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Wednesday, 26 December 2018

CHICO MENDES - a voz que não se cala

https://www.brasildefato.com.br/2018/12/21/especial-or-chico-mendes-a-voz-que-nao-cala/

CHICO MENDES - a voz que não se cala


Chico Mendes, cujo assassinato completa 30 anos no próximo dia 22, deu a vida pelos direitos dos povos da floresta e deixou como legado a criação das reservas extrativista e o acesso à educação nos rincões da Amazônia.
A criação da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, tida como principal legado do líder seringueiro, conseguiu manter os trabalhadores em suas unidades produtivas com segurança. Mais do que isso: garantiu acesso a programas estatais de construção de casa, banheiros e a abertura e manutenção das escolas dos seringais, um sonho do líder seringueiro, que só aprendeu a ler aos 18 anos.
A luta capitaneada pelos seringueiros nos anos 1970 e 1980 por melhores condições de vida, muitas delas lideradas por Chico Mendes, rendeu diversos frutos positivos. Porém, apesar dos avanços, os trabalhadores ainda enfrentam sérias dificuldades para garantir a sobrevivência diária na floresta e muitos ainda têm a pobreza como principal oponente.
Casa tradicional da Reserva Extrativista Chico Mendes
Neste especial Chico Mendes: a voz que não cala, você ouve quatro audiodocumentários.
Os três primeiros narram a luta dos povos que habitam as reservas extrativistas para continuar sobrevivendo como trabalhadores e trabalhadoras da floresta, em tempos que o látex e a castanha rendem tão pouco financeiramente e que as leis que deveriam proteger os povos da floresta acabam os criminalizando.
O quarto e último episódio relembra quem foi Chico Mendes, com depoimentos exclusivos de pessoas que o conheceram e participaram dos “empates” organizados nos anos 1970. Ouça!

CAPÍTULO 1: No seringal do século 21

A castanha e o látex, que outrora foram os principais produtos do extrativismo no Acre, alcançam valores de venda cada vez menores.
A falência da economia extrativista obriga os trabalhadores e trabalhadoras da floresta a tentarem aumentar seu número de cabeças de gado, único produto, além da madeira, com algum valor de mercado.
O rebanho bovino no estado cresceu 20% só entre 2006 e 2017, passando de 1,7 milhão de cabeças para 2,1 milhões, segundo o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entretanto, cada animal representa um perigo maior de desmatamento da floresta.
Família do seringueiro Valtemir Silva Santos em sua casa na Resex Chico Mende
No entanto, é o extrativismo que pode garantir a preservação da Amazônia e dos povos que ali resistem, como ressalta a trabalhadora rural e liderança sindical Dercy Teles. “O extrativismo da borracha e da castanha, está provado secularmente, não precisa de estudo, é capaz de manter a sustentabilidade da floresta. Eu tenho mais de meio século de vida, nasci e me criei na floresta, e sei que se houvesse uma política que garantisse a comercialização da castanha e da borracha a preço justo a floresta estava com sua sustentabilidade garantida.”
Quais os dilemas impostos aos povos que habitam as reservas extrativistas no século XXI? Ouça No Seringal do Século XXI, o primeiro capítulo da série Chico Mendes, a voz que não cala.
O seringueiro Valtemir Silva Santos

CAPÍTULO 2: A vida das mulheres no seringal

Da resistência ativa contra o desmatamento da floresta ao sustento dos filhos. Da liderança política ao trabalho na roça. Da sala de aula à quebra da castanha. Aí estão as mulheres dos 48 seringais da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre.
Três décadas após as mobilizações seringueiras no estado, mulheres sustentam famílias com programas de transferência de renda e trabalho na agricultura.
O manejo madeireiro, atividade econômica importante na reserva, pouco inclui a comunidade e gera lucro apenas para latifundiários. O ônus social para as mulheres, porém, é grande.
Dercy Teles, trabalhadora rural
O Acre é um dos estados brasileiros que concentrou as maiores taxas de homicídios de mulheres em 2017, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Foram registradas 34 mortes no último ano, uma taxa de 8,3 óbitos por 100 mil mulheres. Ao todo, 658 acreanas sofreram lesões corporais em casos de violência doméstica e 210 foram vítimas de estupros, de acordo com o mesmo levantamento.
Como as mulheres conseguem resistir contra a pobreza nos seringais do século XXI? De onde tiram forças para seguir lutando?
Ouça A vida das mulheres no Seringal, o segundo capítulo da série Chico Mendes, a voz que não cala.

