Thursday, 22 October 2020

Qual é a relação da destruição das florestas com a produção de carne?.

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Qual é a relação da destruição das florestas com a produção de carne?... 

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Animação "Tem um monstro na minha cozinha" narrada por Wagner Moura - Greenpeace
Animação "Tem um monstro na minha cozinha" narrada por Wagner MouraImagem: Greenpeace
Wagner Moura

22/10/2020 04h00

Ao longo da história, em culturas que abrangem nosso mundo, as florestas inspiraram algumas de nossas maiores acontecimentos. Elas foram o cenário perfeito para contos de admiração, maravilha, mistério e, às vezes, medo. No entanto, conforme você lê esse texto, uma história tão chocante quanto qualquer obra de ficção está se desenrolando. As florestas do mundo, como a poderosa Amazônia, estão caindo, sendo cortadas e queimadas por empresas monstruosas que alimentam um dos maiores vícios da humanidade: o consumo de carne.

Muitos acordaram para a ameaça do desmatamento que nossas florestas enfrentaram no ano passado. O mundo gritou quando os incêndios ocorreram na Amazônia e a fumaça pode ser vista em outros estados do Brasil. Mas a ligação entre as motosserras e o incêndio criminoso que causou essa destruição e a carne que comemos continua menos conhecida. É um conto de terror com consequências mais assustadoras do que qualquer uma das histórias de Halloween que você ouvirá na próxima semana. Em seu cerne está um fato importante: a carne é o maior impulsionador do desmatamento em todo o mundo. É essa grave ameaça que exploramos na animação "Tem um monstro na minha cozinha", uma colaboração feita com o Greenpeace.

Não poderia ser mais oportuno. Enquanto a Amazônia queima mais uma vez este ano - e nossos olhos também estão voltados para ver as chamas no Pantanal - é hora de destacar o que as empresas de carne estão fazendo pelas florestas do mundo. Essas empresas, os fazendeiros e madeireiros estão promovendo o desmatamento em um ritmo alarmante. Isso tudo é para produzir carne ou cultivar soja para alimentar bilhões de animais como as galinhas e os porcos da Europa, que acabam nos corredores de supermercados. A quantidade de terra que eles precisam é enorme. Para se ter uma noção, 83% das terras agrícolas do mundo são usadas para carne e laticínios. Muitas vezes, na busca por essa terra, as gigantescas empresas de carne são auxiliadas e estimuladas por governos.

Minha própria nação, o Brasil, é um excelente exemplo. Aqui, o presidente Bolsonaro atropelou proteções sociais e ambientais vitais, despojando-as para ajudar a abrir florestas como a Amazônia e o Pantanal para empresas privadas. Esses governos parecem estar mesmo muito felizes em ver os ganhos de curto prazo causando danos de longo prazo à saúde de nossas florestas e de nosso planeta.

E aqui está o ponto principal. A saúde de nossas florestas, do planeta que nos sustenta e a nossa saúde como humanos estão intimamente ligadas. As florestas armazenam e absorvem bilhões de toneladas de carbono e, portanto, só venceremos o pesadelo da crise climática se as florestas do mundo e a vida selvagem que elas sustentam forem capazes de prosperar. Mesmo assim, fogueiras acesas em lugares como a Amazônia a serviço da carne industrial estão ajudando a levar algumas de nossas florestas mais importantes a um ponto sem recuperação. Isso afetará a todos nós, a humanidade não pode prosperar em um mundo devastado pela crise do clima. Mas os mais afetados, como sempre, são os mais vulneráveis, caso das comunidades indígenas, os guardiões da floresta em nosso mundo. De geração após geração, eles chamaram muitas das grandes florestas do mundo de lar, mas agora estão vendo sua casa ser arrebatada com consequências violentas, às vezes fatais.

Os povos indígenas também compartilham florestas com uma grande variedade de vida selvagem, desde plantas e insetos únicos até felinos poderosos como onças-pintadas. Destruir seu mundo natural claramente ameaça sua existência, contribuindo enormemente para a crise global da natureza. E, ao falhar em deter o desmatamento, a indústria da carne está abrindo a humanidade para ameaças sombrias que se escondem nas profundezas das florestas, os riscos de novos e perigosos vírus de origem animal capazes de se espalhar por todo o mundo.

Esta é realmente uma história de terror, mas as ações que tomarmos agora definirão para onde a história vai a seguir. Devemos apoiar também organizações indigenistas como a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) para que sua luta e suas vozes sejam ouvidas. Podemos nos unir para dizer aos nossos supermercados e lojas de fast food que abandonem as gigantescas empresas de carne e substituam grande parte da carne que vendem por uma ampla gama de alternativas vegetais mais saudáveis.

