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http://www.ihu.unisinos.br/noticias/515560-a-educacao-para-a-paz-na-proposta-de-rousseau
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“A paz não é fundamentalmente uma teoria, mas um pensar e um agir arraigado no reconhecimento da liberdade do outro e na necessidade de aprender a conviver com os outros”, afirmam o Prof. Dr. Paulo César Nodari do PPG em Educação – Universidade de Caxias do Sul - UCS e Mateus Boldori, bacharel em Filosofia, também pela UCS na publicação pelosCadernos IHU Ideias, nº 179.
O texto é de Afonso Maria das Chagas, mestrando do PPG em Direito da Unisinos e colaborador do Instituto Humanistas Unisinos – IHU.
O texto é publicado no 300º aniversário de nascimento de Jean-Jacques Rousseau.
Eis o texto.
O contexto de um mundo marcado por profundas mudanças deu a tônica da passagem do século XX para o século XXI. Osmeios de comunicação e especialmente no campo da informática redefiniram as formas de relacionamento. Encurtaram-se as distâncias e passamos a nos sentir como num mundo sem fronteiras, uma aldeia global. Por parte dos avanços técnico-científicos o progresso ressignificou nossas possibilidades, inclusive quanto ao próprio conceito de qualidade de vida.
No entanto, passamos a sentir também os efeitos das contradições e dos dilemas deste mundo moderno: campos de guerras por várias partes do planeta, diferentes formas de violência, especialmente urbana e o aprofundamento do abismo entre ricos e pobres. O medo e a esperança constituíram-se como duas faces da mesma moeda.
Estas contradições que vão da experiência de um mundo novo à crueza de insuperados e seculares dramas apontam para as não vingadas promessas da modernidade, e mais, colocam uma interpelação ética frente à realidade da ciência e da técnica.
Partindo desta ambivalência contextual, Paulo César Nodari e Mateus Boldori propõem uma releitura do pensamento deJean-Jacques Rousseau (1712-1778), sobretudo no campo da filosofia política e da pedagogia, como uma proposta de educação para paz.
De ídolo a crítico do iluminismo, Rousseau atesta que se muitos valores são encontrados na contribuição das ciências, das artes e da tecnologia, muitos erros e vícios também o são, sobretudo sob a forma de um progresso que torna os seres humanos menos virtuosos e menos felizes. Neste sentido, para Rousseau, se as ciências subtraem a bondade original do ser humano, torna-os, por outro lado, submissos a um sistema injusto.
A dimensão moral desta perspectiva, por exemplo, chega a ponto de considerar a desigualdade como uma consequência da Lei natural ou por ela autorizada. Trata-se de uma desigualdade convencional, cujas origens se encontram, sobretudo na propriedade privada e se formaliza em diferentes maneiras como desigualdade de capacidades. Tais convencionalismos, muitas vezes “acariciados” pelas ciências e pelas artes, acabam se perpetuando através de uma organização social de forma hierárquica e estamentária. Logo, não sobrevive o argumento de que existam somente desigualdades naturais uma vez que elas podem ser criadas pelos próprios homens. Eis aí o paradoxo do “contrato social”.
A conjugação da vontade particular com a vontade geral deveria então encontrar sua base e legitimação na plenificação da democracia. Isso só se tornaria possível através de um processo pedagógico-político que recuperasse o sentido da liberdade humana. É aqui que entraria a dimensão instrumental da educação, como espaço e ferramenta de construção tanto da liberdade e da autonomia quanto também do respeito.
Por esta lógica inverter-se-ia o processo de naturalização das desigualdades, sobretudo da exclusão, do etnocentrismo e da opressão de um gênero sobre outro. Assim, tanto para a superação da desigualdade quanto para a construção da paz a educação é vista como um caminho. Uma educação, portanto, que contribuirá tanto na proposição da igualdade não como uniformidade, mas como igualdade de condições, quanto na lógica de um compromisso sob a forma de contrato, que ajude a superar, antes de tudo, as disparidades básicas. Por fim, na lição de Rousseau, a educação pensada sob tal paradigma, vai promover os Direitos humanos, principalmente na ideia do reconhecimento de todos como iguais e na construção de uma sociedade onde todos consigam ser protagonistas. Eis o caminho para a paz.
Os Cadernos IHU ideias nº 179 podem ser adquiridos na Livraria Cultural, no campus da Unisinos ou pelo endereço livrariaculturalsle@terra.com.br.
A versão completa desta edição estará disponível neste sítio a partir de 23 de novembro de 2012 para download em formato PDF.
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