Atkins Ciwem environmental photographer of the year 2014 winners – in pictures
The winners in the competition run by the Chartered Institution of Water and Environmental Management (Ciwem) and sponsored by Atkins have been chosen from more than 10,000 entries that showcase the best in environmental photography and film. Winning and shortlisted images will be exhibited at the Royal Geographical Society in London from 23 June to 4 July, and tour UK forest venues until November.
Photograph: Luke Duggleby/Atkins CIWEM Environmental Photographer of the Year 2014
The winner of the Atkins Ciwem environmental film of the year 2014: Sean Gallagher, The toxic price of leather, 2013
Sean Gallagher's film the toxic price of leather won the Atkins Ciwem environmental film of the year 2014
Gallagher explains: "On the banks of the Ganges River in northern India lies the city of Kanpur. It is now the biggest producer of leather products in the whole country. First established in the mid 19th-century, the city’s leather is exported across the world, with 95% of its leather destined for western markets. This success is coming at great environmental and social costs that are destroying the local Ganges River ecology and scarring the local people in the form of life-threatening illnesses. The city is now notorious for having some of the country's worst water pollution, which has been created by the leathery tannery industry which discharges waste water laced with toxic chemicals freely into local waterways. This water is used by local people and is channelled onto local farmland, subsequently poisoning the soil, entering the food chain and accumulating in local ecosystems. An array of health problems now afflict locals who are suffering as a result of the bio-accumulation of dangerous toxins over the past decades."
Photograph: Mohammad Fahim Ahamed Riyad/Atkins CIWEM Environmental Photographer of the Year 2014.
Winner of the Atkins Ciwem environmental film of the year 2014: Mohammad Fahim Ahamed Riyad, In search of life, 2014
"A fireman is looking for any signs of life after a fire in Dhaka, Bangladesh. About 400 shanty homes were gutted and four people died in this incident, including a six-year-old child. However, no casualties were ever officially reported and the reason of the fire remained unknown."
Photograph: Faisal Azim/Atkins CIWEM Environmental Photographer of the Year 2014
Winner of the Atkins City Scape award 2014: Faisal Azim, Life in the circle, 2013
"According to a government report, the total number of beggars, or vagabonds, across Bangladesh is now more than 900,000. The literal meaning of 'vagabond' indicates a person who has the capacity to work but is choosing not doing so. It also refers to a person who has no specific place of residence. A vagabond appears to contradict the right to life and freedom of movement, which are guaranteed as fundamental rights by the Bangladeshi constitution. There are allegations of physical, mental and even sexual torture against people in shelter centres."
Photograph: Luke Duggleby/Atkins CIWEM Environmental Photographer of the Year 2014
Winner of the Forestry Commission England exhibition award 2014: Luke Duggleby, Wrapping the surviving tree, 2013
"Cambodian Buddhist monks and local villagers bless one of the remaining large trees in an area destroyed to make way for a banana plantation. Whilst arriving too late to stop the destruction completely, by wrapping an orange cloth around the remaining trees and praying, they are making the trees sacred with the hope to deter future loggers. Following uncontrolled forest destruction in the Central Cardamom protected forest in south-west Cambodia, an eco-warrior monk movement has begun to try and protect areas of forest at risk."
Photograph: Bogumil Kruzel/Atkins CIWEM Environmental Photographer of the Year 2014
Winner of the Ciwem award 2014: Bogumil Kruzel, Man in the face of nature I, 2014
"Wieliczka Salt Mine. Engels Leaching Tower, 135m below ground level. A few such towers were built in the mine. Saline water flows through the tower, dissolving lumps of salt placed inside to produce fully saturated brine."
Um engenheiro calculista de São Paulo chega a Manaus no início da tarde para avaliar os danos e fazer uma projeção de tempo para que se reconstrua o que foi destruído na Estação de Águas da Ponte das Lajes. A empresa responsável pelo rebocador que causou o acidente será acionada judicialmente para arcar com o prejuízo
Balsa bate em ponte da Proama e afeta abastecimento de água em Manaus (Divulgação)
Em entrevista concedida na manhã desta quarta-feira (25) o presidente da Companhia de Saneamento do Amazonas (Cosama), Eraldo Beleza Câmara, informou que somente após a avaliação do engenheiro calculista nos danos causados à Estação de Tratamento de Água (ETA), localizada no Distrito Industrial II.
