Wednesday, 28 April 2021

maleta de viagem do migrante

 https://www.utu.edu.uy/noticias/lanzamiento-de-la-valija-migrante-2021



27/04/2021Lanzamiento de la Valija Migrante 2021


El jueves 29 de abril a las 18:00 h, la Administración Nacional de Educación Pública junto a UNICEF, realizará el lanzamiento de la Valija Migrante 2021 a través de su canal de youtube. 

Es una valija didáctica que incluye materiales para trabajar en el aula en educación primaria y en educación media básica (secundaria o técnica).

Al mismo tiempo, incluye herramientas conceptuales y prácticas para formación docente, que servirán de apoyo al momento de abordar la temática de la migración en el aula.

Se anexan los materiales para que los docentes puedan consultarlos. 

valija



Monday, 26 April 2021

Oficina educomunicativa estimula estudantes a pensarem sobre o meio ambiente

http://www3.seduc.mt.gov.br/-/16925447-oficina-educomunicativa-estimula-estudantes-a-pensarem-sobre-o-meio-ambiente

Oficina educomunicativa estimula estudantes a pensarem sobre o meio ambiente

Material foi exposto na escola e pode ser conferido nas redes sociais
Seduc-MT

A exposição foi realizada do lado externo da escola. - Foto por: Divulgação
A exposição foi realizada do lado externo da escola.
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O que você vê pela janela da sua casa sobre o meio ambiente? Esta foi a pergunta que motivou os estudantes da Escola Estadual Manoel Cavalcanti Proença, no bairro Tijucal, em Cuiabá, a produzirem fotos que fizeram parte de uma exposição. Foram mais de 30 imagens, resultado da oficina educomunicativa, realizada de forma online. As fotos foram expostas em varais durante a entrega do material didático que irá auxiliar os estudantes durante o ano letivo.

A professora Marcela Brito, uma das idealizadoras do projeto, conta que quem foi buscar o material apostilado da escola teve a oportunidade de ver imagens de flores no quintal, o céu azulado, frutos nos pés de árvores e conferir as frases dos participantes sobre o meio ambiente. As oficinas ocorreram no mês de março, via whatsapp.

As fotos foram expostas também para a comunidade escolar.
Créditos: Divulgação

A professora destaca que a maioria dos participantes utilizou o celular para fazer o registro das imagens. “Durante os dois encontros virtuais sobre foto e vídeo, o tema meio ambiente foi o pano de fundo para mobilizar os alunos a refletirem sobre a realidade e as modificações que o espaço natural sofre com a crise climática”, assinala.

O trabalho agradou os estudantes, que ficaram eufóricos com os resultados. “Eu gostei muito da oficina, achei muito interessante. Gostaria de participar vária vezes”, diz o aluno João Márcio Machado que fotografou seu quintal com gramado, árvore e flores.

“Eu aprendi muito com a oficina, foi muito legal”, completa Pedro Eduardo Silva.

Pais juntos

Os pais e responsáveis acabaram participando com os filhos, acompanhando os encontros e aprendendo junto.

“Achei sensacional e importante para os nossos pequenos. Criar neles o incentivo ao cuidado com o meio ambiente e desenvolver a formação de opinião deles com relação ao tema”, salienta Simar Ribeiro, mãe do Natã Ribeiro e Petter Simar Ribeiro.

Emanoely Crystine Silva, estudante do 6º ano, avalia que aprendeu muito com os encontros. “Eu gostei da oficina porque me ensinou como tirar fotos boas. Me diverti muito”. 

“Realizar a oficina com base na educomunicação é possibilitar às crianças e adolescentes se apropriarem das suas narrativas para se comunicarem, partilharem a realidade e pensarem em ações conjuntas. A exposição de fotos não se resume às fotografias em si, mas vai além, representa o ponto de vista dos estudantes que assumiram o protagonismo, suas vozes são amplificadas”, avalia a professora.

As fotos podem ser conferidas nas redes sociais da unidade escolar.

A iniciativa contou com o apoio do Grupo de Estudos em Educação Ambiental e Educação Campesina (GEAC) e Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT).

Os alunos teceram comentários sobre as fotos
Créditos: Divulgação


Friday, 16 April 2021

Mia Couto: Rios, cobras e camisas de dormir

 https://blogacritica.blogspot.com/2016/01/mia-couto-rios-cobras-e-camisas-de.html?m=1

Mia Couto: Rios, cobras e camisas de dormir

Blog A CRÍTICA 5 years ago

Quero dizer, antes de tudo, do prazer que é estar aqui partilhando um momento que tem como tecto duplo a noite e a Biologia. A noite sugere o lugar encantado dos contadores de histórias. Uma biologia nocturna sugere um saber mais feminino, sob uma luz lunar em contraste com uma certa arrogância de um outro conhecimento que se apresenta como fonte solar.

