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http://www.ihu.unisinos.br/noticias/530071-impactos-das-mudancas-climaticas-entra-em-cena-o-wg-ii-do-ipcc-analise-de-alexandre-costa
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"Apesar da linguagem contida, é evidente que os riscos são muito grandes para o gênero humano, exceto para o cenário de forte mitigação e, sobretudo, que são extremamente desiguais", escreve Alexandre Costa, Ph.D. em Ciências Atmosféricas, Professor Titular da Universidade Estadual do Ceará, em artigo publicado pelo portal EcoDebate, 07-04-2014.
Eis o artigo.
Para os que ainda não são familiares com a estrutura e funcionamento do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC, lembro que ele inclui três grupos, que lidam respectivamente com as “Bases Físicas da Mudança Climática” (o WG-I, ou 1º grupo), “Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação” (o WG-II, ou 2º grupo) e com Mitigação, ou seja, soluções para reduzir as emissões e diminuir o peso dos impactos sobre a sociedade (o WG-III, ou 3º grupo). Esta noite passada (em horário brasileiro), foi divulgado, no Japão, o texto final do “sumário para formuladores de políticas” do WG-II (ou “2º grupo de trabalho”) do Painel.
Devo dizer que a linguagem usada tende a ser bastante moderada, conservadora e cautelosa e pretensamente distanciada dos problemas com que o relatório lida. Algumas das principais conclusões do sumário são:
“Em muitas regiões, mudanças na precipitação ou no derretimento de neve estão alterando sistemas hidrológicos, afetando recursos hídricos em termos de quantidade e qualidade”;
“Muitas espécies terrestres, de água doce e marinhas têm deslocado seus intervalos geográficos, atividades sazonais, padrões de migração, abundância e interações em resposta à mudança climática em curso”;
“Baseado em muitos estudos cobrindo um amplo espectro de regiões e plantios, impactos negativos da mudançaclimática na produção agrícola têm sido mais comuns do que impactos positivos”;
“Diferenças na vulnerabilidade e na exposição vêm de fatores não-climáticos e de desigualdades multidimensionais, frequentemente produzidas por processos desiguais de desenvolvimento. Tais diferenças se refletem em riscos diferenciados em relação à mudança climática”;
“Impactos de recentes eventos extremos relacionados ao clima, como ondas de calor, secas, enchentes, ciclones e incêndios florestais revelam vulnerabilidade e exposição significativas de alguns ecossistemas e de muitos sistemas humanos à variabilidade climática”;
“Perigos associados ao clima exacerbam outros fatores de estresse, com resultados frequentemente negativos para os meios de subsistência, especialmente para pessoas vivendo em condições de pobreza”;
“Riscos relacionados à disponibilidade de água doce devidos à mudança climática aumentam significativamente com o aumento das concentrações de gases de efeito estufa”;
“Projeta-se que a mudança climática ao longo do século XXI reduza significativamente a água renovável superficial e os recursos subterrâneos na maior parte das regiões secas subtropicais, intensificando a competição pela água entre diferentes setores”;
“Uma grande parte das espécies terrestres e de água doce estão diante de risco de extinção aumentado sob asmudanças climáticas durante e além do século XXI, especialmente na medida que a mudança climática interage com outros fatores de estresse, como modificação do habitat, sobre-exploração, poluição e espécies invasoras”;
“No decorrer deste século, a magnitude e a velocidade da mudança climática associadas a cenários de médias a altas emissões (RCP4.5, 6.0, e 8.5) colocam o risco de mudanças em escala regional abruptas e irreversíveis na composição, estrutura e funcionamento de ecossistemas terrestres e de água doce, incluindo áreas inundada”;
“Devido ao aumento do nível do mar projetado para o século XXI e além, sistemas costeiros e áreas de baixa altitude sofrerão crescentemente impactos adversos como submergência, inundação costeira e erosão costeira”;
“Devido à mudança climática projetada para meados do século XXI e além, a redistribuição de espécies marinhas e a redução da biodiversidade marinha em regiões sensíveis desafiará a provisão sustentada de produtividade pesqueira e outros serviços ambientais”;
“Para cenários de média a altas emissões (RCP4.5, 6.0, e 8.5), a acidificação oceânica traz riscos substanciais aosecossistemas marinhos, especialmente ecossistemas polares e recifes de corais, associados com impactos na fisiologia, comportamento e dinâmica populacional de espécies individuais, do fitoplâncton a animais”;
“No que diz respeito às principais culturas (trigo, arroz e milho) em regiões tropicais e temperadas, projeta-se que amudança climática, sem adaptação, impactará negativamente a produção para aumentos de temperatura de 2°C ou mais além dos valores do século XX, apesar de algumas localidades individuais poderem se beneficiar”;
“Todos os aspectos da segurança alimentar são potencialmente afetados pela mudança climática, incluindo acesso e utlização dos alimentos e estabilidade nos preços”;
“Projeta-se que a mudança climática ao longo do século XXI deva aumentar a imigração”;
“A mudança climática pode aumentar indiretamente o risco de conflitos violentos na forma de guerra civil e violência entre grupos ao amplificar motivações bem documentadas desses conflitos como pobreza e choques econômicos”;
“Ao longo do século XXI, projeta-se que os impactos das mudanças climáticas devam desacelerar o crescimento econômico, tornar a redução da pobreza mais difícil, erodir ainda mais a segurança alimentar e prolongar armadilhas de pobreza existentes e criar novas, particularmente em áreas urbanas e regiões tradicionais de ocorrência de fome”;
“Os riscos gerais dos impactos da mudança climática podem ser reduzidos, limitando-se a velocidade e a magnitude dessa mudança”;
“Velocidades e magnitudes maiores na mudança climática aumentam as chances de se exceder os limites para adaptação”;
“Transformações nas ações e decisões econômicas, sociais, tecnológicas e políticas podem permitir caminhos resilientes com relação ao clima”.
Apesar da linguagem contida (no mínimo questionável, ao meu ver), é evidente que os riscos são muito grandes para o gênero humano, exceto para o cenário de forte mitigação (no caso, o RCP2.6) e, sobretudo, que são extremamente desiguais. Urgem a priorização da bandeira da justiça climática pelos movimentos sociais e a demanda por transformações – necessariamente rápidas – que vão na contramão do crescimento desenfreado, baseado na ampliação desmedida da produção e consumo e apoiado na queima de combustíveis fósseis e expansão do agronegócio.
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