Thursday, 31 July 2014

Rafucko entrevista Eduardo Viveiros de Castro

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Rafucko entrevista Eduardo Viveiros de Castro

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Na Zona Sul do Rio, humorista e antropólogo contracenam. Viveiros esgrime seu costumeiro pessimismo e debate da ameaça ruralistas ao homossexualismo indígena
O Grande Xamã, Eduardo Viveiros de Castro e Rafucko, outra celebridade da internet, protagonizaram uma das mais saborosas experiências sem conotação sexual já vistas por nossa equipe nos últimos meses. Viveiros de Castro foi entrevistado no talk show do Rafucko.Eduardo Viveiros de Castro é um antropólogo venerado como um semideus por um séquito de antropólogos que não têm a menor ideia do que significa a maior parte das afirmações que ele faz. Viveiros de Castro também é considerado um dos maiores teóricosnonsense da atualidade e curte mandar cotoco para as pessoas pelo Twitter.Na entrevista a Rafucko, gravada na zona sul do Rio de Janeiro, Viveiro de Castro esgrima o melhor da sua filosofia nonsene. Para ele, é quase impossível ser índio no Brasil embora, “no Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não é e a gente sabe muito bem quem não é índio. A gente não sabe é quem é.” Entendeu? Não? Não se preocupe. Não faz mesmo o menor sentido.
Para Viveiros de Castro, o otimismo, assim como a virgindade, é uma doença da qual as pessoas precisam se livrar o quanto antes. Uma das teorias do antropólogo é a de que o mundo está perto do colapso. “Essa coisa de não saber parar até explodir a porra do planeta inteiro é o que caracteriza o modo de vida ocidental”, afirma ele na entrevista.
Apesar do pessimismo e da falta de sentido, a entrevista é extremamente saborosa. Além do significado de “ser índio” e do fim do mundo, Viveiros de Castro e Rafucko falam de coisa muito legais como o efeito do calção Adidas na aculturação dos índios, drogas, homossexualismo indígena, xerecas satânicas repugnantes e uma tal volta do que não foi pretendida ao Brasil pelos ruralistas. Simplesmente fascinante.
O vídeo do papo nonsense entre o grande xamã e Rafucko já foi visto mais de 10 mil vezes. Veja você também:

Mudança climática: o que o Brasil pode fazer já

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Mudança climática: o que o Brasil pode fazer já

