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Escolha de Ernesto Araújo para chanceler põe em risco liderança ambiental brasileira
BRASÍLIA/SÃO PAULO/CURITIBA/RIO BRANCO/PIRACICABA, 15/11/2018
É
estarrecedora a escolha do embaixador Ernesto Araújo como ministro de
Relações Exteriores. Sua nomeação contraria uma longa tradição da
política externa brasileira e traz o risco de tornar o Brasil um anão
diplomático e um pária global. O radicalismo ideológico manifesto nos
escritos do futuro ministro cria, ainda, uma ameaça para o planeta, ao
negar a mudança do clima e, presumivelmente, os esforços internacionais
para combatê-la.
Araújo
tem expressado posições fortes contra a globalização e contra o
multilateralismo. Em nome dessa ideologia, e contrariando as evidências
mais rasteiras, chama em seu blog Metapolítica 17 o combate à
mudança climática de perversão da esquerda. Invoca uma teoria
conspiratória segundo a qual existe um projeto “globalista” de
transferir o poder do Ocidente para a China (uma contradição em termos).
Parte desse grande complô seria o “climatismo”, que é como ele chama o
esforço mundial para reduzir emissões de carbono – empreendido por
líderes de todas as faixas do espectro político e com base em décadas de
conhecimento científico acumulado.
Tal
pensamento, caso prevaleça sobre o ofício do chanceler, será
prejudicial ao Itamaraty e ao papel do Brasil no mundo. A diplomacia
brasileira tem na defesa do multilateralismo um de seus pilares e, nos
últimos 46 anos, vem se valendo do multilateralismo para projetar o
Brasil na cena internacional em um dos poucos espaços nos quais o país é
líder nato: a agenda ambiental.
O
Itamaraty foi o primeiro ministério a entender como o patrimônio
natural brasileiro é um dos ativos mais importantes dos tempos modernos.
O Brasil foi protagonista na Conferência de Estocolmo, em 1972; foi
berço das grandes convenções de ambiente e desenvolvimento sustentável
da ONU e da Agenda 21, em 1992; liderou na defesa dos países em
desenvolvimento no Protocolo de Kyoto, em 1997; foi o parteiro dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em 2012; e negociador
fundamental do Acordo de Paris, em 2015. Agora, está escalado para
sediar a próxima conferência do clima, a COP25, em 2019.
Abdicar
essa liderança em nome de uma ideologia de tons paranoicos contrariaria
diretamente o interesse nacional, que o presidente eleito, Jair
Bolsonaro, prometeu colocar “acima de tudo” em sua campanha. Sendo o
Brasil o sétimo maior emissor de gases efeito estufa do planeta, também
poria em risco enormes porções da população global – inclusive no
Ocidente, como demonstram os recentes incêndios florestais na Califórnia
– num momento em que a melhor ciência nos diz que temos apenas 12 anos
para prevenir os piores efeitos da crise do clima.
Resta
esperar que o cargo e suas responsabilidades tornem o chanceler Ernesto
Araújo muito diferente do blogueiro Ernesto Araújo.
Coordenação do Observatório do Clima
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