Friday 19 June 2020

Relatório global do ACNUR revela deslocamento forçado de 1% da humanidade

Relatório global do ACNUR revela deslocamento forçado de 1% da humanidade

A Síria entrou em seu décimo ano de conflito e contabiliza, sozinha, 13,2 milhões de pessoas refugiadas, solicitantes da condição de refugiado e pessoas deslocadas internamente © ACNUR/Christopher Reardon

Genebra, 18 de junho de 2020 – A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) faz hoje um apelo a todos os países do mundo para que intensifiquem os esforços de encontrar um lar para milhões de refugiados e outras pessoas deslocadas por conflitos, perseguições ou outros eventos que perturbam seriamente a ordem pública. De acordo com relatório do ACNUR divulgado hoje, o deslocamento forçado afeta mais de 1% da humanidade (uma em cada 97 pessoas), sendo que um número cada vez menor de pessoas forçadas a fugir consegue voltar para suas casas.

O relatório anual do ACNUR “Tendências Globais ”, lançado dois dias antes do Dia Mundial dos Refugiados (20 de junho), revela que 79,5 milhões de pessoas estavam deslocadas até o final de 2019 por guerras, conflitos e perseguições – um número sem precedentes, jamais verificado pelo ACNUR.

O relatório também observa que são cada vez mais reduzidas as perspectivas que os refugiados têm de encontrar soluções para a difícil situação na qual se encontram. Nos anos 1990, em média 1,5 milhão de refugiados conseguia voltar para casa anualmente. Na última década, essa média caiu para cerca de 390 mil pessoas, demonstrando que o crescimento no deslocamento forçado supera as capacidades de solução.

“Testemunhamos uma nova realidade na qual o deslocamento forçado não é mais simplesmente algo que cresce e se espalha, mas deixou se ser um fenômeno temporário e de curto prazo”, afirmou o Alto Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi. “Não se pode esperar que as pessoas vivam em um estado de convulsão por anos a fio, sem chances de voltar para casa e sem esperança de construir um futuro onde estão. Precisamos de uma atitude fundamentalmente nova, com maior aceitação a todas e todos que são forçados a fugir, e determinação muito maior para resolver os conflitos que duram anos e que causam um sofrimento tão imenso.”

O relatório do ACNUR “Tendências Globais 2019” mostra que, das 79,5 milhões de pessoas que se encontravam deslocadas à força no final do ano passado, 45,7 milhões tiveram que fugir para regiões dentro de seus próprios países (categorizados como deslocados internos). As demais incluem pessoas deslocadas para outros países, das quais 4,2 milhões aguardavam o resultado dos pedidos de reconhecimento da condição de refúgio, enquanto 29,6 milhões estavam reconhecidas como refugiadas (26 milhões, de acordo com o relatório) e deslocadas fora do seu país de origem.

O crescimento anual (eram 70,8 milhões de pessoas em deslocamento forçado no final de 2018) é resultado de dois principais fatores. O primeiro são os preocupantes novos deslocamentos que ocorreram em 2019, particularmente na República Democrática do Congo, na região do Sahel¹, no Iêmen e na Síria – que entrou em seu décimo ano de conflito e contabiliza, sozinha, 13,2 milhões de pessoas refugiadas, solicitantes da condição de refugiado e pessoas deslocadas internamente, totalizando um sexto dos deslocados no mundo.

A segunda reflete a situação dos venezuelanos fora do país, muitos dos quais não estão legalmente registrados como refugiados ou solicitantes de refúgio, mas para quem são necessários sensíveis arranjos que assegurem sua proteção.

E, dentro de todos esses números, há inúmeras crises individuais e muito pessoais. O número de crianças deslocadas (entre 30 e 34 milhões, sendo dezenas de milhares desacompanhadas) é tão grande quanto as populações da Austrália, Dinamarca e Mongólia juntas. Enquanto isso, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais entre a população deslocada (4%) está muito abaixo da população mundial (12%) – refletindo a imensurável dor, desespero e sacrifício de se separar dos seus entes queridos.

 

8 coisas que você precisa saber sobre deslocamento forçado

  1. Pelo menos 100 milhões de pessoas foram forçadas a fugir de suas casas na última década, buscando refúgio dentro ou fora de seus países. São mais pessoas forçadas a se deslocar do que toda a população do Egito, o 14º país mais populoso do mundo.
  2. O deslocamento forçado praticamente dobrou na última década: eram 41 milhões de pessoas em 2010, contra 79,5 milhões em 2019.
  3. 80% das pessoas deslocadas no mundo estão em países ou territórios afetados por grave insegurança alimentar e desnutrição – e muitas enfrentam riscos relacionados ao clima e desastres naturais.
  4. Mais de três quartos dos refugiados do mundo (77%) estão em situações de deslocamento de longo prazo – por exemplo, a situação no Afeganistão, agora em sua quinta década.
  5. Mais de oito em cada dez refugiados (85%) estão em países em desenvolvimento, geralmente um país vizinho ao de onde fugiram.
  6. Cinco países contabilizam dois terços das pessoas deslocadas além das fronteiras nacionais: Síria, Venezuela, Afeganistão, Sudão do Sul e Mianmar.
  7. O relatório “Tendências Globais” reúne todas as principais populações deslocadas e refugiadas, incluindo 5,6 milhões de refugiados palestinos que estão sob os cuidados da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).
  8. O compromisso do Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de 2030 (ODS) de “não deixar ninguém para trás” agora inclui explicitamente as pessoas refugiadas, graças a um novo indicador aprovado pela Comissão de Estatística da ONU em março deste ano.

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NOTA FINAL: O relatório do ACNUR “Tendências Globais” é divulgado em paralelo com o Relatório Global anual, que reúne as ações que o ACNUR está tomando para atender às necessidades de todas as pessoas forçadas a fugir, incluindo as populações apátridas no mundo.

¹O Sahel (do árabe ساحل, sahil, que significa “costa” ou “fronteira”) é uma faixa de 500 a 700 km de largura, em média, e 5.400 km de extensão, entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, ao sul; e entre o oceano Atlântico, a oeste, e ao mar Vermelho, a leste.

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