Sunday, 11 September 2011

Renato Nunes Bittencourt - Homem natureza

fonte: portal ciência e vida
http://portalcienciaevida.uol.com.br/esfi/Edicoes/62/artigo227742-1.asp#.Tm0VLaBcCdY.email



Filosofia

Homem natureza: e um divórcio ético
Problemas ambientais resultam da tentativa de construção de um mundo mais "confortável" que se afasta cada vez mais da "rudeza" da natureza. Um caminho, talvez, sem volta. Para Nietzsche, o progresso é uma ideia falsa

Por Renato Nunes Bittencourt


A ocorrência de constantes problemas ambientais em nosso planeta despertou a consciência humana para uma questão ética de grande importância: qual o destino de nossa civilização? Realizamos grandes feitos tecnológicos, obtivemos inúmeros avanços científicos; todavia, pensando criticamente, no que isso resultou de plenamente salutar não apenas para a vida humana e a estrutura social, mas também para a manutenção da ordem planetária? Dentro desse contexto de crise ambiental, Edgar Morin sentencia: "Estamos num período em que a disjunção entre os problemas éticos e os problemas científicos pode se tornar mortal se perdermos nossas vidas humanistas de cidadãos e de homens"¹.
Os avanços materiais da modernidade promoveram, de um lado, incontáveis melhorias nas condições de vida de um grande contingente da humanidade, mas, por outro, também ocasionaram a rápida exaustão dos recursos ambientais, assim como agitações nos grandes centros urbanos, poluição desenfreada, alteração abrupta no ritmo da vida cotidiana, dentre outras circunstâncias deletérias. Nessas condições, cabe a pergunta: qual o "preço" que devemos pagar pela manutenção de todo o nosso progresso material? Talvez se possa alegar que o progresso material não se efetive sem a ocorrência de alguns transtornos concretos. Konrad Lorenz, pensador dotado de grande senso poético em sua escrita, reflete que pouco nos admiramos quando observamos que o avanço da civilização se acompanha de um lamentável processo de tornar cidades e campos cada vez mais feios.² Essa degradação estética da realidade circundante é apenas a crosta de um problema ainda mais terrível para o equilíbrio de todo o meio ambiente: a violentação da natureza pela anárquica expansão industrial.
Sem a afirmação da vida como critério, qualquer postulado ético se torna vazio. De nada adianta criarmos formalismos éticos que não favorecem a saída do ser humano do estado de miséria existencial no qual ele se encontra, ao explorar inconsequentemente o meio ambiente. Wilton Borges e Jelson Oliveira, autores de um ensaio sobre a ética socioambiental, afirmam que, em busca de certo conforto tecnológico, desenvolvemos a ideia de que a natureza é inóspita e inimiga, algo a ser dominado pela tecnologia: asfalto, construções, grandes obras; tudo isso não passa de uma tentativa de construção de um lugar confortável e seguro, distante da "rudeza" e "selvageria" da vida natural ³. Será que o medo do homem civilizado em relação à natureza não decorra diretamente da introjeção da consciência de culpa por todas as arbitrariedades cometidas contra o meio ambiente em nome do progresso civilizatório, da razão? Suportamos os mais absurdos níveis de poluição sonora no cotidiano dos grandes centros urbanos e nos entediamos com os sons naturais dos animais. A motorização da mente humana degrada cada vez mais nossa percepção, tornando-nos dependentes de barulho para que possamos nos sentir existencialmente confortáveis.

NESSAS CONDIÇÕES, CABE A PERGUNTA: QUAL O "PREÇO" QUE DEVEMOS PAGAR PELA MANUTENÇÃO DE TODO O NOSSO PROGRESSO MATERIAL?

A disposição tecnicista estabeleceu uma ruptura entre a condição humana e a natureza. Se nas comunidades tribais é impossível pensarmos o ser humano separado da natureza circundante, tal separação, na estrutura civilizada, é a regra. Mediante tal princípio, o desejo humano de controlar de forma absoluta a natureza se cristalizou. A confiança incondicional da sociedade moderna no progresso da técnica mascarou a contraparte desse processo: a necessidade de se explorar ad in nitum os recursos naturais de um modo imediatista e inconsequente, sem que houvesse maiores preocupações com os resultados concretos desses abusos, não apenas para o meio ambiente, mas para o próprio ser humano. Afinal, a obsessão pelo progresso material obscurece a visão dos sectários do tecnicismo incondicional. Podemos afirmar que o exorbitante desenvolvimento material característico da era moderna não se fez acompanhar de um equivalente desenvolvimento ético, não apenas no que se refere à situação da vida humana em sua relação com os demais indivíduos, mas também em relação ao meio ambiente.