Os encontros designados Biologia na noite sugerem a possibilidade de recriar uma fogueira imaginária em redor da qual podemos fazer aquilo que creio ser tão necessário nos nossos dias. E que é reencantar o mundo. Uma constrangedora aridez foi-se instalando como nossa condição comum. A culpa não é evidentemente nossa. Mas nós herdámos uma ideia de ciência que vive de costas para a necessidade de trazer leveza e construir beleza. Alguma coisa que se pretenda científica deve-se apresentar de trajes cinzentos, solenes. Para merecer credenciais científicas as nossas acções precisam de ter uma seriedade quase ascética. As cerimónias de graduação das universidades em Portugal e Moçambique parecem rituais medievais, com professores e estudantes envergando assustadoras túnicas escuras que quase sugerem um culto satânico.

A cidade de Aveiro só pode suscitar um sentimento oposto a estes cultos sombrios de glorificação do saber. A luminosidade da cidade é tão intensa que cria a ilusão de nos dissolvermos no espaço. E lembrei-me de uma pequena lição que aprendi este ano, numa pequena aldeia de Moçambique. Quando fui recebido pelos chefes tradicionais eles quiseram saber de mim, da minha viagem. “Cheguei há três dias”, comecei por dizer. E logo o régulo me corrigiu: “Não, você só chegou agora, agora que estamos abrindo o coração do lugar”. De outro modo, o que esse homem me dizia era que os lugares não são coisas. São entidades vivas, possuem um coração que está nas mãos daqueles que falam com as vozes do chão. Por isso eu agradeço às pessoas que me estão abrindo o coração de Aveiro. Sem eles eu não teria ainda chegado a este lugar.

Quando me convidaram para participar neste ciclo de conferências confesso que resisti. E fiz-lhes recordar os meus argumentos que eu já havia invocado quando me pediram para falar na sessão de abertura do Primeiro Encontro de Biólogos da CPLP, em setembro de 2004. É que realmente não se pode confiar em mim, não pertenço a esse respeitável círculo de colegas que fazem do pensamento científico a sua profissão de fé, a sua crença única e exclusiva. Sou um biólogo mas não moro, a tempo inteiro, na casa da ciência.

Já nessa altura, perante essa outra conferência, eu me desculpei dizendo: mais do que uma disciplina, a Biologia é para mim uma indisciplina científica, um modo de estar mais próximo das perguntas do que das respostas. Acredito na ciência, sim, mas apenas como um dos caminhos do saber. Existem outros caminhos e quero estar disponível para os percorrer. Uma parte da nossa formação científica confunde-se com a actividade de um polícia de fronteiras, revistando os pensamentos de contrabando que viajam na mala de outras sabedorias. Apenas passam os pensamentos de carimbada cientificidade.

A Biologia é um modo maravilhoso de emigrarmos de nós, de transitarmos para lógicas de outros seres, de nos descentrarmos. Aprendemos que não somos o centro da Vida nem o topo da evolução. Aprendemos que as bactérias são seres sofisticados que fizeram mais do que nós, espécie humana, pela existência da Terra como um organismo vivo. O dr. Amadeu Soares sabe lidar com seres complexos como as cianobactérias e, por isso, está, automaticamente, habilitado a lidar com escritores em apuros. O meu amigo Soares encontrou a resposta rápida para as minhas sucessivas hesitações: “Pois vens falar ao mesmo tempo como escritor e biólogo”. Uma sugestão simbiótica: como se pode resistir?

Não gosto propriamente de falar. Prefiro conversar. Combinámos, assim, que eu não traria comigo uma comunicação académica. “Trazes uma notas soltas e eu até invento um título para a conferência” (este título Mitos e pecados de uma indisciplina científica é da autoria do Amadeu). Com este acordo viajei tranquilo pensando que as tais notas soltas surgiriam de forma simples. Não surgiram. Houve um momento em que me arrependi de não trazer uma comunicação mais formal. Rabisquei este breve texto e se pudesse rebaptizar o nosso encontro eu dar-lhe-ia este outro título: Rios, cobras e camisas de dormir.

