Thursday, 15 November 2012

EBA 2012: As ferramentas naturais da Bioarquitetura

((eco))
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Peter van Lengen, o curador do evento e fundador do Centro de Tecnologia Intuitiva e Bioarquitetura (Tibá), abre o EBA 2012.

"Vemos muitas casas repletas de materiais tóxicos e com o ar-condicionado ligado todo o tempo. Não estou satisfeito com isso. Procuramos antes de tudo pela saúde", disse Peter van Lengen na abertura do primeiro Encontro de BioArquitetura, o EBA 2012. O evento ocorreu em Nova Friburgo durante os dias 8,9 e 10 de novembro e pretende disseminar os princípios do movimento que quer mudar conceitos e técnicas de construção convencional. A organização foi do Instituto Serrano de Economia Criativa (ISEC) e o Centro de Tecnologia Intuitiva e Bioarquitetura, o Tibá. Legen, curador do encontro, é filho de Johan Van Lengen, o precursor holandês da bioarquitetura e autor do livro "O Manual do Arquiteto Descalço".
 
Fechando o ciclo

Um dos palestrantes foi Marcelo Bueno, idealizador do Instituto de Permacultura da Mata Atlântica (IPEMA). Ele contou como o período que passou ao lado de aborígenes australianos e sherpas no Nepal o estimularam a viver dos recursos contidos em sua propriedade, localizada em Ubatuba (SP). "Os ciclos fechados dentro de uma casa imitam a natureza e embasam o design em sustentabilidade. Por exemplo, na cozinha você pode lavar seu prato sujo de comida, e essa água vai para um filtro, que vai gerar água biofertilizada para irrigar sua horta. Quer dizer, essa água incorporada nas plantas volta para a cozinha na forma de comida, e os restos orgânicos da refeição são enviados para um biodigestor, transformando-se, novamente, em adubo para a terra da horta".

 

O esforço para criar um miniecossistema dentro de casa serve ao bem comum reduzindo o uso de recursos naturais. "Recentemente, para que todos pudessem assistir ao último capítulo da novela, o Brasil teve de comprar energia fora do país e muita gente não se dá conta disso. Quando há abundância, as pessoas têm dificuldades de enxergar os limites", disse Bueno.

Lixo é uma perspectiva

Outro destaque do evento foi o americano Michael Reynolds. "Nós inventamos o conceito de lixo, mas ele pode se tornar nosso novo recurso natural", disse ele que é protagonista do filme "The Garbage Warrior" (em português, “O guerreiro do lixo"). Ele surpreendeu ao expor como é possível construir casas autossustentáveis a base de pneus, latas de cerveja e garrafas de vidro - materiais que ocorrem em qualquer parte do planeta. 

Reynolds teve sua licença de arquiteto cassada há uma década. Hoje, convenceu as associações de arquitetura de que ele é um bioarquiteto. Ele executa uma média de 6 casas por ano com preços que variam de 4 à 400 mil dólares. "Temos clientes normais querendo uma casa diferente, empresas pedindo condomínios e hospitais que querem cortar custos. No Haiti, há pessoas em crise, que necessitam de água, energia e abrigo de forma otimizada e eficiente. Fazemos projetos para pessoas ricas ou pobres, mas buscamos igualdade entre todos através do acesso aos recursos básicos da vida", afirmou.

Banheiro da “Earthship” Phoenix usa paredes de adobe e garrafas de vidro. A água usada nas pias e no banho é reutilizada na descarga e depois tratada na própria casa.
No projeto Earthship (algo como Nave Terra) placas de metal extraídas de velhas geladeiras e fogões, podem se tornar componentes de turbinas eólicas verticais, que irão facilitar autonomia energética. Usando técnicas de biofertilização, água da chuva e várias camadas para produzir isolamento térmico, Reynolds e sua equipe construíram um pomar indoor em meio à aridez do estado do Novo México. A “Earthship” chamada Phoenix é capaz de produzir 50 tipos de vegetais, frutas e legumes e mantém um pequeno lago para a criação de peixes.

Para cidades já existentes, ele sugere adaptar as novas tecnologias orgânicas. "Olhe os passarinhos, eles fazem seus ninhos em cima dos prédios", disse.

Terra, bambu e gosto pessoal

Gernot Minke, alemão e professor de construção experimental da Universidade de Kassel, deu uma aula sobre limites de compressão e resistência de materiais como o adobe e o tijolo cru. 

Ele mostrou fotos da cidade de Shibam, no Iemen, cujos prédios de 5 a 11 andares foram feitos de terra há aproximadamente 1.400 anos. Shibam é um exemplo de resiliência ao tempo e uso zero de cimento, o que evita a extração do calcário, que degrada montanhas inteiras e pode contaminar os lençóis freáticos.

Minke é referência mundial em bioconstrução desde a década de 1980. Já publicou manuais sobre o uso de terra, bambu, fardos de palha, telhados verdes e jardins verticais, traduzidos em 10 idiomas.

Uma das caracteristicas seus projetos são os tetos em forma de domo, que podem chegar a 7 metros de altura e são necessariamente cobertos por vegetação: "Não faço o projeto se o cliente não quiser um teto-verde. Seus benefícios para o interior da casa são incontáveis", afirmou. Quanto ao motivo de desenhar tetos em forma semicircular, ele explicou: "Para isso não há método científico que responda. Se trata apenas da boa sensação que sinto lá dentro".

Durante os três dias do encontro, 200 participantes lotaram o auditório do Hotel Bucsky, em Nova Friburgo. Eles receberam uma ecobag de fibras naturais, um crachá em papel-semente e um copo de plástico reciclado, para uso nos “coffe-breaks”. O evento foi patrocinado pela Apex Brasil, Energisa e Sebrae.


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