presidente do ICMBio, atuava numa confederação. Além do garimpo em área de proteção, Itaituba é um dos municípios onde habita o povo Munduruku, que luta para homologar seus territórios, como o Sawré Muybu, localizado em Itaituba e Trairão. No início da década, os indígenas contestaram os planos do governo federal para a construção da hidrelétrica de São Luís do Tapajós, que afetaria a região. Eles denunciam também a invasão do seu território por equipes que tentam pesquisar minérios ou mesmo garimpar.

A mineração está ligada a outro eixo de violência registrado pela CPT: os conflitos pela água. É o caso de Marabá, também no Pará. Na Terra Indígena Xikrin do Cateté, os indígenas sofrem com a poluição dos rios causada pela mineração, situação que afeta cerca de 250 famílias da região.

As terras próximas do Cateté são alvo de grandes mineradoras, de acordo com relatório da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Em 2020, a Pública mostrou que a contaminação do rio por metais pesados é apontada como uma das causas de doenças no povo Xikrin, o que pode ter colaborado para a maior incidência de covid-19 entre os indígenas. Desde 2012, o Ministério Público Federal (MPF) processa a Vale pelos danos causados no território; de lá para cá associações indígenas também moveram ações contra a mineradora. No começo do ano, o MPF deu parecer favorável ao acordo entre indígenas e mineradoras na região.

No histórico do confronto entre indígenas e a Vale registrado pela CPT, houve 14 ocorrências na última década. Os registros apontam diferentes tipos de violência sofridos pelos indígenas, como omissão e conivência dos governos federal e municipal e contaminação e poluição da água pela mineradora.

Marabá é o município da Amazônia Legal com maior quantidade de outorgas para o uso de água publicadas pela Agência Nacional de Águas (ANA): na década analisada, foram 77, algumas autorizando a captação de mais de 200 bilhões de litros por ano.
Conflitos, violência e baixos índices de desenvolvimento social e humano

O cruzamento entre dados de internação por agressão, registrados pelo SUS, e conflitos colocam em destaque São Félix do Xingu, no Pará. O município, que em 2020 teve cerca de 100 internações por 100 mil habitantes, também vê nos conflitos fundiários o reflexo da violência.

É em São Félix do Xingu que ocorre a disputa pelo Complexo Divino Pai Eterno. A Pública esteve no acampamento Novo Oeste em 2016, que vive sob tensão desde 2008, com a pressão dos moradores para a criação de um projeto de assentamento em um território público de interesse para fazendeiros. O conflito afeta cerca de 150 famílias, e desde 2011 a CPT registrou 20 ameaças de morte, 11 tentativas de assassinato e 3 assassinatos. Entre as mortes, está a de Ronair José de Lima, em 2016, um dos líderes do acampamento.Moradores do acampamento Novo Oeste em 2016

A violência é observada também nos registros sobre Anapu, no Pará, município que se destaca pela alta ocorrência de conflitos e pela brutalidade deles. Anapu esteve cinco vezes na maior faixa de conflitos entre as medidas pela reportagem. A cidade onde a missionária Dorothy Stang foi assassinada em 2005 tem IDH-M de 0,552, considerado baixo pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

Na década, foram 55 vítimas de violência contra a pessoa no município, sendo 33 ameaças de morte, 19 assassinatos e 3 tentativas de assassinato. Entre as vítimas de assassinato está o ex-vereador Paulo Anacleto, morto a tiros em dezembro de 2019, meses depois de sofrer ameaças de morte, de acordo com os registros da CPT. Sua morte ocorreu dias depois do assassinato de seu colega Márcio Rodrigues, uma das lideranças envolvidas na ocupação do Lote 44 da Gleba Bacajá e principal testemunha de defesa contra o padre Amaro. As mortes seguidas motivam a fuga de líderes rurais das regiões conflituosas, como o caso mostrado pela Pública em 2019, após os assassinatos de Anacleto e Rodrigues.