Dentro de duas semanas lançarei em Portugal o meu último romance que se chama O outro pé da sereia. Nesse texto, refiro de passagem um povo do norte de Moçambique, os chamados achikundas, descendentes de escravos, que se especializaram na travessia do rio Zambeze. Esta gente dizia de si mesma ser “o povo do rio” e, ao fazer as suas juras e rezas, invocava o nome do rio. Ainda hoje há quem, naquela região, empenha a palavra dizendo: “juro pelo rio”. E dizem “o Rio” sem que nunca lhes tivesse ocorrido dar um outro nome, pois era como se nenhum outro rio houvesse no mundo.

Faço um parêntese, tendo chegado à primeira baliza do título da minha intervenção. Acreditamos que todos sabemos o que é um rio. No entanto, essa definição é quase sempre redutora e falsa. Nenhum rio é apenas um curso de água, esgotável sob o prisma da hidrologia. Um rio é uma entidade vasta e múltipla. Compreende as margens, as áreas de inundação, as zonas de captação, a flora, a fauna, as relações ecológicas, os espíritos, as lendas, as histórias. É uma rede de entidades vivas, um assunto mais da Biologia que da Engenharia. Habituados a olhar as coisas como engenhos, esquecemos que estamos perante um organismo que nasce, respira e vive de trocas com a vizinhança.

Regresso aos nossos amigos Achikundas. Durante o final do século XIX, o vale do Zambeze foi alvo de frequentes ataques, e os sucessivos ocupantes queriam fazer uso das habilidades de navegadores dos tais achikundas. A dado passo, este povo começou a sentir-se inseguro e, sempre que sabia da chegada de estranhos, a primeira coisa que fazia era amarrar a canoa nas pedras do fundo das águas. Depois, quando eram abordados, os achikundas apresentavam-se do seguinte modo: “Nós não somos quem vocês esperam”. Eles eram sempre outros, os do outro lado, da outra margem.

Pois eu também, de vez em quando, afundo a minha canoa e me apresento como o da outra margem. Quando estou em ambientes demasiado literários, puxo do meu chapéu de biólogo. Quando estou entre biólogos que se levam muito a sério, rapidamente puxo do chapéu de escritor.

Não é este o caso, estou num ambiente familiar e posso assumir a minha condição não dividida mas repartida, a exemplo do russo Anton Tchekhov, que dizia que entre medicina e literatura não havia um caso de traição, pois a esposa e a amante eram uma mesma e única pessoa.

Uma das perguntas que mais frequentemente me fazem é a seguinte: “Como concilia literatura e Biologia?”. A pergunta é curiosa, mas mais curioso ainda é saber por que razão me fazem tanto essa pergunta. O que leva as pessoas a pensar que existe um problema de compatibilidade entre os dois fazeres?

Vou contar-vos um episódio estranho mas verídico que sucedeu recentemente em Moçambique, no distrito do Dondo, perto da minha cidade natal, a Beira. Este caso mereceu durante semanas o maior destaque na imprensa nacional. Sucedeu o seguinte: uma cobra, uma mamba preta, fez moradia no edifício da Administração. Um número não definido de mortes (que nunca se confirmaram) foi reportado. As vítimas não tinham sido mordidas. Morriam, diz-se, porque pisavam a sombra da serpente. Não deixa de ser interessante que alguém possa pisar a sombra de uma serpente. Mas o mais misterioso era que, todas as noites, a cobra entoava o hino nacional. 
Pelas janelas sem vidros do edifício se espalhavam os afinados acordes. Os residentes escutavam em perfilado respeito, e alguns faziam mesmo coro com a patriótica serpente. O pânico espalhou-se na vila e as autoridades convocaram os cientistas. Poucas vezes chamam os cientistas e aquela repentina subida de divisão era um momento vivido com exaltação. Foram desenhadas tácticas e estratégias: derrubou-se um morro de muchém e as árvores em redor da Administração, que se pensava serem o habitat do perigoso réptil. Durante dias, o jornal governamental deu conta das atribulações da caça à serpente. O sector privado foi chamado a financiar as operações de captura. Um colega meu esteve dois dias no chamado “centro dos acontecimentos”, para fazer sessões de esclarecimento sobre a necessidade de proteger répteis em perigo de extinção.

Como sempre, acreditamos que a tecnologia nos salva de todos os embaraços e esse colega herpetólogo muniu-se de todos os apetrechos: câmara de vídeo, projector de diapositivos, indicador de raios laser. (Existe, meus amigos, uma espécie de loja do Coronel Tapioca montada para os cientistas que trabalham nos trópicos.) Quando terminou a campanha de sensibilização, as autoridades locais agradeceram do seguinte modo: “Gostámos muito do que nos mostrou; só é pena que não tenha falado desta cobra”. “Como não falei?”, reagiu ele. “Então não falei da mamba negra?” E os camponeses responderam: “Falou sim, mas não é esta”. Desesperado, o biólogo só queria uma derradeira confirmação: “Digam-me só uma coisa: isso que tem aparecido aqui é realmente uma cobra?”. E a resposta final foi: “Quase é, doutor. Quase é”.

