fonte:
https://direitoshumanosmt.blogspot.com/p/migracao.html
CARTA DE MIGRAÇÃO DE MATO
GROSSO
Fórum de Fluxos Migratórios
|
Só se enxerga bem a ilha
Quando se sai da ilha
~ José Saramago
Intensificado e num dos momentos mais marcantes da
história civilizatória, o processo de migração bate os recordes mundiais em
número, e qualitativamente, assemelha-se mais às remoções (movimentos forçados)
do que os deslocamentos opcionais. Trata-se de movimentos locais, nacionais e
internacionais, que demanda políticas públicas dos países que acolhem os
refugiados, os removidos ou os migrantes.
Esta Carta da Migração é fruto do Fórum Fluxos
Migratórios, que reuniu organismos do governo e da sociedade civil, com
estudiosos e militantes, além de migrantes de Cuba, Haiti, Venezuela, Senegal,
Peru, Chile, México, Indonésia, Vietnam, Libéria e também descendentes de
migrantes do próprio Brasil. Por meio de depoimentos, palestras e debates em
fórum por todos os participantes, o diálogo buscou um pacto de pensamentos,
ações, sentimentos e políticas que pudessem subsidiar a construção de fortes políticas
públicas que considerassem as migrações de maneira inclusiva, e sobremaneira,
justa.
Diversos outros temas perpassam a dimensão
migratória, como um aumento considerável do sexo feminino na pauta, entretanto,
sofrendo mais assédio moral e sexual. Além disso, o processo migratório deve
ampliar o debate para acolhimento dos grupos em situação de vulnerabilidade,
como as crianças, idosos, Pessoas com Deficiência (PcD), povos indígenas,
ciganos, comunidade LGBTIQ, quilombolas, favelados e demais grupos que estão
mais expostos com o crescimento do fascismo, com claros pilares do
autoritarismo, armamentos, racismo, misoginia, homofobia e xenofobia.
O fluxo migratório da atualidade supera todos os
recordes anteriores e o relatório mundial da Organização das Nações Unidas
(ONU)[1]
acusa que em 2017 tivemos cerca de 258 milhões de pessoas transitando entre um
país e outro. Embora os países do hemisfério norte sejam aqueles que mais
recebem migrantes, aumentam a frequência e número de migrações em todo o mundo,
inclusive no Brasil. As causas principais são econômicas, políticas, religiosas
e conflitos civis, aumentando a migração climática em todo o mundo.
Consideramos que seja fundamental construir
políticas públicas de migração que sejam transparentes, que possibilitem a
participação e o controle social por parte da sociedade civil e das diversas
comissões de Direitos Humanos existentes em MT. Devem ser incluídas o
acolhimento linguístico e à educação, de forma plena, ampla e irrestrita. Os
processos legais da residência, que inclui a mobilidade e trabalho, além de
outros aspectos relevantes da garantia da boa alimentação, saúde, acesso
digital e moradia são essenciais à democracia da migração, com assistências e
diálogos articulados dos órgãos públicos, sociedade civil e agências nacionais
e internacionais.
Esta Carta da Migração quer fomentar marcos legais que tratem da legislação migratória que fortaleça e garanta o acolhimento, o espaço de refúgio, o trabalho, a educação, a saúde e o bem-viver das populações. Uma especial atenção às crianças e adolescentes, que garanta uma juventude digna, inclusive com inclusão da dimensão lúdica, ao lume dos fatos de que as mulheres e as crianças são as que mais sofrem nos processos de migração.
Esta Carta da Migração quer fomentar marcos legais que tratem da legislação migratória que fortaleça e garanta o acolhimento, o espaço de refúgio, o trabalho, a educação, a saúde e o bem-viver das populações. Uma especial atenção às crianças e adolescentes, que garanta uma juventude digna, inclusive com inclusão da dimensão lúdica, ao lume dos fatos de que as mulheres e as crianças são as que mais sofrem nos processos de migração.
Para além dos sofrimentos humanos, há um ambiente
que foi destruído, devastado pelo clima, gerando o desgaste da natureza que
inibe a agricultura camponesa, a ausência de falta de água ou desastres que
destroem outras formas de vida, além da aridez da terra, escassez da água ou desastres
relativos à atmosfera do planeta. Por isso, as políticas públicas migratórias
devem estar em consonância com as políticas ambientais, nos diálogos
inseparáveis entre cultura e natureza.