CAPÍTULO 3: Quando a tradição vira crime

“Nós estamos completando 30 anos do assassinato do Chico e posso assegurar que o que foi um sonho está se tornando um pesadelo”. É assim que o trabalhador rural Osmarino Amâncio retrata a preocupação dos seringueiros sobre um dos problemas de mais difícil gestão dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre: a criminalização dos trabalhadores rurais por executarem atividades tradicionais ao seu modo de vida.
Devido a legislação da reserva, o que era um meio de subsistência se tornou crime ambiental.
Queima de pequenas áreas para abrir roçados, caça de animais para alimentação e derrubada de árvore para manutenção de casas rendem processos jurídicos e multas que chegam a R$ 80 mil.
Carros do Icmbio passam pela Resex Chico Mendes
Com o comprometimento do governo do Acre em zerar o desmatamento até 2020, a expectativa dos povos da floresta é que a pressão sobre os trabalhadores aumente ainda mais.
Enquanto isso, ganham força a extração de madeira certificada e o agronegócio, atividades concentradas nas mãos daqueles com maior poder aquisitivo.
Ouça Quando a tradição vira crime, terceiro capítulo da série Chico Mendes, a voz que não cala.
O Seringueiro e sindicalista Osmarino Amancio

CAPÍTULO 4: O legado da resistência

A luta para que famílias rurais permanecessem em suas terras. A proposta de um novo modelo de reforma agrária. A defesa implacável dos povos da floresta. Estas foram apenas algumas das bandeiras defendidas pelo seringueiro Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, e que fizeram de sua vida um exemplo de luta por justiça social.
Com a crise, o governo ditatorial do início dos anos 1970 incentivou fortemente a ocupação dos seringais pela agropecuária. Sob o lema “integrar para não entregar”, financiou a tomada das terras por grandes fazendeiros de diversos estados, chamados “paulistas”, como conta o professor de antropologia da Universidade Federal do Acre, Manoel Estébio.
Castanheiras na Resex Chico Mendes
Qual foi a importância da militância de Chico Mendes, que mudou para sempre a história da Amazônia?
Ouça O legado da resistência, quarto e último capítulo da série Chico Mendes, a voz que não cala.
FICHA TÉCNICA:
Reportagens: Sarah Fernandes | Apresentação e produção: Sarah Fernandes e Danilo Ramos | Fotos: Danilo Ramos | Edição: Daniela Stefano | Operação de áudio e sonorização: Jorge Mayer e Adilson Oliveira | Ilustrações: Lucas Milagres
Agradecimentos à geógrafa Pietra Cepero, Dercy Teles e Osmarino Amâncio.

Sunday, 17 August 2014

Ama – The Pearl Diving Mermaids of Japan (Warning: Nudity)

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http://gakuran.com/ama-the-pearl-diving-mermaids-of-japan/


Ama – The Pearl Diving Mermaids of Japan (Warning: Nudity)