Shakespeare proclamou a existencial dúvida do “ser ou não ser” porque, certamente, não estava avisado desta categoria do “quase ser”. Nem eu sabia dessa possibilidade. Pois se soubesse, quando me perguntassem se me considero mais um escritor ou um biólogo eu responderia: “Quase considero, quase considero”.

A verdade é que para mim não existe conflito. Pelo contrário, hoje não sei como poderia ser escritor caso eu não fosse biólogo. E vice-versa. Nenhuma das actividades me basta. O que me alimenta é o diálogo, a intersecção entre os dois saberes. O que me dá prazer é percorrer como um equilibrista essa linha de fronteira entre pensamento e sensibilidade, entre inteligência e intuição, entre poesia e saber científico.

Um poeta chamado Zhu Xi escreveu o seguinte há cerca de 1200 anos: “No topo das altas montanhas vejo conchas que me dizem que antigos lugares de baixa altitude se elevaram para os céus e moram agora nos mais elevados picos. Estas conchas dizem-me também que materiais vivos de animais se converteram nas mais duras e inertes rochas”.

Estas palavras foram durante séculos lidas como se fossem versos. Mas Zhu Xi não era apenas um poeta: era um cientista, aquilo que, até há pouco, se chamava um naturalista. As suas palavras referiam claramente o processo de fossilização. O chinês falava de animais que se haviam extinguido num mundo em que montanhas e mares continuamente se deslocavam. A sua dedução parece simples. Mas a ciência nem sempre se fez por métodos muito científicos. E foram precisos mais de mil anos depois da sua morte para que a ciência aceitasse a existência e o significado dos fósseis como testemunho da dinâmica da Vida. Preconceitos ideológicos e religiosos impediam de olhar a Terra e a Vida como estando em constante mudança. A ideia de que espécies tivessem falhado e extinções maciças tivessem ocorrido chocava com a noção de uma obra perfeita e acabada do Criador.

Nos finais de 1700, barcos que regressavam da América do Norte trouxeram ossadas de um animal gigantesco. Sugeriu-se que esses restos provinham de um elefante. Mas era pouco provável que esses mamíferos tropicais ocorressem naquelas regiões geladas. Havia os ossos, não havia o animal. Os nossos colegas da época designaram o estranho bicho de INCÓGNITO. Por um tempo, mantiveram a esperança de que algum explorador avistasse o monstro. Mas isso nunca aconteceu. Até que Georges Cuvier — um anatomista e paleontologista francês — sugeriu que o tal INCÓGNITO seria um animal extinto que ele designou por mastodonte. Teriam, afinal, existido cataclismos que conduziram ao desaparecimento de espécies vivas.

É importante dizer que as conclusões de Cuvier só foram aceites porque ele as apresentou como consistentes com as teses bíblicas das pragas e das cheias. Durante séculos, o desejo do conhecimento tinha sido cerceado pela ameaça da punição. Sucessivos mitos como o de Prometeu, o de Pandora, o de Adão e Eva (castigados por comer o fruto da árvore do conhecimento), actuaram como travões para a curiosidade que está na base do conhecimento. Quando Cuvier apontou as ossadas fósseis como prova de um animal extinto, esse clima de censura já estava mais aliviado. Eram tolerados os conhecimentos que nos aproximassem de Deus. Mas não eram apenas os pecados de pensamento que se procurava prevenir. A vida privada estava sujeita, mesmo no Renascimento, a pesadas interdições. Durante todo esse tempo, os casais estavam proibidos de dormirem nus. As camisas de dormir que ainda hoje conhecemos não são apenas uma peça de vestuário. São também uma herança das cruzadas puritanas contra os pecados do corpo e da paixão.

As ciências sempre foram policiadas e manipuladas pelos poderes. Hoje não vivemos uma situação de excepção. Esses poderes não têm um rosto definido. Um deles chama-se mercado. Cabe-nos a nós interrogarmo-nos se não nos estamos convertendo em funcionários desse gigantesco laboratório sem nome. É verdade que já não nos impõem restrições de uma forma clara. Mas existem preconceitos que subjazem ao nosso trabalho científico. A ciência e a literatura podem pôr em causa as ideias arrumadas que apresentam a Terra, a Vida e o Ambiente como entidades feitas, exteriores ao Homem. Tanto a Terra como a Vida são produções contínuas, são redes de interacções feitas de inacabados processos, de irresolúveis desequilíbrios.