Os participantes do fórum debatem a migração como
responsabilidade do Estado, como abertura democrática e participativa, para
construir as políticas públicas, principalmente em alguns eixos principais:
1) POLÍTICAS MIGRATÓRIAS – Recomenda-se a regulamentação da Lei Federal
13.445/2017 no âmbito do estado de MT. Fortalecer uma forte política pública de
migrantes, garantindo a mobilidade e trabalho; com a criação de mais centros,
refúgios ou casas de acolhimento que consigam atender os migrantes. Encorajar e
estimular as atividades já existentes, como cursos de formação profissional, empreendedorismo
social, idiomas, ou cidadania, além de um “balcão” de direitos trabalhistas com
orientações gerais sobre o trabalho. Abrir diálogos com empregadores para
fortalecer a possibilidade de contratação de migrantes estrangeiros. Sob o
guarda-chuva da Lei de Migração (2017), é essencial construir legislações
específicas do estado e dos municípios de Mato Grosso. Recomenda-se para que os
municípios criem seus meios e redes para articulação política, conforme as singularidades,
limites e possibilidades de cada território, a exemplo de Conselhos Municipais
de Migração, de Fóruns Participativos e de Observatório da Migração, entre
outras possibilidades.
2) POLÍTICAS EDUCATIVAS – garantia da aprendizagem da língua portuguesa,
reforço da educação de forma ampla, irrestrita e multilíngue, para todos os
níveis e idades, para todos os credos, orientação sexual, religião ou etnia.
Uma aprendizagem que considere a formação, a extensão e a pesquisa num ciclo
permanente que possibilite a comunicação, o acesso digital, políticas
específicas de inclusão e a construção da interculturalidade na “com-vivência”
com os diferentes.
3) POLÍTICAS DE SAÚDE – com boa alimentação, combate ao agrotóxico, acesso ao Sistema Único de
Saúde (SUS) e inclusive com apoio odontológico e, na eminência do mal do
século, atendimento psicológico que vise cuidados com a depressão e outras inquietudes
emocionais.
4) POLÍTICAS DE DIREITOS HUMANOS – de forma geral, que abarque as dimensões prévias,
incluindo as relações de gênero, direitos das crianças e adolescentes, idosos,
Pessoas com Deficiência (PcD), e demais grupos em situação de vulnerabilidade.
Uma política que fomente a criação de redes com várias conexões e intersetorialidades,
e que por meio de diálogos, consigam frear o tráfico de pessoas, o trabalho
escravo e as demais situações que comprometam o bem-viver. Uma rede de fluxos e
conexões que promovam uma lei de migração mais democrática, o trabalho digno, o
acesso a moradia, a livre mobilidade, o direito da informação, da educação, da
saúde e também do lazer. E porque somos conectados, a garantia do ambiente
protegido, com direitos que possam promover a proteção dos povos humanos, dos
não humanos e de toda porções da água, terra, fogo e ar que consigam manter a
felicidade de uma Terra sustentável.
Cuiabá,
8 e 9 de novembro de 2018.
Auditório Setec, UFMT
Participantes
do Fórum Fluxos Migratórios
[1] United
Nations Organisation, International Migration Report, 2017.
https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=12&ved=2ahUKEwjThpmsbveAhWCC5AKHSWRCU4QFjALegQIBxAC&url=http%3A%2F%2Fwww.un.org%2Fen%2Fdevelopment%2Fdesa%2Fpopulation%2Fmigration%2Fpublications%2Fmigrationreport%2Fdocs%2FMigrationReport2017_Highlights.pdf&usg=AOvVaw2vveTgkGD49UXb6IhwqiwJ
https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=12&ved=2ahUKEwjThpmsbveAhWCC5AKHSWRCU4QFjALegQIBxAC&url=http%3A%2F%2Fwww.un.org%2Fen%2Fdevelopment%2Fdesa%2Fpopulation%2Fmigration%2Fpublications%2Fmigrationreport%2Fdocs%2FMigrationReport2017_Highlights.pdf&usg=AOvVaw2vveTgkGD49UXb6IhwqiwJ
No comments:
Post a Comment