E em casa, podemos enfrentar o monstro em nossa cozinha trocando um pouco dessa carne por mais frutas, vegetais, leguminosas e nozes. Com essas ações e muito mais, podemos começar a lutar contra as gigantescas empresas de carne que estão destruindo nossas florestas. Podemos pedir aos governos que realmente priorizem a proteção de nosso mundo natural e apoiem uma transição justa para um sistema alimentar melhor, verdadeiramente sustentável e equitativo. A história de nossas florestas pode ser angustiante, mas é uma história cujo final ainda está para ser escrito.



Monday, 19 October 2020

O aquecimento global pode esquentar o Brasil em até seis graus nas próximas décadas

 http://www.ihu.unisinos.br/603855-o-aquecimento-global-pode-esquentar-o-brasil-em-ate-seis-graus-nas-proximas-decadas

O aquecimento global pode esquentar o Brasil em até seis graus nas próximas décadas

aquecimento global é um dos principais assuntos entre os países para o futuro da humanidade. Com o aumento da população, a emissão de carbono e, principalmente, da poluição causada pelos humanos, os efeitos catastróficos de um futuro não tão distante já afetam o clima, causam um aumento nas catástrofes naturais e o derretimento das geleiras árticas, que podem desencadear um aumento progressivo dos mares e uma situação irreversível no mundo para as próximas décadas.

A reportagem é de André Martins, estagiário do Curso de Jornalismo da Unisinos.

ONU, por exemplo, criou a Agenda 2030 com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, uma coleção de 17 metas globais para colocar o planeta em um caminho mais sustentável. Alguns países europeus já discutem e analisam com preocupação a situação da Amazônia, por exemplo, a maior floresta do mundo e vítima de ataques brutais vindos de grileiros e agricultores, além de terem assinado o Acordo de Paris para que os países reduzam a emissão de gases estufa a partir de 2020.

Para analisar as razões do aquecimento global e a situação na qual nos encontramos, o Prof. Dr. Carlos Nobre ministrou, nesta quinta-feira, 15-10-2020, a palestra “Urgência Climática e os Riscos para o Brasil”, organizada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, transmitida via Microsoft Teams e Youtube.

Nobre abordou em sua palestra os fatores que determinaram o aceleramento do aquecimento global; o principal deles é a grande quantidade de emissão de gás carbono na atmosfera. Com o crescimento da população, o aumento dos transportes e outras atividades, a emissão de gás carbono cresceu significativamente, causando assim, o aquecimento da terra e comprometendo o sistema global futuro, já que a defesa existente na atmosfera do planeta para os raios solares está enfraquecendo. “Infelizmente a atmosfera não consegue se livrar de todo esse gás carbônico e o principal fator para essa crescente é a queima de combustíveis fosseis. Nós estamos causando um cenário que a terra não via há milhões de anos, antes mesmo da vida no planeta”, afirma.

Os últimos 16 anos no mundo foram de crescente na temperatura. Segundo Nobre, esses foram os anos mais quentes da história, o que evidencia a clara mudança climática, com aquecimentos dos oceanos e os encolhimentos dos mantos de gelo. “2020 bateu o recorde de temperatura e o índice é que irá aumentar mais ainda”, afirma. No Brasil, a temperatura aumentou 1,5 graus desde 1850. Com o aquecimento, veio também a crescente nas catástrofes naturais, que aumentaram 3 vezes mais desde os anos 1980, chegando à casa de 1000 desastres por ano no Brasil.

As regiões brasileiras serão afetadas de maneira desordenada e alguns locais já sentem a falta de chuva, como o Nordeste, que passa cada vez mais tempo em um clima seco e quente. Nesse século, a região já permaneceu sete anos consecutivos com dias sem chuva, o tempo mais longo da história. Em outras regiões, como no Sul, as chuvas virão cada vez mais fortes, com os ciclones bombas, que ocorrem com mais frequência e intensidade. “Estamos seguindo uma trajetória que é o pior cenário projetado para o aumento das temperaturas e infelizmente estamos muito próximos de um caminho com forte calor e desastres naturais. No final do século, poderemos ter um aumento de até seis graus no Brasil, se tornando um país quase fervendo”, explica.