Como bem observou Konrad Lorenz, o ser humano se acostumou ao progresso acompanhado de uma lamentável degradação das cidades. Não há mais espanto e o nosso redor se tornar cada vez mais feio

Tal circunstância talvez explique a incongruência existente entre o avanço da estrutura civilizatória da qual fazemos parte e o empobrecimento existencial da condição humana, dominada pelo irrefreável dispositivo tecnicista, assim como a degradação das forças vitais da Terra. A ameaça de um iminente futuro catastrófico para a humanidade exige a mudança imediata em nossa relação para com a natureza. Dentre os inúmeros fatores de risco ambiental em nossa atual ordem planetária encontra-se a crise do aquecimento global. Todavia, até então ainda não foram adotadas medidas concretas que visem a atenuar esse distúrbio, prolongando-se assim o impasse desse fator de risco para o futuro da vida sobre a Terra. Conforme aponta Anthony Giddens, "visto que os perigos representados pelo aquecimento global não são palpáveis, imediatos ou visíveis no decorrer da vida cotidiana, por mais assustadores que se afigurem, muita gente continua sentada, sem fazer nada de concreto a seu respeito. No entanto, esperar que eles se tornem visíveis e agudos para só então tomarem medidas sérias será, por definição, tarde demais" 4

O FILÓSOFO ALEMÃO 
Hans Jonas (1903- 1993) tratou dos problemas sociais e éticos trazidos com o advento da tecnologia. É conhecido pela obra O Princípio responsabilidade

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Talvez, o medo do homem civilizado em relação à natureza decorra da consciência de suas arbitrariedades

Podemos afirmar que a causa desse impasse de consequências catastróficas para o futuro da humanidade resida na ausência de um verdadeiro planejamento político que proponha uma mudança radical e imediata na relação do "homem civilizado" para com a natureza, assim como o estabelecimento de um efetivo cuidado ambiental que sirva de parâmetro norteador não apenas para a nossa geração atual, mas para as vindouras. De acordo com Hans Jonas, em vista do potencial quase escatológico dos nossos processos técnicos, o próprio desconhecimento das consequências últimas é motivo para uma contenção responsável - a melhor alternativa à falta da própria sabedoria 5 . Contudo, as vantagens econômicas obtidas pela estrutura empresarial que se beneficia da exploração desmedida dos recursos naturais impedem que se efetivem as necessárias transformações nesse método de usufruto inconsequente dos recursos naturais, ainda que a custo da sobrevivência da própria humanidade.
Os problemas ambientais que nossa ordem planetária vivencia nos alertam para uma questão de grande importância para o futuro da humanidade: como conciliar o uso adequado dos recursos naturais com o desenvolvimento das inovações técnicas? Tal pergunta se faz crucial em nossa conjuntura contemporânea, pois durante séculos a humanidade se utilizou dos bens naturais como coisas predestinadas ao seu usufruto particular, sem que houvesse qualquer preocupação com as consequências posteriores do uso desmedido desses gêneros. A pretensa superioridade racional da condição humana sobre a natureza serviu de legitimação ideológica para a sua exploração incondicional. Tudo se curva e se cala quando se atua em nome da civilização, eis a palavra de ordem do homem alienado da consciência natural. Wilton Borges e Jelson Oliveira destacam que, "baseado no poder indissolúvel da razão, o homem técnico é quem acredita que o mundo precisa ser reordenado, corrigido e melhorado, em função da realização das necessidades das gerações presentes. Para tanto, lança mão da técnica como mero instrumento capaz de compor o cenário dessa possessão do real e de responder às suas demandas de forma ingênua (e, por isso mesmo, calamitosa) 6 .

Ética dissimulada
No decorrer da história,
 pudemos notar algumas tentativas de frear a degradação da natureza. Em 1988, foi aberta a Toronto Conference on the Changing Atmosphere, no Canadá, seguida por outro evento realizado em Sundsvall na Suécia, denominado IPCC's First Assessment Report. Esses dois eventos culminaram num tratado importante denominado Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, foi firmado por quase todos os países do mundo e prezava pela estabilidade da concentração de gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera em níveis tais que evitem a interferência perigosa com o sistema climático. Outro fruto importante dessas reuniões foi o chamado Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, que constituía em tratado internacional com compromissos rígidos para a redução da emissão dos gases que agravam o efeito estufa. Entretanto, o fracasso desse protocolo, sobretudo a não participação do maior emissor de poluentes do mundo, os EUA, é um exemplo de como a necessidade de preservação da natureza não vence os interesses econômicos e encontros como esse parecem apenas fingimento de uma ética que o homem não aprendeu a ter.