O Meio Ambiente foi hoje convertido numa bandeira, numa entidade mistificada. Eu sou biólogo e preocupo-me evidentemente com as causas ambientalistas. Não é isso que está em jogo. O que está em causa é podermos questionar a noção de Ambiente. Não podemos deixar que as noções sejam construídas como conceitos de moda, uma espécie de fait-divers do jornalismo de ocasião.

Na realidade, não existe ambiente como uma entidade única, fixa e exterior à sociedade humana. O ambiente é múltiplo e com significados contextuais diversos — os incêndios florestais em Portugal têm implicações bem diversas dos fogos da savana. O ambiente (que deve ser dito no plural) tem dinâmicas de mudança cuja complexidade nós nem sempre entendemos. Este céu límpido e azul de que hoje desfrutamos já foi naturalmente espesso e castanho. Este azul celestial que associamos à pureza foi resultado de uma das maiores catástrofes ecológicas que atingiu a Terra. O oxigénio que hoje nos sugere um ar puro e respirável surgiu como um dos mais mortíferos poluentes da história do nosso Planeta. Se houvesse, na altura, um Ministério do Ambiente e normas ambientais da União Europeia correríamos o risco de viver sob um céu de metano, terroso e triste. O chamado Meio Ambiente é uma co-produção de cuja equipa produtora fazemos parte.

Não é tanto de “defesa” que o ambiente necessita. Precisa, primeiro, de um melhor entendimento. Depois, precisa de uma produção menos centrada nos interesses de lucro de uma pequena elite que fala em nome do mundo.

Um dos princípios que nos guiam estabelece que as ciências se ocupam de verdades e não de beleza. Essa parede divisória foi muitas vezes violada. Quem ergueu esta parede divisória não saberá da aptidão para ser feliz. Em rigor, não existem “coisas” belas. Para ser bela, a “coisa” deixa de ser coisa. Passa a ser entidade viva, passa a ser parte da Vida. Porque ela só é bela enquanto produtora de sentimento de beleza. Só é bela enquanto nos fala e nos conduz secretamente para reavivar uma relação de parentesco com o Universo.

Watson e Crick, quando imaginavam a arquitectura do ADN, foram guiados também por princípios estéticos. Como se uma voz lhes murmurasse: “A dupla hélice está certa porque é bonita”. Sei que estou simplificando. Mas as moléculas sabem mais de poesia do que nós podemos imaginar. E as conchas fósseis que há 1200 anos comoveram o chinês Zhu Xi eram ciência escrita em versos. O poeta apenas reconheceu o casamento entre beleza e verdade.

Afinal, a ciência e a arte são como margens de um mesmo rio. A Biologia não é diurna nem nocturna se não se assumir como autora de uma espantosa narração que é o relato da Evolução da Vida. Podem ter a certeza de que a História da Evolução é tão extraordinária que só pode ser escrita juntando o rigor da ciência ao fulgor da arte.

A fechar, quero dizer o seguinte: poesia e ciência são entidades que não se podem confundir, mas podem e devem deitar-se na mesma cama. E quando o fizerem espero bem que dispam as velhas camisas de dormir.


* Conferência no Ciclo Biologia na noite, Universidade de Aveiro, Aveiro, 2006

Monday, 12 April 2021

DELEUZE: Obra (quase) completa para download PDF

 conexões clínicas

https://conexoesclinicas.com.br/deleuze-obra-completa-para-download/#.YHOMTK9aZug.facebook

DELEUZE: Obra (quase) completa para download

Deleuze foi um dos maiores pensadores do século XX. Sua obra é repleta de conceitos inovadores que se entrecruzam para criar mais do que uma teoria, uma postura de vida. Através da releitura absolutamente original de autores como Bergson, Nietszche, Espinosa Proust, entre outros, Deleuze foi capaz de romper com o pensamento hegemônico e suas ideias atravessam as artes, a psicanálise, a filosofia, a psicologia, a literatura, o cinema. Não é à toa que Foucault disse que um dia o século será Deleuzeano.

Vasculhamos a internet em busca de seus livros e após algum esforço acreditamos ter conseguido reunir todos, inclusive um inédito. Compilamos a obra de Deleuze cronologicamente, visando facilitar a localização no seu conjunto. Eis o resultado, bom divertimento.