Créditos de imagens
Ditec_Ibama/AM
Ditec_Ibama/AM
Bianca Muniz e Bruno Fonseca/Agência Pública
Vinícius Mendonça/Ibama
Vinícius Mendonça/Ibama
Bianca Muniz e Bruno Fonseca/Agência Pública
Bianca Muniz e Bruno Fonseca/Agência Pública
Marizilda Cruppe/Greenpeace
Bianca Muniz e Bruno Fonseca/Agência Pública
José Cícero/Agência Pública
Bianca Muniz e Bruno Fonseca/Agência Pública

Reportagem originalmente publicada na Agência Pública

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Wednesday, 13 May 2020

SESC Pantanal, sojicultores e empresas endividadas são beneficiados por projeto que registra terra sobre áreas indígenas



Legislativo

Quarta-Feira, 13 de Maio de 2020, 09h:15 | Atualizado: 03h atrás

MUDANÇAS NO CAR

SESC Pantanal, sojicultores e empresas endividadas são beneficiados por projeto que registra terra sobre áreas indígenas

Reprodução

Mapa - CAR em sobreposi��o a terras ind�genas em Mato Grosso

Mapa divulgado por entidades de defesa dos povos indígenas e do meio ambiente mostra fazendas que se sobrepõem às Terras Indígenas em MT

OSESC Pantanal, fazendas de até 39 mil hectares com plantio de soja, áreas administradas por empresas endividadas e mais de 40 propriedades rurais registradas sobre o território de uma única Terra Indígena (TI). Esta é a situação de alguns dos imóveis que devem ser beneficiados com um projeto da Assembleia que visa autorizar o registro do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para áreas que estejam sobrepostas às TI ainda não homologadas. A proposta está em pauta para votação na sessão desta quarta (13).

O Projeto de Lei Complementar nº 17/2020, enviado pelo Governo do Estado, altera os procedimentos de análise do CAR pela Sema, retirando a detecção de fazendas com sobreposição a TI com a situação jurídica “em estudo”, “delimitada” e “declarada”. Caso o projeto seja aprovado, apenas as TI homologadas ou em fase posterior de regularização seriam consideradas para impedir o registro do CAR. Ainda assim, há brecha para as sobreposições em territórios homologados.

O movimento é feito no mesmo sentido que a Instrução Normativa 9/2020 da Funai, publicada em abril, que também ignora as TI que estejam em fase anterior à homologação. Além disso, o projeto na AL cria possibilidade de que o CAR que estiver sobre uma TI homologada pode ser regularizado se for apresentada uma "justificativa". No total, 27 territórios estariam sob risco.

Nota técnica assinada por ICV, Opan, Fepoimt e International Rivers, organizações da sociedade civil que representam direitos dos indígenas e atuam em pautas ambientais, critica o projeto. Para as ONG, a proposta viola diretamente os direitos constitucionais dos povos nativos, traz risco de aumento nos conflitos fundiários e flexibiliza o licenciamento ambiental.

“Em decorrência disso, imóveis rurais sobrepostos às terras indígenas ficarão com caminho livre para a uma regularização fundiária maculada de nulidade, por ferir as garantias constitucionalmente reconhecidas aos povos indígenas dos direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam”, diz o documento.

As entidades dizem que um total de 207 cadastros estão, em sua totalidade ou em parte, sobrepostos às TI. De modo geral, o CAR dessas propriedades que avançam sobre os territórios indígenas estão “em análise” ou aguardando documentação na Sema. Pela legislação atual, não é possível conceder o registro, que é necessário para atividade econômica nessas terras.

Assessoria

SESC Pantanal

Estância SESC Pantanal pode ser beneficiada com projeto que está na Assembleia

SESC Pantanal

A área de 108 mil hectares em que funciona a unidade do SESC Pantanal, em Barão de Melgaço, é uma das que devem ser beneficiadas. Os indígenas da etnia Boróro reivindicam que parte da área deveria integrar a TI Perigara, que está atualmente regularizada junto ao governo e é tradicionalmente ocupada por eles. Os Boróro vivem numa área ao sul da propriedade dos comerciários.