Até lá, ao menos quarenta e sete áreas das Zonas Norte e Leste de Manaus – abastecidas pelo Programa de Águas para Manaus, que utiliza a estrutura da Ponte das Lajes -, irão sofrer com o corte no fornecimento de água.
“O engenheiro calculista Cláudio Watanabe, que chega às 12h em Manaus, de São Paulo, vai avaliar todos os danos e projetar a recuperação desta estrutura. Nós não temos nem ideia de quanto tempo será esta paralisação. Visualmente, o pilar principal foi comprometido. Com isso, ele também comprometeu a vigara que estrutura um trecho da ponte. A própria laje também prejudicou a tubulação de 1,8 milimetros de aço por onde passa a água pura”, comentou Câmara.
Ele, no entanto, ponderou que somente a empresa que possui a concessão de distribuição da rede de abastecimentos de águas na cidade pode dizer como será feita a entrega da água no tempo de recuperação da ponte.
“Não sei como vai ser esse plano emergencial deles. Talvez eles reativem a ETA da Ponta do Ismael, que era usada anteriormente para abastecer as áreas do Proama”, concluiu.
Ainda de acordo com Câmara, a empresa responsável pelo rebocador Antônio Soares, que chocou-se contra o pilar sustentador da ponte, será acionada judicialmente pela assessoria jurídica da Cosama e pela Procuradoria Geral do Estado do Amazonas (PGE) afim de que arque com o prejuízo causado.
A assessoria da empresa Manaus Ambiental deve se pronunciar ainda nesta quarta-feira (25) sobre o plano emergencial de abastecimento durante o período de recuperação da Ponte das Lajes.
Michel Foucault fala ao megafone ao lado de Jean-Paul Sartre, em manifestação
Há trinta anos, morria filósofo-ativista que recusou papel de líder, mas estimulou a transgredir “verdades” fabricadas e eternizadas pelo poder
Por Bruno Lorenzatto
“Mostrar às pessoas que elas são muito mais livres do que pensam, que elas tomam por verdadeiro, por evidentes, certos temas fabricados em um momento particular da história, e que essa pretensa evidência pode ser criticada e destruída.” (Michel Foucault)
Há trinta anos, em junho de 1984, morria em Paris Michel Foucault. Um pensador do século XX que inventou certo modo radical de pensar, que atravessa este início de século: suas reflexões permanecem fundamentais para os movimentos de contestação política e social; para todos aqueles que desejam “saber como e até onde seria possível pensar de modo diferente”.
Foucault participou teórica e praticamente dos movimento sociais que poderíamos chamar de vanguarda de seu tempo, sobretudo durante as décadas de sessenta e setenta: a luta antimanicomial (sua experiência num hospital psiquiátrico foi uma das motivações que o levou a escrever História da Loucura); as revoltas nos presídios franceses (junto com Gilles Deleuze criou o GIP – Grupo de Informação sobre as Prisões, que buscava dar voz aos presos e às outras pessoas diretamente envolvidas no sistema prisional; com base nessa experiência escreveu Vigiar e Punir); o movimento gay (uma das motivações para sua História da Sexualidade).
O pensador francês também escreveu artigos para jornais e revistas no calor da hora sobre acontecimentos importantes, deu conferências e entrevistas em diversos países, inclusive no Brasil. Contrapunha seu papel de intelectual ao “intelectual universal”, isto é, uma espécie de líder que pensa pelas massas e as dirige para a “verdadeira” luta. O filósofo via a si mesmo como um “intelectual específico”, aquele que em domínios precisos contribui para determinadas lutas em curso no presente. Parafraseando Deleuze, Foucault foi o primeiro a ensinar a indignidade de falar pelos outros.
Ele dizia que suas pesquisas nasciam de problemas que o inquietavam na atualidade: evidências que poderiam ser destruídas se soubéssemos como foram produzidas historicamente; por isso fez da ontologia (o estudo do ser, um modo de reflexão geralmente desligado da realidade histórica, uma vez que busca princípios – as ideias, para Platão; o cogito, para Descartes; o sujeito transcendental, para Kant – que antecedem e, por assim dizer, fundam a história) uma reflexão em cujo cerne está o presente e, portanto, a investigação histórica.
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Através de estudos transdisciplinares (e não entre disciplinas, pois trata-se de colocar em questão os limites entre elas), Foucault deu forma a uma crítica filosófica que recorre sobretudo à pesquisa histórica, para questionar as maneiras pelas quais certas verdades e seus efeitos práticos vieram a se formar e se estabelecer no presente.