Com o derretimento das geleiras e o aumento da temperatura dos mares, o nível do mar está crescendo ano após ano e isso preocupa Nobre. “O derretimento pode levar séculos até milênios, mas essa transformação é irreversível”, alerta. Os oceanos estão crescendo de forma acelerada, mais até que o programado. Isso pode afetar a vida de pessoas que moram perto de praias e locais próximos aos mares. O prognóstico é que até 2100 algumas cidades ficarão à deriva no mar. “Até 2300 restaria pouquíssimas geleiras e isso faria com que o nível do mar aumentasse alguns metros”, afirma.

Nobre alerta também para os biomas brasileiros e os prognósticos com o aquecimento global acelerado. A caatinga poderá sumir em 2100, com o forte calor e a seca severa. O bioma poderá deixar de existir, virando apenas um grande deserto de intenso calor. A Amazônia poderá se transformar numa savana e estamos muito próximos ao ponto de a floresta não conseguir reverter esse cenário. Nobre já concedeu uma entrevista à IHU On-Line mostrando alternativas para frear o desmatamento da Amazônia e desenvolveu um robusto modelo econômico sustentável para a floresta, com base nos recursos locais existentes. “Frear o desmatamento requer uma política pública de desmatamento zero. É possível, sim, o Brasil continuar a ser uma potência na produção de alimentos utilizando os cerca de 270 milhões de hectares já em atividade agropecuária e silvicultura”, reitera.

Nobre concluiu sua palestra falando sobre alguns pontos que precisam ocorrer para evitar um cenário apocalítico no futuro. Além de diminuir a emissão de carbono pela metade em algumas décadas, o Brasil precisará manter um cenário de protagonismo no enfrentamento do aquecimento global e acelerar políticas e práticas ambiciosas para que até 2030 esteja em acordo com as metas da Agenda da ONU. “Precisamos acelerar políticas de adaptação em todos os setores; estamos muito atrasados. Nós temos que mudar esse quadro e ser muito mais proativos nessa implementação da sustentabilidade. O Brasil precisa ter isso para termos futuras gerações e só conseguiremos isso com a educação”, assegura.

Para dar sequência a este importante debate, o Instituto Humanitas Unisinos - IHU continuará com o ciclo de debates Emergência climática: ecologia integral e o cuidado da nossa casa comum. Na próxima palestra, o convidado é o Prof. Dr. Andrea Fumagalli, da Università di Pavia - Itália, que no dia, 21-10-2020, tratará sobre a renda básica universal. Novos modelos econômicos, de proteção social e de reapropriação do comum. Para participar, acesse o canal do YouTube do IHU ou assista pela plataforma Microsoft teams.

 

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Friday, 16 October 2020

Escola de Cuiabá cria “Árvore da Esperança” para celebrar o dia das crianças e dos professores com mensagens pós-pandemia

 http://www2.seduc.mt.gov.br/-/15673948-escola-de-cuiaba-cria-arvore-da-esperanca-para-celebrar-o-dia-das-criancas-e-dos-professores-com-mensagens-pos-pandemia


Escola de Cuiabá cria “Árvore da Esperança” para celebrar o dia das crianças e dos professores com mensagens pós-pandemia

Escola de Cuiabá cria “Árvore da Esperança” para celebrar o dia das crianças e dos professores com mensagens pós-pandemia
Da Assessoria Seduc MT




A árvore foi montada com os desenhos de alunos e profissionais da educação - Foto por: Divulgação

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O que você espera do pós-pandemia? Esta foi a pergunta que motivou os estudantes, professores, pais e funcionários da Escola Estadual Manoel Cavalcanti Proença, em Cuiabá, a montar a “Árvore da Esperança”. No dia 15 de outubro, a árvore finalmente foi montada para celebrar o dia dos professores e relembrar o dia das crianças. Ela está no mural da escola com muita poesia, desenho e mensagens de um futuro melhor.

Os desenhos foram confeccionados pelas crianças e os textos pelos adolescentes, pais e funcionários da unidade escolar. Entre muitos coloridos e ilustrações de crianças brincando com os colegas, indo ao parque e correndo no recreio escolar, está a esperança de que a pandemia não pode tirar a alegria de viver e a magia de sonhar.

“A proposta apresentada pela escola foi que a comunidade escolar mandasse via aplicativos de conversação digital ou entregassem na secretaria mensagens, desenhos, poesias, textos para colocar no mural pensando no futuro após a pandemia do coronavírus”, destaca a assessora pedagógica Marcela Brito.

A professora explica que a produção dos conteúdos educomunicativos ocorreram durante todo o mês de setembro e início de outubro. Houve a instalação de um posto de coleta na porta da escola e canais digitais através das redes sociais.Houve a participação dos estudantes do primeiro ao nono ano, além de professores, funcionários e pais.

