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parte 3/3
A verdadeira utopia
Para dar conta das necessidades de transformações na sociedade, é preciso ir além do imaginado por Marx e não temer radicalizar a atualizar suas noções de proletariado e comunismo
Por Slavoj Zizek* Tradução: Maria Beatriz de Medina
Soyons realistes, demandons L'impossible Grafada em muros e gritada nas ruas de Paris, a frase Seja realista; peça o impossível e sua variação Sejamos realistas, exijamos o impossível resume o estado de espírito e as utopias dos militantes de maio de 1968 na França e em toda a Europa. Aliás, outros slogans de 1968 entraram para a história: "Abaixo a sociedade de consumo" e "É proibido proibir". |
O que podemos aprender com as causas perdidas? Qual o legado das utopias passadas? É possível atualizá-las ou, ao menos, usá-las como exemplos do que fazer e não fazer em novas formas de ação transformadora? Essas são perguntas que Slavoj Zizek procura responder neste livro cujo título é autoexplicativo: Em Defesa das Causas Perdidas. Para fazer essa reconstituição histórica a serviço da fi losofi a - e da prática política -, Zizek mobilizou pensadores do porte de Lacan, Marx (sendo a psicanálise e o marxismo "teorias de luta", Heidegger e Foucault. |
Lembremos da de nição surpreendentemente relevante de Paulo* sobre uma luta emancipatória: "Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes /kosmokratoras/ das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais". Ou, traduzindo em nossa linguagem de hoje: "nossa luta não é contra indivíduos corruptos concretos, mas contra todos aqueles no poder em geral, contra sua autoridade, contra a ordem global e a misti cação ideológica que a sustenta". Se engajar nessa luta signi ca endossar a fórmula de Badiou, mieux vaut un desastre qu'un desètre, melhor assumir o risco e se engajar na delidade ao evento-verdade, mesmo que essa delidade termine numa catástrofe, do que vegetar na sobrevivência hedonista- utilitarista sem-eventos daquilo que Nietzsche chamou de último homem. O que devemos rejeitar é a ideologia liberal-vitimista que reduz a política a evitar o pior, a renunciar de todos os projetos positivos e perseguir a opção menos ruim - ou, como notou amargamente Arthur Feldmann, o escritor judeu vienense, o preço que usualmente pagamos para sobreviver é a própria vida.
Escrita em o dezoito de brumário de Luis Bonaparte, a máxima "a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa" é uma das mais emblemáticas frases de Karl Marx. Em Primeiro como Tragédia, Depois como Farsa, o fi lósofo esloveno utiliza o termo de Marx como gancho para analisar o mundo contemporâneo que seria uma nova etapa do capitalismo global, no qual os discursos políticos que são aceitos num primeiro momento (11/9) são rejeitados adiante (crise fi nanceira de 2008). A democracia liberal, celebrada por Francis Fukuyama após a queda do Muro de Berlim, sofreu na última década um duplo golpe - político-ideológico (2001) e econômico (2008). |
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