Mar de coletores solares em cidade chinesa -- onde há esforço notável para produzir energia limpa. Em em 2010, graças a subsídios públicos, 120  milhões de famílias já usavam tais painéis, produzidos por cinco mil empresas, por cerca de R$ 450
Mar de coletores solares na China. Em 2010, graças a subsídios públicos, 120 milhões de famílias já usavam tais painéis, produzidos por cinco mil empresas, por cerca de R$ 450
Promover energias solar e eólica. Construir ferrovias e metrôs. Veja como multiplicam-se alternativas viáveis — desde que questionemos mito interesseiro da impotência social
Pela Abong, em seu site
Desde o início da hegemonia neoliberal, tornou-se um hábito justificar a continuidade da situação existente ou das políticas em curso pela ideia de que “não há alternativa”. É uma ideia que não precisa de provas: é afirmada como um dogma de fé. No entanto, em nenhum período da história este fenômeno – a falta de alternativas – aconteceu. O Império Romano caiu, a Idade Média acabou, o III Reich – “de mil anos” – foi derrotado, as próprias teses neoliberais ruíram com a crise mundial de 2008.
Todos se lembram da famosa afirmação, repetida por todos os governos e ideólogos até a eclosão da crise, de que o Estado não tinha mais recursos para os gastos com saúde, educação, aposentadoria, etc. No entanto, quando os grandes bancos e multinacionais quebraram, foi o Estado que os salvou, com os recursos que, supostamente, não existiam. Descobrimos, na ocasião, que estes recursos eram muito maiores do que qualquer um de nós, leigo, poderia imaginar: trilhões de dólares públicos foram usados para salvar instituições privadas, as mesmas que haviam causado a crise.
Traduzindo: há sempre alternativas. Os que negam sua possibilidade são aqueles que ganham com a continuidade do que já existe.
O mesmo se pode dizer da atual crise ecológica. As pessoas comuns sabem que estamos vivendo uma situação extremamente grave, que não tínhamos antes: sabem-no através dos jornais – falados, escritos, televisados – e também por experiência própria, em razão dos eventos extremos que têm nos atingido. Desde chuvas e inundações extraordinárias, capazes de destruir cidades inteiras, até secas prolongadas, inclusive na Amazônia, assim como longos períodos de temperaturas fora do comum.
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC – sigla em inglês), constituído por 2.500 cientistas de todo o mundo, tem nos advertido repetidamente, com dados cada vez mais precisos, de que a humanidade está caminhando para o desastre – se não tomarmos logo providências, se não mudarmos o modelo de desenvolvimento que temos hoje. No entanto, os governos parecem viver em outro mundo: não sabem ou não querem saber de crise ecológica, de mudanças climáticas, de aquecimento global. A cada reunião internacional, as decisões tomadas são mais distantes daquelas que são necessárias.
Mas há alternativas, são viáveis e todo governo é capaz de implementá-las. Melhor: elas são mais viáveis que as políticas atualmente em curso, elas são mais baratas do que o que se está fazendo e são mais saudáveis do que o que vivemos hoje. Elas são a solução para muitos problemas atuais. Vamos ver alguns exemplos.
Estamos vivendo uma crise de energia elétrica, causada por insuficiência de chuvas. Para fazer face às dificuldades, o governo apela para as termelétricas, que são mais caras e mais poluentes. No entanto, haveria uma solução muito mais barata e eficaz para enfrentar a instabilidade das chuvas. Seria a utilização de uma fonte que o Brasil tem de sobra, muito mais que qualquer país do Norte: o sol. O Brasil poderia continuar usando a energia hidrelétrica que tem, mas poderia complementá-la com a energia solar, porque nós temos sol o ano inteiro, numa proporção que poucos países no mundo têm. Dados do Atlas Solarimétrico do Brasil indicam que, dada a média anual de radiação, se apenas 5% dessa energia fosse aproveitada, toda a demanda brasileira por eletricidade poderia ser atendida1.
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O sol é uma fonte gratuita e durável. Só precisa de alguns equipamentos para gerar energia. Estes equipamentos, se produzidos em quantidade, se tornam baratos e perfeitamente acessíveis. Lester Brown, especialista na temática, revela que, na China, em 2010, cento e vinte milhões de famílias já usavam aquecedores solares, que eram produzidos por cinco mil empresas e cujo custo correspondia a 150 euros (algo como 450 reais)2. Se o país quisesse, poderia propor às empresas que fabricam chuveiros elétricos que produzissem aquecedores solares, facilitando empréstimos e abrindo uma linha de crédito para os consumidores. Isto traria uma enorme economia de energia elétrica. Com uma vantagem: depois de instalado o equipamento, o consumidor não gasta nada, a não ser sua manutenção. A fonte, como lembramos, é gratuita.
Poderíamos estabelecer como norma que toda construção (e toda reforma de um prédio) exigisse a instalação de equipamentos captadores de energia solar. Assim como, em algumas estradas do país, a iluminação noturna é garantida por painéis solares, os painéis poderiam cobrir as casas e edifícios e garantir a energia de que necessitam.
Para aqueles que moram no campo, em casas distantes da cidade, a energia solar tem a vantagem de não precisar de longas linhas de transmissão para poder funcionar: cada casa pode ter seu próprio “gerador” de energia.
Mais: o Brasil poderia abrir uma linha de financiamento de pesquisa nas universidades federais para desenvolver a tecnologia da energia solar.
Um segundo exemplo, bem concreto, nestes tempos de Copa do Mundo e de preocupação com a mobilidade urbana. Há grandes cidades no mundo onde, durante a semana, as pessoas não precisam usar carro: elas dispõem de um meio de transporte rápido e seguro, que é o metrô. Além do mais, dispõem de uma ampla frota de ônibus. E o sistema de transporte público é completado por bondes (tramways) na cidade e ferrovias interurbanas. Com isso, é possível deixar o transporte individual para utilização secundária ou para lazer e reduzir radicalmente os engarrafamentos e a perda de tempo nos trajetos diários para o trabalho. Não adianta construir novas vias e viadutos enquanto o número de carros nas ruas não diminuir. Temos de investir em transporte público de qualidade: prioritariamente em trilhos (linhas de metrô cobrindo toda a cidade, bondes, trens interurbanos). E, secundariamente, em ônibus.
Para o transporte entre as cidades e regiões – tanto de pessoas como de mercadorias -, temos de começar a mudar a nossa matriz, priorizando as ferrovias – mais seguras, mais duráveis, capazes de um volume de carga muito maior.
E, nas cidades, facilitar o uso da bicicleta, com ciclovias e normas de trânsito para garantir a segurança dos ciclistas. Há países onde a bicicleta é o meio normal de transporte da maioria das pessoas. E contribui para a sua saúde.
Em suma, se insistirmos no modelo de desenvolvimento que temos hoje, se continuarmos produzindo e consumindo do modo como fazemos hoje, caminharemos para cenários ambientais dramáticos e mudanças climáticas desastrosas. Já estamos assistindo ao princípio destas mudanças, mas tudo se passa como se isso fosse natural e inevitável. Os “mercadores da dúvida” têm tido sucesso: eles têm conseguido manter a incerteza sobre o aquecimento global e sobre nossa responsabilidade quanto a ele3.