Para a diretora, Cislene Moura, a “Árvore da Esperança” trouxe vida para o mural da escola que estava com aspecto triste devido à ausência dos alunos que tanto alegravam os corredores do prédio.

“Ficamos felizes com a participação, recebemos uma mensagem mais bonita que a outra. A ideia é justamente dizer que apesar de não podermos estar juntos por causa do vírus, estamos com desejos que tudo melhore, que todos tenham saúde e sejam felizes”, assinala.

Para uma das alunas do primeiro ano, o desejo é que tudo volte ao normal para todos poderem brincar e se abraçar. Outro estudante desejou poder voltar a viajar e ir à praia. Alunos do terceiro ano desejaram a cura do vírus e saúde para todos. Também teve muita poesia e mensagens como de um aluno do sexto ano que anseia a cura do vírus para poder voltar finalmente a estudar na escola e reencontrar os amigos.

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PARABÉNS MARCELA
<3

Tuesday, 6 October 2020

Pecuarista investigado por incêndio no Pantanal vendeu gado para governador do MS

 https://reporterbrasil.org.br/2020/10/pecuarista-investigado-por-incendio-no-pantanal-vendeu-gado-para-governador-do-ms/


Pecuarista investigado por incêndio no Pantanal vendeu gado para governador do MS

Polícia Federal afirma que focos dos incêndios começaram em quatro fazendas – uma delas de propriedade de Pery Miranda Filho, que chegou a ser detido e teve relações comerciais com Reinaldo Azambuja (PSDB); há suspeita de que fazendeiros incendiaram o bioma para abrir pasto

Entrar no Pantanal sul-mato-grossense, próximo a Corumbá, é encarar uma vegetação destruída pelo fogo e tomada pelas cinzas. Não há nenhum sinal de azul no céu, apenas fumaça e fuligem. Ao investigar a origem desses incêndios, a Polícia Federal chegou a quatro pecuaristas da região — que teriam colocado fogo em suas fazendas para abrir novos pastos. Um dos investigados é Pery Miranda Filho, fazendeiro que já vendeu gado para o governador Reinaldo Azambuja (PSDB), conforme revela documentação a que a Repórter Brasil teve acesso. 

O pecuarista Miranda Filho chegou a ser detido, em 14 de setembro, na operação da PF que investiga os incêndios, pois foram encontradas armas e munições em sua casa, mas foi solto no dia seguinte. Durante a ação policial, batizada de Matáá (“fogo”, no idioma dos Guató, indígenas que vivem perto das áreas atingidas), foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão. Uma das suspeitas dos policiais é que os pecuaristas tenham combinado queimadas na região, na linha do que ocorreu com o ‘Dia do Fogo’ na Amazônia no ano passado.  

Foi cruzando dados de focos de incêndio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) com os da Nasa que Polícia Federal chegou à fazenda Campo Dania, de propriedade de Miranda Filho, onde os focos iniciais das queimadas foram registrados em 1° de julho. As relações comerciais entre Miranda Filho e o governador Reinaldo Azambuja, no entanto, ocorreram a partir de outra propriedade do pecuarista: a Bahia Rica, também localizada em Corumbá. Foi de lá que, em janeiro de 2018, saiu o gado negociado com a fazenda Taquarussu, que pertence ao governador, segundo documentos obtidos pela reportagem.

O advogado de Miranda Filho, Otávio Ferreira Neto, nega que seu cliente tenha colocado fogo na fazenda Campo Dania. “Esse tipo de queimada é um método ultrapassado, que não é mais utilizado”, afirmou. O advogado disse ainda que a propriedade pertencia ao pai de Miranda Filho e que não há mais criação de gado no local.

A Polícia Federal suspeita que fazendeiros tenham colocado fogo para abrir novas pastagens (Foto: Álvaro Rezende/Repórter Brasil)

O governador Azambuja informou, em nota, que não tem conhecimento sobre a operação da PF, mas que, “como produtor rural, há muitos anos mantém relações comerciais com todo o mercado de Mato Grosso do Sul”. Questionado se pretende suspender negociações com o fazendeiro investigado até a conclusão do inquérito, ele não respondeu.

Azambuja é um dos maiores pecuaristas do Estado. Na última declaração de patrimônio entregue ao Tribunal Superior Eleitoral, quando disputou a reeleição em 2018, ele informou possuir nove imóveis rurais, entre fazendas e chácaras, com um patrimônio que soma R$ 38,7 milhões.   