By Michael Gakuran |  | Japan | 24 Comments |
One of the lesser-known but fascinating parts of Japanese culture is that of the Ama pearl divers. Ama (海女 in Japanese), literally means ‘woman of the sea’ and is recorded as early as 750 in the oldest Japanese anthology of poetry, the Man’yoshu. These women specialised in freediving some 30 feet down into cold water wearing nothing more than a loincloth. Utilising special techniques to hold their breath for up to 2 minutes at a time, they would work for up to 4 hours a day in order to gather abalone, seaweed and other shellfish.
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The most profitable pursuit however was diving for pearls. Traditionally for Ama, finding a pearl inside an oyster was akin to receiving a large bonus while they went about their ancestral practice of collecting shellfish. That changed when Kokichi Mikomoto, founder of Mikimoto Pearl, began his enterprise.
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Mikimoto used Ama divers to look after his cultivated pearls on Mikimoto Pearl Island, near Toba city. This business was the main reason for the strong association between Ama and pearl diving among foreign observers that continues to this day. Another little-known fact is that the ‘traditional’ white attire we often see Ama divers wearing was also created by Mikimoto. He observed how surprised the foreign tourists visiting his pearl island were when seeing the Ama diving naked wearing only their traditional loincloth. (Source)
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(Fosco Maraini)
The role of the Mikimoto ama was to collect the oysters from the seabed so that the pearl-producing nucleus may be inserted. Once this critical process was completed, the ama then carefully returned the oysters to the seabed – in a place where they were protected from external dangers (such as typhoons and red tide).
In order to successfully complete this process, each diver would have to hold her breath for up to two minutes at a time in often freezing cold waters. Upon surfacing, the ama opened their mouths slightly and exhaled slowly, making a whistling sound known as ‘Isobue’.
While traditional ama divers wore only a fundoshi (loincloth) to make it easier to move in the water and a tenugui (bandanna) around their head to cover their hair, Mikimoto ama wore a full white diving costume and used a wooden barrel as a buoy. They were connected to this buoy by a rope and would use it to rest and catch their breath between dives.
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Although the tradition is still maintained across many parts of Japan, the skinny-dipping practices of old have largely been lost. Since the Meiji era, divers wore goggles for clarity and from 1964, rubbery, black wetsuits were introduced.
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One photographer in particular stands out with his photographs of the Ama. His name was Yoshiyuki Iwase (1904-2001). He was given a gift of a small Kodak camera when young and found his muse in the beautiful mermaids of the tired, coastal regions of Japan. Thanks to his efforts, we can take a step back in time and have a glimpse at what life was like working as an Ama diver, and also see his progression as a photographer moving into nude portraits. Since his website is now offline, I’m gathering up as many vintage pictures as I can for posterity that I’ll post as its own separate article soon.
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(Yoshiyuki Iwase)
One of the reasons Ama are largely female is said to be their thicker layer of fat than their male counterparts to help them endure the cold water during long periods of diving. Another reason is the self-supporting nature of the profession, allowing women to live independently and foster strong communities. Perhaps most surprisingly however, is the old age to which these women are able to keep diving. Most Ama are elderly women (some even surpassing 90 years of age) who have practiced the art for many, many years, spending much of their life at sea.
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With lack of young women to succeed their elders and modernisation of Japan’s fisheries however, this ancient practice is dwindling. Numbers have dropped to just 1/8th of what they once were. In 1956 there were 17,611 Ama in Japan but as of 2010 only 2,174 remained. Of those, 973 (nearly half) work in either Toba or Shima city, Mie prefecture. (FPCJ)
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As technology progressed, the Ama communities were faced with decisions – adopt new tools and equipment or retain traditions? One of the most important parts of the decision-making was consideration of sustainability. New fishing methods could easily enable greater hauls and reduce work, but at the same time, increase the risk of overfishing and damage the delicate ecosystems that supported life for these coastal towns. Rules were introduced to prevent this.
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(Yoshiyuki Iwase)
On Hegura island in Wajima city, rules state that abalone under 10 centimetres must be returned to the sea, with a punishment of two days without work if caught breaking them. Despite their efforts however, numbers of abalone and other shellfish have been in decline, in part due to overfishing, but also the rising sea temperatures which affects the growth of seaweed the shellfish eat. (Source)
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This culture of national mermaids diving for the nation is not only unique to Japan however. From 2007 Korea has been presenting its best case to have the Haenyo diversof Jeju Island listed as a UNESCO Intangible Cultural Heritage. In similar fashion, Japan has now joined the races by recommending its own female divers, boosted by the popularity of a recent NHK drama ‘Amachan‘, starring a young girl who moves to the Tohoku region of Japan to became an Ama diver. (Asahi)
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Although perhaps the scantily-clad, romanticised image of the profession is a thing of the past, there’s still a rich history and culture that needs to be conveyed to younger generations. The tourism industry at Mikimoto Pearl is a great start to help preserve the memory, but the age-old fishing traditions held by small coastal villages are definitely in need of special attention to make sure their heritage isn’t forgotten completely.
To wrap up, below are a few interesting related media that I stumbled upon. Enjoy!
Depictions of Ama are featured in old works of art, such as the piece below by master Kuniyoshi. (Source)
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Predictably, there are also films made around the profession. Ama are featured in the famous work ‘Tampopo’, as well as the rather less famous, and slightly bizarre 1959 horror movie ‘Ama Ghost House’ (海女の化物屋敷). (Trailer below).
Finally, I’ll leave you with a couple of short videos talking about the Ama diving profession. The first is a superb documentary with an interview with a former Ama diver.
The second, although I have serious doubts about the validity of the narration, has rather nice, colourful video shots to enjoy. Just ignore the dialogue.
Lastly then, here’s the poem from the Man’yoshu that mentions Ama divers.
沖つ島 い行き渡りて 潜くちふ 鮑玉もが 包みて遣らむ (万葉集