O SESC Mato Grosso, considerando todas as suas unidades, teve crescimento de 15% nas receitas em 2019, de acordo com balanço financeiro disponível no site da instituição. Foram R$ 154,2 milhões arrecadados.

Recentemente, contudo, o chamada "Sistema S", do qual o SESC faz parte, vem sofrendo cortes nos repasses feitos pelo Governo Federal. Durante a pandemia do novo coronavírus, o Executivo cortou em 50%, por três meses, os recursos destinados ao sistema, por exemplo. Há no Congresso outras discussões para redução dos valores de maneira permamente. A mudança no CAR poderia ajudar a atividade do SESC Pantanal ou, até mesmo, viabilizar a venda da área.

Reprodução

Plantação de soja em fazenda da Terra Santa Agropecuária

Foto mostra a colheita feita por máquina em uma fazenda da Terra Santa Agro S/A

Empresa com dívida

A fazenda Terra Santa, de 18 mil hectares, é uma das propriedades com sobreposição à TI Batelão, no Noroeste do Estado, habitada pelos Kawaiwete. A área indígena está em situação “declarada” juridicamente e aguarda homologação pelo Governo Federal, o que poderia beneficiar a Terra Santa no registro do CAR se o projeto for aprovado na Assembleia.

A propriedade rural é administrada pela TS Brasil S/A, que atua no plantio de soja, milho e algodão. Em abril, o presidente da empresa, José Humberto Prata Teodoro Júnior, deu entrevista à Época revelando a intenção de vender áreas em Mato Grosso para capitalizar a atividade, reduzindo dívidas com bancos e fornecedores. A regularização do CAR poderia aumentar o valor da fazenda.

De acordo com as demonstrações financeiras da TS Brasil, publicadas em 27 de abril no Diário Oficial, a empresa teve lucro líquido de R$ 17,1 milhões em 2019, valor menor que os R$ 22,6 milhões registrados no ano anterior. A Terra Santa Agro S/A, que é controladora da TS Brasil S/A, teve prejuízo de R$ 134,7 milhões no ano passado, segundo relatório publicado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Andre Souza/Opan

Povo Manoki

Indígenas do povo Manoki faz trabalhos em meio à floresta na TI de mesmo nome

Latifúndio de soja

A maior das fazendas sojicultoras identificadas pela reportagem é a fazenda Siqueira, localizada em Brasnorte. São 39,7 mil hectares de propriedade rural, que tem parte do CAR registrado sobre área indígena vizinha à TI Menku e que está apenas delimitada pela Funai.

A fazenda é administrada pela Siqueira Empreendimentos e Participações Ltda, que tem como sócios os empresários Fernanda Regina Duarte, Luiz Conrado dos Santos Carvalho Sundfeld e Marcos Pepe Bertoni. A CGG Trading S/A e a Cantagalo General Grains S/A também têm participação na empresa, que atua no cultivo de soja, milho e algodão.

Área de conflito

Também em Brasnorte, a TI Manoki está atualmente declarada pelo Governo Federal e já vem sofrendo com conflitos entre indígenas e produtores rurais nos últimos anos. Reconhecida em 2008, a área ainda aguarda homologação. Por lá, cerca de 40 fazendas têm seu CAR registrado sobre a terra indígena.

Imóveis rurais sobrepostos às terras indígenas ficarão com caminho livre para a uma regularização fundiária maculada de nulidade, por ferir as garantias reconhecidas aos povos indígenas dos direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam

Nota técnica de entidades de defesa dos indígenas

A fazenda Fortuna Chaparral, também registrada sob os nomes de Centro-Oeste e Bela Vista, é a maior a ser beneficiada. São 9,6 mil hectares no total, com parte sobre TI. O CAR está registrado em nome dos empresários João Franco Filho e Delmar Ortiz Pinheiro. Este último é o administrador da Bela Vista Centro Oeste Ltda, empresa com R$ 1,4 milhão de capital e com sede naquele mesmo município.

Já as Fazendas Santa Bárbara II e III estão inteiras dentro da terra Manoki e são registadas no mesmo CAR. Com 7 mil hectares, ela é a segunda maior propriedade em sobreposição à área indígena conflituosa. A administração é feita pela Elo Verde Administradora, sob responsabilidade do empresário José Armando Argenta. O capital social declarado à Receita Federal é de R$ 10 mil.