Questionava assim os sistemas de exclusão criados pelo Ocidende quando do início da época moderna (na cronologia de Foucault, desde fins do século XVIII):
- o saber médico e psiquiátrico – a patologização e a medicalização como formas modernas de dominação sobre seres economica e socialmente inconvenientes, os loucos;
- o nascimento das ciências humanas e da filosofia moderna como saberes que atestam a invenção do conceito de homem, transformando o ser humano, ao mesmo tempo, em sujeito do conhecimento e objeto de saber: o grande dogma da modernidade filosófica;
- a prisão e outras instituições de confinamento (tais como a escola, a fábrica, o quartel) não como um avanço nos sentimentos morais e humanitários, mas como mudança de estratégia do poder, que visa o disciplinamento e a docilização dos corpos;
- a sexualidade como dispositivo histórico de objetivação (o indivíduo como objeto de saber e ponto de aplicação de disciplinas) e subjetivação (o modo segundo o qual o sujeito se reconhece enquanto tal) do corpo, através dos quais se implica uma verdade essencial do homem. Não deixa de ser notável o fato de o Ocidente ter inventado um ritual singular segundo o qual algumas pessoas alugam os ouvidos de outras (os psicanalistas) para falarem de seu sexo.
Às suas pesquisas, ele chamou ontologias do presente: um modo de reflexão, segundo Foucault iniciado por Kant, em que está em jogo o vínculo entre filosofia, história e atualidade. A tarefa de pensar o hoje como diferença na história. Mas se a questão para Kant era a de saber quais limites o conhecimento deve respeitar (os limites da razão), em Foucault a questão se converte no problema de saber quais limites podemos questionar e transgredir na atualidade, isto é, “dizer o que existe, fazendo-o aparecer como podendo não ser como ele é” (2008, p. 325).
Nesse sentido, o filósofo procurava dar visibilidade às partes ocultas que formam o presente e os fragmentos de narrativas que nos constituem lá mesmo onde não há mais identidade, onde o “eu” se encontra fracionado pela história plural que o engendrou. De modo que esse questionamento histórico-filosófico não nos conduz à reafirmação de nossas certezas, de nossas instituições e sistemas, mas ao afastamento crítico dessas instâncias e de si próprio como exercício ético e político. Como indica Deleuze (1992, p. 119): “a história, segundo Foucault, nos cerca e nos delimita; não diz o que somos, mas aquilo de que estamos em vias de diferir; não estabelece nossa identidade, mas a dissipa em proveito do outro que somos”.
A história (não a narrativa histórica ou a escrita da história, mas as condições de existência dos homens no decorrer do tempo, que lhes escapa à consciência), não é da ordem da necessidade; ela diz respeito à liberdade, à invenção; pertence à ordem mais da casualidade do que da causalidade; é feita mais de rupturas e violência do que de continuidades conciliadoras. Esse modo de conceber a história se opõe à imagem tranquila que a narrativa histórica tradicional criou: a história do homem como a manifestação de um progresso inevitável – o lento processo de realização de uma utopia –, que seria alcançado após o iluminismo pela aplicação dos métodos racionais. Como se a ciência, o pensamento e a vida estivessem continuamente mais próximos de verdades que aos poucos são reveladas como o destino final do homem.
Se os estudos de Foucault mostram que os seres humanos não dominam os acontecimentos que constituem o solo de suas experiências, eles atestam ao mesmo tempo que, no espaço limitado do presente, as pessoas dispõem da possibilidade de questionar o que muitas narrativas apresentam como necessário, assim como as formas de poder e dominação que se pretendem absolutas.
Os procedimentos de Foucault postulam, tal como Nietzsche descobrira no final do século XIX, que é possível fazer uma história de tudo aquilo que nos cerca e nos parece essencial e sem história – os sentimentos, a moral, a verdade etc. Essa descoberta indica que, mesmo esses elementos aparentemente universais ou imunes à passagem do tempo, se dão como contingências históricas, como coisas que foram criadas em um dado momento, em circunstâncias precisas.
Trata-se, assim, para Foucault, de pensar a história de determinadas problematizações: a história de como certas coisas se tornam problemas para o pensamento, dignas de serem pensadas por um ou outro domínio do saber e, através de formas de racionalização específicas, verdades são fabricadas. De maneira que suas pesquisas mostram que nossas evidências são frágeis e nossas verdades, recentes e provisórias.