Tuesday, 1 July 2014

Quase 90% dos professores brasileiros se sentem desvalorizados, diz estudo

sbpc
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.php?id=94025

JC e-mail 4980, de 30 de junho de 2014
1. Quase 90% dos professores brasileiros se sentem desvalorizados, diz estudo
A pesquisa da OCDE ouviu 100 mil professores e diretores escolares em 34 países 


Quase 90% dos professores brasileiros acreditam que a profissão não é valorizada na sociedade. Mesmo assim, a maioria está satisfeita com o emprego. O resultado foi apresentado semana passada pela Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que ouviu 100 mil professores e diretores escolares em 34 países.

De acordo com o levantamento, somente 12,6% dos professores brasileiros consideram-se valorizados. A proporção está abaixo da média internacional, de 30,9%. No entanto, 87% dos professores brasileiros consideram-se realizados no emprego, próximo da média global de 91,1%.

Apesar de não se sentirem valorizados, os professores brasileiros estão entre os que mais trabalham, com 25 horas de ensino por semana, seis horas a mais do que a média internacional. Em relação ao tempo em sala de aula, os professores brasileiros ficam atrás apenas da província de Alberta, no Canadá, com 26,4 horas trabalhadas por semana, e do Chile, com 26,7 horas.

Mesmo trabalhando mais que a média, os professores brasileiros gastam mais tempo para manter a ordem em sala de aula. Segundo o levantamento, 20% do tempo em sala é usado para controlar o comportamento dos alunos, contra 13% na média internacional.

Todos os entrevistados na pesquisa dão aula para a faixa etária de 11 a 16 anos. A publicação também mostra que nos países em que os professores se sentem valorizados, os resultados no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) tendem a ser melhores.

Quanto à formação, mais de 90% dos professores brasileiros dos anos finais do ensino fundamental concluíram o ensino superior, mas cerca de 25% não fizeram curso de formação de professores. Segundo a falta de especialização reflete-se no ensino. Professores com conhecimento de pedagogia e de práticas das disciplinas que lecionam relataram se sentir mais preparados do que aqueles cuja educação formal não continha esses elementos.

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), os dados serão incorporados aos dados do Censo Escolar e das avaliações nacionais, para que se possam criar descrições ainda mais detalhadas da situação educacional brasileira.

(Mariana Tokarnia / Agência Brasil)

Thursday, 17 April 2014

A importância do emprego feminino

carta maior
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/A-importancia-do-emprego-feminino/7/30741


A importância do emprego feminino

Pesquisa aponta que fomentar o trabalho feminino não apenas supõe combater um tipo de discriminação trabalhista e social sempre injusta.