Há fazendas cadastradas sobre outros territórios ainda como as TI Apiacá do Pontal e Isolados, Baía dos Guató, Pimentel Barbosa, Piripikura, entre outros.

O projeto de lei tramita na Assembleia desde 20 de abril. As mudanças, que são trazidas no substitutivo apresentado por lideranças partidárias, já tiveram a dispensa de pauta aprovada e estão com o Núcleo de Comissões temporárias desde o dia 23.

Tuesday, 9 August 2016

Os 10 conflitos ambientais mais explosivos do mundo

carta capital
http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/dez-conflitos-ambientais-que-explodem-no-mundo

Sustentabilidade

Meio Ambiente

Os 10 conflitos ambientais mais explosivos do mundo

Belo Monte, o desastre em Mariana e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro colocam o Brasil no mapa dos piores conflitos ambientais do planeta
por Felipe Milanez — publicado 08/08/2016 09h18, última modificação 08/08/2016 12h37
Rafael Lage/Divulgação
Mariana Samarco/Vale
O rompimento da barragem de Fundão destruiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG)


Vazamento tóxico, contaminação, câncer, assassinato de ambientalistas, ameaças de morte, barramento de rios, espoliação, expulsão forçada. O ritmo moderno do crescimento econômico tem sido acompanhado de violências e conflitos, no mundo inteiro. Ilusão pensar que crescer significa aumentar a democracia e o respeito aos direitos humanos. A busca por matérias primas na América Latina, África e Ásia para serem consumidas nos países ricos, provoca reações e resistências, configurando os “conflitos ambientais”.
Uma equipe da Universidad Autônoma de Barcelona, liderada pelo economista ecológico catalão Joan Martinez-Alier, tem realizado um mapeamento destes conflitos no mundo. O mapa aqui, serve não para as grandes empresas saberem aonde não devem investir, mas para articular as resistências, visibilizar as lutas, e provocar uma reflexão sobre o consumo desenfreado de matérias primas e questionar e desafiar chavões como “progresso” e “desenvolvimento” e seus imperativos de um modo de vida.
Em um mapeamento global, o Brasil, que é considerado o país mais violento do mundo contra ambientalistas pelos levantamentos da organização Global Witness, é também um dos piores em termos de conflitos ambientais. Há muita resistência por parte das populações afetadas, mas igualmente repressão, intolerância, autoritarismo e violência.
Três desastres marcam a inserção do país entre aqueles com os piores conflitos ambientais do mundo: a tragédia da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, e o crime ambiental da Samarco (Vale e BBHP) em Minas Gerais e a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Dez casos foram selecionados como os mais significativos, e são apresentados abaixo em um artigo feito coletivamente por Daniela Del Bene, Federico Demaria, Sara Mingorría, Sofia Avila, Beatriz Saes e Grettel Navas, que selecionaram os casos de conflitos. O Atlas Mundial de Justiça Ambiental é codirigido por Leah Temper e Joan Martinez Alier, e é coordenado por Daniela Del Bene. 
1. Projeto Hidrelétrico Belo Monte (Brasil)
Belo Monte
Roberto Stuckert Filho/ PR

O Projeto hidrelétrico Belo Monte está sendo construído no Rio Xingú, município de Altamira, no Pará. A barragem será a terceira maior do mundo e já devastou uma extensa área de floresta tropical brasileira. O projeto vai deslocar mais de 20 mil pessoas, ameaçando a sobrevivência das tribos indígenas Kayapó, que dependem do rio.

