https://www.brasildefato.com.br/2018/12/21/especial-or-chico-mendes-a-voz-que-nao-cala/
CHICO MENDES - a voz que não se cala
Chico
Mendes, cujo assassinato completa 30 anos no próximo dia 22, deu a vida
pelos direitos dos povos da floresta e deixou como legado a criação das
reservas extrativista e o acesso à educação nos rincões da Amazônia.
A criação da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, tida como principal legado do líder seringueiro, conseguiu manter os trabalhadores em suas unidades produtivas com segurança. Mais do que isso: garantiu acesso a programas estatais de construção de casa, banheiros e a abertura e manutenção das escolas dos seringais, um sonho do líder seringueiro, que só aprendeu a ler aos 18 anos.
A luta capitaneada pelos seringueiros nos anos 1970 e 1980 por melhores condições de vida, muitas delas lideradas por Chico Mendes, rendeu diversos frutos positivos. Porém, apesar dos avanços, os trabalhadores ainda enfrentam sérias dificuldades para garantir a sobrevivência diária na floresta e muitos ainda têm a pobreza como principal oponente. Neste especial Chico Mendes: a voz que não cala, você ouve quatro audiodocumentários.
Os três primeiros narram a luta dos povos que habitam as reservas extrativistas para continuar sobrevivendo como trabalhadores e trabalhadoras da floresta, em tempos que o látex e a castanha rendem tão pouco financeiramente e que as leis que deveriam proteger os povos da floresta acabam os criminalizando.
O quarto e último episódio relembra quem foi Chico Mendes, com depoimentos exclusivos de pessoas que o conheceram e participaram dos “empates” organizados nos anos 1970. Ouça! A
castanha e o látex, que outrora foram os principais produtos do
extrativismo no Acre, alcançam valores de venda cada vez menores.
A falência da economia extrativista obriga os trabalhadores e trabalhadoras da floresta a tentarem aumentar seu número de cabeças de gado, único produto, além da madeira, com algum valor de mercado.
O rebanho bovino no estado cresceu 20% só entre 2006 e 2017, passando de 1,7 milhão de cabeças para 2,1 milhões, segundo o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entretanto, cada animal representa um perigo maior de desmatamento da floresta. No
entanto, é o extrativismo que pode garantir a preservação da Amazônia e
dos povos que ali resistem, como ressalta a trabalhadora rural e
liderança sindical Dercy Teles. “O extrativismo da borracha e da
castanha, está provado secularmente, não precisa de estudo, é capaz de
manter a sustentabilidade da floresta. Eu tenho mais de meio século de
vida, nasci e me criei na floresta, e sei que se houvesse uma política
que garantisse a comercialização da castanha e da borracha a preço justo
a floresta estava com sua sustentabilidade garantida.”
Quais os dilemas impostos aos povos que habitam as reservas extrativistas no século XXI? Ouça No Seringal do Século XXI, o primeiro capítulo da série Chico Mendes, a voz que não cala. Da
resistência ativa contra o desmatamento da floresta ao sustento dos
filhos. Da liderança política ao trabalho na roça. Da sala de aula à
quebra da castanha. Aí estão as mulheres dos 48 seringais da Reserva
Extrativista Chico Mendes, no Acre.
Três décadas após as mobilizações seringueiras no estado, mulheres sustentam famílias com programas de transferência de renda e trabalho na agricultura.
O manejo madeireiro, atividade econômica importante na reserva, pouco inclui a comunidade e gera lucro apenas para latifundiários. O ônus social para as mulheres, porém, é grande. O
Acre é um dos estados brasileiros que concentrou as maiores taxas de
homicídios de mulheres em 2017, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança
Pública. Foram registradas 34 mortes no último ano, uma taxa de 8,3
óbitos por 100 mil mulheres. Ao todo, 658 acreanas sofreram lesões
corporais em casos de violência doméstica e 210 foram vítimas de
estupros, de acordo com o mesmo levantamento.
Como as mulheres conseguem resistir contra a pobreza nos seringais do século XXI? De onde tiram forças para seguir lutando?
Ouça A vida das mulheres no Seringal, o segundo capítulo da série Chico Mendes, a voz que não cala. “Nós
estamos completando 30 anos do assassinato do Chico e posso assegurar
que o que foi um sonho está se tornando um pesadelo”. É assim que o
trabalhador rural Osmarino Amâncio retrata a preocupação dos
seringueiros sobre um dos problemas de mais difícil gestão dentro da
Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre: a criminalização dos
trabalhadores rurais por executarem atividades tradicionais ao seu modo
de vida.
Devido a legislação da reserva, o que era um meio de subsistência se tornou crime ambiental.
Queima de pequenas áreas para abrir roçados, caça de animais para alimentação e derrubada de árvore para manutenção de casas rendem processos jurídicos e multas que chegam a R$ 80 mil. Com
o comprometimento do governo do Acre em zerar o desmatamento até 2020, a
expectativa dos povos da floresta é que a pressão sobre os
trabalhadores aumente ainda mais.
Enquanto isso, ganham força a extração de madeira certificada e o agronegócio, atividades concentradas nas mãos daqueles com maior poder aquisitivo.