1Greenpeace Brasil (www.greenpeace.org.br). [R]evolução energética – a serviço de um desenvolvimento limpo, dezembro de 2010.
2Lester Brown, Basculement: comment éviter l’éffondrement économique et environnemental. Bernin, Souffle Court Éditions; Paris, Rue de l’Échiquier, 2011 (cf.www.earthpolicyinstitute.org).
3Oreskes, Naomi e Conway, Erik M. Les marchands de doute. Ou : Comment une poignée de scientifiques ont masqué la vérité sur des enjeux de société tels que le tabagisme et le réchauffement climatiqueParis, Éd. Le Pommier, 2012 (Os mercadores da dúvida. Ou: Como um punhado de cientistas mascararam a verdade sobre problemas sociais tais como o tabagismo e o aquecimento global).

O sequestro da água

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http://www.ihu.unisinos.br/noticias/533776-o-sequestro-da-agua


O sequestro da água

“A água também foi sequestrada pelos ladrões que a secam, gente a quem só interessa a água na liquidez do capital e o selo de água das notas de dinheiro. As guerras pela água já estão ocorrendo. Autênticas guerras de conquista, de colonos e colonizados. Mas a nova versão do conquistador não atira flechas, não joga bombas, nem utiliza fuzis. O processo é mais silencioso e mais sutil. Estes embusteiros internacionais transitam como civis que exigem privatização ou morte.” A reflexão é de Aldo Torres Baeza, em artigo publicado no jornal chileno Diario Uchile, 28-07-2014. A tradução é de André Langer.
Eis o artigo.
Da água viemos e de água somos. Água no cérebro, vertiginoso oceano que forja as estradas para os barquinhos do pensamento e da imaginação. A vida emergiu dos oceanos e do útero os corpos que a animam. Água nas lágrimas e água nas células; corpos quimicamente irmãos do mar. Somos água que pensa, água que ri e água que transita pelo mundo. “A vida é água organizada”, dizia Jacques Cousteau. Não tomamos banho duas vezes no mesmo rio, disse Heráclito, comparando o fluir da vida com o fluir da água. Tudo flui, sobretudo a água. O filósofo Jordi Pigem escreve: “A água que hoje evapora cai como chuva em outro lugar dentro de aproximadamente 10 dias, em um ciclo que a cada três milênios faz circular pela atmosfera um volume de água equivalente ao de todos os oceanos. A água circula e tende ao circular: a gota quer ser esférica, a lagoa responde à pedra com ondas concêntricas, os redemoinhos fluem em espiral, os meandros, riachos, baías e golfos lavram curvas e semicírculos”. A água nos dá a vida e nos une. Seria impossível conceber a cultura chinesa sem o Rio Amarelo e o Yangtzé, ou imaginar a cultura índica sem o Indo e o Ganges, a Mesopotâmia sem os rios que a abraçavam, o Egito sem o Nilo ou a Grécia sem o Egeu. Sem água nada nasce; haveria apenas terra seca, o deserto de Nietzsche derrubaria as portas, os céus não mostrariam o arco-íris e as plantas não dariam seus frutos.
No entanto, a água também foi sequestrada pelos ladrões que a secam, gente a quem só interessa a água na liquidez do capital e o selo de água das notas de dinheiro. As guerras pela água já estão ocorrendo. Autênticas guerras de conquista, de colonos e colonizados. Mas a nova versão do conquistador não atira flechas, não joga bombas, nem utiliza fuzis. O processo é mais silencioso e mais sutil. Estes embusteiros internacionais transitam como civis que exigem privatização ou morte.