Artigo publicado na Forbes prevê que Belo Monte não terá grandes benefícios econômicos se comparado aos altos custos sociais e ambientais, tais como o desvio dos afluentes do Xingu, que impedirá a navegação e a pesca local. Contudo, Belo Monte deverá ser concluída no ano de 2016. Mas esta não é a única barragem no rio, o governo está planejando outras implementações locais.
O projeto é propriedade do consórcio Norte Energia, em sua maioria de propriedade do governo, a Vale também tem cerca de 5% do mesmo e está sendo financiado pelo BNDES. Segundo os opositores do projeto, Belo Monte será fonte de energia elétrica para as operações de mineração da Vale no Pará.
A violência também é uma característica deste conflito. Em 2014, 20 índios da Amazônia foram até o local da barragem de Belo Monte para exigir compensação as comunidades indígenas. A polícia atirou neles com balas de borracha e granadas de efeito moral, ferindo quatro deles. (The Ecologist, 2014).
2. O petróleo contamina o delta do Níger (Nigéria)
Delta do Niger
Marten van Dijl/Flickrcommons

O delta do rio Níger é um dos locais mais afetados pela massiva extração de petróleo mundial desde os anos 1950. O resultado são impactos ambientais e sociais irreparáveis, assim como um altíssimo nível de violência. A resposta aos protestos contra esses danos tem sido a violência de grupos armados locais, detenções ilegais, torturas e execuções.

As comunidades locais têm denunciado práticas industriais ilegais, como a queima de gás residual produzida nos processos de extração e de processamento do petróleo, que gera danos ambientais e à saúde. A vegetação e as colheitas são afetadas pela chuva ácida. A contaminação também aumentou o número de abortos, deformações congênitas, doenças respiratórias e casos de câncer, segundo diversas denúncias.
Diante de tais problemas, a principal exigência é a reparação dos danos produzidos e também deixar no subsolo o restante da reserva de petróleo, com o argumento de que, uma vez extraídas e queimadas, agravariam as emissões de gases de efeito estufa eagravariam as mudanças climáticas.
O conflito do delta do Níger alcançou um ponto crítico em 1995, quando o poeta e líder comunitário, Ken Saro Wiva, foi assassinado. A despeito da repercussão internacional dada ao conflito, o acesso à justiça pelas comunidades afetadas depende de um grande esforço para evitar a impunidade do caso.
Atualmente, há processos abertos em diferentes países como Holanda, Equador e Estados Unidos, visando investigar a responsabilidade das empresas que operam no Delta, incluindo a anglo-holandesa Shell, a estadunidense Chevron e a italiana ENI.
3. Vazamentos minerais tóxicos da Samarco sepultam uma região, Minas Gerais (Brasil)
Samarco
Rafael Lage/Divulgação

No dia 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem do Fundão na cidade de Mariana e o vazamento de 34 milhões de metros cúbicos de lama sobre o povoado de Bento Rodrigues matou 19 pessoas e deixou mais de 600 famílias desabrigadas. Este foi considerado o maior desastre ambiental produzido no Brasil por negligência de uma empresa.

Os rejeitos da barragem eram gerados pela produção de minério de ferro da empresa Samarco (Vale, Brasil, e BHP Billiton, Austrália-Reino Unido), em uma das maiores minas de minério de ferro do mundo, antes que o acidente paralisasse suas atividades.

Após os danos provocados no povoado de Bento Rodrigues, a lama tóxica alcançou o Rio Doce, onde percorreu quase 700 km, passando por mais de 40 municípios, até desembocar no oceano em Linhares (Espírito Santo). Os rejeitos afetaram o abastecimento de água de muitos municípios, exterminaram a biodiversidade aquática e extensas áreas de valor natural.

A atividade e o modo de vida de pequenos produtores rurais, pescadores, populações tradicionais e indígenas foram profundamente impactados. Em 2016, após uma multa baixa, em comparação aos danos produzidos (250 milhões de reais), a Samarco e suas controladoras acordaram com os governos federal e estaduais (MG e ES) gerar um fundo de até 20 bilhões de reais visando recuperar a Bacia do Rio Doce nos próximos 15 anos.
4. “Povoados do câncer” (China)
Guangzhou
jo.sau/Flickrcommons
O povoado Yongxing antes era uma pequena reserva rural, próxima ao centro da cidade Guangzhou. Há 20 anos, seus extensos campos de arroz, vegetais e pomares eram irrigados com água limpa que descia das montanhas. No entanto, em 1991, a reserva foi ocupada por um aterro de 34,5 hectares.
Posteriormente, na mesma região, instalaram-se dois incineradores e uma grande planta de tratamento de resíduos. A população protestou por causa da poluição. A água de seus poços se tornava densa, amarelada, com películas superficiais vermelhas. Protestos nas ruas terminaram em encarceramentos que se perduraram por anos. Desde então, a população de YongXing se viu obrigada a comprar água potável e a abandonar suas atividades agrícolas de subsistência.