As mazelas ambientais que continuamente assolam a Terra exigem que formulemos uma nova forma de compreender a realidade circundante, não mais fundamentada apenas na exaltação da excelência da humanidade e do seu poder transformador da natureza, mas também na preservação saudável do planeta: este, compreendido de uma forma holística, é um grande ser vivo do qual fazemos parte de maneira indissociável. Conforme salientam Wilton Borges e Jelson Oliveira, "a vida humana continua sendo o critério ético fundamental, mas é preciso reconhecer que ela não existe isoladamente, e mais: que ela se inter-relaciona com todas as outras formas de vida no planeta" 7 .
O progresso material e o avanço tecnológico característicos da era moderna não foram acompanhados de sua contraparte ética. Com efeito, adquirimos um extraordinário índice de desenvolvimento técnico, mas nem por isso conseguimos desenvolver um padrão de organização social que efetivamente possa ser adjetivada como "civilizada": tal padrão se realizaria, a rigor, somente a partir do estabelecimento da qualidade de vida, da convivência harmoniosa entre os indivíduos e a realização pessoal no mundo do trabalho e da própria existência privada.

ESSA SITUAÇÃO DEGRADANTE CRIA ASSIM UMA ESPÉCIE DE MECANIZAÇÃO DO HOMEM, MERA PEÇA DE UM SISTEMA SOCIAL QUE SE PERPETUA À CUSTA DA EXAUSTÃO DA SUA PRÓPRIA VITALIDADE


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Apesar de todo o seu progresso material e intelectual, a ordem civilizatória vigente é cada vez menos adequada para manter a sanidade mental da humanidade, minando a sensação individual de segurança interior, verdadeira satisfação e a capacidade de interação interpessoal. Conforme argumenta Nietzsche, "ao contrário do que hoje se crê, a humanidade não representa uma evolução para algo de melhor, de mais forte ou de mais elevado. O 'progresso' é simplesmente uma ideia moderna, ou seja, uma ideia falsa. O europeu de hoje vale bem menos do que o europeu do Renascimento; desenvolvimento contínuo não é forçosamente elevar-se, aperfeiçoar-se, fortalecer-se" 8 .
As colocações nietzschianas se aplicam perfeitamente ao problema abordado, retratando justamente uma cáustica crítica ao mito moderno do progresso tal como propagado pela cultura europeia, seja na Filoso fia Positivista como nas suas aplicações concretas. O Positivismo propõe como lema o Amor por princípio, a Ordem por base e o Progresso por fim. Podemos então afirmar que o tecnicismo jamais amou a natureza, explorando-a desordenadamente em nome do fabuloso progresso. As inovações técnicas do mundo moderno trouxeram consigo um contraponto difícil de ser contornado por nós: a manutenção do conforto material associado ao uso consciente dos recursos naturais de um planeta em estado de exaustão vital. Para Ulrich Beck, a fé no progresso é uma espécie de "religião temporal da humanidade". Veem-se nela todos os sinais da fé religiosa: a crença no desconhecido, no invisível, no intangível. Crença a contrapelo do que se sabe, sem conhecer o caminho, sem saber como. A fé no progresso é a autoconfiança da modernidade em sua própria tecnologia. Convertida em força criadora em lugar de Deus e da Igreja, entraram em cena as forças produtivas e aqueles que as desenvolvem e administram - a Ciência e a Economia.

Iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, a Revolução Industrial foi o primeiro passo concreto do homem em busca do desenvolvimento material e tecnológico. Desde o princípio, os cuidados com o meio ambiente eram ignorados

Mesmo sob a perspectiva da moral, o desenvolvimento da tecnologia não estimulou o aprimoramento da consciência ética do ser humano; pelo contrário, conforme os acontecimentos do século XX demonstram, o poder de destruição do ser humano se amplia na medida em que se obtêm avanços tecnológicos, utilizados, obviamente, para fins egoístas. O preço do progresso material, desvinculado da possibilidade de haver o tão propalado "progresso moral" da condição humana, assim como também o desenvolvimento contínuo das suas forças vitais e do cuidado adequado com a natureza, se caracteriza por estabelecer um divórcio simbólico do homem em relação ao mundo circundante, gerando ainda todo tipo de opressão internacional através das guerras imperialistas.
Essa situação degradante cria assim uma espécie de mecanização do homem, mera peça de um sistema social que se perpetua à custa da exaustão da sua própria vitalidade. Conforme destaca Nietzsche: "Hybris é hoje nossa atitude para com a natureza, nossa violentação da natureza com ajuda das máquinas e da tão irre' etida inventividade dos engenheiros e técnicos"10 . Constatamos, assim, que Nietzsche já enuncia uma importante preocupação com os projetos de exploração da natureza realizados pela moderna cultura tecnicista que, no afã de obtenção de riqueza imediata, motivou perdas irreparáveis na estrutura natural do planeta.

