Número de registros de óbitos no Brasil em abril não foi menor que em 2019 e 2018
13 de maio de 2020, 16h00
Não é verdade que o número de óbitos registrados em abril de 2020 foi menor do que no mesmo mês de 2019 e 2018, como afirmam publicações nas redes sociais (veja aqui). A tabela que faz a comparação traz dados diferentes dos que constavam nesta quarta-feira (13) no portal da Transparência do Registro Civil, indicado pelas postagens como fonte da informação.
A peça de desinformação omite também que os dados do portal, ainda que confiáveis, não estão consolidados. Segundo a própria base, os cartórios têm até 14 dias corridos para atualizarem informações na plataforma, o que não quer dizer que os óbitos estejam consolidados após esse prazo.
Compartilhadas por perfis pessoais no Facebook, posts que traziam a tabela acumulavam cerca de 3.000 compartilhamentos na tarde desta quarta e foram marcados com o selo DISTORCIDO na ferramenta de monitoramento da rede social (saiba como funciona).
Para quem se espanta com as matérias fúnebres e alarmistas do Jornal Nacional, dizendo que não tem mais onde enterrar os corpos, pergunto: onde enterraram em 2018 e 2019?
Circula nas redes sociais uma tabela com dados de óbitos registrados nos quatro primeiros meses de 2018, 2019 e 2020 com números diferentes dos que estão de fato no Portal da Transparência do Registro Civil, apontado como fonte das informações pelas postagens. Em abril deste ano, são indicadas na planilha 94.129 mortes, quando, na manhã desta quarta-feira (13), constavam 103.632 na plataforma que reúne os dados de registros de nascimentos, casamentos e óbitos dos cartórios brasileiros.
A diferença mostrada na tabela das publicações enganosas leva a crer que, em abril de 2020, o país registrou menos mortes que no mesmo mês em 2018 e em 2019, quando, na verdade, foram cerca de 3.000 óbitos documentados a mais este ano. Os demais números mostrados estão mais próximos dos que constam hoje no portal dos cartórios. A tabela tem sido veiculada no Facebook em posts que relativizam a letalidade da Covid-19 no Brasil.
Qualidade. Por mais que sejam uma boa fonte de informação sobre mortalidade no país, a base de dados dos cartórios tem falhas que deveriam ser consideradas em comparações como essa. A principal delas é que os registros são atualizados em até 14 dias corridos. Assim, a contraposição de dados mais antigos e recentes tem gerado interpretações distorcidas, como Aos Fatos já mostrou.
Álvaro Justen, fundador do Brasil.IO, site que reúne bases de dados públicos, recomenda sempre desconsiderar os últimos 14 dias corridos da análise com informações do Portal da Transparência do Registro Civil: “eles nunca estão completos”.
Mesmo desconsiderando os dados das duas semanas anteriores, a comparação permanece duvidosa, pois números antigos também são atualizados na plataforma, segundo Marcelo Soares, jornalista e fundador da Lagom Data, consultoria de inteligência de dados. “Todo dia são incluídos muitos óbitos da última semana, vários óbitos do último mês e alguns óbitos de meses anteriores. Todo dia têm entrado óbitos de 2019 e dos primeiros meses de 2020”, afirmou.
Soares ressalta ainda que problemas no registro civil impactam na precisão do dado que é mostrado no portal da Transparência do Registro Civil: “A lei brasileira dá um prazo de cinco dias para que as famílias registrem mortes no registro civil, mas, na prática, isso é bem complicado. Existem cidades tão pequenas que não têm cartório. No Norte, há distâncias grandes, que às vezes precisam ser vencidas de barco”.
Bases de dados consolidados como o SIM (Sistema de Informações de Mortalidade), que é divulgado pelo Ministério da Saúde a cada dois anos, mostram mais mortes do que a plataforma dos cartórios. Em 2018, por exemplo, o portal do Registro Civil indica nesta quarta-feira (13) que ocorreram 1.232.908 óbitos no Brasil. Já o SIM registra 1.316.719 mortes no mesmo ano, uma diferença de 6,8%.
Pandemia. As mortes por Covid-19 não são citadas diretamente pela peça de desinformação, ainda que o uso da tabela insinue que o novo coronavírus não causou aumento expressivo no número de óbitos no país. Segundo o Ministério da Saúde, os registros têm crescido desde meados de março.
Até 12 de maio, última atualização disponível, abril já registrava 5.711 mortos em decorrência da infecção no país. O número pode ser ainda maior, uma vez que a confirmação da causa mortis têm levado muitos dias. De acordo com o UOL, o ministério já chegou a demorar 51 dias para confirmar a causa de um óbito.
Referências:
1. Registro Civil
2. Aos Fatos
3. DataSUS
4. Ministério da Saúde
5. UOL
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