Empirismo e Subjetividade  (1953)

Instinto e Instituições (1955)

Nietzsche e a Filosofia (1962)

 A Filosofia Crítica de Kant (1963)

Proust e os signos (1964)

Nietzsche (1965)

Bergsonismo (1966)

Presentación de Sacher-Masoch (espanhol) (1967)

Espinosa e o Problema da Expressão (1968)

Diferença e repeticao (1968)

Lógica do Sentido (1969) *direitos autorais reivindicados pela editora Perspectiva (link para compra: https://loja.editoraperspectiva.com.br/filosofia/logica-do-sentido/)

Espinosa – filosofia prática (1970)

O Anti-Édipo com Félix Guattari (1972)

Kafka – para_uma_literatura_menor com Félix Guattari (1975)

Diálogos com Claire Parnet (1977)

Mil Platôs – Capitalismo e Esquizofrenia, vol. 01 com Félix Guattari (1980)

Mil Platôs – Capitalismo e Esquizofrenia, vol. 02  com Félix Guattari (1980)

 Mil platôs – Capitalismo e Esquizofrenia, vol. 03 com Félix Guattari (1980)

 Mil Platôs – Capitalismo e Esquizofrenia vol. 04  com Félix Guattari (1980)

 Mil Platôs – Capitalismo e Esquizofrenia vol. 05 com Félix Guattari (1980)

Francis-Bacon-Logica-Da-Sensação (1981)

Cinema – imagem movimento (1983)

 Cinema 2 – Imagem e Tempo (1985)

Foucault (1986)

O ato de Criação (1987)

A dobra: Leibniz e o Barroco (francês) (1988)

Conversações (1990)

O que é a filosofia com Félix Guattari (1991)

L’Epuisé (inglês) (1992)

Crítica e Clínica (1993)

Derrames entre el capitalismo y la esquizofrenia: curso (espanhol)  (2005)

A Ilha Deserta e outros textos (2010)

Bruno Mangolini, Bruno Espósito e Tomás Bonomi


Saturday, 10 April 2021

FREIRE E EDUCAÇÃO POPULAR COM BRANDÃO

 http://eadfreiriana.org/curso-pfep/

DOWNLOAD DO AVISO

http://eadfreiriana.org/curso-pfep/

Gente amiga, especialmente as pessoas vinculadas à educação e à educação popular,

 

Este não é apenas um ano de "pandemia-e-pandemônio".

É  também um ano de esperanças e de algumas coisas boas. Neste 2021 estamos relembrando os “100 anos de Paulo Freire”

Para algumas pessoas enviei alguns escritos meus ao redor de Paulo e da Educação Popular.

O INSTITUTO PAULO FREIRE estará lançando um Curso sobre a “educação popular freireana”. 

Entre outras pessoas, estarei participando dele. 

Gravei em 2020 umas 13 aulas que no todo ou em parte estarão “indo ao ar” no Curso.

 

Envio a vocês o link com dados dele e parte da carta enviada por Paulo Padilha, do IPF.

 

Um abraço amigo,

Estejamos juntas/os!

 

Carlos Brandão

 

http://eadfreiriana.org/curso-pfep/

 

 

VEJAM  ANEXOS

 

 




Carlos

 

Veja abaixo o link da landing-page do curso. Este é o material de divulgação para a venda do curso.

Além do desconto de 50% para estudantes e de 20% para ex-cursistas da EaD Freiriana, oferecemos também algumas bolsas de estudo para que organizações ligadas à educação popular indiquem pessoas interessadas em participar gratuitamente do curso.

Abra o link abaixo com todas as informações, querido poeta.

Tenha ótima noite e um ótimo sábado.

 

abraços. 

 

Padilha.


http://eadfreiriana.org/curso-pfep/

*

Carlos Rodrigues Brandão

Paulo Freire e a Educação Popular





*

Friday, 9 April 2021

O vírus, a vida


O vírus, a vida
-- por Carlos Rodrigues Brandão

Van Lieshout

Um vírus novo nos habita, e ele é vida
e, como nós, deseja ser eterno
e em nosso corpo semeia a sua herança.
Estranhos tempos, indesejados dias.
As ruas desertas, e do alto dos pinheiros
as aves espiam e se perguntam: “e elas
as pessoas, para onde foram
entre praças sem cachorros e crianças?”


Nos bares o vinho de ontem envelhece
enquanto em casa moramos, como em celas.
Entre amigos o abraço proibido
e o beijo entre amantes, condenado.
Sofrem sem aulas velhas professoras
e as prostitutas fogem das esquinas.
Há em tudo um ar de mundo antigo,
portas fechadas como se a Idade Média
de novo fosse agora, entre castelos.