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Textos citados:
FOUCAULT, Michel. Estruturalismo e Pós-estruturalismo 1983. Ditos e Escritos II, Arqueologia das Ciências e História dos Sistemas de Pensamento, Trad. Elisa Monteiro, Rio de Janeiro: Forense, 2008.
DELEUZE Gilles. A vida como obra de arte, Conversações. Ed. 34, Rio de Janeiro, 1992.
"Se não há evolução, haverá revolução, agora sem derramamento de sangue porque se dará, sobretudo, no ciberespaço. Os que impuseram suas ambições hegemônicas e substituíram os valores éticos pelas leis do mercado e as Nações Unidas por grupos plutocráticos (G6, G7, G8… G20) são culpados não apenas do naufrágio econômico, mas de ter levado, no começo do século e do milênio, a desigualdades sociais inadmissíveis e a uma total ausência de liderança institucional e pessoal", afirma Federico Mayor Zaragoza, ex-Diretor Geral da UNESCO, Presidente da Fundação Cultura de Paz, em artigo publicado no sítio da revista Eco21, 23-06-2014.
Eis o artigo.
“É tempo de deixar de ser o que éramos para nos transformar no que somos capazes de ser” Marianne Williamson
“Tenho a sensação de estar vivendo o final de muitas épocas”, escreveu Miguel Delibes, que sempre mirava o futuro. A imensa maioria dos dirigentes vive ancorada no passado sem se dar conta de que, por fim, depois de séculos e séculos de poder absoluto masculino, em que a imensa maioria dos seres humanos eram anônimos, invisíveis, obedientes, tementes, agora se avizinham, a passos largos, profundas transformações que nos permitirão progressivamente “ser” todas as pessoas, passando de espectadores passíveis a atores.
Será possível colocar em prática a lúcida expressão de “Nós, os povos…” com a qual se inicia a Carta das Nações Unidas, porque as novas tecnologias da informação e comunicação permitiram a um considerável número de seres humanos “fazerem-se visíveis”, participarem, exporem seus pontos de vista, seus protestos e suas propostas. Com isso, adquiriram uma cidadania mundial e uma consciência global que lhes permite comparar, apreciar o que têm e conhecer as precariedades alheias.
Mas, para a mudança de época é, sobretudo, imprescindível contar com a participação feminina, com seu inerente respeito à vida e utilizar sem propensões a força e o domínio para impor seus critérios – de tal modo que a equidade seja um dos principais pilares do novo paradigma.
O mundo deve hoje conhecer e reconhecer o insólito poder cidadão. A sociedade civil, submissa desde a origem dos tempos, passará agora a ser protagonista, em poucos anos, de múltiplas mudanças, apesar da inércia, apesar das travas de toda ordem que serão colocadas por aqueles que continuam presos ao ontem e não querem aceitar as responsabilidades que lhes são incumbidas para superar a crise sistêmica que afeta a humanidade e que tantos rompimentos vem produzindo – particularmente, no tecido social mais vulnerável.
Se não há evolução, haverá revolução, agora sem derramamento de sangue porque se dará, sobretudo, no ciberespaço. Os que impuseram suas ambições hegemônicas e substituíram os valores éticos pelas leis do mercado e as Nações Unidas por grupos plutocráticos (G6, G7, G8… G20) são culpados não apenas do naufrágio econômico, mas de ter levado, no começo do século e do milênio, a desigualdades sociais inadmissíveis e a uma total ausência de liderança institucional e pessoal.
De fato (não me canso de repetir porque é um ensinamento para a ação cotidiana), 60 mil pessoas, em sua maioria crianças de um a cinco anos, morrem de fome todos os dias, ao passo que são investidos 4 bilhões de dólares em armas e gastos militares.
Agora vêm ao caso os preciosos versos de José Ángel Valente:
“Eu lhes escrevo de um naufrágio. Do que temos destruído diante de tudo, em nós… mas lhes escrevo também da vida de um mundo vindouro”.
Para isso, seria imprescindível que se abrissem os horizontes de tantos moradores da Terra que estão confinados. Para que eles pudessem escapar. Para que fossem iguais em dignidade… Tudo isso está a caminho. O mundo “vindouro” se aproxima a passos largos. As novas tecnologias da informação e da comunicação são peças essenciais dessa repentina “epifania” humana, desse deixar de ser imperceptíveis e silenciosos.