Os campos foram então alugados a preços irrisórios aos trabalhadores migrantes que chegavam a trabalhar os campos afetados para vender produtos contaminados à cidade.
Embora as autoridades sanitárias estivessem informadas sobre esta situação, os afetados denunciam que houve negligência institucional. A maior preocupação da população, além da poluição do ar, foi o repentino aumento dos casos de câncer no povoado.
A Organização Mundial de Saúde informou que a queima incompleta ou defeituosa de resíduos em incineradores pode gerar emissão de dioxinas e furanos, com impactos negativos para a saúde humana. O povoado de Yongxing é um dos inúmeros casos conhecidos como “os povoados do câncer na China”, onde atividades industriais e grandes aterros operam com padrões de segurança irrisórios apesar de existirem comprovados efeitos nocivos para a população humana.
5. Berta Cáceres, assassinada por lutar contra a represa hidrelétrica Água Zarca (Honduras)
Beta Caceres
Daniel Cima/Flickrcommons

A ecologista Berta Cáceres, conhecida ativista de Honduras, foi assassinada em março de 2016 em La Esperanza, no oeste do país. Cáceres era líder da comunidade lenca. Em abril de 2015, havia obtido o Prêmio Goldman de Meio Ambiente, o máximo reconhecimento mundial para atividades de meio ambiente.
Cáceres organizou o povo lenca, a maior etnia indígena de Honduras, em sua luta contra o represamento/embalse de Agua Zarca, previsto no rio Gualcarque, um lugar sagrado para as comunidades indígenas e vital para sua sobrevivência.
A campanha empreendida por Cáceres conseguiu que o maior construtor mundial de represas, a companhia de propriedade estatal chinesa Sinohydro, retirasse a sua participação no projeto hidrelétrico.
A população lenca denunciou a violação do convênio 169 da OIT por não ter existido uma consulta prévia livre e informada, assim como a presença do exército para custodiar as obras e as ameaças a líderes e assassinatos. O caso Agua Zarca alcançou visibilidade internacional após o assassinato de Cáceres.

Atualmente, organizações e movimentos populares pressionam para que se investigue o assassinato de Berta Cáceres e para que se suspenda de forma definitiva o financiamento do projeto. Depois do assassinato da ativista e de uma visita realizada pela Comissão Europeia, o projeto de Agua Zarca foi catalogado como uma violação de direitos humanos.
6. Trem de Alta Velocidade (Itália-França)
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O Trem de Alta Velocidade (TAV) que conectaria as cidades de Torino e Lyon através de uma linha ferroviária de 220 km/h se converteu em um dos focos de conflito ambiental mais importante da Europa. O TAV foi declarado pela Comissão Europeia como um projeto de infraestrutura prioritário para conectar a zona ocidental e oriental do continente e completar assim a Rede Transeuropeia de Transporte (tanto para passageiros como para bens comerciais).
Estima-se que esse ambicioso projeto envolveria um investimento de 26 bilhões de euros e que sua construção, a ser iniciada em um futuro próximo, perduraria por dez anos. Quando completo, constituirá um dos maiores túneis do mundo.

Desde a década de 1990, o TAV italiano tem sido fonte de fortes críticas e intensas mobilizações, particularmente concentradas no Val de Susa, mas amplamente difundidas no país por meio do movimento No-TAV (No al Treno Alta Velocità)
O movimento No-TAV julga desnecessária a nova linha ferroviária por ser excessivamente cara e financiada por dinheiro público. Acredita-se que o projeto está sujeito à corrupção e às atividades econômicas ilegais.
O conflito teve o seu primeiro estalido quando, em 2005, iniciaram-se os ensaios geológicos sem consulta prévia local, o que fez com que uns 50 mil habitantes do Val de Susa ocupassem o local da escavação e paralisassem os trabalhos até que a manifestação fosse dispersa com agressões por parte das forças policiais.