Mas não, somos modernos, e internautas
nos amamos de longe, entre telas.
O ar que é tanto e é livre e democrático,
e existe na mansão e no barraco
falta no peito da mulher que morre
e sonha com anjos, azuis e o paraíso.

A palavra “vírus” viaja e viraliza
e na tela da TV seu corpo é quase como
um divertido brinquedo de criança.
Um ser invisível e o mais livre viajante
que os nossos corpos ameaçam mais que um tigre.
Cobrimos meio rosto com três máscaras
e as moças são todas agora muçulmanas.
Escondidos esperamos quem nos salve.

E a vida, a casa amada em que vivemos
nos acolhe ainda e vela, e nos pergunta:
“O que fizeram do mundo em que vivemos?”
“E o que fazem de mim, que os amo tanto?”


*

Friday, 2 April 2021

Coletivo cria frente com sociedade civil para discutir enfrentamento da pandemia em MT

 https://www.pnbonline.com.br/geral/coletivo-cria-frente-com-sociedade-civil-para-discutir-enfrentamento-da-pandemia-em-mt/75398

Coletivo cria frente com sociedade civil para discutir enfrentamento da pandemia em MT

Discussão contará com a participação de representantes de entidades e do governo, além de cientistas, profissionais da saúde e políticos do estado.

Safira Campos

Da Redação

Tchélo Figueiredo - SECOM/MT

centro de triagem covid 19 arena pantanal.jpg

 

O coletivo Amigos do Pantanal, criado por ativistas e cientistas de Mato Grosso em 2020, está organizando uma frente para discutir o combate à pandemia de covid-19 no estado. A ideia é que a iniciativa dê protagonismo à sociedade civil organizada no debate sobre a elaboração de estratégias e medidas para barrar o avanço da doença que já matou mais de 7 mil pessoas em Mato Grosso. 

 

No próximo dia 10, o grupo realiza um fórum com pesquisadores, profissionais da saúde, e representantes de entidades e dos governos municipal e estadual. Um dos organizadores da iniciativa é o indigenista Sebastião Moreira, também responsável pela criação do coletivo. Tião do Cimi, como é conhecido, conta que a ideia é que a frente de mobilização pressione as autoridades a tomar iniciativas mais contundentes em relação à pandemia. 

 

“Vamos discutir sobre a aquisição de vacinas, que é algo primordial para que possamos sair dessa condição que estamos agora. Fora isso, é nítido que precisamos de um lockdown logo, urgentemente. Autoridades no assunto têm apontado cenários ainda mais assustadores se nada for feito. Temos que trabalhar em uma perspectiva de isolamento social, com distribuição de auxílios. Com o corte do Governo Federal, esperamos que o Município e o Estado ajam”, afirma Sebastião.  

 

O fórum será dividido em duas mesas. Na primeira, que acontece pela manhã e será moderada pela pesquisadora e professora Michele Sato, as contribuições vêm do campo científico, com médicos, biólogos e cientistas, além do secretário de Estado de Saúde, Gilberto Figueiredo. Para Sato, que tem estudado a pandemia no pós-doutorado realizado atualmente no Rio de Janeiro, o fórum será uma oportunidade de debater aspectos diversos da disseminação da doença no mundo. 

 

“Trabalho com a hipótese de que a pandemia não pode ser encarada como uma crise sanitária pontual, mas proveniente de uma crise ambiental prolongada da humanidade destruindo a natureza. O agronegócio e o aumento do consumo energético são pontos muito relevantes na discussão. Há autores que defendem que o agronegócio é um dos maiores propagadores de patógenos, por exemplo. De alguma maneira, a Organização Mundial da Saúde já tinha como saber que aconteceria uma pandemia, mas não sabia quando e nem que seria nessa intensidade”, afirma. 

 

À tarde a discussão centra-se no aspecto político do enfrentamento à pandemia. Foram convidados para o debate o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), e o  Várzea Grande, Kalil Baracat (MDB); os presidentes das Câmaras Municipais das duas cidades, Juca do Guaraná (MDB) e  Fábio José Tardin (DEM); o presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), Max Russi (PDB); a deputada federal Rosa Neide (PT) e o senador Wellington Fagundes (PL), além do Secretário-geral da OAB-MT, Flávio José Ferreira. 