Juan Torres López* - Público.es
CTB
Dois renomados centros de pesquisa dos Estados Unidos (o Center for American Progress e o Center for Economic and Policy Research) acabam de publicar um relatório elaborado por Eileen Appelbaum, Heather Boushey e por John Schmitt que revela dados muito importantes sobre o efeito que o emprego feminino tem sobre o conjunto da economia e que parece ter uma grande relevância sobre o que pode acontecer na Espanha no futuro imediato (o documento se chama The Economic Importance of Women’s Rising Hours of Work. Time to Update Employment Standards).
 
O relatório chega, entre outras, às seguintes conclusões:
 
 – A porcentagem de mulheres que trabalham fora de casa em tempo integral e durante todo o ano (ao menos 35 horas por semana e 50 semanas por ano) aumentou de 28,6% do total de mulheres, em 1979, para 43,6% em 2007. Em 2012, caiu para 40,7% como consequência da crise.
 
 – O aumento na participação das mulheres no mercado de trabalho que são mães tem sido inclusive maior, pois passou de 27,3%, em 1970, para 46% em 2007, caindo para 44,1% em 2012.
 
 – Como consequência desse aumento, o número de horas trabalhadas pelas mulheres aumentou de 739 de 1979 a 2012, apesar de esse crescimento ter acontecido entre 1979 e 2000. O número de horas trabalhadas pelas mulheres que são mães também aumento bastante, 960 horas no mesmo período.
 
– Se esse aumento na participação das mulheres no mercado de trabalho não tivesse acontecido, o Produto Interno Bruto dos Estados Unidos teria sido 10,6% menor, o que significaria aproximadamente 1,66 bilhão de dólares menos em atividade.
 
Fica demonstrado, portanto, que fomentar o trabalho feminino não apenas supõe combater um tipo de discriminação trabalhista e social sempre injusta, permitindo que as mulheres tenham as mesmas possibilidades que os homens para ter autonomia e para decidir sobre suas vidas, mas também faz com que a economia funcione globalmente melhor.
 
E essa conclusão não é válida somente para os Estados Unidos (de fato, o relatório ressalta também que esse país ficou para trás dos demais nesse aspecto). Na Espanha e na Europa, em geral, deveríamos refletir muito seriamente sobre o que está acontecendo e sobre as consequências que as políticas atualmente implementadas terão no futuro.
 
Para poder suavizar o efeito dos cortes nos serviços públicos, nos salários e nos empregos, a intensificação do trabalho doméstico não remunerado está sendo novamente fomentada. Para isso, voltam a fortalecer esteriótipos machistas e patriarcais que vinculam as mulheres às tarefas de cuidar do lar, permitindo que o maior número de horas de trabalho doméstico se concilie com um emprego em tempo parcial muito mal pago. Essa é a explicação não apenas para as reformas trabalhistas, mas também da intensidade com que a cultura sexista e reacionária que está sendo novamente difundida, apesar de parecer que já estava quase extinta de nossas sociedades.
 
Fazer com que a economia funcione melhor e de maneira mais satisfatória obriga a reverter essa tendência que está sendo imposta. É fundamental melhorar as condições em que as mulheres decidem sobre suas vidas e sobre sua atividade no mercado de trabalho, proporcionando os meios que sabemos serem os que tornam isso possível: serviços públicos de qualidade, escolas infantis, empregos dignos com estabilidade no posto de trabalho e salários decentes para mulheres e homens.
 
E, claro, exigindo de toda a sociedade, especialmente dos homens, umacorresponsabilidade plena na hora de realizar o trabalho doméstico, do qual depende o bem-estar, a felicidade e a reprodução de nossa existência. 
__________
 
Tradução de Daniella Cambaúva.
Créditos da foto: CTB

Friday, 7 March 2014

Comunidades de marisqueiras do Brasil são marcadas pela poluição industrial

conselho pastoral dos pescadores - cpp
http://www.cppnac.org.br/comunidades-de-marisqueiras-do-brasil-sao-marcadas-pela-poluicao-industrial/