Atualmente, o movimento No-TAV continua denunciando a militarização no Val de Susa e a excessiva violência contra seus habitantes.

Ao questionar a necessidade de infraestruturas como esta, o movimento gerou alianças com outros grupos na Itália e no resto da Europa até formar uma rede de oposição contra Mega projetos Impostos e Desnecessários. O último encontro internacional da rede foi em Bayonne, França, em meados de julho, onde também estiveram grupos em oposição a aeroportos (Nantes, França), estações de trem (Estocarda, Alemanha), infraestrutura energética (TAP, Itália) e grandes minerações na Europa (Grécia, Romênia).

Apesar de o projeto TAV ainda estar na agenda política europeia, os escândalos financeiros e a oposição pública fazem com que ele avance mais lentamente do que o esperado.
7. Minas de carvão destroem lugares sagrados (África do Sul)


A empresa de prospecção mineral Ibhuto-Coal planejou abrir uma mina de carvão a céu aberto em KwaZulu-Natal (África do Sul). O projeto chamado Fuleni está localizado no parque natural mais antigo da África, habitat do rinoceronte branco (a fronteira Hluhluwe-iMfolozi). Duas minas de carvão já rodeiam a região do parque: Zululand Anthracite Colliery (propriedade da empresa Rio Tinto) e Somkhele (propriedade de Petmin).

Atualmente, ambas as minas geram fortes impactos às comunidades locais: destruição de locais sagrados, perdas de habitações, assim como danos à água, cultivos e biodiversidade da região. Diante da proposta de implantação do projeto Fuleni, as comunidades afetadas se opõem à intensificação dos impactos sobre seus meios de subsistência e sobre o ecossistema local protegido pelo parque.

No dia 22 de abril de 2016, mais de mil pessoas tentaram abortar a visita do Comitê de Desenvolvimento Mineral e Meio Ambiente (RMDEC, sigla em inglês) à zona. Os ativistas da comunidade têm como lema: “deixar o carvão sob a terra” (leave the coal under the hole) e para a voraz economia extrativa.

Este lema converteu-se também em uma demanda compartilhada em muitos locais do mundo, onde comunidades marginalizadas se mobilizam em defesa de seus direitos e de seus meios de subsistência problematizando o aquecimento global. A mobilização para frear a exploração de carvão também está presente em Sompeta, em Andhra Pradesh (India) e se soma às campanhas para deixar sob a terra os recursos fósseis (unburnable fuels).

8. Grilagem de terras mortal (Guatemala)
Após a assinatura do acordo de paz da Guatemala em 1996, duas famílias descendentes de alemães iniciaram o cultivo de óleo de palma (1998) e de cana de açúcar (2005), para o qual se produziu a grilagem de um terço da propriedade das terras do Polochic, um vale de terras férteis localizado no nordeste da Guatemala onde os processos de reconcentração de terras (mais terras em poucas mãos) deixou a maioria da população Q’eqchi’ sem acesso a terra.
Ademais, a população local denuncia o desvio de rios e o desmatamento realizados para viabilizar estes cultivos, assim como, as intoxicações e doenças decorrentes da fumigação da cana de açúcar.
Esta grilagem saltou à opinião pública mundial em 2011, quando foram desalojadas 800 famílias de 13 comunidades Q’eqchi’ que ocupavam parte das terras do Polochic destinadas ao cultivo de cana de açúcar. Esta ocupação era sua única maneira de sobreviver (a partir do cultivo de milho).
A população demandou ao Estado a compra das terras, abrindo um processo de diálogo entre as partes. Contudo, a negociação foi rompida, 800 famílias foram desalojadas, foram queimados os cultivos e as casas dos indígenas, e um camponês foi assassinado. Alguns meses depois, outros dois camponeses foram assassinados e mulheres e crianças foram feridas à bala pela segurança privada da empresa de cana.
As instituições do Estado e as famílias empresariais defendem a propriedade privada e estes monocultivos por considerar que trazem desenvolvimento à região, enquanto comunidades locais e diversas organizações denunciam a violação de direitos humanos (vida, alimentação e habitação), assim como a falta de acesso a terra e a recursos naturais limpos para poder sobreviver.
Este é um dos 450 casos de conflitos de grilagem de terras identificados no EJAtlas e está dentre os 12% de casos onde houve mortes. Um caso similar é o da resistência de comunidades afrodescendentes na Colômbia, assim como o de Bajo Aguán en Honduras.
9. Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Brasil)
Comperj
Fernando Frazão/Agência Brasil
Em 2007, o governo brasileiro inaugurou o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), que procura o aumento do investimento em infraestrutura para a extração de gás e petróleo.
Dentro do PAC se encontra a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), que compreende 4.500 hectares e um investimento de 21 milhões de dólares americanos. As construções começaram em 2008 e se prevê que estarão finalizadas em 2016.

