Desmatamento em alta deve puxar emissões de carbono do Brasil para cima em 2020, apesar da pandemia
Com a paralisação da economia global provocada pela pandemia, espera-se que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) de muitos países recuem neste ano em comparação com os anos anteriores. Mas essa queda não deve acontecer no Brasil. Pelo contrário, as emissões de carbono do país devem aumentar em 2020, como reflexo do descontrole do desmatamento na Amazônia, que se intensificou mesmo durante a pandemia.
O alerta é do Sistema de Estimativas de Emissões de GEE (SEEG) do Observatório do Clima (OC), que publicou ontem uma nota técnica sobre o quadro das emissões do Brasil para o restante do ano.
De acordo com os dados do SEEG, as emissões do Brasil podem subir entre 10% e 20% neste ano em relação a 2018, último ano para o qual há dados consolidados. O crescimento é puxado pela alta no desmatamento, que, considerando a média dos últimos cinco anos nos meses de maio a julho, deve ter emissões 29% maiores do que em 2018. Se o ritmo de desmate em maio, junho e julho for semelhante ao observado nos mesmos meses do ano passado, o crescimento das emissões relativas à mudança de uso da terra podem ser ainda maior: 51%.
Outro fator que puxa as emissões brasileiras para cima é a redução no consumo de carne no mercado doméstico e internacional. Em abril, o abate de bovinos caiu 20%, o que pode significar um aumento marginal nas emissões da pecuária – afinal, com mais gado no pasto, devemos ter mais emissões de gases como metano.
Esse cenário se torna ainda mais delicado se considerarmos que, ao invés de controlar efetivamente o desmatamento, o governo federal insiste em ações midiáticas para aplacar cobranças internacionais, ao mesmo tempo em que Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente avançam com uma agenda de demolição da governança e das salvaguardas ambientais.
“A aceleração do desmatamento e das emissões decorre diretamente das ações do governo Bolsonaro para desmontar os planos de controle, por um lado, e estimular o crime ambiental, por outro”, analisa Marcio Astrini, secretário-executivo do OC. “O Brasil se tornou uma ameaça ao Acordo de Paris, num momento em que precisamos mais do que nunca avançar na estabilização do clima, para evitar uma outra grave crise de proporções mundiais”.
A Nota Técnica do SEEG pode ser baixada aqui, a divulgação do OC aqui. A notícia foi destaque no UOL Ecoa, Estadão, Exame e G1, entre outros.
ClimaInfo, 22 de maio de 2020.
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