Com seus inúmeros avanços tecnológicos, o homem passa a se tornar vítima de suas próprias criações. Mas seria possível o progresso sem a degradação da natureza? E se a resposta fosse não, que mundo o homem escolheria?


O progresso material deveria beneficiar o homem e sua vida, mas na prática, vemos a disparidade econômica cada vez mais acentuada, pobreza, sujeira, desastres naturais. Frutos cruéis deste desenvolvimento desenfreado
A crítica ao uso ideológico na noção de "progresso" empregado pela sociedade moderna já enuncia os lampejos de uma nova maneira de se relacionar com a natureza circundante, e para tanto é necessário que o indivíduo se compreenda como alguém que faz parte de um grande todo orgânico que é o âmbito natural. Tal como argumentam Wilton Borges e Jelson Oliveira, "o ser humano é mais do que o pensamento científico, do que um ser que pensa. Por isso, na Ética de Gaia, é preciso reinventar outro modelo de ser humano, para construir a partir daí outra Ciência sobre a Terra, mais afetiva e mais alegre"¹¹.
O desenvolvimento tecnológico somente é pertinente para a vida quando é capitaneado em favor do efetivo aprimoramento das condições existenciais de todos os seres humanos e do meio ambiente como um todo, favorecendo ainda a formação de uma consciência de integração planetária a partir da cooperação internacional pelo estabelecimento de uma civilização sustentável. A busca contemporânea pelo estabelecimento de uma vida sustentável nasce de uma tentativa de se conciliar os benefícios materiais proporcionados pelo progresso técnico com o uso consciente dos recursos naturais. Portanto, a grande questão que se apresenta na re' exão crítica do ideário do progresso não consiste em negar a existência da tecnologia, mas em se fazer uso dela em favor do aprimoramento autêntico da qualidade de vida humana, e para tanto, se torna necessário o estabelecimento de uma experiência ética na qual o projeto moderno do progresso se associe ao rigoroso cuidado com a preservação da natureza. Por conseguinte, é salutar que se estabeleça tal crítica ao lado "obscuro" que perpassa a realização técnica subjacente ao conceito de progresso, pois este apenas se estabeleceu à sua dimensão material, mas não em sua acepção existencial, orgânica, de maneira a proporcionar rigorosamente o desenvolvimento da saúde efetiva do ser humano e a compreensão de sua unicidade fundamental com a natureza.




Renato Nunes Bittencourt Doutor em Filosofia pelo PPGF-UFRJ, professor do curso Comunicação da Faculdade CCAA, do departamento de Filosofia do Colégio Pedro II e da Faculdade Flama. Membro do Grupo de Pesquisa Spinoza & Nietzsche




¹MORIN, E. Ciência com Consciência, p. 129
²LORENZ, K. Os oito pecados morais do homem civilizado, p. 29.
³BORGES & OLIVEIRA, Ética de Gaia, p. 181.
GIDDENS, A. A política da mudança climática, p. 20.
JONAS, H. O princípio responsabilidade, p. 63-64.
BORGES & OLIVEIRA, Ética de Gaia, p. 52
BORGES & OLIVEIRA, Ética de Gaia, p. 19
NIETZSCHE, F. O Anticristo, § 4
BECK, U. Sociedade de risco, p. 315.
10 NIETZSCHE, F. Genealogia da Moral, p. 102
¹¹BORGES & OLIVEIRA, Ética de Gaia, p. 32.


REFERÊNCIAS
BECK, Ulrich. Sociedade de Risco: rumo a uma outra modernidade. Trad. de Sebastião Nascimento. São Paulo: Ed. 34, 2010.
BORGES, Wilton & OLIVEIRA, Jelson. Ética de Gaia: ensaios de ética socioambiental. São Paulo: Paulus, 2008.
GIDDENS, Anthony. A política da mudança climática. Trad. de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010.
JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Trad. de Marijane
Lisboa e Luiz Barros Montez. Rio de Janeiro: Contraponto/Ed . PUC-Rio, 2006.
LORENZ, Konrad. Os oito pecados mortais do homem civilizado. Trad. de Henrique Beck. São Paulo: Brasiliense, 1988.
MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Trad. de Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio Dória. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
NIETZSCHE, Friedrich. O Anticristo. Trad. de Artur Morão. Lisboa: Ed. 70, 1997.
__________. Genealogia da Moral - Uma Polêmica. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1999


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