“O compromisso supremo de cada geração”, dizia o Presidente Nelson Mandela, “é levar em conta a geração seguinte”. A responsabilidade intergeracional deve vir para o primeiro plano, em um momento no qual, obcecados com o presente de alguns poucos, nos damos conta de que nos esquecemos do mais importante: o bem-estar de nossos filhos e descendentes, a habitabilidade da Terra, a qualidade de um contexto ecológico no qual todos os seres humanos, já identificáveis, visíveis e capazes de se expressar, possam exercer plenamente suas faculdades distintivas.
Estamos no advento do antropoceno – as atividades humanas incidem no meio ambiente – e a força da razão deve se impor de uma vez sobre a razão da força. Mas os grandes consórcios mundiais continuam baseando a “marcha” da humanidade nos combustíveis fósseis.
É urgente, como em todos os processos potencialmente irreversíveis, diminuir, mediante um grande pacto supervisionado pelas Nações Unidas, por meio de um Conselho de Segurança do Meio Ambiente, as gravíssimas alterações que já estão sendo produzidas neste momento.
Em poucos anos, deve-se favorecer a recaptura do anidrido carbônico pelo fitoplâncton dos mares, achar as ligas que permitam o transporte de grandes quantidades de eletricidade, promover as energias renováveis (fotovoltaica, termossolar, eólica… painéis nas casas e nos edifícios, carros híbridos e elétricos…), investindo de uma vez por todas em segurança vital uma parte – bastariam 30 ou 40% – do que atualmente representa a segurança militar, que abrange apenas 20% da humanidade.
No lugar de tantos aviões típicos de guerras passadas, é urgente dispor de aviões e artifícios para lutar contra os incêndios, as inundações, as catástrofes naturais e de toda índole, mediante estratégias cientificamente projetadas.
O poder cidadão deverá situar entre suas primeiras reivindicações o desarme nuclear imediato.
Trata-se de outro grande pacto global promovido por um colossal clamor dos cidadãos do mundo.
Nos últimos anos, proliferaram-se os diagnósticos. Agora faltam os tratamentos a tempo para favorecer uma autêntica remodelação em escala mundial, antes que seja tarde demais. É preciso um novo paradigma – cuja proposta é liderada pelos professores Ivo Slaus e Garry Jacobs da Academia Mundial de Arte e Ciência – que eu tenho certeza de que não tardará a se adaptar graças ao “grito das pessoas”, de “Nós, os povos”, atuando com firmeza.
Com as Nações Unidas refundadas, dispondo de uma Assembleia Geral integrada igualmente por Estados e por representantes da sociedade civil, além do Conselho de Segurança atual e do acima mencionado, um Conselho de Segurança Socioeconômico, será possível a transição da atual economia de especulação, deslocamento produtivo e guerra para uma economia de desenvolvimento global sustentável e humano que possa se tornar realidade em poucos anos.
Obcecados pelo curto prazo, acreditam que, em um mundo finito, se possa crescer indefinidamente sem substituir o que se consome, sem atender cuidadosamente a conservação da Terra, sem imaginar novos caminhos para o amanhã. O que é infinita é a criatividade que distingue os seres humanos. É essa a nossa esperança para resolver tanto as crises econômicas como as sociais que delas derivam.
A Carta da Terra estabelece em seu preâmbulo: “Estamos em um momento crítico da história da Terra, no qual a humanidade deve escolher seu futuro”.
“Nenhum desafio está além da capacidade criadora da espécie humana”, proclamou o Presidente John F. Kennedy em 1963. É imprescindível tornar possível aquele desenvolvimento integral, endógeno, sustentável e humano que se defendeu então como a melhor fórmula para a governança mundial, de tal modo que os seres humanos, e não apenas uns poucos, possam se beneficiar do progresso científico.
Apenas em um contexto de democracia genuína será possível passar de uma cultura de imposição, violência, domínio e guerra para uma cultura de encontro, conversação, conciliação, aliança e paz.
O imenso poder das redes sociais será a pedra angular da grande transição de súditos para cidadãos plenos, da força para a palavra. A Revolução Digital será, por seu âmbito e profundidade, a mais importante desde a origem dos tempos. Em termos antropológicos, sociais e econômicos, o mundo já não será como antes. A maior longevidade contribuirá para dispor de conhecimentos e experiências que permitam tornar realidade o sonho universal da igual dignidade humana. O bairro próspero da aldeia global se ampliará de tal modo, que as assimetrias e desigualdades que hoje ofuscam o horizonte serão reduzidas até desaparecerem.