Comunidades de marisqueiras do Brasil são marcadas pela poluição industrial

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Foto: Mª Arméle Dornelas / CPP Nacional
 Por Zoe Sullivan para o The Guardian 
Edinilda de Ponto dos Carvalhos, com pouco mais de cinquenta anos, é marisqueira, ou pescadora artesanal, em Suape desde muito jovem. Recentemente, segundo ela, seu trabalho  vem se tornando mais duro.
“Existem produtos químicos na água. Não possuem cheiro, mas matam todas as coisas” diz ela. Enilda acredita que a poluição vem do complexo portuário próximo no litoral sul de Pernambuco, estado no Nordeste do Brasil, considerada uma região de desenvolvimento econômico central.
Outra marisqueira, Valéria Maria de Alcântara, diz: “O barro produz coceiras por causa do óleo e dos dejetos, restos que ficam na água do mar. Isto queima a pele.”
De acordo com um programa de treinamento do estado, as mulheres compreendem 5.200 dos 8.700 pescadores daquela comunidade pesqueira. Elas trabalham duro para pescar mariscos na água ou no manguezal do entorno.
Nesta manhã de sol, Edinilda e mais 20 outras marisqueiras resolveram falar sobre a crise em suas vidas devido à poluição e depredação dos manguezais. “Pescadoras que antes retiravam de 20 a 30 quilos de conchas, agora, durante toda uma semana, chegam a 3 quilos”, diz Valéria sentada em uma cadeira de metal em seu terraço.
Centenas, se não milhares, de outras pescadoras ao longo da costa de Pernambuco dividem essa experiência. Tradicionalmente, o pescado das marisqueiras dava para o sustento de suas famílias, e qualquer excedente era comercializado em mercadinhos locais, complementando a renda familiar. Valéria diz que agora ela precisa trabalhar nas cozinhas dos bares locais nos finais de semana para complementar a renda por conta da queda em sua produção.
“Na história da pesca no Brasil, a atividade das mulheres tem sido invizibilizada”, diz Laurineide Santana. “O que essas mulheres produzem não entra na estatística oficial da pesca.”
Ela afirma que as políticas do governo marginalizam ainda mais o trabalho das mulheres, e que só a partir de 1980, quando o Brasil adotou a nova Constituição, é que as trabalhadoras rurais tiveram um reconhecimento mínimo e adquiriram direito a pensão.
Santana, que nasceu em uma família de pescadores, atua no apoia às comunidades pesqueiras nos estados do norte/nordeste do Brasil. Ela faz parte do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), um grupo católico que atua na organização social de pescadores artesanais em todo o país. Em particular, Laurineide trabalha com mulheres no intuito de tornar visível a atividade desses grupos e seus resultados, elevando a autoestima das pescadoras.
Entre 2007 e 2010, o então presidente Luís Inácio Lula da Silva disponibilizou para Suape 1,4 bilhões de reais para garantir o desenvolvimento econômico do complexo portuário e o crescimento no estado de Pernambuco, seguido de demais investimentos privados.
O complexo está instalado no litoral sul do Recife, capital do estado, e possui mais de 100 empreendimentos, incluindo uma refinaria, um polo petroquímico e muitos empreendimentos imobiliários. A expansão tem criado milhares de vagas de empregos, a maioria temporários, contudo vem danificando o meio ambiente e as práticas de sobrevivência tradicionais e locais.
Em setembro de 2013, a secretaria de meio ambiente do estado multou o Porto e o Complexo industrial em 2,5 milhões de reais por causar dos danos ao meio ambiente ocasionados, como o uso de dinamite em áreas de corais próximas ao porto.
Uma porta voz do porto estimou em 10% a contribuição de Suape com o pib pernambucano. Os gestores municipais próximos ao porto introduziram impostos especiais para a indústria, mas ninguém foi capaz de dizer o quanto que esses impostos retornam para melhoria local da comunidade ou como o dinheiro vem sendo empregado.
“Suape é um exemplo atual do modelo de desenvolvimento adotado pelo governo brasileiro”, afirma a secretaria executiva do CPP Nacional Maria José. “Esse é um modelo de desenvolvimento baseado no consumo, exploração e concentração de recursos.”
O CPP vem trabalhando com outras organizações para coletar assinaturas suficientes para que um projeto de lei de iniciativa popular de proteção e reconhecimento de áreas tradicionais da pesca artesanal em comunidades brasileiras seja apresentado ao Congresso Nacional
“Essas populações possuem uma qualidade de vida muito superior, ainda que em condições de pobreza, que é o que tem oferecido o modelo brasileiro de industrialização”, diz Maria José.
Texto traduzido. Publicado originalmente no The Guardian, para acessar essa versão, clique aqui. 