Já chegaram ao Chile faz muitos anos, com perna de pau e papagaio no ombro. Hoje, extraem água até secar a terra, contaminam, envenenam, privatizam. Quando não resta mais nada, vão-se embora para amarrar a soga em novos territórios. Tudo justificado pelo atual marco legal e institucional que rege o uso e o manejo dos recursos hídricos no Chile, declarado na Constituição política (ou apolítica) de 1980, e em seguida, detalhado no Código das Águas de 1981. Ou seja, em uma Constituição assada nos fornos da ditadura, atravessada pelos princípios do neoliberalismo mais fundamentalista do mundo. Sobre a água, o artigo 5º do Código, diz: “bem nacional de uso público e outorga-se aos particulares o direito de aproveitamento dela”. Isto quer dizer que seu manejo, como tudo no Chile, fica sujeito às leis do mercado, terra fértil para os especuladores da vida. Leonardo da Vinci iniciou um tratado sobre a água. Nele afirmava que a água é o sangue da Terra. O sangue é para o nosso sistema circulatório o que a água é para o grande sistema circulatório da biosfera. Mas no Chile possuir é mais importante do que as teorias de Da Vinci. Vale perguntar-se: chegará o dia em que privatizarão a água da chuva e a água dos corpos?
No discurso de 21 de maio, Bachelet declarou, entre outras coisas, que a água é um bem de uso público e que fará modificações no Código da Água.
O que aconteceu?
Todos esqueceram o que foi dito no dia 21 de maio?
O que está acontecendo com a água no Chile?
A água é um direito e, como tal, não pode estar nas mãos de uma pequena elite. Elite estrangeira, além do mais. NoChile, 90% dos direitos são de propriedade de três grupos econômicos: AES-Gener (estadunidense), Endesa (espanhola) e Colbún (do Grupo Matte). Estes grupos econômicos não estão interessados em que a água seja muito mais que do um recurso econômico. Está claro que para eles é uma mercadoria a mais, sujeita às transações de compra e venda, como quem especula com um carro. Eles pouco se lixam com as propriedades mais insólitas da água. Do mesmo Pigem: “A água é a substância mais comum na biosfera e no organismo humano, mas também é a mais insólita, com uma série de propriedades únicas (“anômalas”, de acordo com os cientistas) sem as quais a vida seria química e fisicamente impossível. Quando a água congela, expande-se e torna-se menos densa (atinge sua maior densidade a 4º C); não fosse assim, o gelo, em vez de flutuar, afundaria e se assentaria no fundo do mar, deixando-o sem vida. O gelo assusta por suas propriedades deslizantes e por sua viscosidade (podemos fazer bolas de neve, mas não bolas de areia). E quando se comprime, cristaliza em no mínimo 12 estruturas (do gelo 1 ao gelo 12) com diferentes propriedades. A água tem pontos de fusão e ebulição insolitamente altos, e aquece e esfria muito mais lentamente que a maioria das substâncias conhecidas, líquidas ou sólidas. É altamente corrosiva e dissolve quase tudo. Em nível molecular, está muito mais estruturada do que a maioria dos líquidos, semelhante a um cristal. Os flocos de neve têm (quase sempre) seis ramificações mais ou menos idênticas, mas cada floco tem um desenho diferente: cada nevada é um desperdício de criatividade geométrica. Outra curiosidade: os geólogos começam a acreditar que no interior da Terra, nas estruturas cristalinas do manto, há uma enorme quantidades de água, o suficiente para encher 30 vezes todos os oceanos”.
Como experiência, talvez seja interessante saber que no final de outubro de 2004, um plebiscito decidiu o destino da água no Uruguai. A população votou para considerar a água um direito público. Oxalá um dia deixemos de imitar a construção de shopping centers e comecemos a imitar este tipo de coisas. Oxalá nos deixemos contagiar um pouquinho por essa dignidade charrua e comecemos a considerar a democracia como um fim e não com um meio, que vai além de escolher os rostos sorridentes que adornam a cidade a cada certo tempo. Oxalá algum dia consideremos o sentido e a importância do público. Enfim, oxalá algum dia consideremos que o direito à vida é mais importante que o direito à propriedade privada.