Em resumo, nós nos encontramos em um momento de profundas transformações sociais, que ocorrem com uma rapidez sem precedentes. Situações sem precedentes que, como indicou Amin Maalouf, requerem soluções sem precedentes. E, quase inadvertidamente, nos encontramos diante de um novo ser humano capaz de intervir, de expor suas opiniões, de assumir plenamente as funções que lhes são correspondidas. O tempo do silêncio, da obediência, do anonimato… acabou.
Uma nova era se avizinha. “E que seja ouvida a voz de todos, solenemente e clara que tudo está por fazer e tudo é possível mas, quem senão todos?” Esse poema escreveu de maneira lúcida Miquel Martí i Pol. A voz de todos. Por fim, falar, falar todos. A palavra, a nova era, o novo começo.
carta na escola
http://www.cartanaescola.com.br/single/show/351
PAULO LIEBERT/ESTADÃO CONTEÚDO
“O caso das públicas é dramático, mas não é novidade”, diz Alavarse, autor do estudo
Gato por lebre
Metade das escolas particulares têm desempenho igual ao das públicas no Enem, segundo estudo feito pela USP
Por Cinthia Rodrigues
Por que fazer o Ensino Médio em uma escola particular? Se a resposta for obter aprendizagem suficiente para passar em vestibulares, grande parte das famílias pagantes desperdiçou o alto investimento financeiro. A conclusão é de um estudo das notas médias das instituições no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012, feito pelo pesquisador Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP. A análise revela que metade dos alunos da rede privada têm desempenho equivalente àqueles que vêm da rede estadual de ensino.
Segundo o levantamento, 98% dos alunos da rede pública de todo o Brasil alcançaram até 560 pontos – a média foi de 479,4. Já entre as instituições particulares, 52% dos alunos atingiram até 560 pontos, e a média foi um pouco maior, de 558,1 pontos. “Famílias que fazem sacrifícios e pagam mensalidades com o propósito de ver os filhos na faculdade estão sendo enganadas, ao menos nesse ponto”, afirma o autor da pesquisa. A constatação fica mais alarmante quando comparada ao movimento de saída da classe média do ensino público para o privado. Nos últimos cinco anos, com a melhora geral no nível de renda das classes mais baixas, o total de matrículas na Educação Básica da rede pública caiu 3,8 milhões, enquanto cresceu 1,3 milhão na particular. “Muitos vão em busca de base para o Ensino Superior, mas é uma ingenuidade”, conclui Alavarse.
O próprio recorte feito para chegar às notas médias é um claro indicativo de como o propósito dos estudantes de instituições privadas é a faculdade. Foram contabilizadas as escolas brasileiras que tinham mais de 50 alunos no último ano do Ensino Médio e, entre esses, mais da metade tenha prestado o exame. Instituições federais e municipais foram desconsideradas pela participação reduzida. Das 18,5 mil escolas estaduais do Brasil, sobraram apenas 5,9 mil que preenchiam as características buscadas, ou seja, em mais de dois terços a maioria dos alunos sequer faz o Enem. Já entre as 7,8 mil particulares do País, 5 mil tinham o perfil, mostrando que o Ensino Superior – a que o exame é principal canal de acesso – constitui alvo de seus alunos.
Não se trata de igualdade entre as médias das unidades nos dois sistemas. As tabelas construídas pelo pesquisador mostram que há diferenças entre escolas públicas e particulares. Os pontos a mais das instituições pagas, no entanto, não são suficientes para levar seus estudantes à aprovação direta, por exemplo, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que distribui vagas nas universidades federais por meio das notas do Enem. Equivale a dizer que, embora com notas diferentes, 98% das estaduais e 52% das privadas ficariam com vermelho na avaliação e seriam reprovadas.
“O caso das públicas é dramático, mas não é novidade”, afirma Alavarse. Na curva de distribuição das médias das escolas, o que chama mais a atenção é que 16% teriam 449 pontos, se a média de seus alunos fosse a nota da escola. Com isso, não conseguiriam sequer uma certificação de conclusão do Ensino Médio, documento dado a quem não cursou a etapa de ensino, mas faz a prova e obtém acima de 450 pontos. “Se o exame fosse aplicado à escola, esse porcentual não teria direito a diploma”, lamenta.
