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http://www.sbpcpe.org/index.php?dt=2012_04_26&pagina=noticias&id=07288
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Quinta-feira, 26 de Abril de 2012
DÚVIDAS SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL
Fonte: Marcelo Gleiser (*), Folha de São Paulo de 22.04.2012
O aumento de temperatura do planeta é causado pelos humanos, pela poluição ou por efeitos naturais?
Um debate furioso anda ocorrendo no meio acadêmico, focado essencialmente na questão da causa do aquecimento global.
A maioria dos cientistas, se bem que nem todos, concorda que a temperatura média do planeta nos últimos 150 anos, ou seja, dentro da era industrial, vem aumentando gradualmente. A disputa que ocorre, se bem que de uma maioria contra uma minoria, é sobre se esse aumento é causado por humanos, pela poluição industrial ou por efeitos naturais, como radiação solar.
William D. Nordhaus, economista da Universidade Yale, recentemente escreveu um artigo para a prestigiosa publicação "New York Review of Books" em que respondeu a um editorial redigido por 16 cientistas no "Wall Street Journal" que apontam seis pontos de discórdia:
1. Se a temperatura de fato está aumentando;
2. Se influências humanas contribuem para esse aumento;
3. Se o CO2 é de fato um poluente;
4. Se existe um regime de discriminação da academia contra cientistas que se opõem ao aquecimento global;
5. Se os cientistas que defendem o aquecimento têm ganhos financeiros em mente;
6. Se quantidades adicionais de CO2 podem ser benéficas.
Nordhaus oferece argumentos contra os seis itens. Deles, o segundo é, a meu ver, o mais importante. Em geral, modelos de aquecimento têm duas versões: uma sem incluir contribuições humanas, como a produção industrial de CO2, e outra incluindo esses fatores. As duas versões são então comparadas com dados acumulados para se decidir sobre a influência humana. Nordhaus nota que os modelos que incluem efeitos antropogênicos são os que estão de acordo com os dados.
Recentemente, três cientistas apresentaram uma crítica detalhada aos argumentos de Nordhaus: Roger W. Cohen, um físico de renome, William Happer, da Universidade de Princeton, e Richard Lindzen, do MIT. Eles argumentam que os modelos não são assim tão bons quanto dizem Nordhaus e os cientistas do IPCC (Painel Internacional sobre Mudança Climática): "Esse procedimento [de comparação] requer absolutamente um modelo que inclui corretamente todas as fontes de variabilidade", afirmam.
Eu discordo dessa afirmação. Modelos nunca podem ser perfeitos ou incluir todos os efeitos, ou não seriam modelos. Todo modelo tem limitações, precisamente por não sabermos tudo o que é necessário para descrever a situação de forma completa. Um modelo eficiente, entretanto, reproduz os dados de forma satisfatória. Isso funciona porque vários fatores são irrelevantes ou causam apenas pequenas perturbações. Modelos são a forma de lidar com nosso conhecimento limitado do mundo natural.
Portanto, o que importa é que, mesmo se os vários modelos possam discordar nos detalhes, no geral eles concordam com o que afirma Nordhaus e o IPCC: a industrialização do planeta afeta o clima, aumentando a temperatura média global.
Dadas as variações, inferências são sempre estatísticas, sem resposta definitiva. Mesmo que seja estatisticamente possível que o impacto humano seja pequeno, em vista da evidência que temos hoje, seria absurdo apostar nessa incerteza.
(*)MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Facebook: goo.gl/93dHI
Um debate furioso anda ocorrendo no meio acadêmico, focado essencialmente na questão da causa do aquecimento global.
A maioria dos cientistas, se bem que nem todos, concorda que a temperatura média do planeta nos últimos 150 anos, ou seja, dentro da era industrial, vem aumentando gradualmente. A disputa que ocorre, se bem que de uma maioria contra uma minoria, é sobre se esse aumento é causado por humanos, pela poluição industrial ou por efeitos naturais, como radiação solar.
William D. Nordhaus, economista da Universidade Yale, recentemente escreveu um artigo para a prestigiosa publicação "New York Review of Books" em que respondeu a um editorial redigido por 16 cientistas no "Wall Street Journal" que apontam seis pontos de discórdia:
1. Se a temperatura de fato está aumentando;
2. Se influências humanas contribuem para esse aumento;
3. Se o CO2 é de fato um poluente;
4. Se existe um regime de discriminação da academia contra cientistas que se opõem ao aquecimento global;
5. Se os cientistas que defendem o aquecimento têm ganhos financeiros em mente;
6. Se quantidades adicionais de CO2 podem ser benéficas.
Nordhaus oferece argumentos contra os seis itens. Deles, o segundo é, a meu ver, o mais importante. Em geral, modelos de aquecimento têm duas versões: uma sem incluir contribuições humanas, como a produção industrial de CO2, e outra incluindo esses fatores. As duas versões são então comparadas com dados acumulados para se decidir sobre a influência humana. Nordhaus nota que os modelos que incluem efeitos antropogênicos são os que estão de acordo com os dados.
Recentemente, três cientistas apresentaram uma crítica detalhada aos argumentos de Nordhaus: Roger W. Cohen, um físico de renome, William Happer, da Universidade de Princeton, e Richard Lindzen, do MIT. Eles argumentam que os modelos não são assim tão bons quanto dizem Nordhaus e os cientistas do IPCC (Painel Internacional sobre Mudança Climática): "Esse procedimento [de comparação] requer absolutamente um modelo que inclui corretamente todas as fontes de variabilidade", afirmam.
Eu discordo dessa afirmação. Modelos nunca podem ser perfeitos ou incluir todos os efeitos, ou não seriam modelos. Todo modelo tem limitações, precisamente por não sabermos tudo o que é necessário para descrever a situação de forma completa. Um modelo eficiente, entretanto, reproduz os dados de forma satisfatória. Isso funciona porque vários fatores são irrelevantes ou causam apenas pequenas perturbações. Modelos são a forma de lidar com nosso conhecimento limitado do mundo natural.
Portanto, o que importa é que, mesmo se os vários modelos possam discordar nos detalhes, no geral eles concordam com o que afirma Nordhaus e o IPCC: a industrialização do planeta afeta o clima, aumentando a temperatura média global.
Dadas as variações, inferências são sempre estatísticas, sem resposta definitiva. Mesmo que seja estatisticamente possível que o impacto humano seja pequeno, em vista da evidência que temos hoje, seria absurdo apostar nessa incerteza.
(*)MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Facebook: goo.gl/93dHI
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