Aquífero Amazônia: um oceano subterrâneo e desconhecido

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Aquífero Amazônia: um oceano subterrâneo e desconhecido

Mais de 162 quilômetros cúbicos de água estão no subterrâneo da Amazônia. Esse é o tamanho do Sistema Aquífero Grande Amazônia – SAGA, que, segundo pesquisadores, é um conjunto de camadas geológicas com reservas expressivas de água subterrânea
A reportagem é de Edna Ferreira, publicada pelo portal EcoDebate, 30-07-2014.
A quantidade surpreendeu o geólogo Francisco de Assis Matos de Abreu, da Universidade Federal do Pará (UFPA), que participou da mesa redonda sobre o tema, nesta sexta-feira, 25, durante a 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). “O aquífero é maior do que imaginávamos”, declarou.
De acordo com Abreu, o estudo sobre o SAGA tem quase dez anos e envolve quatro bacias hidrográficas: Acre,SolimõesAmazonas e Marajó, que totalizam, pelo lado brasileiro, 1.300 mil km2 de área. “Esse sistema é transfronteiriço, pois atinge outros países, mas o Brasil representa cerca de 67% do sistema”, explicou.
Apesar do gigantismo do sistema e do grande potencial das reservas, o professor Abreu é cauteloso em relação à qualidade dessa água. “As bases de dados são precárias, não são confiáveis. A qualidade de uso é algo que ainda estamos engatinhando, sabemos muito pouco. Precisamos fazer algo para acelerar esse processo, pois com certeza ainda teremos muitas surpresas”, relatou.
Equilíbrio hídrico
O geólogo da UFPA disse que não há necessidade do uso dessa água a médio prazo e revelou que sua real importância está na manutenção do sensível equilíbrio entre a floresta e os recursos hídricos. “Esse equilíbrio é responsável por importantes parâmetros climáticos, sobretudo o regime de chuvas. O SAGA é sem dúvida uma reserva aquífera estratégica para o Brasil, na medida em que representa 80% da água que faz funcionar o ciclo hidrológico na Amazônia”, disseAbreu.
O ciclo hidrológico é o caminho que a água percorre depois que evapora do oceano Atlântico, cai em forma de chuva, volta para a atmosfera pela transpiração da floresta e segue nesse esquema até bater nos Andes. Boa parte volta para o oceano, seja pelos rios ou pelo sistema de águas subterrâneas, para o reinício do ciclo. “O SAGA precisa ser estudado e compreendido como parte do ciclo hidrológico da Amazônia como um todo”, ponderou o geólogo.
De acordo com Abreu, 70% da água que movimenta as hidrelétricas estão ligadas aos recursos hídricos da Amazônia, e 23% do PIB brasileiro depende desse sistema hídrico. “Sem falar na água virtual que está embutida nos produtos exportados pelo País, como soja, café, carne bovina e laranja, por exemplo. Isso só é possível porque temos a floresta. Essa reciclagem é um colossal serviço ambiental que a Amazônia presta para o Brasil”, argumentou.