Em julho, o tucano foi indiciado pela PF pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa por supostamente ter recebido R$ 67 milhões em propinas da JBS em troca de incentivos fiscais, que provocaram um prejuízo de R$ 209 milhões aos cofres do Estado. O inquérito foi baseado na delação premiada de executivos do grupo J&F, que afirmaram que as propinas eram pagas em dinheiro.

Azambuja negou as acusações à época e afirmou à Repórter Brasil que o inquérito da PF trata de “denúncia antiga, baseada em delações premiadas sem qualquer credibilidade” e que não há “uma única prova de que tenha recebido qualquer tipo de vantagem indevida da JBS”. O governador disse ainda que provará sua inocência na Justiça.
(Confira a resposta na íntegra).

No Pantanal, perto de Corumbá (MS), não há sinal de azul no céu, apenas fumaça e fuligem (Foto: Álvaro Rezende/Repórter Brasil)

Uma Bélgica já foi perdida

Além da queimada suspeita na fazenda de Miranda Filho, a PF investiga a possibilidade de incêndio criminoso em outras três fazendas localizadas em Corumbá, de onde o fogo se alastrou entre 30 de junho e 16 de julho e foi responsável por destruir 25 mil hectares, área maior que Recife (PE). 

Entre os investigados estão Hussein Ghandour Neto, Antônio Carlos Leite de Barros e Ivanildo da Cunha Miranda. Os três negaram, por meio de seus advogados, que o fogo tenha se iniciado em suas fazendas de forma intencional.

A defesa de Cunha Miranda disse que seu cliente “nunca colocou nem mandou colocar fogo” em suas propriedades e que o fazendeiro “é vítima dos incêndios”. O advogado de Gandhour Neto declarou que a fazenda alvo da PF está em nome de seu cliente, mas é administrada pelo pai e o irmão, mas que a família “desconhece qualquer situação de fogo intencional dentro da área deles”. Leite de Barros é cardiologista em Corumbá, além de pecuarista. Segundo o advogado Roberto Lins, seu cliente não foi responsável pela queimada. “Ele tem amor pela terra. Recebeu a fazenda como herança e sabe que esse tipo de queimada provoca prejuízo”, afirmou.

Desde segunda-feira (28), os delegados da Polícia Federal foram orientados pela Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, a pararem de conceder entrevistas sobre o andamento da investigação. O discurso oficial é que os próximos passos dependem do resultado da perícia nos celulares e notebooks apreendidos.      

Cerca de 20% do bioma foi destruído pelas queimadas recordes deste ano (Foto: Álvaro Rezende/Repórter Brasil)

Repórter Brasiljá revelou que parte do fogo que devasta o Pantanal no vizinho Mato Grosso também teve origem em fazendas de pecuaristas que vendem gado para o grupo Amaggi, do ex-ministro,ex-senador e ex-governador Blairo Maggi, e para o grupo Bom Futuro, de Eraí Maggi, considerado o maior produtor de soja do mundo. Esses dois grupos empresariais, por sua vez, são fornecedores das gigantes multinacionais JBS, Marfrig e Minerva. 

Para identificar as cinco fazendas, a Repórter Brasil usou um levantamento do Instituto Centro da Vida (ICV), com uma metodologia semelhante à da Polícia Federal, que também  cruzou dados do Inpe e Nasa. O fogo que teve início nessas propriedades rurais voltadas para pecuária, todas localizadas em Poconé (a 100 km da capital Cuiabá), foi responsável por destruir 116.783 hectares, área equivalente à cidade do Rio de Janeiro.

O Pantanal já perdeu 23% da sua área para as queimadas neste ano. A combinação entre o período seco e o uso de fogo por fazendeiros para abrir pastagens provocou 8,6 mil focos de incêndio somente em setembro de 2020 no bioma, segundo o Inpe. A área destruída neste ano é de cerca de 3 milhões de hectares, tamanho equivalente ao da Bélgica.

O cenário visto pela reportagem nas margens da BR-262, entre as cidades de Miranda e Corumbá, é desolador. Nas áreas alagadas que restaram do Pantanal, não mais se observam os até então onipresentes jacarés – apenas um espécime carbonizado pelas chamas. Em meio às cinzas e brasas, um cervo, atônito, caminha  sozinho e sem rumo. Um tuiuiú – ave-símbolo do Pantanal – arremete o pouso algumas vezes, como se não encontrasse um lugar em meio à vegetação queimada.    

*Colaboraram Ana Magalhães e Diego Junqueira