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guardian

Brazil's shellfishing communities blighted by industrial pollution

Activists say pollution from Suape industrial complex in Pernambuco state is decimating the local shellfish harvest
MDG : Suape port and shellfish fishing : Mangrove and cranes, Pernambuco, Brazil
Cranes at Suape port in Brazil's Pernambuco state tower over an adjacent mangrove swamp. Photograph: Felipe Ferreira/Getty Images
Edinilda de Ponto dos Carvalhos, who is in her early fifties, has been amarisqueira, or shellfish fisherwoman, in Suape since she was young. Recently, she says, her work has become much harder.
"There's this chemical product in the water. It has no smell, but it kills everything," she says. She believes the pollution comes from the nearby port complex in the Pernambuco state of Brazil, touted as one of the region's main economic engines.
Another marisqueira, Valeria Maria de Alcántara, says: "The mud makes you itch, because of the oil and because of the debris that they throw in the sea. It burns the skin."
According to the state's rural worker training programme, women comprise 5,200 of the 8,700-strong local fishing community. They harvest shellfish standing in the water or meandering through mangrove forests on the shore.
On this bright morning, Dos Carvalhos and more than 20 other fisherwomen have come to talk about the collapse of their livelihoods as a result of pollution and the decimation of the mangroves. "Fisherwomen, who before in a week would get 20 to 30 kilos of shellfish, now take a whole week to get 2 or 3 kilos," says De Alcántara, sitting on a folding metal chair in a dusty meeting hall.
Hundreds if not thousands of other women along the Pernambuco coast share her experience. Traditionally, marisqueiras' catches sustained their families and any surplus was sold on local beaches and in markets, supplementing the family's main income. De Alcántara says she now works weekends cooking at a beachside bar to make up the financial shortfall caused by the drop in her catch.
"Throughout the history of fishing in Brazil, women's activity has been rendered invisible," says Laurinede Maria Santana. "What these women produce doesn't enter into official fishing statistics."
She says government policy marginalises the women's work, and that it was only in the 1980s, when Brazil adopted its new constitution, that rural women workers won recognition and the right to a minimum pension.
Santana, who was born into a fishing family, supports fishing communities across the north-east through her work with the Pastoral Council of Fisherfolk (PCF), a Catholic group that helps organise artisan fishing communities across the country. In particular, she works with women to raise the visibility of their labour and the fruits of it, along with their self-esteem.
Between 2007 and 2010 the former president Luiz Inácio Lula da Silva poured about 1.4bn reals (£355m) into the Suape port complex to spur economic growth in his home state of Pernambuco, and private investment has followed.
The complex, just south of Recife, the state capital, is home to more than 100 businesses including an oil refinery, a petrochemical plant and two shipbuilding yards. The expansion has created thousands of jobs, but many are temporary and it has also come at a cost to the environment and communities practising traditional, sustainable livelihoods.
In September 2013, the state government's environmental agency fined the port and industrial complex 2.5m reals for causing environmental damage, exemplified by the dynamiting of a section of coral reef near the port.
A spokeswoman for the port estimates that Suape contributes roughly 10% of the state's annual income. The municipalities closest to the port can levy special industrial taxes on it too, but officials failed to respond to repeated requests for information on how much money this contributes to local coffers and how it is used.
"Suape is one of the current examples of the model of development the Brazilian government is adopting," says the PCF's vice-president, Maria José Pacheco. "It's a model of development based on consumption, exploitation and the concentration of resources."
The PCF has been working with other grassroots organisations to collect enough signatures to present congress with a bill that would establish protective areas around traditional fishing communities.
"These populations have a quality of life much higher, regardless of poverty, than the model that Brazil is offering with the industrialisation model," Pacheco says.