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parte 2/3
A verdadeira utopia
Para dar conta das necessidades de transformações na sociedade, é preciso ir além do imaginado por Marx e não temer radicalizar a atualizar suas noções de proletariado e comunismo
Por Slavoj Zizek* Tradução: Maria Beatriz de Medina
1 BEM-VINDO AO DESERTO DO REAL! (2003) |
Antagonismo e Protagonismo Global
Microsoft Empresa fundada em 1975 por Bill Gates e Paul Allen, a Microsoft tornou-se, ao lado da Coca-Cola e do McDonald´s, símbolo do capitalismo dos EUA. Os críticos do sistema operacional da Microsoft - o Windows, lançado nos anos 1980 - acusam Gates de monopolista e de ser um "inimigo do software livre'. Além do Windows, a Microsoft desenvolveu o MS DOS, o Pacote Office (Word, Excel, PowerPoint etc.), o MSN e o Internet Explorer. |
* os comuns da cultura, as formas imediatamente socializadas de capital "cognitivo", primariamente a linguagem, nosso meio de comunicação e educação, mas também a infraestrutura comum do transporte público, da eletricidade, dos correios etc. (se o monopólio fosse permitido a Bill Gates, chegaríamos à situação absurda em que um único indivíduo seria literalmente dono da tessitura, do software de nossa rede básica de comunicação);
* os comuns da natureza externa ameaçados pela poluição e exploração (do petróleo às florestas e habitats naturais);
* os comuns da natureza interna (a herança biogenética da humanidade): com a nova tecnologia biogenética, a criação do novo homem, no sentido literal de mudar a natureza humana, se torna uma perspectiva realista.
O que todas essas lutas têm em comum é a preocupação com os potenciais destrutivos, inclusive a autoaniquilação da própria humanidade, se fosse dada carta branca à lógica capitalista de enclausuramento desses comuns. Nicholas Stern estava correto em caracterizar a crise ambiental como "o maior fracasso do mercado na história da humanidade" (Revista Time, 24/12/2007). Então, quando Kishan Khoday, um líder de equipe da ONU, escreveu recentemente que "existe um espírito crescente de cidadania ambiental global, um desejo de fazer da mudança do clima uma questão de preocupação comum de toda a humanidade", deve-se dar toda ênfase nos termos "cidadania global" e "preocupação comum" - a necessidade de estabelecer uma organização e um engajamento plítico globais que, neutralizando e canalizando os mecanismos de mercado, representem uma perspectiva propriamente comunista.
A única questão verdadeira hoje é: o capitalismo global contém antagonismos fortes o su ciente para impedir sua reprodução inde nida? Existem, penso eu, quatro desses antagonismos: a ameaça iminente de uma catástrofe ecológica, o caráter inapropriado da propriedade privada para designar a chamada "propriedade intelectual", as implicações socioéticas dos novos desenvolvimentos tecnocientí cos (especialmente na biogenética) e, por último, mas não menos importante, as novas formas de apartheid, os novos muros e as favelas
Linux Software livre, de código aberto, o sistema Linux - cuja símbolo é um pinguim - foi desenvolvido pelo engenheiro de software finlandês Linus Torvalds, da Linux Foundation. Como a licença para o uso desse código é aberta - General Public Licence (GNU), diversas outras empresas, fundações e até usuários criaram variações do sistema operacional. O Linux é um dos bastiões de uma nova visão sobre a propriedade intelectual. |
Por esa razão, a nova política emancipatória não será mais o ato de um agente social particular, mas uma explosiva combinação de diferentes agentes. O que nos une é que, em contraste com a clássica imagem dos proletários que não tem "nada a perder senão seus grilhões", corremos o perigo de perder tudo. A ameaça é que sejamos reduzidos a um sujeito cartesiano abstratamente vazio, desprovido de todos os conteúdos substanciais, desapropriado de substância simbólica e com a base genética manipulada, condenado a vegetar num meio ambiente inabitável. Essa tripla ameaça a totalidade de nosso ser nos torna, de certo modo, todos proletários, reduzidos à "subjetividade sem substância", como Marx a rma nos Grundrisse. O desa o ético-político é reconhecermos a nós mesmos nessa gura - de certa forma, todos nós somos excluídos, tanto da natureza como de nossa própria substância simbólica. Hoje somos todos potencialmenteHomo sacer, e a única forma de evitar que nos tornemos um é atuando preventivamente.
Lacrimae rerum: ensaios sobre cinema moderno reúne ensaios do autor sobre cinema no quais questiona os cineastas, mesmo aqueles ligados ao "cinema crítico", de "conceder legitimidade ideológica ao real", a partir das imagens e históricas com um "panorâma estático" da realidade. Entre os filmes e diretores examinados nos ensaios estão o russo Andrei Tarkovski (1932-1986), diretor de Solaris (1972), o polonês Krzysztof Kielowski (1941-1996), de A Triologia das Cores (1993-1994), e os irmãos de Chicago (EUA) Andy e Larry Wachowski, realizadores da trilogia Matrix (1999-2003). |
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