As escolas estaduais que ultrapassam essa pontuação não vão longe. Se for considerado o estágio de 460 pontos, o total acumulado de escolas vai a 27,9%. “Com uma margem de erro mínima, cerca de um quarto oferece ensino abaixo do que o País estabelece como exigência para se considerar que a pessoa tem o Ensino Médio”, afirma Alavarse. Raras particulares têm essa média. As instituições privadas com notas de até 460 pontos são apenas 0,8% do total.
Chance no vestibular
O patamar em que as duas redes se veem juntas é o que seria exigido nos processos seletivos para curso superior. No Sisu, os cursos mais concorridos exigem acima de 700 pontos no Enem. O pesquisador usou como pontuação mínima para ter chances em carreiras menos disputadas o recorte de 560 pontos. É esse o recorte que deixa de fora 98% das públicas e 52% das particulares pesquisadas. “Estamos falando de uma média para tentar vagas menos concorridas. Se formos falar em carreiras e universidades muito seletivas, apenas aqueles colégios top, inacessíveis para a classe média, dão chance”, avalia.
O estudo de Alavarse foi elaborado para uma apresentação no Conselho Municipal de Educação de São Paulo e ainda não está disponível para consulta na internet. Diante das conclusões, ele e outros colegas do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliações Educacionais, do qual é coordenador na USP, estão debruçados sobre os dados por alunos, para refinar a média por escola. “Isso aprofunda a análise, mas posso adiantar que os resultados seguem na mesma direção.”
Rodrigo Travitzki, integrante do grupo, desenvolveu tese de doutorado sobre os limites do Enem como indicador de qualidade escolar. Uma das constatações é de que pelo menos 75% da média da escola explica-se pela renda familiar e escolaridade dos pais. De acordo com ele, sem levar em consideração o contexto socioeconômico, há uma diferença relativamente grande entre as médias das notas de instituições estaduais e privadas no exame, de 91 pontos. Porém, quando se retira a influência do fator socioeconômico, apenas 26 pontos as separam. “Isso significa que a diferença entre os dois tipos de escola é pelo menos três vezes menor do que se imagina”, afirma.
Para Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a consciência de que boa parte da rede particular não garante ensino de qualidade poderia fazer com que mais pais participassem da busca por melhor educação. “O nosso problema é estrutural, muitos professores são os mesmos nos dois sistemas. Mostrar as carências só na escola pública reduz o debate e fortalece a privatização”, afirma.
O professor Alavarse reconhece, no entanto, que o vestibular não é o único motivo pelo qual famílias escolhem comprar um serviço que está disponível a todos por financiamento público. “Muitos o fazem pelas relações que seus filhos vão ter para a vida ou em busca de segurança e, provavelmente, eles têm alguma razão”, diz.
Uma pesquisa do Ibope Inteligência realizada com pais que tinham filhos em instituições particulares em São Paulo, Distrito Federal, Aracaju, Salvador, Curitiba e Porto Alegre, em 2010, apontou quais são as principais preocupações das famílias com crianças e adolescentes em instituições particulares. Quando perguntados sobre o que levavam em conta, o item mais lembrado, por 84% dos entrevistados, foi “segurança”. “Qualidade de ensino” veio depois, com 81%. Na sequência do que mais importa apareceram “disciplina”, com 74%, e “amizades”, citadas por 56% dos pesquisados.
A advogada Tatiana Panno Lombardi, moradora de Cajamar, na Grande São Paulo, tem um filho de 15 anos matriculado no Ensino Médio em escola particular do município. O resultado do estudo não a surpreendeu. “Sei que não vai dar para entrar em uma boa universidade só com o Ensino Médio que ele faz, e a gente já imagina que vai pagar cursinho. Mesmo assim, jamais colocaria meus filhos em escola pública”, afirma.
Ela admite que não conhece as instituições da cidade, mas julga que “são péssimas” pelo o que acompanha na mídia. “É um preconceito, sim, mas, pelo que observamos em termos de notas baixas, greve, falta de professores, violência e drogas, eu não arriscaria.” Atualmente, Tatiana gasta cerca de 750 reais por mês entre mensalidade e lanche com o filho adolescente. A caçula, de 2 anos, também estuda em instituição particular. “Parte importante do nosso orçamento vai para Educação.”
