Monday, 9 June 2014

Governo nega projeto por ser marxista e revolta pesquisadores da UnB, Uerj e UFRN

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JC e-mail 4969, de 09 de junho de 2014
4. Governo nega projeto por ser marxista e revolta pesquisadores da UnB, Uerj e UFRN
Parecer afirmava que metodologia tem contribuição duvidosa à ciência brasileira


Um projeto de pesquisa envolvendo três universidades públicas foi negado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação (MEC), por utilizar o marxismo "cuja contribuição à ciência brasileira parece duvidosa" como metodologia, segundo parecer da instituição.

O projeto intitulado "Crise do Capital e Fundo Público: Implicações para o Trabalho, os Direitos e as Políticas Sociais" foi apresentado para um edital da Capes por 19 professores universitários, 9 doutorandos, 15 mestrandos e 27 graduados da Universidade de Brasília (Unb), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Os projetos avaliados pela Capes recebem um parecer de um acadêmico que não é identificado. Com o parecer negativo, a instituição não disponibiliza verba para a pesquisa. O parecerista negou o projeto por considerar que a metodologia marxista não viabiliza que a pesquisa atinja seus objetivos.

"A formação proposta estaria no âmbito do método marxista histórico-dialético, cuja contribuição à ciência brasileira parece duvidosa", escreveu o parecerista que ao avaliar o mérito cientifico da iniciativa voltou a questionar a metodologia.

"Projeto afirma basear-se no método marxista histórico-dialética. Julgo que a utilização deste método não garante os requisitos necessários para que se alcance os objetivos do método científico".

A pesquisadora Elaine Behring, da faculdade de Serviço Social da Uerj e uma das coordenadoras do projeto, afirma que houve um cerceamento aos marxistas.

- O parecer estava descuidado, mal escrito e inconsistente. É isso que estamos questionando. O sentimento é de cerceamento. O parecerista afirmou que nossa metodologia não é unânime mas não existe unanimidade no meio nas ciências sociais. O que ocorreu foi um patrulhamento - afirma.

Dos 62 projetos aprovados, mais de 90% eram ligados as áreas das ciências exatas e biológicas. A pouca presença das ciências humanas também é uma crítica do grupo de pesquisadores.

- As ciências humanas vêm perdendo espaços nas agências de fomento em função da predominância da técnica em detrimento da crítica. O problema é ideológico. Ao negar o marxismo, estão negando pesquisadores como Florestan Fernandes, Octavio Ianni e Marilena Chauí - afirma Elaine.

Uma petição on-line denominada "Em defesa da liberdade acadêmica e das ciências humanas e sociais" foi feita para reunir assinaturas e promover um encontro com o presidente da Capes, Jorge Guimarães, para discutir o fomento para ciências humanas.

Em resposta ao Jornal O Globo, a Capes afirmou que adotou a mesma sistemática que possui em seus 63 anos de existência e que não se deve analisar o resultado da proposta de forma individualizada mas dentro do contexto de que foram recebidas 256 propostas e as mesmas analisadas por 44 consultores.

A Capes também garantiu que não recebeu recurso dentro das normas previstas pelos pesquisadores citados.

Elaine Behring disse que o espaço para recurso disponibilizado pela Capes era de 5 mil caracteres, insuficiente para o grupo demonstrar o que consideram equívocos na avaliação. Por este motivo, o grupo preferiu fazer um documento explicitando seu recurso, o mesmo foi protocolado e enviado para a agência do governo.

(Raphael Kapa / O Globo)

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