Para o início das obras, não foi realizado nenhum processo de consulta nem processo participativo com os pescadores, que são reconhecidos pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) como comunidades tribais, por serem herdeiros dos saberes ancestrais dos Caiçaras, povo Tupi.
Diferentes setores da população (pescadores, pesquisadores de universidades e organizações ambientais) da região têm lutado contra a instalação ou contra os efeitos adversos de outros projetos relacionados ao complexo.
Algumas delas são a instalação de um curso de água na bacia do rio Guaxindiba ou a construção de um emissário submarino para descarregar efluentes líquidos do complexo na costa perto da cidade de Maricá. O projeto também ameaça muitas áreas protegidas localizadas no entorno da Baía de Guanabara.
O conflito se intensificou em 2009 quando os pescadores artesanais ocuparam as obras nas quais estava sendo construído um gasoduto submarino e terrestre. A ocupação durou 38 dias e foi o marco que iniciou um conflito muito mais violento entre a Petrobras e os pescadores. A partir desse momento, os pescadores têm sido ameaçados e quatro deles da organização "Homens do Mar" foram assassinados.
10. O “vento” leva o bosque Kallpavalli (Índia)
A energia eólica é amplamente promovida como uma solução energética sustentável e socialmente desejável. No entanto, alguns grandes projetos eólicos ao redor do mundo estão provocando um crescente número de conflitos que vão além de interferências estéticas e subjetivas na paisagem.
Esses processos põem em evidência os benefícios de algumas grandes empresas, enquanto os territórios são transformados em detrimento de seus sistemas sociais e valores ecológicos locais.
Um caso relevante é o do estado de Andhra Pradesh (Índia), onde uma iniciativa comunitária exitosa de reflorestamento e de desenvolvimento de atividades de subsistência no bosque Kallpavalli foi destruída pelo projeto eólico Nallakonda.
O projeto, propriedade da empresa India Tadas Wind Energy, conta com um forte respaldo do governo nacional. A instalação de mais de 60 turbinas Enercon desmatou as áreas restauradas, degradando terras produtivas e impactando as fontes locais de água.
Em 2013, a comunidade afetada e diversas organizações constituíram o Tribunal Verde da Índia (National Green Tribunal), denunciando os impactos negativos sobre o pastoreio, a agricultura e a delicada biodiversidade da região. A comunidade e organizações em defesa dos bens comuns continuam enfrentando um projeto que se apresenta como sustentável, mas que destrói a subsistência da população local e o ecossistema regional.
No EJAtlas, estão mapeados projetos eólicos similares e de escala muito maiores, como corredores eólicos de mais de 15 mega-projetos (Oaxaca, México) e a privatização de mais de 16 mil hectares de terras indígenas (noroeste do Kenia).
Em todos eles, a apropriação de terras para a produção de eletricidade “limpa” converte-se em denominador comum que afeta ecossistemas e comunidades marginalizadas, colocando os projetos de energia eólica mal desenhados como um assunto emergente para a justiça ambiental.