Descoberta no deserto do Kalahari leva a revisão da origem humana

 https://www.revistaplaneta.com.br/descoberta-no-deserto-do-kalahari-leva-a-revisao-da-origem-humana/

Descoberta no deserto do Kalahari leva a revisão da origem humana

Segundo evidências encontradas por pesquisadores, os primeiros humanos do Kalahari eram tão inovadores quanto seus vizinhos do litoral

Escavações arqueológicas em Ga-Mohana Hill North Rockshelter, onde as primeiras evidências de comportamentos complexos do Homo sapiens foram recuperadas. Crédito: Jayne Wilkins

Evidências arqueológicas em um abrigo rochoso na borda do deserto do Kalahari, na África do Sul, estão desafiando a ideia de que as origens da nossa espécie estavam ligadas a ambientes costeiros. Um artigo sobre esse estudo foi publicado na revista “Nature”.

Uma equipe internacional liderada pela drª Jayne Wilkins, do Centro de Pesquisa Australiano para Evolução Humana da Universidade Griffith (Austrália), encontrou evidências longe de locais costeiros dos complexos comportamentos simbólicos e tecnológicos que definem os humanos modernos, remontando a 105 mil anos.

“Nossas descobertas nesse abrigo rochoso mostram que modelos excessivamente simplificados para as origens de nossa espécie não são mais aceitáveis. As evidências sugerem que muitas regiões do continente africano estiveram envolvidas, sendo o Kalahari apenas uma delas”, disse Wilkins.

Distância da costa

“As evidências arqueológicas dos primeiros Homo sapiens foram amplamente descobertas em locais costeiros da África do Sul, apoiando a ideia de que nossas origens estavam ligadas a ambientes costeiros”, prosseguiu ela. “Poucos sítios arqueológicos datáveis ​​e bem preservados no interior da África Meridional podem nos contar sobre as origens do Homo sapiens fora da costa. Um abrigo rochoso no Monte Ga-Mohana que fica acima de uma vasta savana no Kalahari é um desses locais.”

O abrigo rochoso é usado hoje para atividades rituais pela comunidade local. A pesquisa arqueológica revelou ali uma longa história de um lugar de significado espiritual.

Os pesquisadores escavaram 22 cristais de calcita branca e fragmentos de casca de ovo de avestruz, usados ​​como recipientes de água, de depósitos datados de 105 mil anos atrás no local denominado Ga-Mohana Hill North Rockshelter. Naquela época, esse ambiente era muito mais úmido do que hoje.

Sítio arqueológico em abrigo rochoso no deserto do Kalahari: mais de 100 mil anos atrás, as pessoas usavam o chamado Ga-Mohana Hill North Rockshelter para atividades espirituais. Crédito: Jayne Wilkins
Uso espiritual ou cultural

“Nossa análise indica que os cristais não foram introduzidos nos depósitos por meio de processos naturais, mas foram objetos coletados deliberadamente, provavelmente ligados a crenças espirituais e rituais”, disse Wilkins.

“Os cristais apontam para o uso espiritual ou cultural do abrigo 105 mil anos atrás”, disse o dr. Sechaba Maape, da Universidade de Witwatersrand (África do Sul). “Isso é notável, considerando que o local continua a ser usado para a prática de atividades rituais hoje.”

Os pesquisadores ficaram maravilhados ao descobrir que o conjunto de cristais coletados por humanos e fragmentos de casca de ovo de avestruz no Monte Ga-Mohana eram significativamente mais antigos do que o relatado em ambientes internos em outros lugares.

“Em locais costeiros, as primeiras evidências para esses tipos de comportamento datam da mesma época, 105 mil anos atrás”, disse Wilkins. “Isso sugere que os primeiros humanos do Kalahari não foram menos inovadores do que os da costa.”

Impacto minimizado

A cronologia de Ga-Mohana North Rockshelter foi determinada pela equipe de pesquisa usando datação por luminescência.

“Essa técnica mede os sinais de luz natural que se acumulam ao longo do tempo nos grãos sedimentares de quartzo e feldspato”, disse o dr. Michael Meyer, da Universidade de Innsbruck (Áustria). “Você pode pensar em cada grão como um relógio miniaturizado. A partir dele podemos ler essa luz natural ou sinal de luminescência, nos dando a idade das camadas de sedimentos arqueológicos.”

Devido ao significado espiritual contínuo do Monte Ga-Mohana, os pesquisadores estão conscientes de minimizar seu impacto no uso do abrigo de rochas pelas comunidades locais após cada temporada.

“Não deixar rastros visíveis e trabalhar com a comunidade local é fundamental para a sustentabilidade do projeto”, disse Wilkins. “Para que o Monte Ga-Mohana possa continuar a fornecer novos conhecimentos sobre as origens e a evolução do Homo sapiens no Kalahari.”

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