Pais que investem na educação dos filhos fazem falta no ensino público – não só porque poderiam contribuir financeiramente com as escolas. Um estudo do cientista político norte-americano Robert Dahl, morto este ano, mostrou que a saída de famílias mais educadas da rede pública piora as perspectivas das crianças que ficam. A partir de um exemplo de New Haven, em Connecticut, ele explica que essas pessoas teriam mais condições de exigir padrões de qualidade, mas se preocupam menos com a educação pública e mais com as unidades que frequentam. Pior: podem se opor a maiores investimentos em Educação já que são taxadas duplamente pelo serviço.
Alavarse é contrário a campanhas contra a saída da classe média da escola pública: “Não tem de ser boa porque é frequentada por um dado segmento, tem de ser boa e pronto”. Ainda assim, diz, poderia haver equilíbrio entre os resultados, se o contexto socioeconômico fosse equivalente. “A particular se sai melhor porque recebe alunos melhores.”
Para Travitzki, um dos pontos importantes do estudo é mostrar essa proximidade. “Apesar das dificuldades conhecidas na escola pública, bons trabalhos são feitos. Se não reconhecermos isso, podemos entrar num caminho perigoso, promovendo o sucateamento da rede e estimulando a privatização gradual da educação, travestida de busca por qualidade”, afirma. Ilusão que, em 52% dos casos, não resiste ao Enem.
Acesso à água potável e saneamento ainda é desafio em várias partes do mundo
Natasha Pitts
Adital
O acesso à água limpa e a uma rede de esgoto é um direito humano essencial, reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o caminho para que se possa ter uma vida digna e chegar a todos os outros direitos humanos. Mesmo assim, milhares de pessoas ainda têm esses direitos negados.
Estima-se que 1,8 bilhão de pessoas ao redor do mundo não tenham acesso à água limpa e 2,5 bilhões não tenham acesso a qualquer tipo de saneamento; 1,1 bilhão seguem defecando ao ar livre. Os números, apesar de serem altos, podem ainda ser subestimados, pois milhares de pessoas que vivem em assentamentos precários não são contabilizadas.
Para que essa realidade se transforme é necessário mais empenho dos Estados em assegurar recursos financeiros, capacitação e transferência de tecnologia para que todos os seus habitantes tenham direito a dispor de água suficiente, saudável, aceitável e fisicamente acessível para seu uso pessoal e doméstico, como determina o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cada pessoa necessita em média de 50 a 100 litros de água por dia para satisfazer suas necessidades mais básicas. Quando esse direito é desrespeitado, são grandes os impactos na saúde. Hoje, calcula-se que a perda anual por carência de acesso a saneamento é de 260 bilhões de dólares; por outro lado, cada dólar investido em água e saneamento em regiões em desenvolvimento gera um retorno que gira entre 5 e 28 dólares por pessoa.
Com o crescimento da população mundial e as constantes mudanças climáticas, a disponibilidade de água potável fica cada vez mais comprometida. Além disso, as extrações de água triplicaram nos últimos 50 anos e se estima que a demanda mundial de água para a produção de alimentos deve duplicar até 2050. Com isso, os esforços de Estados e organizações também precisam se intensificar.
A relatora especial das Nações Unidas sobre o Direito Humano à Água e Saneamento, Catarina de Albuquerque, pede que, em tempos de estabilidade, os Estados possam garantir financiamento para o funcionamento e manutenção de sistemas que não se deteriorem facilmente. O pedido se fundamenta no fato de que avarias na infraestrutura, rápida urbanização e manutenção insuficiente causam perdas anuais estimadas entre 250 e 500 milhões de metros cúbicos de água.
Nos últimos 20 anos, mais de 180 mil bombas manuais instaladas em diversos pontos da África Subsaariana, por exemplo, foram danificadas após pouco tempo de uso, deixando mais de 70 milhões de pessoas sem acesso à água e tornando improdutivo o investimento de cerca de 1,5 bilhão de dólares.
Alguns países já apresentaram avanços. No Brasil, a população sem saneamento básico caiu pela metade. Nos anos de 1990 a 2012, a taxa de residências ligadas à rede coletora de esgoto passou de 53% para 77%. No que diz respeito ao acesso à água, a cifra passou de 70% para 85,5% no mesmo período. Muitas outras nações ainda precisam se empenhar para que a meta da ONU de reduzir a proporção da população sem acesso à água potável e saneamento seja reduzida no mundo.
Com informações da Fundação Avina.