O "déjà-vu" IDH

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O "déjà-vu" IDH

"O "déjà-vu' IDH" esconde na cortina de poeira do tecnicismo e da conveniência política - que harmoniza e suaviza as variações anuais no ranking do IDH - lições importantes de política pública", afirma Flavio Comim, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade de Cambridge e ex-economista sênior do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em artigo publicado pelo jornal Folha de S.Paulo, 30-07-2014.
Segundo ele, "o Brasil tem feito muito mais pela sua educação do que pela sua saúde. O país incorpora hoje em sua política pública educacional um forte viés de inclusão, de avaliação e de sinergias com o setor privado que não tem paralelo com a política pública de saúde. (...) Enquanto há metas claras para a saúde e educação, não há nada estabelecido para um padrão de vida desejado para os brasileiros".
Eis o artigo.
Avanço discreto. Crescimento modesto. Progresso tímido. Ritmo lento. Os adjetivos podem variar, mas retratam a mesma realidade já vista nos anos anteriores, que sugere que o país está preso a uma "armadilha de estagnação" do seu desenvolvimento.
Como sempre, o governo brasileiro reclama dos dados desatualizados usados no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Impossível livrar-se de uma forte sensação de "déjà-vu" quando o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) anuncia --outra vez-- que o Brasil subiu apenas uma posição no ranking do IDH.
Em meio à mesmice, a mídia parece estar mais interessada nas divisões internas do PNUD sobre a eficiência do Bolsa Família do que nas informações trazidas pelo IDH deste ano. O "déjà-vu' IDH" parece nos ajudar pouco ou quase nada a entender os desafios de curto prazo e problemas estruturais brasileiros.
A origem desse "déjà-vu' IDH", que nos conta quase a mesma história anualmente, está no tecnicismo que impregnou o modo de interpretar a variação anual do IDH. O que um cidadão comum faria para saber se o país melhorou ou piorou noIDH? Faria uma comparação simples entre o ranking passado e o ranking atual. Mas isso não é o que o PNUD faz.
Primeiro ele atualiza o IDH do ano anterior. Isso gera um "passado revisado". Depois, compara o novo ranking com esse "passado revisado". O resultado disso é que as variações de ranking ficam escondidas entre o passado e o "passado revisado" obliterando informações importantes.
Politicamente, ficam soterradas nessa revisão todas as grandes variações que fizeram do IDH um indicador tão relevante para a política pública. Esse procedimento diminui o risco de dar uma má notícia, mas também esconde as boas, o que é o caso agora.
Retiremos o tecnicismo e veremos que o Brasil subiu esse ano seis posições no ranking do IDH. O governo brasileiro estaria agora celebrando ao invés de lamentando. O Brasil estava na 85º posição no ano passado e está agora na 79º posição.
Por outro lado, se aceitarmos o tecnicismo deixaremos de reconhecer o grande avanço brasileiro na área de educação, principalmente no ganho de um ano na expectativa de vida escolar no Brasil, que chega a 15,2 anos de estudo, dado similar ao de Cingapura ou do Japão, por exemplo.
No ano passado, o Brasil tinha 81,1% da expectativa escolar da Noruega (1º no IDH). Agora, subiu para 86,4%, um aumento anual expressivo. Isso não nega os grandes desafios que o país tem pela frente na melhoria da qualidade edesigualdade da educação. Mas, ao reconhecer esse avanço, mostra como muito mais necessita ser feito na saúde e na economia.
O "déjà-vu' IDH" esconde na cortina de poeira do tecnicismo e da conveniência política - que harmoniza e suaviza as variações anuais no ranking do IDH - lições importantes de política pública. Primeiro, que o Brasil tem feito muito mais pela sua educação do que pela sua saúde. O país incorpora hoje em sua política pública educacional um forte viés de inclusão, de avaliação e de sinergias com o setor privado que não tem paralelo com a política pública de saúde. Segundo, que enquanto há metas claras para a saúde e educação, não há nada estabelecido para um padrão de vida desejado para os brasileiros (a renda nacional bruta per capita do Brasil é apenas 22,3% da renda da Noruega, por exemplo).
Precisamos reconhecer as flutuações nos rankings nominais do IDH para que possamos identificar com maior clareza metas e desafios para o desenvolvimento humano do país. O "déjà-vu' IDH" mais esconde que revela e, portanto, é a antítese da razão de ser do Índice de Desenvolvimento Humano