Ouça Quando a tradição vira crime, terceiro capítulo da série Chico Mendes, a voz que não cala. A
luta para que famílias rurais permanecessem em suas terras. A proposta
de um novo modelo de reforma agrária. A defesa implacável dos povos da
floresta. Estas foram apenas algumas das bandeiras defendidas pelo
seringueiro Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, e que fizeram
de sua vida um exemplo de luta por justiça social.
Com a crise, o governo ditatorial do início dos anos 1970 incentivou fortemente a ocupação dos seringais pela agropecuária. Sob o lema “integrar para não entregar”, financiou a tomada das terras por grandes fazendeiros de diversos estados, chamados “paulistas”, como conta o professor de antropologia da Universidade Federal do Acre, Manoel Estébio. Qual foi a importância da militância de Chico Mendes, que mudou para sempre a história da Amazônia?
Ouça O legado da resistência, quarto e último capítulo da série Chico Mendes, a voz que não cala. FICHA TÉCNICA:
Reportagens: Sarah Fernandes | Apresentação e produção: Sarah Fernandes e Danilo Ramos | Fotos: Danilo Ramos | Edição: Daniela Stefano | Operação de áudio e sonorização: Jorge Mayer e Adilson Oliveira | Ilustrações: Lucas Milagres
Agradecimentos à geógrafa Pietra Cepero, Dercy Teles e Osmarino Amâncio.
CHICO MENDES - a voz que não se cala
A criação da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, tida como principal legado do líder seringueiro, conseguiu manter os trabalhadores em suas unidades produtivas com segurança. Mais do que isso: garantiu acesso a programas estatais de construção de casa, banheiros e a abertura e manutenção das escolas dos seringais, um sonho do líder seringueiro, que só aprendeu a ler aos 18 anos.
A luta capitaneada pelos seringueiros nos anos 1970 e 1980 por melhores condições de vida, muitas delas lideradas por Chico Mendes, rendeu diversos frutos positivos. Porém, apesar dos avanços, os trabalhadores ainda enfrentam sérias dificuldades para garantir a sobrevivência diária na floresta e muitos ainda têm a pobreza como principal oponente.
Os três primeiros narram a luta dos povos que habitam as reservas extrativistas para continuar sobrevivendo como trabalhadores e trabalhadoras da floresta, em tempos que o látex e a castanha rendem tão pouco financeiramente e que as leis que deveriam proteger os povos da floresta acabam os criminalizando.
O quarto e último episódio relembra quem foi Chico Mendes, com depoimentos exclusivos de pessoas que o conheceram e participaram dos “empates” organizados nos anos 1970. Ouça!
CAPÍTULO 1: No seringal do século 21
A falência da economia extrativista obriga os trabalhadores e trabalhadoras da floresta a tentarem aumentar seu número de cabeças de gado, único produto, além da madeira, com algum valor de mercado.
O rebanho bovino no estado cresceu 20% só entre 2006 e 2017, passando de 1,7 milhão de cabeças para 2,1 milhões, segundo o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entretanto, cada animal representa um perigo maior de desmatamento da floresta.
Quais os dilemas impostos aos povos que habitam as reservas extrativistas no século XXI? Ouça No Seringal do Século XXI, o primeiro capítulo da série Chico Mendes, a voz que não cala.
CAPÍTULO 2: A vida das mulheres no seringal
Três décadas após as mobilizações seringueiras no estado, mulheres sustentam famílias com programas de transferência de renda e trabalho na agricultura.
O manejo madeireiro, atividade econômica importante na reserva, pouco inclui a comunidade e gera lucro apenas para latifundiários. O ônus social para as mulheres, porém, é grande.
Como as mulheres conseguem resistir contra a pobreza nos seringais do século XXI? De onde tiram forças para seguir lutando?
Ouça A vida das mulheres no Seringal, o segundo capítulo da série Chico Mendes, a voz que não cala.
CAPÍTULO 3: Quando a tradição vira crime
Devido a legislação da reserva, o que era um meio de subsistência se tornou crime ambiental.
Queima de pequenas áreas para abrir roçados, caça de animais para alimentação e derrubada de árvore para manutenção de casas rendem processos jurídicos e multas que chegam a R$ 80 mil.
Enquanto isso, ganham força a extração de madeira certificada e o agronegócio, atividades concentradas nas mãos daqueles com maior poder aquisitivo.
Ouça Quando a tradição vira crime, terceiro capítulo da série Chico Mendes, a voz que não cala.
CAPÍTULO 4: O legado da resistência
Com a crise, o governo ditatorial do início dos anos 1970 incentivou fortemente a ocupação dos seringais pela agropecuária. Sob o lema “integrar para não entregar”, financiou a tomada das terras por grandes fazendeiros de diversos estados, chamados “paulistas”, como conta o professor de antropologia da Universidade Federal do Acre, Manoel Estébio.
Ouça O legado da resistência, quarto e último capítulo da série Chico Mendes, a voz que não cala.
Reportagens: Sarah Fernandes | Apresentação e produção: Sarah Fernandes e Danilo Ramos | Fotos: Danilo Ramos | Edição: Daniela Stefano | Operação de áudio e sonorização: Jorge Mayer e Adilson Oliveira | Ilustrações: Lucas Milagres
Agradecimentos à geógrafa Pietra Cepero, Dercy Teles e Osmarino Amâncio.
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