A crise climática é racista
O assassinato de George Floyd por um policial na cidade de Minneapolis, no estado de Minnesota, foi o estopim de mais uma crise social, política e racial nos EUA. Na última semana, protestos foram registrados em todo o país, com episódios violentos de confronto entre policiais e manifestantes e saques a estabelecimentos comerciais em cidades como Los Angeles, Chicago, Nova York e Atlanta.
A morte de Floyd se insere em uma longa lista de crimes cometidos por policiais na abordagem de indivíduos negros e despertou nos EUA um novo momento de reflexão sobre a questão do racismo estrutural na sociedade e nas instituições do país.
Na origem disso tudo, temos um sistema que conserva desigualdades geradas a partir da segregação racial, que prejudica negros e outros grupos raciais em favor dos brancos. É nesse ponto que a crise racial encontra a crise climática, aponta Eric Holthaus, meteorologista e ativista climático.
“A mudança do clima é racista porque o sistema que a causou também é racista. Não, tempestades não se importam com a cor da pele, mas a piora nas condições climáticas agravam as divisões que já existem na sociedade, pois ela atinge os negros que vivem na pobreza”, argumenta Holthaus. “De maneira simples, a razão pela qual o mundo não está lutando contra a mudança do clima da forma como deveria é porque pessoas poderosas não querem parar de explorar os negros. A urgência da mudança do clima também é a urgência da justiça racial”.
As desigualdades que tornam pessoas de minorias raciais mais vulneráveis à pobreza são as mesmas que as tornam igualmente vulneráveis aos efeitos mais nefastos da crise climática. Não é à toa que a pandemia atingiu mais pessoas negras do que brancas em países como EUA e Brasil: a falta de atenção pública, que vai da infraestrutura mais básica (como saneamento) até o apoio financeiro emergencial, torna esses cidadãos mais susceptíveis a eventos críticos como epidemias, enchentes, deslizamentos de terra, estiagens, entre outros. Como Jonathan Lawson bem coloca, não existe progresso na luta contra a crise climática sem que lutemos também contra o racismo.
“A crise climática é resultado do racismo e do colonialismo e da visão de mundo imperialista que enxerga Terras Indígenas na África, Ásia e nas Américas como lugares para saque, roubo e extração de riquezas, ao invés de lugares com história, conhecimento, famílias e culturas para proteger e defender”, aponta Keya Chatterjee, diretora-executiva da Climate Action Network (CAN) nos Estados Unidos. “As comunidades que menos contribuíram para a crise climática são as mais atingidas precisamente porque foram tornadas vulneráveis pelo racismo e pelo imperialismo”.
ClimaInfo, 2 de junho de 2020.
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